Português: 09/01/2017 - 10/01/2017

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Autárquicas 2017: TOP


Autárquicas 2017: a ubiquidade do PAN

Protótipos textuais: texto expositivo

4.1. Definição: o texto expositivo tem como objetivo a análise ou a síntese de ideias, conceitos e teorias; expor, explicar e informar sobre algo, apresentando problemas e propostas de resolução dos mesmos, acompanhados, ou não, de justificação.
         Esta tipologia textual implica uma relação de comunicação entre dois agentes: o locutor A faz saber/compreender ao locutor B o que é um certo dado, através da sua exposição, descrição, enumeração, analisando-o para explicitar factos, elementos, ideias.

4.2. Géneros
- manuais da área das ciências naturais (onde abundam textos em que se passa constantemente da exposição – sucessão de informações com o objetivo de dar a conhecer algo – à explicação – com o intuito de fazer compreender o porquê do problema e a sua resolução).

4.3. Características
. verbos com sentido expositivo (“ser”, “ter”, “consistir”, “haver”, etc.) no presente, pretérito perfeito e futuro do indicativo, normalmente com valor universal e intemporal;
. adjetivos e advérbios para descrever, precisar e situar;
. uso frequente de analogias e comparações;
. enunciação objetiva na terceira pessoa, omitindo as marcas do sujeito enunciador e estruturas que indicam uma avaliação pessoal (“na minha opinião”, “julgo”, “creio”, “parece-me que”, etc.), recorrendo antes a estruturas impessoais (“deve-se”) e passivas;
. léxico especializado: recurso a termos genéricos (hiperónimos), específicos (hipónimos); definição de seres, objetos, ideias na sua totalidade (holónimos) ou nas suas partes (merónimos); recurso a nominalizações e denominações;
. conectores e marcadores que indicam relações de causa e consequência, de fim e meio, confirmativos e exemplificativos, explicativos e conclusivos.




Bibliografia:
. Domínios, de Zacarias Nascimento et alii;
. Gramática da Língua Portuguesa, de Clara Amorim;
. Itinerário Gramatical, Olívia Figueiredo e Eunice de Figueiredo;
. Nova Gramática Didática de Português, Santillana.

Autárquicas 2017: Tino é TOP!


Protótipos textuais: texto argumentativo

3.1. Definição: o texto argumentativo é um texto onde se expressa uma opinião (sobre alguém ou alguma coisa) e se procura justificar ou refutar essa opinião por meio de argumentos.
A sua intenção comunicativa é convencer, persuadir o(s) interlocutor(es), levando-o(s) a aceitar determinado ponto de vista, ideia ou produto, etc., obtendo assim a sua aprovação, ou refutar uma opinião alheia, estabelecendo relações entre factos, hipóteses, provas e refutações. Deste modo, pode afirmar-se que um texto argumentativo se caracteriza, por um lado, pela expressão de uma opinião que, sendo controversa, suscita uma defesa e abre espaço de contestação e, por outro lado, pela apresentação de argumentos a favor ou contra uma determinada tese.

3.2. Estrutura
                O texto argumentativo apresenta, geralmente, a seguinte estrutura:
. Tese: apresentação da opinião que se se pretende defender.
. Premissa(s): pode(m) ou não estar expressa(s), representando algo que é inequivocamente aceite.
. Argumentos: conjunto de provas ou razões que sustentam a tese, que devem ser fidedignas, autênticas e relevantes. Podem funcionar como argumentos exemplos, ilustrações, narrações, descrições, estatísticas, comparações, referências históricas, etc. Normalmente, os argumentos são apresentados de forma gradativa e crescente, partindo-se dos mais frágeis para os mais fortes e irrefutáveis.
. Conclusão: é uma demonstração clara da tese defendida.

