Português

domingo, 12 de setembro de 2010

Época Medieval

          A Época Medieval abrange dois períodos: o período trovadoresco e o dos poetas palacianos e cronistas.


1.º) Período dos Trovadores

          O trovadorismo / a poesia trovadoresca galego-portuguesa constitui a primeira manifestação literária em língua portuguesa, coincidente, em termos temporais, com a independência do reino português.
          Tradicionalmente, as literaturas iniciam-se por obras em verso, o que encontra justificação no facto de os primeiros textos serem de natureza oral, isto é, se destinarem a ser transmitidos / divulgados oralmente e serem, assim, mais facilmente memorizáveis. No caso da poesia trovadoresca, a sua difusão ficou entregue aos trovadores (os compositores dos textos - as chamadas cantigas), os jograis (os intérpretes) e as soldadeiras (as mulheres que acompanhavam os jograis dançando). A própria designação destes textos primitivos da nossa literatura  - cantigas - remete para um texto poético concebido para ser acompanhado de música e de dança.
          Foi sobretudo graças à figura do jogral que estas composições se divulgaram. De facto, ele percorria cidades, castelos, aldeias e feiras interpretando um determinado repertório literário e musical que tinha como alvo um público iletrado e como base as línguas locais.

          A poesia trovadoresca foi buscar a sua designação à principal figura que a cultivou: o trovador. Por outro lado,  a sua origem reside na Provença, uma região do sudoeste da França, graças a um conjunto de factores que facilitaram a sua existência:
. O feudalismo, assente numa estrutura social dominada pelo senhor, que possuía o seu senhorio, no qual trabalhava um conjunto de servos - os vassalos -, obrigados ao pagamento de uma determinada renda, proporcional à produção agrícola de cada ano, além de outros tributos. Esta relação será transposta, em parte, para a cantiga de amor.
. O papel da mulher, que possuía um estatuto diferente do que era comum nos demais reinos europeus. De facto, usufruía da faculdade de dispor dos seus bens sem necessidade do consentimento dele. Porém, este estatuto era aplicado somente à mulher casada, já que a solteira permanecia na dependência paterna.

          Vários factores explicam a influência da poesia provençal em Portugal:

               1.º) As trocas comerciais entre o reino português e a França;

               2.º) A presença da ordem religiosa de Cluny na Península Ibérica a partir do século XI;

               3.º) As peregrinações / romarias religiosas (por exemplo, a Santa Maria de Rocamadour, o caminho de Santiago...), nas quais participavam muitos galegos e portugueses;

               4.º) A presença de cavaleiros franceses para participarem nas campanhas da Reconquista cristã;

               5.º) A vinda do futuro D. Afonso III para Portugal, para ocupar o trono, fazendo-se acompanhar de figuras que conheciam a tradição lírica provençal.


          Não obstante pertencer à tradição oral, a lírica medieval galego-portuguesa chegou até nós na forma escrita, reunida em três colectâneas: os cancioneiros da Ajuda, da Biblioteca Nacional e da Vaticana, que reunem cerca de 1680 cantigas, da autoria de aproximadamente 150 autores.


          No que diz respeito aos géneros, a lírica trovadoresca galego-portuguesa é composta pelas cantigas de amigo e de amor (constituem a vertente lírica) e pelas cantigas de escárnio e maldizer (a vertente satírica).

          A cantiga de amigo é posta na boca de uma mulher jovem e solteira - a donzela - que exprime os seus sentimentos (a paixão, a saudade - pela sua ausência no «fossado», na guerra -, a alegria de amar e ser amada, a mentira amorosa à mãe, o desejo de vingança motivado pela infidelidade do seu amado, designado por «amigo»), num ambiente rural, perante as suas confidentes: as amigas, a mãe, as irmãs (frequentemente a mais velha, porque mais experiente e conhecedora dos sentimentos da irmã).

