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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Análise de "Descalça vai pera a fonte"


Classificação
 
Vilancete     - mote de três versos

- duas voltas de sete versos (sétimas)

- métrica: redondilha maior (7 sílabas métricas)

 
• O vilancete é uma forma poética musical composta a partir de um mote curto (constituído por 2 ou 3 versos), tradicional, geralmente alheio, que introduz o tema. De início, este mote era tirado de uma canção popular-vilã e a ele cabia, em exclusivo, a designação de vilancete, que depois passou a atribuir-se a todo o poema. A seguir ao mote existem as voltas ou glosas, compostas por sete versos (sétimas), que desenvolvem o tema introduzido pelo mote. A glosa divide-se, por sua vez, em cabeça (os primeiros 4 versos) e cauda (os restantes 3). O último verso da cabeça rima com o primeiro da cauda, fazendo assim a ligação entre ambos; os dois últimos versos da cauda rimam com os dois últimos versos do mote, e o último deste é, no vilancete perfeito, integralmente repetido no último verso da cauda.
 
 
Tema: a mulher / a beleza feminina – o retrato da mulher amada e idealizada.
 
 
Estrutura interna
 

v  Mote (tese) – Apresentação de Leanor:

localização espacial: a caminho da fonte (ambiente bucólico e rural);

tempo; primavera (a “verdura”) – presente;

caracterização da figura retratada:

nomeação/identificação: Leanor;

social:

- pobre / do povo (“Descalça”);

- atividade doméstica: ida à fonte;

▪ física: formosa / bela;

▪ psicológica:

- insegura (“não segura”)

- ansiosa

posição do sujeito poético: observador da figura feminina.

 
v  Voltas (confirmação da tese) – Desenvolvimento:

• da caracterização física:

▪ pele branca – “mãos de prata” – metáfora

▪ formosa – “fermosa” – adjetivação expressiva

▪ cabelo louro – “cabelos de ouro” – metáfora

▪ muito bela – “tão linda que o mundo espanta” – hipérbole + oração subordinada adverbial consecutiva

▪ graciosa – “chove nela graça tanta” – metáfora + trocadilho

vestuário:

- “cinta de fina escarlata” – vermelho alegria, paixão, sensualidade

- “sainho de chamalote” – diminutivo carinho

- “vasquinha de cote, / mais branca que a neve pura“ – comparação + hipérbolebranco pureza

- “a touca”

- “o trançado”

- “fita”

cores

- vermelho alegria, sensualidade, paixão

- branco pureza

- louro dos cabelos

▪ elementos do quotidiano de trabalho de Leanor

- o pote

- o testo

 
efeitos da sua beleza física:

▪ espanta o mundo

▪ dá graça à formosura

 
• da caracterização psicológica:

▪ insegura e ansiosa

▪ apaixonada

▪ causas da insegurança:

- caminhar com o pote na cabeça > insegurança (desequilíbrio) > encontro com o amigo?

- a beleza (ser ou não ser apreciada)?

- o encontro com o namorado (faltará ou marcará presença?)

- os seus sentimentos?

 
 
Estrutura narrativa do poema
 
*      Espaço: ambiente campestre, rural, bucólico (“verdura”, “fonte”).

 
*      Tempo: presente – momento em que o sujeito observa a mulher.

 
*      Ação: ida à fonte – “vai para a fonte”.

 
*      Personagem: Leanor.

 
 
Forma
 
• Métrica: redondilha maior (versos de 7 sílabas métricas) – medida velha.
 
Rima:
- esquema rimático: ABB / CDCCBB
- emparelhada e interpolada
- consoante (“verdura”/”segura”)
- rica (“verdura”/”segura”) e pobre (“prata”/”escarlata”
- grave ou feminina (“verdura”/”segura”)
 
 
Recursos expressivos

 
Nomes:

- fonte: ambiente rural e campestre; local de cumprimento de uma tarefa doméstica; possível local de encontro amoroso;

- verdura: ambiente rural e bucólico;

- neve: a pureza e tom de pele claro de Leanor;

- ouro, prata: metais preciosos que sugerem o tom de pele claro e os cabelos louros de Leanor, bem como a sua preciosidade.

 
Verbo “chover”, com valor transitivo e sentido hiperbólico: a graça de Leanor era tão evidente e abundante como a chuva.
 
Advérbios de intensidade “tanto” e “tão”: intensificam a beleza física de Leanor.
 
Personificação: “tão linda que o mundo espanta”.
 
Diminutivos – “sainho” e “vasquinha”: sugerem o carinho e a simpatia do sujeito pela mulher, bem como o seu encantamento face à sua beleza e graciosidade.
 
Trocadilho: “Chove nela graça tanta / Que dá graça à fermosura”.
 
Aliteração em /v/.
 
• Alternância de sons abertos (ó, á), sugestivos de vitalidade, fechadas (ô, u) e nasais (on, na).
 
Transporte: vv. 1-2, 15-16.
 
• Associação de cores (o vermelho do vestuário, o branco da pele e o louro dos cabelos) para sugerir a alegria, a pureza e a perfeição de Leanor, respetivamente.
 
• As peças de vestuário e os objetos que transporta, cuja graciosidade o sujeito poético pretende transferir para a mulher.
 
 
Retrato de Leanor – síntese
 
Social:
- do povo
- pobre – descalça
- cumpre tarefas domésticas
 
Físico:
- jovem
- bela
- pele branca
- cabelo louro
 
Psicológico:
- pura
- insegura
- ansiosa
 
Ideal de mulher petrarquista
 
 
Influências - Intertextualidade
 
Ø  Petrarca (inovações renascentistas):
- caracterização física (a pele branca, o cabelo louro…) e psicológica da mulher (a pureza, a castidade;
- caracterização predominantemente psicológica e só aparentemente física.
 
Ø  A utilização do trocadilho, da hipérbole e do jogo de conceitos e ambiguidades, como recursos do engenho poético (também existentes na endecha "Aquela cativa"), coloca, em certa medida, Camões como precursor da poesia cultista e conceptista do século XVII.

 


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