Português

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Análise de «Não há vagas"

Podemos perceber de imediato que o poema (“Não há vagas”) traz uma das características do Movimento Modernista Brasileiro, ou seja, a ausência de pontuação, e também é perfeito exemplar para estudar a literatura em sua função social, ou seja, a literatura engajada (panfletária) na defesa do “ideário político, filosófico ou religioso”, com o intuito maior de alertar, informar, modificar, denunciar, etc. Com um tom de contestação o poeta denuncia o desemprego, ou seja, a situação do operário brasileiro (e mundial) que, ao procurar meios de sustento para enfrentar a dura realidade que o cerca, esbarra com este “pequeno lembrete de negação” e, em contrapartida, precisa enfrentar o preço absurdo dos gêneros de primeira necessidade (feijão e arroz). Lembra-nos também o valor de outras necessidades diárias (gás, luz e telefone), fala da sonegação (no caso aqui, quando o Estado deixa faltar, isto é, o desabastecimento de produtos importantes na dieta do cidadão como, por exemplo, leite, pão, carne e açúcar). Critica o Funcionalismo Público “que mantêm pessoas enclausuradas e sem perspectivas de promoção ou avanço intelectual” entre milhares de arquivos e conduzidas por “seu salário de fome”, em seguida, chega ao trabalhador de aço e carvão que perde seu dia (e seu tempo) nas oficinas escuras e indevidas. Por fim, crítica o próprio poema, que é fechado, ou seja, com tudo que “relata” e diz, não consegue modificar esta situação, não se faz ouvir, só traz aqueles que são vítimas das mazelas sociais como: o homem faminto (”sem estômago”), a mulher fútil (“de nuvens”), a fruta cara (“sem preço”), e o último grito lancinante de Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira – 1930/       )“O poema senhores” não diz nada (“não fede”/”nem cheira”), isto é, não cumpre sua função e mantêm-se o “status quo” (ou seja, nada mudou) em nossa sociedade.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Car...alho da Silva abandona a CGTP



     Sexta-feira, 27 de janeiro, Jornal da Noite da SIC, RODAPÉ: um exemplo de profissionalismo, dedicação e bom jornalismo.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Estrutura interna de Frei Luís de Sousa

     A peça Frei Luís de Sousa está estruturada nos três momentos tradicionais, tal como sucedia nas tragédias clássicas:



     Por outro lado, cada ato apresenta uma estruturação tripartida, equivalente à macro-estrutura:


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

H. I. 4. Competência discursiva e textual

1. Competência discursiva e textual.


2. Estratégia discursiva.


3. Adequação discursiva: oralidade e  escrita.


4. Registo formal e informal e formas de tratamento.


5. Marcadores e conetores discursivos.

Marcadores discursivos

  • Um texto / discurso não é uma soma arbitrária de palavras ou frases, mas um todo coeso, coerente e estruturado, isto é, um conjunto de elementos interligados de acordo com uma sequência e com as regras gramaticais da língua portuguesa.
  • Os marcadores discursivos contribuem para a coesão de um texto (oral ou escrito).
  • Englobam diversos elementos linguísticos.
  • Não desempenham qualquer função sintática na frase..
  • Permitem estabelecer conexões entre enunciados, de modo a construir um discurso coeso e coerente.
  • Fazem parte dos marcadores discursivos os conetores, que englobam elementos linguísticos pertencentes a diferentes classes de palavras (conjunções, advérbios ou interjeições).
  • Em síntese, são os seguintes os principais marcadores discursivos:

Marcadores discursivos

                Os marcadores discursivos são unidades linguísticas invariáveis que permitem estabelecer conexões entre enunciados, de modo a construir um discurso coeso e coerente.

Designação
Função
Marcadores discursivos
Estruturação da informação
ordenar a informação
por um lado, por outro lado, em primeiro lugar, após, antes, depois, em seguida, seguidamente, até que, por último, para concluir…
Reformuladores
reformular o discurso, explicando-o ou retificando-o
ou seja, isto é, quer dizer, por outras palavras, quer dizer, ou melhor, dizendo melhor, ou antes, como se pode ver, é o caso de, como vimos, quer isto dizer, significa isto que, não se pense que, pelo que referi anteriormente
Operadores discursivos
reforçar e concretizar ideias
de facto, na verdade, na realidade, com efeito, por exemplo, efetivamente, note-se que, atente-se em, repare-se, veja-se, mais concretamente, é evidente que, a meu ver, estou em crer que, em nosso entender, certamente, decerto, com toda a certeza, naturalmente, evidentemente, com isto (não), pretendemos, por outras palavras, ou melhor, ou seja, em resumo, em suma
Marcadores conversacionais ou fáticos
gerir a relação entre os interlocutores
ouve, olha, presta atenção




Conetores / Articuladores do discurso

                Os conetores ou articuladores têm como função articular, conectar, ligar grupos de palavras; unir frases simples, formando frases complexas; estabelecer nexos lógicos entre períodos e parágrafos, de modo a construir textos coesos e coerentes.
                Os conectores podem ser classificados com funcionalidades lógicas distintas, de acordo com o contexto de uso.