          Já a cantiga de amor, não obstante comungar da temática da cantiga de amigo - o amor -, é posta na boca do trovador, que se dirige à dama (a «senhor») expressando o seu amor ou lamentando a sua indiferença ou altivez, em suma, a sua não correspondência amorosa. Esta mulher é descrita em termos eufóricos, mesmo que não corresponda amorosamente ao sujeito poético, o que, neste caso concreto, provoca a sua «coita», isto é, o seu sofrimento, traduzido no pranto, na insónia, na loucura e, em último grau, no desejo de morte. Por outro lado, a mulher encontra-se sempre num plano superior ao do homem,  dado ser a obra perfeita de Deus, numa espécie de inversão do código feudal: ela é a "senhor(a)" e o homem é o vassalo.

          As cantigas de escárnio e maldizer criticam e escarnecem de todas as classes sociais, fazendo uso por vezes de uma linguagem obscena.


          A primeira cantiga conhecida intitula-se "No mundo non me sei parelha" (mais conhecida por "Cantiga de Garvaia") e é da autoria de Pai Soares de Taveirós.



          Além dos três já referidos, existem outros géneros:

               . Tenção: cantigas em forma de diálogo entre dois trovadores ou um trovador e um jogral, cujo tema é o próprio espectáculo trovadoresco, apresentado em tom de competição;

               . Pranto: texto em que se chora (daí a designação) a morte de um ente querido;

               . Cantiga de seguir: texto que traduz a rivalidade entre os trovadores, dado que retomam ou reelaboram outros textos com a intenção de os aprimorar;

               . Descordo.


          Tradicionalmente, considera-se o final da lírica galego-portuguesa o ano de 1534, data da morte de D. Pedro, Conde de Barcelos, considerado o última mecenas e trovador.


          Além da poesia profana, temos a poesia religiosa, consubstanciada nas chamadas cantigas de Santa Maria (cerca de 400 textos), organizadas pelo rei Afonso X.

Literatura Portuguesa - Épocas

          A história da literatura portuguesa contempla a sua divisão em quatro épocas:

                    » Época Medieval;

                    » Época Clássica;

                    » Época Moderna;

                    » Época Contemporânea.

          Para conhecer, em síntese, cada uma das épocas, basta «clicar» na respectiva designação.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Educação Física pré...

Autarquia deixa de transportar alunos que vivam a menos de 2,5 km da escola

Câmara de Salvaterra de Magos corta nos transportes escolares


     Medida afecta crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo. Município justifica com as restrições orçamentais que são impostas às câmaras municipais pela administração central.

     Sofia tem oito anos e vai frequentar o terceiro ano da escola primária do Estanqueiro, em Foros de Salvaterra, concelho de Salvaterra de Magos. A partir do próximo ano lectivo, que se inicia a 13 de Setembro, Sofia e todas as crianças que vivam a menos de 2,5 km do estabelecimento de ensino que frequentam deixam de ter direito a utilizar os transportes escolares que a câmara municipal disponibilizava a todas as crianças do primeiro ciclo e pré-escolar.

     A informação foi dada pela autarquia através de uma carta que os encarregados de educação receberam em casa. A missiva, assinada pela vereadora da Educação, Margarida Pombeiro (BE), informa que devido às “restrições orçamentais que, actualmente, são impostas às câmaras municipais pela administração central, e os impactos que os mesmos provocam ao nível da capacidade de concretização das políticas locais não é possível conceder o transporte solicitado” pelos encarregados de educação.

     A presidente da autarquia, Ana Cristina Ribeiro (BE), disse que o município estava a gastar “milhares de euros” em transportes escolares e que, devido aos cortes orçamentais, tiveram que tomar medidas. “A lei obriga as câmaras a transportar apenas as crianças que residem a mais de quatro quilómetros de distância da escola no primeiro ciclo e no pré-escolar não existe essa obrigatoriedade. Apesar da lei, nós transportávamos até as crianças que moravam perto das escolas, tanto do primeiro ciclo como do pré-escolar. Com os cortes orçamentais que sofremos tivemos que tomar medidas. Para não haver injustiças nem tratamento desigual optamos por traçar uma distância, 2,5 km, que continua a ser acima do que a lei nos obriga”, explicou a autarca.

