Português

domingo, 11 de julho de 2010


          Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

          Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
          Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
          E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Material para Setembro

  • Manual: Entre Margens - 12.º Ano
  • Obras:
          » Os Lusíadas
» Felizmente há Luar!
» Memorial do Convento

domingo, 6 de junho de 2010

5.º Teste de avaliação - Correcção

Grupo I

Texto A

1. Com efeito, o excerto textual pode dividir-se em dois momentos. No primeiro, situado entre o início e «(...) repetindo um dito do Ega.», descreve-se o público feminino presente na tribuna; no segundo, que abrange os três últimos parágrafos, Carlos vai falar com a sua amiga D. Maria da Cunha.

2. Eça apresenta-nos um retrato caricaturado das senhoras da alta sociedade lisboeta, as mesmas que se encontravam sempre em todos os lugares da moda. Vestidas «a rigor» para a ocasião - com «vestidos sérios de missa» e com «grandes chapéus emplumados à Gainsborough» -, estas senhoras, num esforço desesperado de cosmopolitismo, povoam um ambiente provinciano, de imitação do estrangeiro, onde o desejado requinte, ou chique, é substituído pelo mau gosto e despropósito.

3. D. Maria da Cunha tem um estatuto diferente de todas as outras personagens femininas, pois é a única que «ousara descer do retiro ajanelado da tribuna, e vir sentar-se em baixo, entre os homens». Trata-se de uma mulher «de cabelos já grisalhos», que não se enquadra no cenário constituído pelas outras senhoras e que tem com os homens uma relação diferente das restantes: trata os rapazes por «meninos» e tem «um sorriso de boa mamã». Não está ali para ser vista, mas para se divertir, ao contrário das outras mulheres.

4. O título escolhido por João da Ega para a sua comédia (que nunca passará de um projecto), através da qual pretende vingar-se de Lisboa, prende-se com as características da sua própria personalidade: irreverente, excêntrico, provocador, assumidamente dândi, olha com sobranceria e desprezo a sociedade lisboeta, considerando-a hipócrita, falsa e mesquinha - um «lodaçal».


Texto B

1.1. b

1.2. c

1.3. d

1.4. a


Grupo II

1. «Rindo, D. Maria da Cunha perguntou a Carlos se o Cohen entrava [n'O Lodaçal]. Carlos / Este respondeu-lhe que todos entravam, que / porque / visto que / já que todos eles eram lodaçal.»

2.1.
      a) V
      b) V
      c) F
      d) F

2.2. O professor de Português sua muito.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Contexto histórico-cultural da produção de OS MAIAS

1. A segunda metade do século XIX

          Os Maias foi publicado em de Junho de 1888, no último quartel do século XIX. Atrás de si, tem uma década de 50 que constituiu uma fase de apreciável desenvolvimento das vias de comunicação e do sector económico, coincidente com um período de estabilidade política, conhecido por Regeneração. A figura que coordenou esta surto de desenvolvimento foi Fontes Pereira de Melo, que actuou sobretudo na área das infra-estruturas de comunicação, nomeadamente estradas, pontes, caminhos-de-ferro, telégrafo; todavia, os desequilíbrios entre o litoral e o interior do país acentuaram-se.


2. O contexto cultural

          Em termos culturais, este período coincidiu com a vigência do Ultra-Romantismo e pela sua figura emblemática, António Feliciano de Castilho, uma espécie de padrinho oficial dos escritores mais jovens, visto que possuía grande influência e relações com o poder que lhe possibilitavam atapetar o caminho literário a esse grupo de iniciados na literatura, o que era recompensado pelo elogio mútuo. Tal levou a que Antero de Quental, figura central da nova geração - a Geração de 70 -, apelidasse o grupo ultra-romântico de «escola do elogio mútuo».

terça-feira, 20 de abril de 2010

Obras

  • O Mistério da Estrada de Sintra (1870).
  • O Crime do Padre Amaro (publicado em folhetins entre 1875 e 1876, na Revista Ocidental).
  • Prosas Bárbaras (ainda de feição romântica - 1886).
  • Farpas (1871 - em colaboração com Ramalho Ortigão).
  • A Tragédia da Rua das Flores.
  • O Primo Basílio (1878).
  • O Mandarim (1880).
  • As Minas de Salomão (1885 - tradução).
  • A Relíquia (1887).
  • Os Maias (1888).
  • Uma Campanha Alegre (1890-1891).
  • Correspondência de Fradique Mendes (1900).
  • A Ilustre Casa de Ramires (1.ª edição incompleta em 1897 e edição completa em 1900).
  • A Cidade e as Serras (1901 - edição póstuma).
  • Contos (1901 - edição póstuma).
  • Últimas Páginas (1912 - edição póstuma).
  • A partir de 1925, edita-se postumamente um conjunto de obras: A Capital, O Conde de Abranhos, Alves e C.ª, Correspondência, Notas de Viagem, Páginas Esquecidas, A Catástrofe (conto) e A Tragédia das Ruas das Flores.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vida