Designação
Função
Articuladores / Conetores do discurso
Aditivos
agrupar, adicionar ideias, segmentos, sequências, informação
e, nem (negativa), bem como, não só… mas também, além disso, mais ainda, igualmente, ainda
Alternativos / Exclusão
apresentar opções, alternativas
ou, ou… ou, ora… ora, seja… seja, alternativamente, em alternativa, opcionalmente
Contrastivos
indicar uma oposição, um contraste
mas, porém, todavia, contudo, no entanto, contrariamente, pelo contrário
Concessivos
negar o efeito, a conclusão
exprimir uma concessão
embora, ainda que, mesmo que, conquanto, apesar de, malgrado, não obstante, mesmo assim, ainda assim
Temporais
exprimir relações de tempo entre os segmentos do texto / discurso
quando, mal, assim que, logo que, enquanto, entretanto, depois que, desde que, antes de, mais tarde, ao mesmo tempo
Finais
traduzir o fim, a intenção, o objetivo
para (que), a fim de, a fim de que, de modo / forma a, com o objetivo de
Comparativos
exprimir uma comparação
como, tal como, assim como, bem como, também, mais / menos do que
Causais
exprimir a causa, a razão
porque, visto que, dado que, como, uma vez que, já que
Condicionais
introduzir hipóteses ou condições
se, caso, desde que, a não ser que, contanto que
Consecutivos
exprimir a ideia de consequência, resultado, efeito
por isso, daí que, de tal forma… que, tanto… que, tal… que, tão… que
Conclusivas
expressar uma conclusão, uma inferência (dedução lógica a partir do já exposto)
portanto, assim, logo, por conseguinte, concluindo, para concluir, em conclusão, em consequência, daí, então, deste modo, por isso, por este motivo
Completivos
completar o sentido do núcleo do grupo verbal
que, se, para
Confirmativos ou exemplificativos
documentar
exemplificar
por exemplo, a ilustrar, documentando, exemplificando


  • Outros valores são expressos, por exemplo, pelas conjunções (porque introduz um valor de causa, etc.).
  • Pelos exemplos apresentados no quadro acima, não só preposições, conjunções, advérbios e expressões que lhes sejam equivalentes desempenham a função de conetores do discurso. De facto, também os adjetivos numerais (primeiro, segundo, terceiro, etc.) e as formas verbais não finitas - gerundivas (sintetizando, prosseguindo, concluindo, recapitulando, etc.) ou infinitivas antecedidas de preposição (para começar, para concluir, a seguir, a encerrar, etc.) - podem funcionar como tal.

Processos fonológicos

     As modificações sofridas pelos fonemas em início, no meio ou no fim da palavra designam-se processos fonológicos e são as responsáveis pelas mudanças linguísticas, logo pela evolução da língua.

     Os processos fonológicos são de diversos tipos:

1. Processos fonológicos por inserção de segmentos: adição de um segmento a uma palavra.

          1.1. No início da palavra - prótese
                    . speculu > espelho
                    . mostrare > mostrar > amostrar

          1.2. No meio da palavra - epêntese
                    . humile > humilde
                    . umeru > umbro

          1.3. No final da palavra - paragoge
                    . ante > antes

2. Processos fonológicos por supressão de segmentos: supressão de um segmento na
    articulação de uma palavra

          2.1. No início da palavra - aférese
                    . atonitu > tonto
                    . inamorare > namorar

          2.2. No meio da palavra - síncope
                    . generu > genro
                    . veritate > verdade

          2.3. No final da palavra - apócope
                    . crudele > cruel
                    . cruce > cruz
     Na formação de novas palavras, pode ocorrer a supressão (haplologia) quando, da junção da forma de base e do sufixo, resultam duas sílabas contíguas, iguais ou similares:
          . bondad(e) + oso ® bondoso [em vez da forma bondadoso]
          . trágico + cómico ® tragicómico [em vez da forma tragicocómico]
     Ocorre também o processo de apócope quando existe truncação: cine por cinema; prof por professor.

