Português

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Espaço psicológico

1. Os sonhos
  • Os sonhos do rei e da rainha contrastam com os das outras personagens, sobretudo porque evidenciam o desamor que marca a ralação do casal real: D. João V sonha com a sua própria imortalidade, com a descendência e com o convento, enquanto D. Maria Ana sonha com o cunhado em razão da sua insatisfação sexual;
  • Baltasar sonha com Blimunda, com o trabalho, com os animais, a terra, o ar;
  • Baltasar e Blimunda têm sonhos comuns e, por vezes, sonham em conjunto com o padre Bartolomeu de Gusmão, nomeadamente no que diz respeito à passarola, o que evidencia o profundo envolvimento das três personagens na realização daquela obra, ao contrário da construção do convento, executada à custa do trabalho de milhares para a realização do sonho de um só - D. João V.

2. Os pensamentos
  • Os pensamentos das personagens revelam o seu mundo interior, os seus desejos, sonhos e ambições.

3. A atmosfera do romance
  •  A atmosfera do romance é densa e pesada, em virtude da religiosidade opressiva, com traços de fanatismo, imposta pelos clérigos e pelas ordens religiosas que manobram a vida dos lisboetas, os habitantes da corte, os operários que trabalham nas obras do Convento de Mafra. Tudo parece girar em função da motivação religiosa: desde o nascimento da herdeira real, resultado de uma promessa, à construção do convento. A própria rainha vive dominada pelo fanatismo religioso.
  • Por outro lado, à excepção das touradas, todos os divertimentos e acontecimentos importantes ou são de cariz religioso, ou têm a ver com a Igreja, ou misturam o religioso e o profano (como os festejos que antecedem a procissão do Corpo de Deus), ou ainda a religião e a luxúria (por exemplo, a procissão da penitência e as saídas das mulheres para visitar as igrejas durante a Quaresma. Pairando sobre tudo isto está sempre  mancha negra da Inquisição e os autos-de-fé, para gáudio e elevação espiritual de nobres e plebeus.
  • O sermão proclamado aquando do transporte da pedra e após a morte de Francisco Marques representa a demagogia exercida pelo clero sobre o povo ignorante.
  • O lar de Marta Maria e João Francisco distingue-se desta imagem profundamente negativa da sociedade portuguesa pela tolerância com que recebem o filho e a nora, que suspeitam não estarem casados conforme mandam as leis da Igreja, não questionando algumas estranhezas que notam em Blimunda, embora essa tolerância não seja tão grande que a aceitem se ela for uma cristã-nova.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Blimunda


          Blimunda Sete-Luas é filha de Sebastiana Maria de Jesus, condenada ao degredo, acusada de ser visionária e cristã-nova, num auto-de-fé, onde conhece Baltasar.
          Fisicamente, poucos dados nos são transmitidos sobre a personagem, sendo todo o realce dirigido para os olhos, descritos diversas vezes - de facto, ela possui uns olhos misteriosos, extraordinários, de cor indefinida ("... olhos como estes nunca se viram, claros de cinzento, ou verde, ou azul, que com a luz de fora variam ou o pensamento de dentro, e às vezes tornam-se negros nocturnos ou brancos brilhantes como lascado carvão de pedra..." - pág. 55), e para o corpo, alto e delgado. O cabelo é "... russo, injusta palavra, que a cor dele é a do mel..." (pág. 103).
          Tem 19 anos no momento em que conhece Baltasar e mantém intacta a sua virgindade, que entrega a Baltasar na sequência do seu encontro do auto-de-fé. Tem poderes mágicos: é vidente, pois possui a capacidade de, em jejum, "ver por dentro" das coisas e das pessoas (capacidade que só emprega em Baltasar no derradeiro momento da comunhão mística entre ambos); tem também o poder de recolher vontades, dois traços fundamentais e imprescindíveis na construção da passarola, que se tornará, igualmente, o seu projecto. Estes seus poderes são aplicados no mundo real, concreto, no entanto ela consegue ver para além das aparências, já que possui o dom da ecovisão, o dom de ver por dentro das pessoas e das coisas, afastando-se da materialidade e aproximando-se da espiritualidade adstrita à arte de Scarlatti e ao sonho de voar do padre Bartolomeu de Gusmão. O facto de o único ser que ela se recusa a ver ser Baltasar, o «seu homem», pode significar a dificuldade em «ver» quem se ama, talvez por medo do que possa encontrar.
          É, portanto, uma personagem marcada pela excepcionalidade, revelada pela sua ascendência (é filha de uma feiticeira), pelo valor simbólico do nome que lhe é atribuído ("Sete-Luas") e pelos seus dotes particulares de vidência ("ver por dentro").
          O seu único amor é Baltasar, com quem forma um só, por quem está disposta a realizar todos os sacrifícios e a quem dedica uma afeição verdadeira, espontânea e duradoura. Por outro lado, o amor dela por ele é também o símbolo da aceitação e renúncia, dado que nunca o olha por dentro, como vimos. Aos olhos de Scarlatti, Blimunda e Baltasar surgem, respectivamente, como Vénus e Vulcano (pág. 168). Com efeito, apaixonada pelo ex-soldado, mantém com ele uma relação de amor, de cumplicidade "que não é deste mundo", de igualdade de direitos e de companheirismo, a que não falta a atracção física revelada em jogos eróticos de prazer. Esta cumplicidade e partilha entre o casal traduzem a imagem de uma mulher desfasada  e adiantada relativamente à época em que vive, pois ela afirma-se independentemente do homem com quem vive e que para ela olha de igual para igual, fazendo-a partilhar os seus sonhos, medos e vida, em suma. O amor que vivem é um amor fora das normas do seu tempo, um amor não-cristianizado, mas nem por isso menos (a seu modo) sagrado, e miticamente exemplar. Foram talhados um para o outro, como lembra o ditado popular ("O casamento e a mortalha no céu se talha"), convivendo em harmónica união ("Dormiram nessa noite os sóis e as luas abraçados, enquanto as estrelas giravam devagar no céu, Lua onde estás, Sol aonde vais..." - pág. 90), também sugerida pela simbologia do novo nome: o 7 simboliza o ciclo completo, uma dinâmica perfeita. Talvez por isso nunca tenham tido filhos. A união e a harmonia do casal são tais que este é perspectivado como se de uma personagem se tratasse: "... já sabemos que destes dois se amam as almas, os corpos e as vontades...". Entre as lides do campo, os trabalhos no convento, a construção da passarola e a recolha de vontades, Baltasar dispõe sempre de tempo e espaço para, do lado direito da enxerga, amparar Blimunda com a mão que lhe resta.

