Português

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Título - «Os Maias»

     O romance Os Maias narra a história de uma família lisboeta - a família Maia -, representante da alta burguesia, através de três personagens masculinas que representam três gerações, correspondentes a momentos histórico-políticos e culturais diferentes:


     De facto, Eça «serve-se» da história da família Maia para caracterizar três gerações:
  • a geração das lutas entre liberais e absolutistas (que opuseram D. Pedro a D. Miguel) e que corresponde, no romance, à juventude de Afonso da Maia;
  • a geração do Ultrarromantismo, em que se inclui Pedro da Maia e que sobreviverá na figura de Tomás de Alencar;
  • a geração do Portugal da Regeneração, a que Carlos pertence e que continua, no fundo, os ideais da primeira geração romântica.
     Por outro lado, a história da família inclui a ação / intriga central, que se constrói como uma ação fechada.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A génese de Os Maias

     «Em 1878, em carta ao editor Ernesto Chardron, Eça de Queirós menciona «Os Maias» como título do volume XII, e último, de um conjunto de «pequenos romances» sob a designação de «Cenas da Vida Portuguesa», em substituição de «Cenas da Vida Real», referida um ano antes. Todavia, a génese concreta da novela deverá situar-se pouco antes de 1880, pois, neste ano, Eça, de licença em Lisboa, promete ao diretor do Diário de Portugal uma narrativa com este título para ser publicada em folhetins, conforme anuncia o jornal em maio. E apesar de ter enviado, em sua substituição, O Mandarim, a publicidade a Os Maias continua, sendo prometidos «para breve».
     Entretanto, Eça resolvera transformar a «novela breve» num romance, como confessa a Ramalho Ortigão, em carta de 20 de fevereiro de 1881: «Apenas o trabalho ia em meio, reconheci que tinha diante de mim um assunto rico em carateres e incidentes e que necessitava um desenvolvimento mais largo de romance.» Neste ano, é publicado Portugal Contemporâneo, de Oliveira Martins, cuja visão pessimista do Constitucionalismo teria influenciado Eça de Queirós n'Os Maias.
     Decidido, portanto, a publicar a obra em livro, e não num jornal, Eça, em Bristol, aceita as propostas de uma editora de Lisboa prometendo-lhe uma «edição rica», perspetiva que o estimula a fazer «um romance em que pusesse tudo o que [tinha] no saco», transformando a novela num «robusto e nédio livro, em dois volumes, um verdadeiro éclat para o burguês», conforme acrescenta na carta citada.
     Desiludido com o serviço prestado pela editora, e sem contrato de edição, Eça, em 12 de julho de 1883, no Porto, onde se encontrava de férias, vende ao editor Ernesto Chardron a primeira edição d'Os Maias. Em 10 de maio de 1884, informa Oliveira Martins, meio a sério, meio irónico: «Eu continuo com Os Maias, essa vasta machine, com proporções enfadonhamente monumentais de pintura a fresco, toda trabalhada em tons pardos, pomposa e vã, e que me há de talvez valer o nome de Miguel Ângelo da sensaboria.»
     A morte de Chardron em 1885 não interrompeu a impressão, mas Eça continuou a retocar e a ampliar o romance, de acordo com a exigência de perfeição estética que sempre o caracterizou: no fim de dezembro de 1887, ainda não corrigira as últimas provas tipográficas, exigindo reescrever outras já impressas. Finalmente, em junho de 1888, conseguem arrancar-lhe as últimas folhas e, no fim desse mês, depois de quase dez anos de elaboração, Os Maias, o romance mais extenso de Eça de Queirós (o único em dois volumes), e de realização mais cuidada, é posto à venda numa edição de 5000 exemplares, embora contendo lapsos na numeração de alguns capítulos.
     Em 12 de junho, ao anunciar a Oliveira Martins a próxima publicação do romance, pedindo-lhe publicidade no jornal que dirigia (Repórter), e substituindo-se aos editores, a quem censura o desinteresse, Eça indica os episódios do romance que considerava melhor realizados e, portanto, merecedores de mais atenção e apreço: «Recomendo-te as cem primeiras páginas; certa ida a Sintra; as corridas; o desafio; a cena no jornal A Tarde; e, sobretudo, o sarau literário.»
     Em 26 de outubro, a agradecer a Luís de Magalhães a sua crónica sobre Os Maias, Eça escrevia: «Foi - de todos os artigos sobre este cartapácio - aquele que viu com mais finura e mais altura os lados importantes do romance, como a desnacionalização dos carateres