3.3. Géneros (ou tipos de textos argumentativos)
- discursos políticos
- publicidade
- discursos da imprensa escrita e falada
- debates
- propaganda política
- discursos religiosos
- interações verbais da vida quotidiana
- mundo académico
                No contexto social e académico, o protótipo argumentativo exige algum nível de formalidade e determinadas competências como, por exemplo:
- saber utilizar os argumentos;
- distinguir entre um bom argumento e uma falácia (isto é, um falso argumento como o jogo linguístico, o ataque e a desqualificação pessoais, a manipulação, etc.);
- usar argumentos de autoridade;
- apresentar exemplos adequados e pertinentes;
- estabelecer paralelismos e analogias.

3.4. Características
                As principais marcas linguísticas são as seguintes:
. verbos de opinião e crença (“achar”, “julgar”, “crer”, “dever”, “querer”, “gostar”, “ser preciso”, “concordar”, etc.);
. verbos declarativos (“afirmar”, “considerar”, “declarar”, etc.);
. verbos que indicam uma relação entre a causa e o efeito (“causar”, “motivar”, “originar”, “provocar”, “ocasionar”, etc.);
. uso frequente do verbo “ser” ou equivalente na elaboração da tese;
. predomínio do presente, pretérito perfeito e futuro do indicativo com valor universal;
. frases declarativas e interrogativas;
. marcadores e conectores discursivos com valores diversos: aditivo (“mais”, “além disso”), exemplificativo / confirmativo (“por exemplo”, “com efeito”), contrastivo (“mas”, “no entanto”, embora”), explicativo e conclusivo (“porque”, “pois”, “com efeito”, “por conseguinte”);
. marcas linguísticas que expressam um ponto de vista.





Bibliografia:
. Domínios, de Zacarias Nascimento et alii;
. Gramática da Língua Portuguesa, de Clara Amorim;
. Itinerário Gramatical, Olívia Figueiredo e Eunice de Figueiredo;
. Nova Gramática Didática de Português, Santillana.

Autárquicas 2017: o tamanho importa sim!


terça-feira, 26 de setembro de 2017

Autárquicas 2017: os leirienses agradecem, mas poderia ser com vírgula?


     Ó Fernando Costa, quando se faz uso do vocativo, deve isolar-se com uma virguleca. Entendeu, Fernando?

     Dê uma espreitadela aqui: vocativo.

Autárquicas 2017: muito tempo na roliça, falta tempo para ir À escola


     A língua portuguesa é tratada aos pontapés por todo o lado no dia a dia.

     Neste caso, verifica-se um dos erros mais comuns: a acentuação errada de "à". Ora, tratando-se da contração da preposição "a" com o determinante artigo definido "a", a palavra recebe um acento GRAVE e não agudo: à. Aliás, o uso do acento grave, hoje, na língua portuguesa, está limitado aos casos de contrações.

Autárquicas 2017: depois do cherne, o carapau


AutárTicas 2017: eleições paralelas


Autárquicas 2017: bora lá construir o anexo


Autárquicas 2017: a CEDILHA, esse empeÇilho


     As Andreias surgem aqui, neste cartaz, associadas a um erro ao nível do ensino pré-escolar.

     É certo que já não vamos a tempo de impedir aquela primeira cedilha marota, mas pode ser que tenha impacto daqui a quatro anos.


                A cedilha utiliza-se debaixo do c antes das vogais a, o ou u para representar o som [s]:
- caça
- terço
- muçulmano
- açúcar
- Açores
- rebuçado

Diacrítico

                Diacrítico (do grego “diacritikós”, que significa “capaz de distinguir”) é o sinal gráfico que se acrescenta a uma letra para (1) alterar o timbre das vogais, para (2) distinguir a grafia de certas palavras e para (3) assinalar a sílaba tónica.

Autárquicas 2017: continuar...