          A relação entre ambos fica marcado, desde o início, por circunstâncias extraordinárias, desde o ritual de aceitação da colher até ao ritual de baptismo através do sangue virgem de Blimunda, passando pelo recurso ao silêncio enquanto forma primordial de comunicação: "não falou Blimunda, não lhe falou Baltasar, apenas se olharam, olharem-se era a casa de ambos.".  As palavras são frias e desnecessárias no meio dos gestos. Um homem, uma mulher, dois corpos, duas almas, duas vontades. Por outro lado, amparam-se mutuamente, pois ele acalma-a na sua maldição de ver por dentro as pessoas e ela ajuda-a na falta da sua mão.

          Como acima ficou dito, Blimunda, tal como Baltasar, colabora na construção da passarola, contribuindo com os seus poderes mágicos na recolha das duas mil vontades que a farão voar e com o seu poder de "ver por dentro", que lhe permite verificar os seus defeitos de construção e corrigi-los, evitando deficiências na construção. A recolha das vontades deixa Blimunda exausta e doente, "uma extrema magreza, uma palidez profunda que lhe tornava transparente a pele", e será apenas a música do cravo de Scarlatti a salvá-la e restituí-la à vida.
          Por outro lado, o envelhecimento físico não deteriora a juventude interior da personagem e a relação que mantém com Baltasar, sobretudo porque, aos olhos deste, ela continua a mesma. O próprio cansaço e o esgotamento que a atinge a nível físico após a peregrinação por Lisboa em busca das vontades levam o narrador a associar às imagens dos sóis e das luas a perda de algum brilho e fulgor: "... cansados de tanta caminhada, de tanto subir e descer de escadas, recolheram-se Blimunda e Baltasar à quinta, sete mortiços sóis, sete pálidas luas..." (p. 181).
          Com o decorrer da intriga, Blimunda revela uma sabedoria e uma postura muito próprias, apresentando-se como um elemento mágico não explicado, tendo aprendido coisas sobre a vida e a morte, sobre o pecado e o amor "na barriga da mãe", onde permaneceu "de olhos abertos" (cap. XXIII, p. 331). Daí que tenha uma presença bastante forte, sólida e afirmativa no romance. As restantes personagens (o padre Bartolomeu, Baltasar, Scarlatti e Marta Maria) reconhecem o mistério que subjaz ao seu olhar e ao seu extraordinário poder perceptivo, inexplicável até para a própria personagem.