3. Processos fonológicos por alteração de segmentos: é a mudança sofrida por alguns fonemas em resultado da influência de outros fonemas que lhe estão próximos.

     3.1. Assimilação: um som torna-se igual ou assemelha-se a outro que lhe é vizinho.
               . Assimilação total:
                    - nostru > nosso - o /s/ assimilou o /t/ [chama-se assimilação
                       progressiva porque ocorre da esquerda para a direita]
                    - ipse > esse [chama-se assimilação regressiva porque ocorre da direita para
                       a esquerda]
               . Assimilação parcial:
                    - chamam-lo > chamam-no - o /m/ tornou o /l/ também som nasal.

     3.2. Dissimilação: um som diferencia-se de outro igual ou com o qual se assemelha:
               . liliu > lírio
               . calamellu > caramelo

     3.3. Nasalização: uma vogal oral adquire nasalidade por influência de outro som nasal
            seu vizinho:
              . fine > fim
              . manu > mãnu > mão
              . lana > lãa > lã

     3.4. Desnasalização: um som vocálico nasal perde a sua nasalidade:
               . corona > corõa > coroa
               . bona > bõa > boa

     3.5. Vocalização: um som consonântico transforma-se num som vocal:
               . octo > oito
               . regnu > reino

     3.6. Consonantização: um som vocálico ou semi-vocálico transforma-se num som
            consonântico:
               . Iesus > Jesus
               . iam > já

     3.7. Ditongação: uma vogal ou um hiato originam um ditongo:
               . arena > area > areia
               . amant > amam

     3.8. Crase: contração ou fusão de duas vogais numa só:
               . legere > leger > leer > ler
               . a + a > à

     3.9. Sonorização: transformação de uma consoante surda em sonora:
               . secretu > segredo
               . maritu > marido

     3.10. Palatalização: transformação de um ou mais fonemas numa consoante
              palatal:
               . pl > ch: pluvia > chuva
               . fl > ch: inflare > inchar
               . li > lh: filiu > filho
               . di > j: hodie > hoje
               . ni > nh: ingeniu > engenho

     3.11. Metátese: permuta de um som ou sílaba no interior de uma palavra:
               . semper > sempre
               . merulu > melro
               . capiu > caibo

     3.12. Redução vocálica: enfraquecimento de uma vogal em posição átona:
               . bolo > bolinho
               . medo > medroso
               . mata > matagal

domingo, 22 de janeiro de 2012

Marcas clássicas de Frei Luís de Sousa

. A unidade de ação.

. A presença do Destino (ananké) que, produzindo o sofrimento (pathos), logo de início descai sobre as personagens principais, cuja gradação vai aumentando através de um clímax irresistível e fatalista.

. A presença da hybris.

. Os presságios (palavras de Telmo, D. Madalena e Maria).

. A agnarórise no final do segundo ato.

. Como era lei na tragédia clássica, iria despertar nos espetadores o terror (fobos) e a piedade (éleos) purificantes.

. As personagenssão nobres (aristocráticas) e estão sempre poucas vezes em cena.

. A presença do coro:
     - a recitação litúrgica do ofício dos mortos pelos frades no final do ato III;
     - as palavras de Frei Jorge;
     - as palavras visonárias e os sonhos de Maria;
     - os receios aparentemente infundados de D. Madalena;
     - os lamentos críticos e os presságios de Telmo, figura agoirenta que representa o raciocínio
        frio e a inteligência esclarecida na análise dos acontecimentos. Aliás, Telmo é uma figura
        muito bem estruturada pela sua profundidade e densidade psicológica devida à duplicidade
        de duas afeições irreconciliáveis: uma para com o passado (D. João de Portugal), outra
        para com o presente (Maria) (III, 5).