Protótipos textuais: texto descritivo

2.1. Definição: o texto descritivo é todo o texto ou sequência textual em que se atribuem predicados, qualidades ou características diversos a um referente (humano, não humano, objetos, espaços). Por outro lado, esse assunto ou objeto pode ser descrito de forma genérica / global, ou desdobrado e descrito nas suas partes constituintes.
                Podem ser objeto de descrição pessoas, personagens (os seus traços físicos e psicológicos), espaços (físicos, psicológicos ou sociais), fenómenos atmosféricos, animais e todo o tipo de objetos. As sequências textuais descritivas surgem frequentemente articuladas com sequências textuais de outros tipos. Por exemplo, é frequente surgirem, em textos narrativos, sequências descritivas que permitem caracterizar uma personagem ou um espaço social, por forma a motivar o desenrolar da ação.
                O texto descritivo pode concretizar-se de diferentes formas:
. num texto corrido (uma enciclopédia, por exemplo);
. numa introdução seguida de uma listagem de itens caracterizadores de algo;
. num texto narrativo ou num texto científico.
                Por outro lado, pode assumir a forma de um texto curto (por exemplo, adivinhas, enumerações, tatutologias, definições dos dicionários) ou a forma de sequências (a forma mais recorrente). Neste caso, as descrições surgem intercaladas entre outras sequências (narrativas, argumentativas, expositivas, explicativas, dialogais), em lugares estratégias, para que possam ser melhor registadas pela memória do leitor ou ouvinte.

2.2. Características
- a qualificação é feita através de adjetivos com valor qualificativo e predicativo (“a sala de aula é pequena”) e de verbos que veiculam modalização expressiva (“a sala de aula resplandecia de luz”);
- o uso de recursos expressivos como a comparação, a metáfora, a sinédoque, a hipérbole, etc.;
- a decomposição do referente descrito nas suas partes constitutivas: “A escola de Sesimbra [holónimo] tem quatro salas de aulas [merónimo] e cada sala [holónimo] possui quatro janelas [merónimo].”);
- o uso do verbo “ser” para predicar a totalidade do referente (“A Naomi Watts é linda.”) ou do verbo “ter” para predicar uma parte (“A Naomi Watts tem cabelo louro.”);
- características linguísticas:
. verbos de estado para a descrição estática (“ser”, “estar”, “parecer”, etc.) e verbos de ação para a descrição dinâmica (“correr”, “saltar”, etc.);
. predomínio do pretérito imperfeito, do presente e do futuro do futuro, que traduzem a simultaneidade;
. adjetivos e expressões caracterizadoras e de relacionação;
. conectores e marcadores discursivos (aditivos – “e”, “de seguida”, “também”, etc.; enumerativos – “primeiro”, “depois”, “finalmente”, etc.);
. advérbios e expressões com valor locativo (“aqui”, “na escola”, etc.) e temporal (“há minutos”, etc.);
. vocabulário expressivo e figuras de estilo;
. vocabulário expressivo relativamente ao mundo das sensações.


Bibliografia:
. Domínios, de Zacarias Nascimento et alii;
. Gramática da Língua Portuguesa, de Clara Amorim;
. Itinerário Gramatical, Olívia Figueiredo e Eunice de Figueiredo;
. Nova Gramática Didática de Português, Santillana.

Autárquicas 2017: o candidato do chouriço


Autárquicas 2017: os independentes... tem dias


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Autárquicas 2017: com Valentim é sempre assim


Protótipos textuais: texto narrativo

1.1. Definição: o texto narrativo é um texto ou sequência textual em que se relata um evento, um facto ou acontecimentos ou uma cadeia dos mesmos.

1.2. Géneros (ou tipos de textos narrativos):
- romance
- conto
- lenda
- mito
- banda desenhada
- fábula
- parábola
- (auto)biografia
- notícia
- reportagem
- crónica
- relatório
- relatos históricos
- relatos orais
- etc.

1.3. Traços básicos da narração
                O texto narrativo possui cinco características específicas: uma ação ou ações, localizada(s) no tempo e no espaço, protagonizada(s) por uma pessoa ou personagem, que confere unidade à ação ou atravessa toda a narrativa, e contada por um narrador, que pode ser, ou não, uma das personagens.
                Por outro lado, os eventos representados encadeiam-se de forma lógica e orientam-se para um desenlace, desenvolvendo-se ao longo de três momentos, sobretudo no de texto de índole literária:
. Situação inicial: situação de estabilidade, em que se apresentam as personagens, situadas no tempo e no espaço. Habitualmente, são frequentes as sequências descritivas neste momento inicial.
. Complicação / problema: é o conjunto de eventos que geram um conflito, desequilibrando a situação inicial, e que constituem o núcleo da narração. Frequentemente, há textos narrativos que alternam situações de equilíbrio e desequilíbrio, correspondendo à ocorrência de vários episódios ou capítulos de uma obra.
. Resolução: é a solução do conflito e o regresso a uma situação de equilíbrio.