          Após o desaparecimento de Baltasar (ela própria tinha pressentido que não voltaria a estar com ele, daí que o tivesse conduzido para a barraca e o amasse com sofreguidão), secou as lágrimas e partiu à sua procura durante 9 anos. Esse percurso revela uma mulher corajosa, determinada, persistente, disposta a tudo para encontrar o seu amor. Durante essa demanda, acaba por matar um dominicano, sedento de um momento de prazer, com o espigão de Baltasar, que simbolicamente representa o marido em defesa da mulher: "Do outro lado do convento, num rebaixo (...) aonde tiver que ir, inferno ou paraíso." (cap. XXIV, pp. 344-346). Na sequência desse desaparecimento e durante a sua busca, os olhos de Blimunda adquirem novas características, além da indefinição da cor, pois neles se reflectem inquietações e preocupações: "... que segredos se escondiam no rosto impenetrável, nos olhos pardos, cujas pálpebras raramente batiam, e que a certas horas e certa luz pareciam lagos onde flutuavam sombras de nuvens, as sombras que dentro passavam, não as comuns do ar..." (p. 354). Na sua incansável procura, só à sétima vez que passou por Lisboa o encontrou a ser queimado num auto-de-fé, juntamente com António José da Silva, autor de comédias de bonifrates e conhecido por O Judeu.

Texto expositivo-argumentativo (2) - AI

O Simular da Vida de Fernando Pessoa



          Fernando Pessoa finge completamente a dor. O fingimento poético possibilita a construção da arte, pois fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que resultam dum processo criativo, que é vital para o ser humano.
          O fingimento artístico não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou comunicações, como podemos constatar no poema Autopsicografia.
          Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e racional. Como por exemplo, nos poemas Ela canta pobre ceifeira… ou Gato que brinca na rua, onde a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da consciência.
          Esta dialéctica possibilita criar diferentes linguagens e realidades e assim permite-lhe atingir a finalidade da arte.

Texto expositivo-argumentativo (2)

          Comente a opinião, a seguir transcrita, sobre a teoria do fingimento poético em Pessoa ortónimo, referindo-se a poemas relevantes para o tema em análise.

          Escreva um texto de oitenta a cento e vinte palavras.
          "É na poesia ortónima que o Pessoa 'restante', o que não cabe nos heterónimos laboriosamente inventados, se afirma e 'normaliza': é então que ele 'faz' de si e os seus poemas são 'chaves' para compreender o seu extraordinário universo literário."
António Mega Ferreira, Visão do Século

Baltasar

          Baltasar Mateus - uma personagem ficcional - é um ex-soldado recém-chegado da Guerra da Sucessão espanhola (1704 - 1712), natural de Mafra e com 26 anos. Apresenta uma deficiência física - é maneta, em virtude de ter perdido a mão esquerda na guerra, "estralhaçada por uma bala" -, que provocou a sua expulsão do exército, o que significa que, à semelhança do Bailote de Aparição ou do Antigo Soldado de Felizmente há Luar!, representa todos aqueles que são explorados até ao tutano enquanto são saudáveis e que, depois, são desprezados e abandonados quando já não têm utilidade prática. Essa expulsão leva-o a vaguear como pedinte em Évora com o intuito de fazer um gancho que lhe substitua a mão perdida até chegar a Lisboa, onde conhece Blimunda num auto-de-fé. Mais tarde, torna-se açougueiro na capital, porque o gancho que lhe substitui a mão esquerda lhe facilita o trabalho. Mais tarde torna-se um dos operários que trabalham na edificação do convento como servente ou boieiro ou a fazer carretos com os carros de mão.
          Conhece Blimunda e o padre Bartolomeu num auto-de-fé, iniciando aí uma relação que o levará a participar do sonho de voar e a colaborar activamente na construção da passarola. Todos estes factos contribuem para o agigantar da sua imagem ao longo do romance, chegando mesmo a alcançar uma esp´cei de divinização: "(...) Com essa mão e esse gancho podes fazer tudo quanto quiseres, e há coisas que um gancho faz melhor que a mão completa, um gancho não sente dores se tiver de segurar um arame ou um ferro, nem se corta, nem se queima, e eu te digo que maneta é Deus, e fez o universo (...)"; "Olhou o desenho e os materiais espalhados pelo chão, a concha ainda informe, sorriu, e, levantando um pouco os braços, disse, Se Deus é maneta e fez o universo, este homem sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar." (cap. VI, pág. 68).
          No fundo, Baltasar é apresentado, inicialmente, como um marginal, lutando pela sobrevivência e não hesitando em matar, isto é, uma espécie de herói pícaro[1]:
  • foi soldado na Guerra de Sucessão espanhola, de onde foi expulso por ter ficado mutilado da mão esquerda;
  • sem salário, inicia uma vida aventureira e errante: pede esmola para conseguir ter um gancho de ferro, mata um homem que o quisera roubar e conhece João Elvas, rufia e igualmente antigo soldado.
          Por outro lado, encarna a crítica à inutilidade da guerra, já que se sacrificam homens em nome de interesses que lhes são alheios: "A tropa andava descalça e rota, roubava os lavradores, recusava-se a ir à batalha, e tanto desertava para o inimigo como debandava para as suas terras, metendo-se fora dos caminhos, assaltando para comer, violando mulheres desgarradas (...) por artes de uma guerra em que se haveria de decidir quem viria a sentar-se no trono de Espanha, se um Carlos austríaco ou um Filipe francês, português nenhum..." (pág. 36).
          O envelhecimento físico que vai manifestando ao longo da obra, à medida que os anos passam, não deteriora a sua juventude interior e a relação que mantém com Blimunda, sobretudo porque aos seus olhos Baltasar continua o mesmo: "... tens a barba cheia de brancas, Baltasar, tens a testa carregada de rugas, Baltasar, tens encorreado o pescoço, Baltasar, já te descaem os ombros, Baltasar, nem pareces o mesmo homem, Baltasar, mas isto é certamente defeito dos olhos que usamos, porque aí vem justamente uma mulher, e onde nós víamos um homem velho, vê ela um homem novo..." (p. 326) [2]
          No final da obra, Baltasar paga com a sua própria vida a perseguição do sonho da passarola ao ser queimado num auto-de-fé. Deste modo, é transformado no verdadeiro herói do romance, superando «a imagem do povo oprimido e espezinhado de que faz parte».