     Os pais das crianças é que não estão satisfeitos com a situação uma vez que muitos não têm como levar os filhos à escola. “Tenho que sair de casa antes das oito da manhã para ir trabalhar e o meu marido também e não temos como levar a nossa filha à escola. Vou deixar a minha filha ir e vir sozinha? No Inverno, com chuva, frio e os dias mais pequenos, como é que vai ser?”, interroga-se Maria Costa, mãe de Sofia.

     Também José Pereira, de Glória do Ribatejo, se debate com o mesmo problema. Como vivem a cerca de 1300 metros da escola deixam de ter direito a transporte escolar. “Não tenho como levar o meu filho para a escola porque saio cedo de casa e a minha mulher também. Quando eu andava na escola era diferente porque não circulavam tantos automóveis como hoje. Fico preocupado porque é perigoso os miúdos irem para a escola sozinhos. No Inverno têm que se levantar mais cedo, faz frio e tenho receio que o meu filho, e outros, fiquem sem vontade de ir para a escola”, refere o encarregado de educação.


     Acrescento meu: quanto tempo demoram crianças de seis anos a percorrer, a pé, 2, 5 quilómetros?
     Se percorrerem cada km, em média, em 15 minutos, levarão cerca de 40 a fazer o trajecto, o que implica cerca de 1 hora e 20 minutos por dia.
     Do mal o menos, pois, se a medida seguisse a lei - lembremos que remete para uma distância de 4 quilómetros -, estaríamos a falar de duas horas de caminho.
     Mas o problema central nem é o tempo gasto no caminho, é o facto de ser feito por crianças de 5, 6, 7 e 8 anos de idade (dar como exemplo o pré-escolar nem vale a pena, de tão ridículo). Isto sem falar nos demais perigos que espreitam e a que os pais ouvidos aludiram.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Material

. Manual: Entre Margens.

. Gramáticas:
          » Gramática Formativa, de Luísa Oliveira e Leonor Sardinha (Didáctica Editora);
          » Gramática Prática de Português, de Olga Azeredo (Lisboa Editora).

. Obras de leitura integral:
          » Felizmente há Luar!;
          » Memorial do Convento, de José Saramago.

. Outras obras:
          » Mensagem, de Fernando Pessoa;
          » Os Lusíadas, de Luís de Camões.

. Sítios:
          » Ciberdúvidas da Língua Portuguesa;
          » http://www.a-gramatica.blogspot.com/;
          » http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com/.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Programa

. Unidade 1

-----» Leitura:
---------------- Textos informativos diversos;
---------------- Fernando Pessoa ortónimo e heterónimos.

-----» Compreensão oral:
---------------- Registos áudio e audiovisuais diversos.

-----» Expressão oral: Exposição.

-----» Expressão escrita: Textos de reflexão.

-----» Funcionamento da língua:
---------------- Texto;
---------------- Tipologia textual;
---------------- Consolidação dos conteúdos do 10.º e 11.º anos.



. Unidade 2

-----» Leitura:
---------------- Textos informativos diversos;
---------------- Os Lusíadas (Luís de Camões) e Mensagem (Fernando Pessoa).

-----» Compreensão oral:
---------------- Documentários;
---------------- Excertos de filmes;
---------------- Registos áudio e audiovisuais.

-----» Expressão oral:
---------------- Exposição oral;
---------------- Recitação;
---------------- Dramatização.

-----» Expressão escrita: Textos de reflexão.

-----» Funcionamento da língua: idem (1.ª unidade).



. Unidade 3

-----» Leitura:
---------------- Textos informativos diversos;
---------------- Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro.

-----» Compreensão oral:
---------------- Documentários sobre a Ditadura;
---------------- Canções de Resistência.

-----» Expressão oral: Debate.

-----» Expressão escrita: Dissertação.

-----» Funcionamento da língua: idem.