1.4. Características
. o uso predominante de verbos de ação;
. o predomínio do pretérito perfeito do indicativo (também o imperfeito, o mais-que-perfeito e o futuro marcam presença) ou do presente histórico;
. o uso do pretérito imperfeito para iniciar a narrativa;
. a abundância de marcadores e conectores temporais e espaciais (“quando”, “depois”, “um dia”, etc.);
. o recurso a advérbios de valor locativo e temporal, conjunções, locuções e expressões temporais, especiais e causais;
. o uso de marcadores discursivos explicativos e conclusivos (“assim”, “porque”, “por esse motivo”, etc.);
. marcas linguísticas que indicam o ponto de vista:
- deíticos de primeira pessoa (pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos, formas verbais e advérbios) no relato de enunciação de primeira pessoa;
- referências lexicais e anafóricas no relato de terceira pessoa.


Bibliografia:
. Domínios, de Zacarias Nascimento et alii;
. Gramática da Língua Portuguesa, de Clara Amorim;
. Itinerário Gramatical, Olívia Figueiredo e Eunice de Figueiredo;
. Nova Gramática Didática de Português, Santillana.


Protótipos textuais I - Correção (G 44)

1. 

Excerto textual
Protótipo textual
Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de marfim, atirou-o para o pobre berço de verga – e tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-o no berço real […]
narrativo
Sobre literatura preciso de saber várias coisas.
Preciso de saber que a literatura não se reduz aos textos escritos: para além deles, a literatura foi e em certos momentos ainda é oral, ou seja, palavra dita, declamada e cantada, independentemente da fixação escrita.
expositivo
Moço – Co dinheiro que leixais
não comerei eu galinhas…
Escudeiro – Vai-te tu per essas vinhas.
Que diabo queres mais?
conversacional (ou dialogal)
Dose recomendada:
Adultos e crianças com idade superior a 12 anos: tome 1 ou 2 comprimidos, 1 a 3 vezes por dia.
Colocar os comprimidos dispersíveis num copo com água, agitar e beber em seguida.
instrucional (diretivo ou injuntivo)
Por outro lado, a televisão exerce uma influência negativa, ao exibir modelos cujas características são inatingíveis pelas crianças e jovens em geral. As suas qualidades físicas são ampliadas, os defeitos físicos esbatidos, criando-se a imagem do herói / heroína perfeitos. Esta construção gera sentimentos de insatisfação e frustração do eu consigo mesmo e de menosprezo pelo outro.
argumentativo
Virgem
Plano amoroso: você terá uma semana rica em desafios que o levarão constantemente a aferir possibilidades e a escolher caminhos.
Plano material: haverá evoluções políticas e sociais que poderão ter implicação direta na sua vida.
preditivo
Maria era uma senhora de idade avançada, de cabelos brancos e pele coberta de rugas. Os seus olhos castanhos e cansados perdiam-se no vazio. Vestia uma saia e um casaco azuis da cor do céu primaveril.
descritivo



          . Ficha.

"Amigo Frei João, cuidas que é barro"






5





10
Amigo Frei João, cuidas que é barro
O fumoso tabaco por que berro?
Um nigromante me transforme em perro,
Se há coisa para mim como o cigarro!

Ele me arranca pegajoso escarro,
Que nas fornalhas deste peito encerro;
O frio, as aflições de mim desterro,
Quando lhe lanço mão, quando lhe agarro.

De vício, se é vício, não me corro,
E só tomo rapé, simonte ou esturro,
Quando quero zangar algum cachorro.