[1] A picaresca caracteriza-se por uma série de peripécias e aventuras vividas por uma personagem (o herói pícaro) de baixa condição social, que serve a vários amos, em toda a espécie de expedientes, esfomeado, errante, com um código de honra muito duvidoso que consiste em safar-se da forma mais airosa possível de toda a sorte de dificuldades, principalmente através da sua astúcia e habilidade pouco escrupulosas.

[2] O narrador faz aqui uma distinção entre duas perspectivas: a "nossa", objectiva, externa, que só vê aparências; a de Blimunda, subjectiva, interna, que "vê" mais longe e mais fundo, porque observa com os olhos do amor.

Padre Bartolomeu de Gusmão

          Bartolomeu de Gusmão nasceu em Santos, São Paulo, Brasil, em 1685. Desde cedo interessou-se pelo estudo da Física, tendo concebido uma máquina de elevação de água a cem metros de altura, no Seminário de Belém. Veio para Portugal, pela segunda vez, em 1708, onde cursou Cânones em Coimbra e desenvolveu os seus estudos de Física e Matemática. Em 1709, dirigiu uma petição a D. João V anunciando-lhe que tinha descoberto "um instrumento para se andar pelo ar da mesma sorte que pela terra e pelo mar". O rei concedeu-lhe privilégio para o referido instrumento através de um alvará de 19 de Abril desse ano. Na sequência desta permissão, o padre Bartolomeu de Gusmão desenvolveu diversas experiências com balões de ar aquecido, algumas delas na presença da figura real e da corte. Em 1713, deslocou-se para a Holanda para aprofundar os seus estudos e desenvolver as suas experiências. Regressado a Portugal, acabou por se converter ao judaísmo em 1724 e fugir para Espanha, procurando iludir a perseguição da Inquisição. Aí faleceu, na cidade de Toledo, nesse ano, durante a sua fuga.

          O Padre Bartolomeu de Gusmão é uma personagem parcialmente referencial, como o próprio nome, já que a designação de Lourenço não aparece nos livros de História, assim como não são factos históricos a construção da passarola (da qual só é conhecido um desenho) e a viagem de Lisboa até Mafra. Sendo, de facto, em parte, uma personagem referencial, apresenta, contudo, diversos traços da personagem histórica:
  • a relação com a corte e com as academias: "... e o outro reverendo (...) encarece as atenções com que a corte extensamente distingue o doutor Bartolomeu de Gusmão." (p. 175);
  • a construção da passarola: "Se o padre Bartolomeu de Gusmão, ou só Lourenço chegar a voar um dia." (p. 166);
  • o doutoramento em Cânones: "Já o padre Bartolomeu Lourenço regressou de Coimbra, já é doutor em cânones, confirmado de Gusmão por apelido onomástico e forma escrita." (p. 159);
  • as viagens ao Brasil e à Holanda.
          Ele é, antes de mais, um sonhador: tem o sonho de voar, por isso toda a acção se centra na construção da passarola, projecto concretizado na quinta do duque de Aveiro, em São Sebastião da Pedreira. A concretização desse sonho depende da protecção e da amizade de D. João V, o que não consegue impedir a perseguição do Santo Ofício. Não obstante todas as dificuldades que lhe surgem, acaba por construir a passarola e voar, com a ajuda de Baltasar e Blimunda.
          Bartolomeu de Gusmão tem, no início do romance, 26 anos, a mesma idade de Baltasar.