. Unidade 4

-----» Leitura:
---------------- Textos informativos diversos;
---------------- Memorial do Convento, de José Saramago.

-----» Compreensão oral:
---------------- Entrevista;
---------------- Debate.

-----» Expressão oral:
---------------- Exposição;
---------------- Debate.

-----» Expressão escrita: Dissertação.

-----» Funcionamento da língua: Idem.

sábado, 28 de agosto de 2010

Escrever é uma aventura

                                                A Stora hoje falou
                                                De um trabalho interessante!
                                                Toda a malta concordou
                                                Em levar a ideia avante!

                                                Ninguém sabia o que escolher,
                                                Se a prosa ou a poesia
                                                Eu comecei logo a escrever
                                                Para não ficar de cabeça vazia.

                                                Fiquei tão entusiasmada,
                                                Que me pus a imaginar
                                                O lindo conto de fada
                                                Que eu iria inventar.

                                                Fadas não, já não se usam,
                                                Essa moda já lá vai!
                                                «Os escritores até abusam»,
                                                Como diz sempre o meu pai.

                                                «Em busca de um tesouro?»
                                                «O polícia e o ladrão?»
                                                «A aventura de um mouro?»
                                                Mas que falta de imaginação!

                                                Oh! Mas que grande problema!
                                                Escrevo e volto a apagar,
                                                Risco a folham, mudo o tema
                                                E não saio do lugar!

                                                Uma aventura quero escrever,
                                                Mas não há meio de conseguir!
                                                Já não sei o que fazer,
                                                Pois nem consigo dormir...

                                                Depois de muito tentar,
                                                Escrevi algumas linhas,
                                                Já comecei a assentar,
                                                Tive ideias bem girinhas!

                                                Mostrei à minha Stora,
                                                Mas ela franziu a testa...
                                                Sorriu e apenas disse: «Ó Cassidy,
                                                Nunca vi uma história igual a esta!

                                                Uma história no cemitério...
                                                Vê se tenho ou não razão:
                                                Não tem muito mistério
                                                E dá uma grande confusão!»

                                                Fiquei um pouco aborrecida,
                                                Mas acabei por concordar
                                                Que a história era descabida
                                                Para num concurso entrar.

                                                Mas se pensa que desisti,
                                                Vai ficar enganada!
                                                Fui para casa, mas nem dormi,
                                                Fiquei a pensar, deitada...

                                                E logo de manhãzinha,
                                                Mal o sol apareceu,
                                                Levantei-me da caminha,
                                                E «Ao trabalho!», pensei eu.

                                                Na cabeça, estava tudo certo
                                                O pior foi escrever!
                                                Tinha o dicionário perto,
                                                Mas não estava a entender!

                                                Dei tanta volta ao dicionário,
                                                Que já estava aborrecida...
                                                É útil, não digo o contrário,
                                                Mas não fico esclarecida!

                                                Cada palavra tem uma dezena
                                                Ou mais de significados!
                                                Mesmo até a mais pequena
                                                Me dá imenso trabalho!

                                                Está na hora da Escola
                                                E a história por acabar...
                                                Eu bem puxo pela «tola»,
                                                Para conseguir entregar!

                                                Penso a andar, até a rir,
                                                Penso e volto a pensar...
                                                Eu sei que vou conseguir
                                                Custe lá o que custar!

                                                Os colegas, no intervalo,
                                                Só me andam a chatear...
                                                Eu com eles não me ralo,
                                                Tenho é de me concentrar!

                                                «Eureka!... Consegui!...»
                                                Gritei na aula de Ciências.
                                                Claro que não me apercebi
                                                Quais seriam as consequências.

                                                Agora estou bem segura,
                                                Mas demorei a perceber
                                                Que é uma grande aventura
                                                Aprender a escrever!...

                                                Despeço-me com carinho
                                                E com uma sugestão:
                                                Nas férias lê um livrinho
                                                E verás a emoção!