Orientações para a leitura d'Os Maias, Maria Ema Tarracha Ferreira

O romance português antes de Eça de Queirós

     «O romance surge em Portugal na primeira metade do século XIX com as obras de Almeida Garrett e de Alexandre Herculano, introdutores do Romantismo na literatura portuguesa, exprimindo o nacionalismo e o individualismo dos seus autores, assim como a sua experiência de liberais emigrados em França e Inglaterra.
     Alexandre Herculano cria o romance histórico e medievalista, caracterizado pelo conceito espiritual do amor, aliado à conceção angelical da mulher, tópicos inerentes à mentalidade romântica. Embora Eça de Queirós, em obediência à Escola realista, repudie o romance histórico, pode considerar-se herdeiro de Herculano pelo anticlericalismo que marca grande parte da sua obra.
     Em Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett atualiza a ação do romance, situando-se na sua época, e cria o primeiro herói romântico, Carlos, que, pela complexidade psicológica, pode considerar-se o protótipo do herói moderno, cuja influência, como modelo, se faz sentir na ficção oitocentista. Todavia, a inovação do romance de Garrett é, sobretudo, introduzida a nível da linguagem - viva, coloquial e penetrada de ironia, características que reaparecem, talentosamente cultivadas, na ficção queirosiana, e especialmente n'Os Maias.
     No período que corresponde à segunda geração romântica, ou dos Ultrarromânticos (1840 a 1865), a conceção da vida e da literatura, de acordo com os costumes do tempo, está expressa na obra de Camilo Castelo Branco, o criador da novela passional, género que inclui já a observação imparcial e espontânea da realidade. Narrativa movimentada, em que sobressai o conflito amoroso de desenlace trágico, e marcado de lances inesperados - fugas, raptos, adultérios, duelos, suicídios, incluindo também, pela primeira vez, o tema do incesto -, a novela passional exalta a paixão avassaladora que se abate como uma fatalidade sobre as personagens. N'Os Maias, apesar da intenção crítica e da visão irónica, perdura a paixão fatal, mas apresentada sem enaltecimento sentimental e desenvolvendo-se como uma verdadeira tragédia.
     Júlio Dinis, introdutor do romance de observação filiado na tradição realista inglesa (sem relação com o Realismo francês), estabelece nova temática, atenta à vida quotidiana e, descrevendo as personagens com simpatia e humorismo, mas sem as ridicularizar, cria tipos inolvidáveis, a exemplo de Jane Austen e Dickens, autores que Eça lerá em Inglaterra, conforme testemunha a sua evolução. A técnica narrativa adotada por Júlio Dinis é também de inspiração inglesa: baseada na valorização do tempo narrativo ou diegético, proporciona ao leitor, através do desenvolvimento da ação, longo convívio com as personagens. Esta inovação, admiravelmente explorada por Eça de Queirós n'Os Maias, permite-nos reconstituir as cenas em pormenor, recordando-as como se as tivéssemos vivido.»

Orientações para a leitura d' Os Maias, Maria Ema Tarracha Ferreira

O Acordo Ortográfico em cartune (III)


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

José Gil e o Acordo Ortográfico

Visão, 16 de fevereiro de 2012

Filhos da terra

O astrónomo Pedro Russo

A fisioterapeuta e modelo Olívia Ortiz

Coesão referencial

     A coesão referencial obtém através de cadeias de referência, isto é, um conjunto de termos ou expressões (correferentes) que remetem para a mesma entidade (referente).

     O referente é o termo que designa a entidade ou situação (do mundo real ou imaginário) a que o falante se refere:
          - O Benfica venceu...

     Os correferentes são os elementos ou ocorrências textuais sem referência autónoma que remetem para o mesmo referente:
          - O homem que observava as estrelas viu o seu telescópio roubado por dois
             meliantes.
          - A Joana mudou de curso. Os pais apoiaram-na nessa sua decisão e estão ao lado
            dela incondicionalmente. ([A Joana] + [na] + [sua] + [dela] = cadeia de
            referência)

     Podem integrar as cadeias de referência as anáforas, as catáforas, as elipses e a correferência não anafórica.


     1. Anáfora

     A anáfora ou termo anafórico consiste na retoma - total ou parcial - do referente de palavras anteriormente inseridas no texto. Ou seja, o referente antecede, na frase, os seus correferentes ou termos anafóricos.

          . Na semana passada, visitei a minha antiga escola primária. Há muito tempo que
            não a visitava. Guardo belas memórias dos quatro anos que  estudei.
               O antecedente «a minha antiga escola primária» é retomado através dos
          termos anafóricos «a» e «lá». Estes dois termos só são interpretáveis por
          referência à expressão «a minha antiga escola primária». Por outro lado, os
          três elementos sublinhados constituem uma cadeia de referência porque
          remetem para a mesma entidade.