Amigo Frei João, não sejas burro;
Dize bem do cigarro; senão, morro;
Traze-me lume já, ou dou-te um murro.

                                               (I, 116)


         Este soneto aborda o vício do tabaco através de uma situação cómica: estando o autor na cela do seu amigo Frei João de Pousafoles, sucedeu apagar-se-lhe um cigarro, pelo que pediu lume, que ele lhe recusou. É por aí que o soneto se inicia: o sujeito poético refere o pormenor de pedir lume ao amigo Frei João, porque o cigarro se lhe tinha apagado. O amigo da cela, porém, nega-lhe o lume, querendo com isso talvez não favorecer o vício.
         Reconhecendo os malefícios do tabaco, como o catarro do fumador (vv. 5-6), o sujeito poético confessa, porém, que não lhe consegue resistir. Daí a formulação do desejo hiperbólico dos versos 3 e 4: que um bruxo ou pessoa dedicada à arte de evocar os mortos para predizer o futuro (“nigromante”) o transforme num cão (“perro”, palavra de origem castelhana, usada frequentemente no sentido pejorativo de “tratante”). O prazer do tabaco não tem paralelo. O gozo insubstituível de fumar, descrito com humorado ênfase (v. 8), permite-lhe esquecer, ainda que momentaneamente, a miséria e o sofrimento (v. 7).
         Seguidamente, faz a distinção entre o tabaco de fumo (cigarro), referido no verso 2, de conhecidas consequências para os pulmões do sujeito poético (v. 6), e o tabaco de cheirar, referido enfática mas depreciativamente no verso 10 (rapé, simonte, esturro). Estes tipos de tabaco moído para degustar através de aspirações nasais distinguem-se pela qualidade, sendo o simonte um tabaco da primeira folha, e o esturro ou esturrinho um tipo de tabaco torrado, ambos usados para cheirar, como o rapé.
         O fecho coloquial do soneto encerra admiravelmente o tom cómico que o perpassa desde o início: “Traze-me lume já, ou dou-te um murro!” (v. 14).
         A nível estilístico, repare-se no trocadilho com as palavras homónimas barro e berro (vv. 1 e 2), ou no uso continuado da vibrante /r/, a estruturar toda a rima alternada do soneto, que nos sugere, foneticamente, o nefasto efeito do catarro típico do homem fumador.


Autárquicas 2017: se arranhó, nã quero


Autárquicas 2017: às vezes isto também me acontece no "paint"


Autárquicas 2017: campas em saldo. Aproveite!


Autárquicas 2017: a Patrícia isenta e burla


"Certo enfermo, homem sisudo"

Certo enfermo, homem sisudo,




5





10



Deixou por condescendência
Chamar um doutor, que tinha
Entre os mais a preferência.

Manda-lhe o fofo Esculápio
Que bote a línguas de fora,
E envia dez garatujas
À botica sem demora.

«Com isto (diz ao paciente)
A sepultura lhe tapo.»
Replica o pobre a tremer:
«Aposto que não escapo».

                            (IV, 143)


         Outro grande tema da sátira epigramática de Bocage são os erros dos médicos, ou dos falsos cirurgiões da sua época.
         No caso deste texto, eis que um homem adoece e decide recorrer, com temor e hesitação (“Deixou por condescendência...”), aos serviços da medicina. Na 2.ª estrofe, Bocage apresenta ironicamente a figura do pretensioso médico (designado, com ironia, por “fofo Esculápio”Esculápio era o deus da Medicina) observando o doente, mandando-lhe deitar a língua de fora, e aviando uma receita ilegível (“dez garatujas”), actos que consubstanciam a sua pretensiosa ciência/sabedoria. Finalmente, na última estrofe, atente-se na irónica ambiguidade da afirmação do médico. Ao dizer que tapa a sepultura ao doente, tanto afirma que o vai salvar da morte certa, como pode significar que o mata definitivamente. E é nesta segunda acepção que o pobre e desenganado paciente entende a declaração do médico. Em suma, a sátira caricatural de que esta figura-tipo é alvo, incide sobre o tema dos doentes que morrem mais depressa por causa dos erros da classe médica do que por causa da própria doença e que, em alguns textos, leva Bocage a afirmar que a Medicina é filha da própria Morte. Como diz a sabedoria popular, se não morrem da doença, morrem da cura.
         Por vezes, como é o caso do texto em análise, Bocage serve-se de um breve mas cómico diálogo entre médico e paciente, dando assim maior vivacidade e graça ao cómico de situação ou de linguagem. Também é comum referir-se, algo jocosa e metaforicamente, aos médicos como os descendentes de Galeno (anatomista grego), os filhos de Esculápio (deus da Medicina) ou alunos de Hipócrates (médico célebre).