                                                                            CASSIDY (Paula Cristina, 7.º B, n.º 11)

domingo, 22 de agosto de 2010

Novas Oportunidades


          Toda a gente (ou quase toda) já ouviu falar em Novas Oportunidades (NO) ou, segundo Medina Carreira, uma imensa fraude que se traduz na atribuição de certificados de 6.º, 9.º e 12.º ano a eito, por vezes após apenas alguns meses de suposta frequência de qualquer coisa.
          Existe uma entidade, designada ANQ, supostamente responsável pela qualidade de toda esta encenação, que, entre outras atribuições, fixa as metas de cada Centro Novas Oportunidades (CNO), isto é, o número de certificações que tem de conceder anualmente e de cujo cumprimento depende o respectivo financiamento. Não é muito difícil de antever o resultado final de toda esta embrulhada em termos de qualidade e exigência deste tipo de formação.

          O «texto» acima transcrito é um exemplo do que escrevemos e que constitui o suporte de um certificado do Ensino Secundário atribuído a um desgraçado (?) qualquer que, mediante tamanha competência, passou a possuir o 12.º ano de escolaridade. A quantidade de erros e de falhas é de tal monta que se torna escusado estar a apontá-los ou sequer exemplificá-los. Acresce que estes «trabalhos», antes de serem apresentados, são corrigidos e aperfeiçoados por professores até se alcançar, supostamente, um desempenho minimamente decente.

          Por outro lado, conforme noticiava há dias o jornal i, estão à venda na Internet trabalhos realizados por anteriores «alunos» que já obtiveram o seu certificado a cerca de 400 euros a peça. Todos sabem disto e convivem bem com tamanha fraude, parafraseando novamente Medina Carreira.

          Não tenho dúvidas de que o país pagará um preço elevado a curto prazo por este imenso embuste. Espero, pelo menos, que não se esqueça o nome dos embusteiros e que alguém os chame à responsabilidade, dado que, no presente, ninguém parece importar-se minimamente com o assunto.

domingo, 15 de agosto de 2010

Dire Straits: "Local Hero (Going Home)" - 1983


Singela homenagem aos nossos «homens e mulher da paz» desaparecidos este Verão durante o flagelo dos incêndios.

sábado, 7 de agosto de 2010

A Origem do Ideário dos responsáveis da Educação nos últimos 30 anos

          Luís Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças de José Sócrates, ao Público de 6 de Agosto:
           «A educação – outro problema calamitoso – também não deu boas notícias com a perspectiva do fim das reprovações. Há uns meses, numa conferência em S. Francisco na Califórnia, um professor americano já reformado, que escreveu muito sobre Espanha e também sobre Portugal, perguntou-me qual a razão dos maus resultados do ensino nacional. Depois de uma longa conversa em que mostrei que os recursos financeiros, humanos e materiais eram dos melhores da Europa, os resultados brilhavam pela ausência. A finalizar disse-lhe que boa parte da culpa também era deles, americanos. Perante a surpresa expliquei-lhe que no final dos anos sessenta (ou princípios de setenta) um ministro da Educação tivera a ingenuidade de mandar umas dezenas de pessoas estudar “ciências da educação” nos Estados Unidos. Ele interrompeu-me perguntando: não me diga que foram para Boston. Exactamente, disse-lhe. O meu amigo respirou fundo e calmamente concluiu: então, o caso é mesmo muito grave.»
Fonte: blogue A Educação do meu Umbigo, autoria do prof. Paulo Guinote

NOTA: A «ingenuidade» ocorreu em finais dos anos setenta e princípios dos oitenta. Nela participaram a actual Ministra da Educação, Isabel Alçada, e o ex-secretário de estado do sector, actual titular do ministério do trabalho, Valter Lemos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Uma metáfora de Portugal

Em contramão

          Como é costume em terras de Camões, estamos sempre a trabalhar em sentido contrário ao de outros países que nos poderiam servir de referência, ora aplicando medidas opostas às que aqueles praticam, ora adoptando algumas que já foram testadas e entretanto abandonadas. É o caso dos grandes agrupamentos escolares que estão a ser constituídos em Portugal.
          Para quem tenha dúvidas, transcrevemos uma notícia do Público on-line sobre esta matéria com sublinhados nossos.

