Português: 03/04/14

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Princípio de cooperação

                Para que uma troca verbal, uma conversa, seja eficaz, é necessário que os falantes cooperem / colaborem entre si, respeitando um conjunto de regras que partilham entre si, isto é, devem esforçar-se, em conjunto, para respeitar essas regras, no sentido de a comunicação ser eficaz e atingir o mesmo objetivo, promovendo-se, deste modo, a boa-formação conversacional (a colaboração mútua dos falantes).
                O princípio de cooperação compreende um conjunto de categorias chamadas máximas conversacionais, que o concretizam.
                As máximas conversacionais são quatro.

1.ª) Máxima de quantidade:
. a informação fornecida deve ser a que é requerida;
. a contribuição do falante não deve ser menos nem mais informativa do que é requerido;
. configuram um desrespeito por esta máxima os discursos tautológicos (repetitivos), redundantes ou repetitivos;
. exemplo de respeito por esta máxima:
Pode dizer-me as horas?
São 23 e 10.
. exemplo de desrespeito por esta máxima:
Pode dizer-me as horas?
‑ Posso. / ‑ Não, não posso.
          OU
Pode dizer-me as horas?
‑ São 23 horas, 10 minutos, 35 segundos e 53 centésimos.

2.ª) Máxima de qualidade:
. a contribuição numa conversa deve ser, tanto quanto possível, verdadeira;
. o falante deve omitir o que crê ser falso e evitar afirmar aquilo de que não tem provas ou que desconhece;
. por vezes, o falante viola propositadamente esta máxima, por exemplo em enunciados irónicos(1) ou metafóricos(2):
(1)Tiveste zero no teste. Estás de parabéns!
(2)Amor, tens um coração de manteiga.
. assim, é necessário, ocasionalmente, que o interlocutor infira um outro significado do enunciado produzido pelo locutor, além do sentido literal:
Se tiveres boas notas, compro-te um no telemóvel. (infere-se que o telemóvel só será comprado se o interlocutor «obtiver boas notas»).

3.ª) Máxima de relação ou de relevância
. a contribuição discursiva do falante deve ser relevante e pertinente relativamente ao objetivo da conversa, isto é, deve ter a ver com o objetivo da conversa;
. a violação desta máxima é, frequentemente, aparente, dado que o locutor espera que o seu interlocutor faça inferências:
A ‑ Vamos ao cinema logo?
B ‑ A minha mãe está doente. (infere-se desta resposta que o convite foi recusado, pois B não pode ir ao cinema.)

4.ª) Máxima de modo:
. o locutor deve ser claro, evitando a obscuridade e a ambiguidade;
. o locutor deve ser breve;
. a contribuição conversacional deve ser ordenada e metódica;
. exemplo de desrespeito por esta máxima:
* Entrei na escola e saí do autocarro. (neste caso, é evidente que os acontecimentos não estão ordenados de forma lógica; de facto, o locutor deveria ter saído primeiro do autocarro e, de seguida, entrado na escola.)

                As máximas conversacionais são, frequentemente, violadas, umas vezes deliberadamente, outras não. As violações deliberadas estão associadas ao recurso à ironia, à hipérbole, à metáfora, à interrogação retórica e aos de fala indiretos.

Princípios reguladores da interação discursiva

     Para que a interação discursiva se desenvolva de modo eficiente e correta e alcance o seu objetivo, é necessário observar alguns princípios reguladores, os quais orientam o modo como os falantes interagem.
     A comunicação pressupõe uma espécie de ação conjunta entre os interlocutores, que atuam de forma responsável, coordenada e alternando os papéis de locutor e interlocutor.
     A interação discursiva entre os falantes ocorre de forma disciplinada, coordenada e recíproca, o que faz com que aqueles sejam corresponsáveis pela condução eficiente da interação comunicativa.

     Quando se fala em princípios a interação discursiva, estamos a referir-nos ao princípio da cooperação e às respetivas máximas conversacionais, ao princípio da cortesia e ao princípio da pertinência ou relevância.
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