(em actualização...)

D. Maria Ana Josefa

          D. Maria Ana, de origem austríaca (o narrador refere, no início do romance, que tinha vindo da Áustria há dois anos), tornou-se rainha de Portugal ao casar com D. João V.
          A rainha é apresentada como uma personagem muito religiosa, beata, submissa e medrosa. O enfoque inicial é dado à sua relação matrimonial, que a deixa extremamente insatisfeita, quer amorosa quer sexualmente, desempenhando sempre um papel passivo. O casal real não dorme junto, mantém relações sexuais duas vezes por semana apenas para tentar conceber um herdeiro e não comunica. Essa insatisfação leva-a a ter sonhos eróticos com o cunhado, o infante D. Francisco, facto que lhe acarreta novos problemas, pois vive atormentada pela consciência de estar / viver em pecado, já que considera os sonhos um «acto» vergonhoso e criminoso, um pecado que atenta contra a castidade. Consequentemente, procura superar os remorsos e o sentimento de culpa cumprindo penitência, rezando e peregrinando pelas igrejas, em missas e novenas intermináveis. Como afirma o narrador, D. Maria Ana é somente a «devota parideira que veio ao mundo só para isso».
          Vive num ambiente de repressão, constantemente vigiada pela família à distância, com poucas ocupações e temas de conversas com as aias - ambiente esse de que procura fugir através do sonho - e cheia de saudades de casa.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Prémios (alguns) de José Saramago

  • 1979 - Prémio da Associação de Críticos Portugueses
  • 1980 - Prémio Cidade de Lisboa
  • 1982 - Prémio do Pen Clube Português e Prémio Literário do Município de Lisboa
  • 1984 - Prémio do Pen Clube Português; Prémio D. Dinis; Prémio da Associação Portuguesa de Críticos
  • 1985 - Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada; Prémio da Crítica pelo conjunto da obra
  • 1987 - Prémio Grinzane-Cavour (Itália), pela obra O Ano da Morte de Ricardo Reis
  • 1991 - Grande Prêmio de Novela da Associação Portuguesa de Escritores; Prémio Brancatti (Itália); Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas
  • 1992 - Prémio Internacional Ennio Faiano (Itália), por Levantado do Chão, e Prémio Internacional Literário Mondello (Itália); Prémio Literário Brancatti (Itália)
  • 1993 - Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores; Membro do Parlamento Internacional de Escritores, em Estrasburgo; Prémio The Independent (Reino Unido) e Prémio Vida Literária da APE
  • 1994 - Membro da Academia Universal das Culturas (Paris); Sócio da Academia Argentina de Letras
  • 1995 - Prémio Consagração da Sociedade Portuguesa de Autores
  • 1996 - Prémio Camões
  • 1998 - Prémio Nobel da Literatura

Obras de José Saramago

. Romance
  • Terra do Pecado (1947)
  • Manual de Pintura e Caligrafia (1977)
  • Levantado do Chão (1980)
  • Memorial do Convento (1982)
  • O Ano da Morte de Ricardo Reis (1986)
  • A Jangada de Pedra (1986)
  • História do Cerco de Lisboa (1989)
  • O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991)
  • Ensaio sobre a Cegueira (1995)
  • Todos os Nomes (1997)
  • A Caverna (2000)
  • O Homem Duplicado (2002)
  • Ensaio sobre a Lucidez (2004)
  • As Intermitências da Morte (2005)
  • A Viagem do Elefante (2008)
  • Caim (2009)

. Teatro
  • A Noite (1979)
  • Que Farei com Este Livro? (1980)
  • A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987)
  • In Nomine Dei (1993)
  • Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005)

. Poesia
  • Os Poemas Possíveis (1966)
  • Provavelmente Alegria (1970)
  • O Ano de 1993 (1975)
  • Poesia Completa (2005)

. Crónicas
  • Deste Mundo e do Outro (1985)
  • A Bagagem do Viajante (1973)
  • As Opiniões que o DL teve (1974)
  • Os Apontamentos (1976)
  • Folhas Políticas (1976-1998) (1999)

. Contos
  • Objecto Quase (1978)
  • O Conto da Ilha Desconhecida (1998)
  • A Maior Flor do Mundo (2001)

. Ensaio
  • Poética dos Cinco Sentidos (O Ouvido) (1979)

. Viagens
  • Viagem a Portugal (1980)

. Diário
  • Cadernos de Lanzarote I (1994)
  • Cadernos de Lanzarote II (1995)
  • Cadernos de Lanzarote III (1996)
  • Cadernos de Lanzarote (1993-1995) (1997)
  • Cadernos de Lanzarote IV (1998)
  • Cadernos de Lanzarote V (1998)