Autárquicas 2017: ruptura com o passado? Vote nestes dois jovens!


Autárquicas 2017: quem quer CORNES?


Autárquicas 2017: Agatha Christie


domingo, 24 de setembro de 2017

Autárquicas 2017: falemos de bico então


"Um homem que toda a vida"


 
 
 
 
 
5
 
 
 
 
 
10
Um homem que toda a vida
Passou fomes por querer,
Co’a muita debilidade
Pôs-se em termos de morrer.
 
Doutor, que de graça o via,
E co’a doença atinava,
Of’receu-lhe uns certos doces,
Para ver se o melhorava.
 
Obrigado (eis lhe responde
O enfermo estendendo a mão),
Dê cá... Bom será guardá-los
Para maior precisão.”

 

 

         Outro dos alvos predilectos da sátira epigramática de Bocage é o pecado da avareza; neste caso concreto temos o tipo do avarento que esconde a sua riqueza, não tirando partido dela, nem mostrando algum tipo de generosidade para com os demais.

         Este é o caso de um homem que, durante toda a vida, passou fome voluntariamente, para não gastar o seu dinheiro e por isso ficou doente a ponto de estar em risco de morrer. É então consultado gratuitamente por um médico que se apercebe de que a causa da doença é a falta de alimentação, por isso oferece-lhe alguns doces para o curar. O doente aceita mas – espanto dos espantos – decide guardá-los “Para maior precisão”.

         Em suma, neste epigrama a sátira de Bocage incide sobre o comportamento do homem avarento que, posto na maior necessidade e até na iminência da morte, aferrolha tudo a que pode deitar a mão. Este homem que poupa, avaramente, o próprio alimento que o salvaria de morte certa, só pode ser alvo do ridículo.

 

Autárquicas 2017: Podame


Autárquicas 2017: pelo pó, SEMPRE!


Autárquicas 2017: o penso e a liberdade


     Querem-nos? O povo dirá se sim, se são.

     Querem... calar-nos? Ah, assim sim!

sábado, 23 de setembro de 2017

Autárquicas 2017: o princípio de Peter Pan


Autárquicas 2017: o onanista


Autárquicas 2017: o Malho do pombal


"Dizem que o Caldas glutão"

                    Dizem que o Caldas glutão
                    Em Bocage aferra o dente:
                    Ora é forte admiração
                    Ver um cão morder na gente!”
                                                              (IV, 133) 

         Os epigramas são composições poéticas breves, muitas vezes estruturadas em quadras, mas sempre animadas pela sátira mais ou menos maliciosa, incisiva e sarcástica.
         Este epigrama tem como alvo um confrade da Arcádia, Domingos Caldas Barbosa, que se teria excedido nas críticas a Bocage. De facto, este texto aparece como resposta a um outro do padre Caldas, censurando a maledicência de Elmano Sadino:
De todos sempre diz mal
O ímpio Manuel Maria;
E se de Deus o não disse,
Foi porque o não conhecia.
         A violenta resposta do poeta não se fez esperar, comparando a maledicência do adversário a nada menos que uma investida canina.
         Acrescente-se que para a compreensão da sátira é importante ler a rubrica que muitas vezes antecede o próprio texto poético. Neste caso, pode ler-se que o epigrama era dedicado «A um mulato comilão que murmurava de mim».
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