» Eça de Queirós nasceu na Póvoa do Varzim no dia 25 de Novembro de 1845. Foi registado como «filho natural de José Maria de Almeida de Teixeira de Queirós e de mãe incógnita», de acordo com o seu registo de baptismo.
» As circunstâncias que rodearam o seu nascimento levaram a que sua mãe o entregasse a uma ama de Vila do Conde, que o criou até à idade de seis anos.
» Partiu então para casa dos avós paternos em Verdemilho (Aveiro) onde permaceu até aos dez anos, altura do seu falecimento, após o que passou a frequentar o Colégio da Lapa, dirigido pelo pai de Ramalho Ortigão.
» Aos dezasseis anos, partiu para Coimbra, onde se formou em Direito, no ano de 1866. Aí, teve oportunidade de frequentar o meio intelectual, contactando com as novas ideias europeias e com figuras de vulto como Antero de Quental.
» Integrou o grupo da Geração de 70, responsável por uma revolução cultural em Portugal que levou ao confronto do Ultra-Romantismo e à sua «substituição» pelo Realismo.
» Entretanto o pai foi colocado como juiz em Lisboa, o que facilitou a fixação da família na capital.
» Em 1867, Eça publicou o folhetim Lisboa na Gazeta de Portugal.
» Com Jaime Batalha Reis e Antero, Eça criou um «heterónimo» colectivo, Carlos Fradique Mendes, poeta da modernidade.
» Levou uma vida preenchida, repartida pelo jornalismo, pela fugaz actividade como advogado, pela carreira diplomática de vinte e oito anos, passando por cidades como Havana, New Castle, Bristol e Paris, e pela literatura.
» Publicou no Diário de Notícias o conto «Singularidades de uma Rapariga Loira», no regresso de uma viagem de cinco meses pelos Estados Unidos e pelo Canadá.
» Em 1871, em Lisboa, juntamente com Batalha Reis, Adolfo Coelho, Salomão Saraga, membros do Cenáculo. liderados por Antero de Quental, Eça passou a colaborar na organização das Conferências Democráticas do Casino.
» Em 1872, partiu para Havana como cônsul, de onde regressou em 1874, seguindo depois para Inglaterra como diplomata.
» No Verão de 1884, numa breve passagem por Portugal, iniciou o namoro com Emília de Castro, filha dos condes de Rezende.
» Dois anos depois, em 1886, casou com Emília de Castro, de quem teve quatro filhos.
» Em Setembro de 1888, instalou-se definitivamente em Paris, regressando a Lisboa ocasionalmente e participando nos jantares organizados pelo grupo de amigos conhecidos como Os Vencidos da Vida.
» Em 1893, mudou-se para Neuilly.
» Entre Fevereiro e Maio de 1889, fez uma última viagem a Lisboa.
» Morreu em Neuilly, arredores de Paris, em 1900, e foi enterrado no Cemitério do Alto de S. João, com honras de Estado.
» Posteriormente, o seu corpo foi transladado para o cemitério de Santa Cruz do Douro.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A música de uma vida

Conforme já referido em aula, aqui fica o lembrete: pensar, durante o período de descanso pascal, na selecção de uma música emblemática das vossas ainda curtas vidas para visionamento e apresentação oral na sala.
Como aperitivo, aqui fica um tema velhinho de 1982, «Only You», da autoria de Yazoo e interpretado pela inesquecível Alison Moyet.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Correcção - 3.º Teste

Grupo I
TEXTO A

1. Maria crê que D. Sebastião não morreu e que, portanto, irá regressar (“… é o da ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há-de vir, um dia de névoa muito cerrada…”). Esta posição evidencia a crença de Maria no mito sebastianista nos seus traços populares: o regresso efectuar-se-á numa manhã de nevoeiro.

2. Para demover Maria da tal convicção, D. Madalena argumenta que o regresso de D. Sebastião não passa de uma «quimera», ou seja, de uma utopia, uma fantasia ou sonho inventado pelo povo para se consolar nesta hora em que o país está sob o domínio castelhano (“O povo, coitado, imagina essas quimeras para se consolar na desgraça.”).

3. Tanto Manuel de Sousa como D. Madalena se afligem com as referências que Maria faz à possibilidade do regresso de D. Sebastião. No caso de Manuel de Sousa, quando essas referências ocorrem, ele “põe-se logo outro, muda de semblante, fica pensativo e carrancudo…”, isto é, altera a sua expressão fisionómica. Já quanto a D. Madalena, embora afirme que não gosta de ouvir a filha falar desse assunto porque não é próprio da sua idade e que gostaria era de a ver «mais alegre», o seu verdadeiro receio reside no facto de, regressando D. Sebastião, com ele regressar o seu primeiro marido, o que, obviamente, constituiria a ruína da sua actual família.

4. O aparte de Telmo traduz o estado de saúde de Maria, que se encontra febril. Tendo em conta as referências às mãos extremamente quentes e às rosetas nas faces, estamos perante um quadro que indicia tuberculose, o que, por outro lado, pressagia o final trágico da personagem.


TEXTO B

1. b

2. b

3. d

4. a


Grupo II

1.
1 – f

2 – c

3 – b

4 – a

2.1. – b

2.2. - a

3. Por exemplo: “Portugal é um país de comerciantes, uma desproporcionada superfície mercantil.”. O sujeito da segunda oração é o nome / substantivo «Portugal», mas, visto que é comum às duas orações, está subentendido.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

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