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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

As seis fases da crise na Europa

     «A maior crise económica e financeira desde a Grande Recessão de 1929 começou há dez anos. Os problemas no mercado hipotecário de alto risco nos EUA ("subprime") já se sentiam há alguns meses, e os seus efeitos na volatilidade de alguns segmentos de mercado eram visíveis há semanas. Mas foi a 9 de agosto de 2007 que o BCE pela primeira vez injetou liquidez de emergência no sistema financeiro da Zona Euro para combater o congelamento dos fluxos de crédito interbancário. Desde então, com erros e sucessos, o BCE insuflou o seu balanço para 4,25 biliões de euros, ou quase 12, 5 mil euros por europeu, numa crise de uma década que pode ser dividida em seis fases:

1: Os primórdios da crise, de 9 de agosto de 2007 a 15 de setembro de 2008

     A desconfiança entre bancos força o BCE a injetar liquidez pela primeira vez no sistema financeiro da Zona Euro a 9 de agosto de 2007. Os meses seguintes são confusos e voláteis e o BCE ainda sobe juros em julho de 2008. Dois meses depois cai o Lehman Brothers nos EUA, dando início à grande crise financeira internacional.


2: A grande crise internacional, de 15 de setembro de 2008 a 23 de abril de 2010

     A queda do Lehman Brothers em setembro de 2008 marcou o início da grande crise internacional. A desconfiança generalizou-se por todo o sistema financeiro das economias avançadas, os bancos centrais coordenaram-se em medidas de cedência de liquidez e corte de juros. Em seis meses o BCE passou a taxa central de 4,25% para apenas 1% em maio de 2009.


3: Zona Euro sob ameaça, de 23 de abril de 2010 a 2 de novembro de 2011

     A terceira fase da crise é marcada pelo agudizar dos problemas da Zona Euro, com vários resgates de Estados-membros, a começar pelo grego em abril de 2010. Seguiu-se o irlandês em novembro de 2010 e o português em abril de 2011. A ligação diabólica entre a saúde do sistema financeiro e dos respetivos soberanos fazia sentir-se em toda a força, e começa mesmo a ameaçar grandes países como a Espanha e a Itália.


4: Draghi muda o jogo, de 2 de novembro de 2011 a 4 de julho de 2013

     A entrada de Mario Draghi para a liderança do BCE em novembro de 2011 muda o jogo da crise. Em dezembro avança com empréstimos de muito longo prazo que devolveram alguma tranquilidade aos grandes bancos da periferia. Confrontado com o ressurgir de pressões sobre as taxas de juro na periferia, em julho de 2012 faz o célebre discurso de Londres em que garante que o banco central fará "o que for preciso" para garantir a unicidade do euro e em setembro o BCE apresenta o OMT, o programa de compra de dívida pública de países em dificuldades. As taxas de juro começaram a baixar consistentemente desde então.


5: O fantasma da deflação, de 4 de julho de 2013 a 22 de janeiro de 2015

     Com a Zona Euro fora de perigo de vida, chegou a ameaça de deflação na Zona Euro. Em julho de 2013 o BCE estreia-se em medidas não convencionais, como o "forward guidance", ou seja, garantias de médio e longo prazo para a evolução da taxa de juro, o que nunca tinha feito. A ideia foi defender a Zona Euro da volatilidade provocada pelo início da normalização da política monetária nos EUA sinalizada na primavera de 2013 por Ben Bernanke na Fed. A taxa de inflação já estava a cair na Zona Euro e tinha chegado a 1,6% em julho de 2013. Em maio de 2014 já estava nos 0,5% e o BCE vai mais longe, estreando-se nas taxas de juro negativas em junho desse ano.


6: BCE começa compra de dívida pública, desde 22 de janeiro de 2015

     Um pouco mais de seis anos após a Reserva Federal, em janeiro de 2015 o BCE confirma que vai avançar com um programa de compra alargada de ativos, ao ritmo de 60 mil milhões de euros por mês, com destaque para a compra de dívida pública. O objetivo foi travar os riscos de deflação na Zona Euro. O problema foi reforçado em março de 2016 para compras de 80 mil milhões de euros mensais e cortes nas taxas central para 0% (de 0,05%) e de depósitos para -0,4% (de -0,3%). Em março de 2017, considerando que o risco de deflação desapareceu, o BCE volta a reduzir as compras mensais para 60 mil milhões de euros e guarda para o segundo semestre deste ano novidades sobre novas orientações para a política monetária, no que deverá configurar o início da sétima fase da crise.




FONTE: Jornal de Negócios
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