Português: 16/02/13

sábado, 16 de fevereiro de 2013

"Shambala", Three Dog Night

Viagem de Vasco da Gama

Os Lusíadas, I, 20-21

         Estas estâncias correspondem aos momentos iniciais do discurso de Vasco da Gama ao Rei de Melinde, quando lhe situa geograficamente Portugal na Europa:
. «quase cume da cabeça» da Europa;
. situado na região mais ocidental do continente;
. banhado pelo mar (Oceano Atlântico) («Onde a terra se acaba e o mar começa» ‑ est. 20, v. 3);
. muito próximo do norte de África;
. teve a sua origem em Luso ou Lisa («que de baco antigo / Filhos foram» ‑ est. 21, vv. 6 e 7), uma forma de afirmar a descendência divina, logo superior, do povo português.

         Nessas estâncias, por outro lado, Camões descreve a nação e a sua missão de modo semelhante ao feito por Fernando Pessoa em «O dos castelos»:
. a Europa é personificada e apresentada como um corpo humano;
. Portugal é a cabeça desse corpo da Europa: ele é o «rosto» (v. 12) em «O dos Castelos», e «quasi cume da cabeça / De Europa toda» (est. 20, vv. 1-2) n’Os Lusíadas;
. o sentimento de patriotismo;
. relativamente à missão de que Portugal foi incumbido, em Mensagem, a nação está investida de uma missão messiânica centrada na recuperação da Europa decadente; n’Os Lusíadas, a nação assume o espírito de cruzada como missão definidora e é ditada pelo «Céu».
         De facto, entre os versos 5 a 8 da estância 20, Camões alude à expulsão dos Mouros do território nacional (vv. 6 e 7) e às campanhas africanas de D. João I, D. Duarte, D. Afonso V e D. João II que deram origem à ocupação de vários pontos do norte de África.
         Relativamente ao sentimento de patriotismo, em Mensagem, destaca-se o nacionalismo profético da referência ao papel que cabe a Portugal na liderança da Europa; n’Os Lusíadas, Vasco da Gama confessa o seu amor pela pátria («Esta é a ditosa pátria minha amada» ‑ est. 21, v. 1), onde deseja morrer depois de concluir a sua missão («À qual se o Céu me dá, que eu sem perigo / Torne, com esta empresa já acabada, / Acabe-se esta luz ali comigo.» ‑ est. 21, vv. 2-4).

         As diferenças entre os dois textos situam-se, essencialmente, a nível da estrutura e do discurso:
. Mensagem:
. o poema é construído do geral para o particular, um percurso enigmático, gradualmente mais pormenorizado, pleno de mistério e de enigmas a decifrar: o rosto da Europa é Portugal e o olhar misterioso prenuncia a importância da nação para o mundo no futuro;
. a linguagem está recheada de profunda simbologia profética;
. o poema centra-se no indefinido, na crença, na esperança estática no sonho.
. Os Lusíadas:
. o discurso estrutura-se em três momentos:
. a localização geográfica de Portugal;
. a caracterização do povo português, forte e guerreiro, imbuído do ideal da difusão do Cristianismo e do espírito de cruzada;
. a origem lendária superior dos seus fundadores;
. a linguagem é épica, de estilo grandiloquente;
. o poema evidencia a aventura, o perigo, a memória e a esperança.
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