          «Na Finlândia, só três por cento dos estabelecimentos têm mais de 600 alunos


          Ao contrário de Portugal, lá fora aposta-se no regresso a escolas mais pequenas

          19.07.2010 - 07:49 Por Clara Viana

          A criação de grandes agrupamentos escolares que irá começar a tomar forma em Portugal no próximo ano lectivo está em queda noutros países, que já viveram a experiência e tiveram maus resultados. Na Finlândia, a pequena dimensão é apontada como uma das marcas genéticas de um sistema de ensino que se tem distinguido pelos seus resultados de excelência.
          Em Portugal, para já, os novos agrupamentos, que juntam várias escolas sob uma mesma direcção, terão uma dimensão média de 1700 alunos, indicou o secretário de Estado da Educação, João Trocado da Mata. O número limite fixado foi de três mil estudantes.
          Em Nova Iorque, o mayor Michael Bloomberg tem vindo a fazer precisamente o oposto. Desde 2002 foram fechados ou estão em processo de encerramento 91 estabelecimentos. Entre estes figuram mais de 20 das grandes escolas públicas secundárias da cidade, que foram substituídas por 200 novas unidades. Nas primeiras chegavam a coabitar mais de três mil alunos. Nas novas escolas, o número máximo vai pouco além dos 400.

          Em algumas das grandes escolas que fecharam portas eram menos de 40 por cento os alunos que tinham êxito nos estudos. No conjunto das escolas da cidade, esta percentagem é de 60 por cento, mas entre os estudantes que estão nas novas unidades já subiu para os 69 por cento, revela um estudo financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, divulgado no final do mês passado.
          A fundação criada pelo dono da Microsoft tem sido um dos parceiros da administração do mayor Bloomberg na implementação da reforma lançada há oito anos. O estudo, desenvolvido pelo centro de investigação MDRC, abrangeu 21 mil estudantes, dos quais cerca de metade está já a frequentar as novas escolas. Uma das conclusões: entre estes, a taxa de transição ou de conclusão dos estudos é superior em sete pontos à registada entre os alunos inquiridos que frequentam outros estabelecimentos de ensino.



Uma escala mais humana

          Até 2014 terão passado à história dez por cento dos estabelecimentos com piores resultados. O objectivo fixado por Bloomberg duplica a meta estabelecida pela administração de Obama, que no ano passado desafiou os estados a fecharem cinco por cento das suas escolas mais fracas. No âmbito do novo programa Race to the top, lançado para combater o insucesso escolar, aos estados com melhores estratégias e resultados serão garantidos mais fundos para a educação.
          Mas o objectivo não é só fechar as escolas com milhares de alunos e substituí-las por unidades com uma dimensão mais humana - embora este enfoque na "personalização" seja considerado vital. A mudança de escala está também a ser acompanhada pela implementação de novos currículos, pela fixação de um corpo docente mais qualificado e por uma maior autonomia das escolas.
          Esta aposta em escolas mais pequenas, mais bem qualificadas e com maior autonomia faz também parte das prioridades do novo primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron, o que, a ser levado por diante, constituirá uma profunda inversão da tendência registada na última década no Reino Unido. O número de escolas com mais de dois mil estudantes quase quadruplicou e cerca de 55 por cento das secundárias têm mais de 900 alunos.
          Com esta dimensão, a função dos docentes passou frequentemente a ser mais a de "apagar fogos" do que a de ensinar, constata-se num documento elaborado pela organização de professores Teach First.



Aumentar permite poupar

          Um estudo elaborado há uns anos pelo EPPI-Centre, de Londres, com base nas experiências dos países da OCDE, concluía que os alunos tendem a sentir-se menos motivados nas escolas maiores e que os professores se sentem menos felizes com o ambiente vivido nestas


domingo, 11 de julho de 2010


          Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

          Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
          Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
          Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
          E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra
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