Português: 31/03/12

sábado, 31 de março de 2012

Tancredo

     Tancredo tipifica o homem fatal do Romantismo.
     Desde logo, estamos na presença de uma personagem enigmática, incompreendida, foragida e condenada à morte, por ser uma opositora ao poder instituído.
     Por outro lado, o italiano possui uma beleza extraordinária que, conjugada com a sua figura pálida, atrai e seduz irresistivelmente Maria Monforte. Fisicamente, carateriza-se pela barba curta e frisada, pelos longos cabelos castanhos, ondeados e «com reflexos de ouro» e pelo olhar sombrio. Psicologicamente, é apresentado como um ser taciturno, orgulhoso e misterioso.
     Após o acidente de caça, desenha flores para Maria bordar e tange-lhe canções populares napolitanas à guitarra, indícios claros de um romance oculto.
     Acaba por fugir com Maria Monforte. A última notícia que temos dele é que foi morto num duelo.

Presságios

1. Família
  • A lenda recordada por Vilaça, segundo a qual «eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete».
  • O quadro de Rubens representando um Cristo na cruz que se encontra no escritório de Afonso: Cristo morreu para expiar os pecados dos homens; de modo semelhante, Afonso morre por causa dos pecados de Carlos, seu neto.
  • A referência a uma tapeçaria presente no escritório de Afonso: «tapeçaria mostrava ainda as armas dos Maias no desmaio da trama de seda».
2. Pedro da Maia
  • A parecença de Pedro com um avô da mãe, que enlouquecera e se enforcara sugere o «enlouquecimento» da personagem após a fuga de Maria Monforte e o seu suicídio.
3. Maria Monforte
  • A associação de Maria a Helena de Tróia: ambas adúlteras e causadoras de «guerras trágicas»;
  • A referência ao «luxo sombrio do luto oriental de Judite».
4. A relação Pedro / Maria Monforte
  • A paixão por Maria é descrita como «um amor à Romeu, vindo de repente numa troca de olhares fatal...»:
  • sugestão de tragédia: a morte de Romeu e de Julieta na peça de Shakespeare corresponde à morte de Pedro;
  • a oposição paterna, outro traço comum à obra de Shakespeare;
  • a presença do fatalismo; 
  • O vestido cor-de-rosa de Maria sugere (a cor) a vida romântica em que Pedro se enleou;
  • A cor dos olhos de Maria («azul sombrio») sugere a existência de sombras, ou seja, complicações naquela relação;
  • A ramagem de um verde triste constitui um prenúncio da tristeza que ensombrará a relação amorosa;
  • A sombrinha que envolve totalmente Pedro parece a Afonso «... uma larga mancha de sangue...»:
  • por um lado, aponta para o suicídio de Pedro;
  • por outro, sugere o incesto de Carlos e Maria Eduarda, uma relação entre dos irmãos de sangue; 
  • o ramo que se esfolha num vaso do Japão antecipa também a morte de Pedro.
5. Carlos da Maia
  • A escolha do nome de Carlos é feita a partir de uma novela romântica «... de que era herói o último Stuart, o romanesco príncipe Carlos Eduardo; e, namorado dele, das suas aventuras e desgraças, queria dar esse nome a seu filho... Carlos Eduardo da Maia! Um tal nome parecia-lhe conter todo um destino de amores e façanhas.». Este dado tem vários significados:
  • a influência perniciosa da literatura romântica em Maria Monforte;
  • tal como a personagem da novela era o «último Stuart», também Carlos será o último dos Maias;
  • tal como o príncipe, carlos irá levar uma vida de «aventuras e desgraças»;
  • a presença do Destino («conter todo um destino de amores e façanhas». 


Em atualização...
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