Português: 23/09/12

domingo, 23 de setembro de 2012

Concordância do verbo «SER»

     O verbo copulativo ser apresenta uma concordância especial. Regra geral, respeita o princípio que rege a concordância: concorda com o sujeito em número:
  • O Rui comeu os rebuçados.
     No entanto, há casos em que o verbo «ser» concorda com o predicativo do sujeito. Vejamos as situações em que tal acontece.

     Casos especiais de concordância do verbo SER:

1.º) Quando o verbo vem acompanhado dos advérbios «muito», «pouco», «bastante», «suficiente», etc., significando quantidade, distância, peso, etc., conjuga-se no singular:
  • Dez euros é muito para este par de meias.
  • Cem metros de terrenos é suficiente para construir o galinheiro.
  • Oitenta quilos é um exagero. Estou muito gordo.
  • Trezentos mil euros é um preço exagerado.
  • Duas horas de estudo é suficiente para fazer o teste.
  • Dois dias é pouco tempo para estudar tanta matéria.
  • Cinco quilos de carne é suficiente?
  • Vinte quilos é demasiado para uma criança carregar.
     A concordância no singular, nalguns dos exemplos apresentados, soa estranha, mas acontece normalmente com as expressões que denotam «excesso», «suficiência» ou «insuficiência». O sujeito, embora no plural, conserva a ideia coletiva e o verbo no singular sintoniza-se com essa ideia.

2.º) Quando o sujeito ou o predicativo do sujeito é um pronome pessoal, o verbo concorda com o pronome:
  • Ela é linda!
  • Nós somos feios.
  • Eu sou o presidente da junta.
  • Tu és um palerma.
  • A esperança somos nós.
  • Vocês são atrevidos.
  • O Brasil, senhores, sois vós.

3.º) Quando o sujeito é o pronome interrogativo «que»  ou «quem», o verbo concorda com o predicativo:
  • Quem são aqueles homens?
  • Que são dois anos na vida de uma tartaruga?
  • Que são palavras homónimas?
  • Quem foram os responsáveis por este atentado?
  • Que seriam aqueles pontos brilhantes no céu?

4.º) Com expressões numéricas que indicam período de tempo, hora ou distância, o verbo concorda com  a expressão numérica (predicativo) e torna-se impessoal (= sem sujeito):
  • É uma hora e meia.
  • São cinco horas.
  • São três e um quarto.
  • É um minuto para as seis.
  • De casa à escola, são doze minutos certos.
  • Já são dez para as quinze.
  • Eram perto de dez horas.
     No caso de locução verbal, é o verbo auxiliar que concorda com o predicativo:
  • Devem ser dez horas.

5.º) Relativamente às datas, a concordância opera-se do seguinte modo.

          a) Quando a palavra «dia» está expressa, o verbo fica no singular:
  • Hoje é dia 23 de setembro.
          b) Quando a palavra «dia» não está expressa, a concordância é facultativa:
  • Hoje é 23 de setembro.
  • Hoje são 23 de setembro. 

6.º) Quando o sujeito é um dos pronomes «isto», «isso», «aquilo», «o (que)», «tudo», o verbo concorda com o predicativo:
  • Isso são flores.
  • Isso são lembranças de viagens.
  • Aquilo é uma miséria.
  • O que fica na memória são as coisas marcantes.
  • Os bastidores é o que me toca.
     Nota: O verbo «ser» fica no singular quando o predicativo é formado por dois
                elementos no singular:
  • Tudo o mais é tristeza e amargura.

7.º) Quando o sujeito é «nome de coisa ou objeto (no singular)» e o predicativo do sujeito um «nome no plural», o verbo concorda, preferencialmente, com o predicativo:
  • A vida [coisa] não são rosas.
  • A cama [coisa] do meu avô eram umas palhas.
  • O seu segredo [coisa] são essas pernas deslumbrantes.
  • Divertimento é coisa que não falta aqui.
  • Dois metros de tecido é suficiente para fazer a toalha.
Nota: Se o sujeito ou o predicativo forem um nome próprio, o nome de uma pessoa 
           ou uma pessoa, o verbo concorda com a pessoa:
  • Ricardo era só problemas.
  • O homem é cinzas.
  • O teu orgulho são os teus cães.
  • Aquele aluno é o encanto dos professores.

8.º) Quando o sujeito ou o predicativo se encontra no singular e outro (sujeito ou predicativo) no plural, o verbo conjuga-se no plural:
  • Os filhos são o meu tesouro.

9.º) Quando o verbo representa definição ou identidade, pode ser conjugado no singular:
  • Pátria é nosso rios e mares, nossos animais, nossa gente.

Académica - Benfica on-line

AUTEDOR

Roubado ao Sorumbático

Da ignorância política e jornalística

Diz lá qualquer coisa que serve
Por Ferreira Fernandes
     POR ESTES dias demo-nos conta do nascimento de uma (enfim, duas) palavra oficial, rapidamente caída no goto de políticos, jornalistas e comentadores, tão nebulosa como devem ser as palavras oficiais mas, esta, com uma cândida confissão. Era tão sem nada para dizer que nem era uma, mas duas: ora modelação,ora modulação, e dizia-se uma delas ao calha. 
     Uma ou outra foi dita por Passos Coelho quando, os acontecimentos obrigando-o a arrepiar caminho, ele afirmou que poderia mudar a sua proposta da TSU. Mas disse ele "modelação"? Isto é, tornear, ajustar... Ou ele disse "modulação"? Isto é, passar o canto ou a harmonia para um tom diferente... 
     A primeira hipótese é verosímil, própria do jogo de cintura de qualquer político; mas a segunda também é, vinda de Passos Coelho, que não destoa ao cantar "chamava-se Nini/vestia de organdi". 
     O uso da palavra inócua não teria interesse, não fosse sindicalistas e políticos, na esteira do primeiro-ministro, passarem a citá-la como crucial. Tão decisiva que uns diziam "modelação" e outros "modulação"... E os jornalistas faziam-lhes eco, ora modelando, ora modulando. 
     Paulo Pinto, professor da Universidade Católica, propôs no blogueJugular uma palavra nova: "mudlar", a síncope do "e" ou do "u" poupando-nos esta vergonha. Esta. Para as outras, nascidas do mesmo vício, fica a mezinha tradicional. De cada vez que falarmos, pôr esta dúvida: de que estamos a falar quando estamos a falar?
«DN» de 23 set 12
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