     A anáfora pode ser:

          . nominal: «A casa que Os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875,
            era conhecida (...) Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o
            Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas 
            varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas 
            abrigadas à beira do telhado (...)».
               A anáfora concretiza-se pelo uso de merónimos do termo antecedente «casa».
          Os referentes dos termos anafóricos, neste caso, não coincidem totalmente com a
          repetição do termo antecedente, estabelecendo com ele uma relação de implicação
          do tipo parte-todo.
               Nestes casos, a anáfora é não co-referencial, sendo designada por anáfora
          associativa.

          . verbal: «Jorge Jesus afirmou que o Benfica jogou bem. Disse também que a pior
            equipa fora a de arbitragem.»
               O verbo «dizer» retoma o antecedente «afirmar».

          . pronominal: «Em casa havia um tambor. Tinham-lho oferecido pelo Natal.»
               Neste caso, estamos perante uma anáfora pronominal , uma vez que o
          pronome «o» substitui o nome («tambor») que o precede.

          . adverbial: «Ao longe, no alto mar, há ainda o exercício da pesca. Há
                              homens.
                             Não os vejo.» (Vergílio Ferreira, Até ao Fim)
               O advérbio «lá» remete para a expressão «no alto mar», que surge antes no
          discurso. Note-se que, no exemplo, ocorre ainda uma anáfora pronominal, visto
          que o pronome «os» («Não os vejo.») retoma o antecedente «homens».

     Outros exemplos:
  • «Quando cheguei a casa, o meu filho tinha saído («Tinha saído» é um termo anafórico porque a sua interpretação depende de «cheguei», a forma verbal que identifica o ponto de referência temporal do locutor.)
  • «A guerra não poupa velhos, mulheres e crianças. Todos sofrem.» («Todos» é um termo anafórico dos nomes antecedentes: «velhos», «mulheres« e «crianças».)
  • «A Maria foi ao cinema e a Sofia, sua prima, também («Também» é uma forma de retoma anafórica de «foi ao cinema».)
  • «A residência dos Caetano transpira bom gosto. A decoração é luxuosíssima.» («A decoração» funciona como anáfora contextual = «A decoração da residência dos Caetano».)
  • «A Miquelina comprou um gato há dias, mas o animal já conhece os cantos à casa.» (a anáfora nasce de uma relação de hiponímia / hiperonímia: «o animal» - hiperónimo - retoma o antecedente «um gato» - hipónimo)
  • «A sala de aulas está degradada. As carteiras estão todas sujas.» (neste caso, a anáfora decorre da relação holonímia / meronímia: «as carteiras» - merónimo - são parte do todo «a sala de aulas» - holónimo);
  • «A Joana penteou-se cuidadosamente.».


     2. Catáfora

          A catáfora consiste na retoma do referente de palavras posteriormente inseridas no texto. Dito de forma mais simples, os correferentes antecedem, na frase, o seu referente.
  • «João Gadunha fala de Lisboa onde nunca foi. Tudo nele, os gestos e o modo de falar, é uma imitação mal pronta dos homens que ouviu quando novo.» (o vocábulo «tudo» remete para elementos que surgem adiante, na frase: «os gestos», «o modo de falar».);
  • «Com o meu irmão tudo foi diferente, sabe, as mulheres preferem-nos, aos filhos - Ana Paula Inácio, Os Invisíveis (o pronome pessoal «nos» remete para uma expressão - «os filhos» - que surge posteriormente na frase.);
  • «Todos os rapazes se tinham apaixonado por ela. Todos a amavam secretamente. A minha prima era lindíssima.» (os termos anafóricos - os pronomes «ela» e «a» - surgem antes da expressão nominal com que se relacionam - «a minha prima».);
  • «Em casa havia um tambor. Tinham-lho oferecido pelo Natal. Mas o garoto não soubera regrar o entusiasmo...» (o pronome «lhe» antecede a expressão nominal a que se reporta - «o garoto».);
  • «Se soubesse o que o destino lhe reservava nos próximos tempos, talvez Luís Bernardo Valença nunca tivesse apanhado o comboio...» - Miguel Sousa Tavares, Equador [só a posterior referência a «Luís Barnardo Valença» possibilita esclarecer a elipse (omissão) do sujeito da forma verbal «soubesse» e identificar o pronome «lhe» como correferente do nome próprio];
  • «A mãe olhou-o e disse: - Pedro estás mais magro.»;
  • «A minha mãe teve dois netos: o Miguel e o Ricardo;
  • «O motivo do crime foi o seguinte: ciúme.