. Discursos
  • Discursos de Estocolmo (1999)

Retrato de D. João V

          O retrato do Rei é feito de forma indirecta, através da descrição das suas acções e dos seus pensamentos, dos encontros com a madre Paula, das idas à câmara da Rainha, das conversas com o Tesoureiro...
          Filho de D. Pedro e da rainha D. Maria Sofia de Neuburg, foi proclamado rei em 1 de Janeiro de 1707, tendo, no ano seguinte, casado com a princesa Maria Ana Josefa de Áustria, de quem teve seis filhos, a somar aos inúmeros bastardos que semeou pelo reino.
          Preocupado com a ausência de descendentes legítimos e influenciado pelo poder da Igreja católica, faz a promessa de construir um convento em Mafra se, no prazo de um ano, a rainha gerar um descendente. A promessa é cumprida após o nascimento da princesa Maria Bárbara.

          D. João V é infiel à rainha, adúltero, pois mantém inúmeras relações extra-conjugais, das quais resultam os (acima) referidos filhos bastardos. A sua relação com a esposa é desprovida de qualquer afectividade, consistindo no simples cumprimento de um dever. Mais: as páginas iniciais descrevem-no-las de forma caricata e sarcástica: repletas de formalismos, sem espontaneidade, cumplicidade, intimidade, amor ou prazer. Chegados aqui, convém recordar que o casamento entre ambos foi «arranjado», que os noivos mal se conheciam e que se uniram sem qualquer traço de amor que os aproximasse. A relação matrimonial esgota-se na necessidade de gerar um herdeiro para o trono.
          Por outro lado, é extremamente vaidoso e egocêntrico, por isso compraz-se na contemplação do número ordinal romano V por ser comum ao Papa e a si próprio (cap. I); é servido por inúmeros criados (p. 13); exige que a data de sagração do convento seja um domingo que coincida


(em actualização...)

sábado, 14 de maio de 2011

Os nossos dias

Parabéns: 14/05/2004!

Biografia de José Saramago

  • 1922 - Nasce a 16 de Novembro na Rua da Alagoa de Azinhaga (Golegã, Ribatejo), no seio de uma família de camponeses. Os seus pais são José de Sousa, jornaleiro, e Maria de Jesus, doméstica.
  • 1924 - Muda-se para Lisboa com a família, passando o pai a trabalhar na Polícia de Segurança Pública. Em Dezembro morre o seu irmão Francisco, com quatro anos.
  • 1929 - Aquando da sua inscrição na escola primária da Rua Martens Ferrão, descobre-se que um funcionário do Registo Civil da Golegã incluiu como apelido, na sua certidão de nascimento, a alcunha familiar, Saramago, tornando-se, assim, a primeira pessoa da sua família a usá-la como sobrenome.
  • 1930 - Muda-se para a escola primária do Largo do Leão. Nesta época, a sua família passa por grandes dificuldades económicas, morando em quartos alugados e em várias ruas de Lisboa. Na capital, frequenta, desde tenra idade, o Animatógrafo, o cinema "Piolho", na Mouraria, cujos filmes alimentam o seu imaginário.
  • 1932 - Matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde inicia os estudos secundários, frequentando dois cursos (o liceal e o técnico).
  • 1935 - A falta de recursos económicos da família obriga-o a transferir-se para a Escola Industrial de Afonso Domingues, onde estudará até 1940. Durante toda a infância e adolescência, passa longas temporadas na Azinhaga com os avós maternos (Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha), onde e de quem recebe "ensinamentos" que o marcam para sempre.
  • 1936 - A mãe oferece-lhe o primeiro livro que possui: A Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg.
  • 1938 - A família Sousa passa a viver num andar, no número 15 da Rua Carlos Ribeiro, no Bairro da Penha de França.
  • 1940 - Conclui os estudos de Serralharia Mecânica na Escola Industrial de Afonso Domingues. Consegue o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico nas oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa. À noite, frequenta a biblioteca municipal do Palácio das Galveias, "lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem ninguém que me aconselhasse, com o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada lugar que descobre", nas palavras do próprio Saramago.
  • 1942 - Passa a trabalhar nos serviços administrativos dos Hospitais Civis de Lisboa.
  • 1943 - Trabalha na Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria de Cerâmica, de onde é afastado em 1949 em consequência do seu apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência da República.
  • 1944 - Casa com a pintora Ilda Reis.
  • 1947 - Publica Terra do Pecado, o seu primeiro romance, intitulado inicialmente A Viúva. Nasce a sua filha Violante. Até 1953 escreve numerosos poemas, contos (alguns dos quais são publicados em revistas e jornais) e faz o esboço de pelo menos quatro romances, dos quais conclui apenas um.
  • 1948 - Morre o seu avô, Jerónimo Melrinho.
  • 1950 - Começa a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia Previdente, fazendo cálculos de subsídios e de pensões, graças à mediação do seu antigo professor Jorge O'Neill.
  • 1953 - Termina Clarabóia, romance inédito, com que encerra uma série de infrutíferas tentativas narrativas: O Mel e o Fel, Os Emparedados e Rua.
  • 1955 - A convite de Nataniel Costa, inicia uma colaboração com a editora Estúdios Cor, no sector de produção. O seu nome começa, então, a ser conhecido no campo da literatura e da cultura. Inicia a sua actividade como tradutor, cifrada em mais de sessenta títulos, até meados da década de 80. Na segunda metade da década de 50, traduz cerca de dezasseis livros, entre eles de autores como Colette e Tolstoi.
  • 1959 - Abandona a Companhia Previdente e passa a trabalhar, em exclusivo, na editora Estúdios Cor.
  • 1964 - Em 13 de Maio, morre o seu pai, no Hospital dos Capuchos, aos sessenta e oito anos de idade.
  • 1966 - É editado o seu primeiro livro de poesia, Os Poemas Possíveis. Ao longo desta década, prossegue a sua actividade de tradutor, embora de forma moderada. Traduz, entre outros, autores