. A semelhança do assunto com as antigas tragédias gregas:
     - a volta sob disfarce de um mendigo (Ulisses);
     - o sacrifício de uma filha inocente (Antígona e Ifigénia);
     - a situação trágica originada pela ida a Alcácer Quibir, equivalente a situações trágicas
        causadas pela ida a Tróia;
     - a situação de Mérope

Marcas do drama romântico de Frei Luís de Sousa

1.ª) A crítica a uma sociedade governada por preconceitos hirtos que vitimam inocentes (Maria é vítima da sua ilegitimidade).
2.ª) A rutura com a forma clássica:
. a obra está escrita em prosa, que substitui o verso da tragédia antiga, um tipo de discurso considerado por Garrett adequado a “assuntos tão modernos”;
. a peça é constituída por três atos, contrariamente à tragédia grega, composta por cinco;
. a diminuição da importância do coro (ainda que ecoe em Frei Jorge e em Telmo);
. a lei das três unidades não é cumprida cabalmente;
. os agouros e superstições populares substituem as crenças e rituais pagãos e dão expressão à manifestação da cultura portuguesa;
. os valores patrióticos e nacionais são exaltados, sobretudo, através de Manuel de Sousa;
. a religião cristã surge como um consolo, aligeirando a força inexorável e irremediável do Destino que controlava os homens a seu bel-prazer;
. o realismo psicológico sustentado na personagem Telmo, que assiste à transformação dos seus próprios sentimentos, num processo de autoconhecimento dinâmico, no momento em que percebe que, após ter acalentado, durante tanto tempo, a ideia de que D. João estaria vivo, desejava poupar Maria, renegando o primeiro amo;
. a experiência pessoal do autor: Almeida Garrett possuía uma filha ilegítima, filha de Adelaide Pastor Deville, por quem se apaixonara, ainda casado com Luísa Midosi; Adelaide Deville morreu antes que o escritor tivesse podido legitimar a situação da filha que tanto estimava – assim, a acção da peça traduz a sua angústia mais profunda, refletindo a sua própria realidade;
. a morte de Maria em palco é também um episódio caraterístico do drama romântico;
. as personagens são vítimas do Destino, mas, à maneira do drama romântico, são também vítimas das suas decisões e das suas paixões (por exemplo, Maria é condenada não apenas pelo Destino, mas pela sociedade).
3.ª) A linguagem coloquial, próxima das realidade vividas pelas personagens e dos seus estados de espírito;
         4.ª) O assunto da peça é um assunto nacional e histórico.

Catarse em Frei Luís de Sousa

     Tal como era lei na tragédia grega, todos os acontecimentos representados em palco iriam despertar nos espetadores o terror (fobos) e a piedade (éleos) purificantes – a catarse.
     A catarse (purificação) realiza-se através do castigo: o casal ingressa num convento, renunciando às paixões mundanas, Maria morre de vergonha por causa da sua ilegitimidade e ascende, pela sua inocência, ao espaço celeste.

Catástrofe

. D. Madalena:
     - é causada pelo regresso de D. João:
            . morte psicológica;
            . separação do marido;
            . profissão religiosa;
     - salvação pela purificação: torna-se a irmã Sóror Madalena das Chagas.

. Manuel de Sousa:
     - morte psicológica:
            . separação da esposa;
            . separação do mundo;
            . profissão religiosa;
     - glória futura de escritor ® Frei Luís de Sousa: glória de santo.

. D. João de Portugal - morte psicológica:
     - separação da esposa;
     - a situação irremdiável do anominato.

. Maria de Noronha:
     - morte física.

. Telmo Pais:
     - não poderá resistir a tantos desgostos e, tal como D. João, cairá no rio do
        esquecimento.

Peripécias


  • O incêndio do palácio de Manuel de Sousa Coutinho;
  • A mudança para o palácio de D. João;
  • A chegada do Romeiro;
  • A tomada de hábito de D. Madalena e Manuel de Sousa;
  • A morte de Maria.

Clímax

     O clímax verifica-se com a chegada do Romeiro e o desvendar da sua verdadeira identidade.

Anagnórise (reconhecimento)

     A anagnórise (cena do reconhecimento - II, 15) efetiva-se com o reconhecimento / a identificação do Romeiro como D. João de Portugal.

Outras marcas trágicas (Frei Luís de Sousa)

  • A existência de poucas personagens em cena, todas de estrato social elevado e de caráter nobre.
  • A ação sintética: a peça possui um número escasso de ações que conduzem à ação trágica.
  • A condensação do tempo em que decorre a ação.
  • A concentração dos espaços (em número reduzido).
  • Cumprimento, incompleto, da lei das três unidades: unidade de ação, de espaço (incompleta, porque na peça existem três espaços distintos) e de tempo.
  • Ambiente trágico de de solenidade clássica.
  • Os momentos de retardamento.
  • A existência, desde o início, de um clima de fatalidade que o ominoso da recorrência de acontecimentos à sexta-feira e do espaço do palácio de D. João adensa e asfixia. Tudo deixa antever a catástrofe; nada há de supérfluo.
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