     3. Elipse

          A elipse consiste na omissão de certos elementos na frase, dado que os mesmos são facilmente identificáveis a partir do contexto linguístico (1) ou extralinguístico (2) e a sua repetição é desnecessária:
  1. «O João caiu e [] foi parar ao hospital.»;
  2. «A gotinha de água era muito infeliz; porém, [] não estava só.».


     4. Correferência não anafórica

          Neste caso, duas ou mais expressões linguísticas (grupos nominais, adverbiais ou preposicionais) remetem para o mesmo referente, sem que exista dependência referencial entre si. Assim, a relação de correferência entre elas é estabelecida a partir do saber compartilhado dos falantes e do contexto extralinguísticos.

          . «O Francisco foi estudar para a Suíça. O filho da Cristina realizou o seu
            desejo.»
               As expressões «O Francisco» e «O filho da Cristina» remetem para o mesmo
          referente. No entanto, ambas as expressões têm referência autónoma, pelo que só
          quem conhece a Cristina é que sabe que ela tem um filho chamado Francisco.

          . «O Rui foi trabalhar para África. O marido da Margarida está feliz.»

          . «A minha prima ganhou um prémio. Sempre acreditei que a Liliana seria uma
            advogada de sucesso.»
               As expressões «A minha prima» e «a Liliana» identificam a mesma entidade,
          sem que nenhuma delas funcione como termo anafórico. A interpretação dos dois
          termos como remetendo para o mesmo referente exige que os interlocutores parti-
          lhem esse conhecimento, isto é, que o interlocutor saiba que o locutor tem uma
          prima chamada Liliana.

          . «O primeiro-ministro demitiu-se. O chefe do Governo sucumbiu à contestação.


     Atente-se, agora, no exemplo seguinte:
.
          . «Camões viveu no século XVI. O autor de Os Lusíadas é um dos maiores es-
            critores portugueses.»
               Neste caso, «Camões» e «O autor de Os Lusíadas» são correferentes, o que
          quer dizer que:
                    - ambas as expressões remetem para a mesma realidade, têm o mesmo
                       referente (um escritor);
                    - nenhuma delas depende da outra para que esse referente (esse escritor)
                       seja identificado: ao falar de «o autor de Os Lusíadas», facilmente depre-
                       endemos que se trata de «Camões» (desde que conheçamos a sua auto-
                       ria da obra em questão).

     O mesmo não sucede, porém, no enunciado que se segue:

          . «Sancho Pança é um criado bonacheirão. Só ele teria paciência para aguen-
            tar a imaginação delirante de D. Quixote.»
               Neste exemplo, «Sancho Pança» e «ele» possuem o mesmo referente, isto é,
          representam a mesma realidade - são, portanto, correferentes. No entanto, o pro-
          nome «ele», sem o seu antecedente, «Sancho Pança», não identifica a realidade
          que pretende representar.

     Assim, podemos concluir que:
  • «Camões» e «o autor de Os Lusíadas» representam a mesma realidade; são, por isso, correferentes. Como nenhum destes elementos depende do outro para que tal realidade seja identificada, a correferência, neste caso, é não anafórica.
  • Com a expressão nominal «Sancho Pança» e o pronome «ele», a situação é diferente: os dois elementos são correferentes no contexto em que surgem, pois representam a mesma realidade. No entanto, neste caso, o pronome «ele» constitui uma anáfora - só através de um elemento anteriormente introduzido («Sancho Pança»), para que remete, identifica um segmento da realidade. Nesta circunstância, a correferência é anafórica. 

Bibliografia:

Coesão lexical

· Reiteração lexical: repetição (ou reiteração) da mesma palavra ou expressão:

     Ex.: «Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão
            e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas
            e restos de comida azeda.» (Maria Velho da Costa, Cravo, pág. 133)

· Substituição lexical: substituição de uma unidade lexical por outras que com ela mantêm
   relações de sentido:

     · por sinonímia: substituição de palavras ou expressões por sinónimos:

          Ex.: O teu gato é bonito. Onde arranjaste o felino?

     · por antonímia: substituição de palavras ou expressões por antónimos:

          Ex.: Carlos Cruz fala verdade? Ou terá optado pela mentira?