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Paratextos de Memorial do Convento

1. CAPA

          1.1. Autor: José Saramago, escritor português e Prémio Nobel da Literatura em 1998.

          1.2. Título: Memorial do Convento

                    . Memorial: relato de memórias; obra em que se relatam factos memoráveis, que
                                         se pretendem guardar na memória. Remete para um recuo no tempo
                                         e para um resgate de lembranças, documentos, etc., relacionados
                                          com um acontecimento histórico.

                    . do Convento: Convento de Mafra, edifício português construído no reinado e por
                                              ordem de D. João V entre 1717 e 1744, cujos custos avultados fo-
                                              ram suportados pelas remessas de ouro provenientes do Brasil e
                                              no qual trabalharam milhares de homens. É uma obra da autoria
                                              do arquitecto João Ludovice.

          1.3. Género literário: romance.

          1.4. Editora: Editorial Caminho.

          1.5. Colecção: O Campo da Palavra.

          1.6. Horizonte de expectativas: após a observação da capa, pode "concluir-se" que esta-
                                                               mos na presença de um hipotético romance histórico,
                                                               que decorrerá num espaço e num tempo precisos.



2. CONTRACAPA - Texto

          2.1. Fórmula inicial "Era uma vez":
                    . remete para o mundo da infância, dos contos populares, do maravilhoso;
                    . destaca a importância da imaginação e do ficcional em cada uma das "histórias"
                       narradas - isto significa que o romance anunciado na capa não cabe nos limites
                       do romance histórico tradicional, ou seja, o narrador não se limitará a reconsti-
                       tuir factos históricos passados;
                    . assim, no texto vamos encontrar factos verdadeiros e personagens históricas lado
                       a lado com acontecimentos "trabalhados" pelo narrador e personagens ficcionais;
                    . remete para um tempo indefinido, conferindo ao texto um carácter atemporal.


          2.2. "Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento, em Mafra.":

                    . Rei: D. João V (1689 - 1750), filho de D. Pedro II e de D. Maria Sofia de Neu-
                              burg, proclamado rei em 1 de Janeiro de 1707, pai de seis filhos, resultantes
                              do seu casamento com D. Maria de Áustria.

                    . Promessa: preocupado com a inexistência de descendentes legítimos (filhos
                                        bastardos eram vários) que assegurassem a sucessão ao trono, D. João
                                        V promete edificar um convento em Mafra se, no prazo de um ano, a
                                        rainha lhe der um herdeiro. A promessa será cumprida após o nasci-
                                        mento da princesa Maria Bárbara.


          2.3. "Era uma vez a gente que construiu esse convento.":

                    . povo anónimo  personagem colectiva, cuja perspectiva de relato dos aconteci-
                                                  mentos é privilegiada, ou seja, a perspectiva dos que construí-
                                                  ram o convento;
                                              é tratado pelo narrador, que o tira do anonimato e o individua-
                                                   liza, como o verdadeiro herói da obra.


          2.4. "Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.":

                   . Soldado maneta:
                              » Baltasar Mateus;
                              » mutilado de guerra (Guerra da Sucessão Espanhola);
                              » expulso do exército por ter perdido a mão esquerda.

                    . Mulher:
                              » Blimunda;
                              » possui poderes mágicos: é vidente, tem a capacidade de, em jejum, olhar
                                 para dentro das pessoas e das coisas;
                              » ajuda na construção da passarola, recolhendo as "vontades" necessárias.


          2.5. "Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.":

                    . Bartolomeu de Gusmão:
                              » tinha o sonho de voar;
                              » por isso, construiu a passarola;
                              » é amigo e protegido de D. João V;
                              » morre, louco, em Toledo.


          2.6. "Era uma vez.": significa que há, no romance, outras histórias para além das sugeri-
                                            das no texto.


          2.7. Relação entre a capa e a contracapa: o texto desta precisa o espaço (Mafra) e o
                                tempo histórico do romance. Em contrapartida, sugere uma nova perspec-
                                tiva de relato dos acontecimentos: a do povo que construiu o convento.



3. EPÍGRAFES

          . Epígrafe do Padre Manuel Velho: remete para uma concepção determinista da His-
                                tória, isto é, há forças e leis (sociais, políticas...) que ultrapassam e ver-
                                gam a vontade individual de cada homem.

          . Epígrafe de Marguerite Yourcenar: traduz uma concepção da existência de uma rea-
                                lidade social que não pode ser conhecida com rigor e exactidão.

Génese de Memorial do Convento

          «Lá pelos finais de 80 ou princípios de 81, estando de passagem por Mafra e contemplando uma vez mais estas arquitecturas, achei-me, sem saber porquê, a dizer: "Um dia, gostava de poder meter isto num romance." Foi assim que o Memorial nasceu.»

Contexto de Memorial do Convento

Contextualização histórico-cultural - Século XVIII


          O reinado de D. João V, um dos mais longos da História da monarquia portuguesa, é visto como uma continuação da política absolutista, tendo o monarca concentrado em si todo o poder de decisão e execução. Exemplos disto são a suspensão da convocação de cortes e a dispensa de funções dos Ministérios e dos Conselheiros. Tal política é inteiramente sustentada pelas remessas de ouro do Brasil, que proporcionavam uma situação de desafogo económico e político.
          desde muito cedo viu-se envolvido nos problemas internos e políticos da Europa, nomeadamente na Guerra se Sucessão espanhola, o que lhe permitiu aperceber-se das manobras políticas, algumas de bastidores, que decidiam o poder no continente europeu. este rei procurou sempre manter uma posição neutral nesses jogos de poder, tendo, numa primeira fase, no que concerne à política externa, mantido ligações estreitas com a Áustria - como o prova o seu casamento com D. Maria de Áustria - e depois com a Inglaterra.
          Em termos íntimos, ficaram registadas as várias ligações extra-matrimoniais do rei, algumas verdadeiramente famosas, como é o caso com a madre Paula, freira do Convento de Odivelas.

          Esta é também a época do Iluminismo, que se faz sentir em vários domínios da vida e da cultura nacionais, sobretudo no ensino. Este movimento pretendia uma iluminação ou uma modernização de conceitos, de técnicas e normas com o objectivo de melhorar a sociedade e a vida das pessoas. Daqui advém a crítica a certos princípios e instituições até então tidos como intocáveis, desde a intolerância religiosa ao regime absolutista e à supremacia da fé e da tradição sobre a razão.
          O século XVIII é visto pelos «iluminados» como o momento oportuno para a difusão das "luzes" da razão, através do exercício constante do espírito crítico que vem pôr em causa todo um conjunto de ideias e de teorias do passado, principalmente a escolástica e os seus métodos tradicionais de ensino. Os grandes responsáveis por este movimento são os chamados "estrangeirados", um conjunto de portugueses que viveu e viajou pela Europa, como diplomatas ou exilados da Inquisição, tendo aí tomado contacto com as novas ideias iluministas (Alexandre de Gusmão, irmão de Bartolomeu de Gusmão - personagem do Memorial -, Luís António Verney, Ribeiro Sanches, etc). A fundação de academias, como a de História, ajudou à difusão destas ideias.
 
          Em terceiro lugar, a força e o poder da Inquisição em Portugal marcaram decisivamente esta época. O Inquisidor-Geral, em termos de poder, vinha imediatamente a seguir ao Rei, tinha poderes vitalícios e total liberdade de nomear todos os inquisidores seus subordinados. O processo inquisitorial era instaurado com base em testemunhas denunciantes que o acusado desconhecia e, para obter incriminações, recorria-se até a testemunhos anónimos e a qualquer tipo de tortura física e psicológica. As sentenças iam até à morte, pelo garrote ou pelo fogo. O Tribunal do Santo Ofício julgava vários tipos de crime, desde a heresia à feitiçaria, passando ainda pelo crime de mau uso do confessionário e por casos de aberrações sexuais. O maior número de processos,
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