     · por hiperonímia / hiponímia:

          Exs.: Quero os teus brinquedos, sobretudo o palhaço e o comboio. (hiperónimo /
                  / hipónimo)
                  Eu adoro ovelhas e vacas. Estes herbívoros são simpáticos. (hipónimo /
                  / hiperónimo)

     · por holonímia / meronímia:

          Exs.: A minha casa é fria. Os quartos, a cozinha e a sala não têm isolamento.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Coesão estrutural

     Uma das formas de construir a coesão textual é o paralelismo estrutural - a repetição simétrica de construções - em frases, períodos ou parágrafos contíguos ou próximos.:

                    Eles não sabem que o sonho
                    é uma constante da vida
                    [...]
                    Eles não sabem que o sonho
                    é vinho, é espuma, é fermento,
                    [...]
                    Eles não sabem que o sonho
                    é tela, é cor, é pincel
                    [...]

     O paralelismo pode assumir diferentes categorias:

          · Paralelismo sintático: repetição do modelo de construção de uma frase em frases
             seguidas:

                    Ex.: «Ou é porque o sal não salga, ou porque a Terra se não deixa salgar.
                           Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a
                           verdadeira doutrina (...). Ou é porque o sal não salga, e os 
                           pregadores dizem uma cousa (...).»

          · Paralelismo lexical: repetição da mesma palavra ou expressão em frases
             contíguas ou próximas:

                    Ex.: «Eu penso que a língua portuguesa em Timor-Leste é importante,
                           porque a língua portuguesa em Timor-Leste é uma língua oficial, e
                           e a língua portuguesa em Timor-leste não é nova mas é antiga
                           antiga quando os portugueseses descobriram Timor-Leste...».

          · Paralelismo fónico: repetição de sons com o objetivo de ecoar, ampliar ou
             repercutir o anteriormente dito:

                    Ex.: «Casei com o João por causa do pão. Comeram-me o pão, divorciei-
                           -me do João

          · Paralelismo semântico: repetição do mesmo conteúdo, ou semelhante, em duas
             ou mais frases:

                    Ex.: «Adoro fazer turismo: conhecer novos lugares e novas culturas, ouvir
                           línguas e sotaques diferentes, comer pratos típicos de diferentes
                           regiões...».

Coesão temporo-aspetual

     A coesão temporo-aspetual é conseguida através da compatibilização entre a sequencialização dos enunciados, de acordo com uma lógica temporal, e a informação aspetual, isto é, o ponto de vista do enunciador relativamente à situação expressa pelo verbo, apresentando o modo como decorre essa situação.

     Os mecanismos que asseguram este tipo de coesão são os seguintes:

           uso correlativo dos advérbios / expressões adverbiais de tempo e dos tempos
             verbais:

                    Ex.: Agora, vamos ler um extrato de Os Maias. Depois faremos um
                           exercício gramatical.
                           Amanhã é dia de folga. (* Amanhã foi dia de folga.)

          • utilização de grupos nominais e preposicionais com valor temporal:

                    Ex.: O bebé chorou toda a noite. Só adormecemos de madrugada.

           uso compatível dos valores aspetuais dos verbos  e do valor semântico dos
             conetores temporais utilizados:

                    Ex.: Enquanto jantou, a Lucília viu televisão.
                           * Enquanto saiu, a Lucília viu televisão.

           uso correlativo dos tempos verbais:

                    Ex.: Quando a Maria chegou, já a filha tinha saído.
                           * Quando a Maria chegou, já a filha sairá.
                           Assim que o Benfica marcou golo, brindámos com champanhe.
                           * Assim que o Benfica marcou golo, brindaremos com
                              champanhe. (esta frase é agramatical, visto que é impossível conciliar o futuro
                              com o ponto de partida - o pretérito perfeito.)

           ordenação sequencial dos eventos / das situações apresentados no texto:

                    Ex.: A Maria acabou o teste e entregou-o ao professor.
                           * A Maria entregou o teste ao professor e acabou-o.

Coesão interfrásica

     A coesão interfrásica designa os mecanismos de sequencialização que permitem a ligação / articulação das frases ou dos parágrafos entre si.

     Esses mecanismos são, genericamente, os marcadores discursivos, em que se incluem os conetores / articuladores do dircurso, com destaque para a coordenação e a subordinação:
  • Ex.: Queria ir-se embora, mas o polícia não lho permitia, por isso resolveu carregar no botão de emergência. De imediato, os travões fizeram-se ouvir.

     Por vezes, a ligação entre as frases faz-se sem a presença de marcadores discursivos, configurando uma elipse:
  • Ex.: Vítor Pereira tinha preparado a equipa para aquele jogo. Tudo se gorou. O árbitro fez vista grossa à grande penalidade e ao golo irregular do adversário. («Tudo se gorou.» = «Porém, tudo se gorou.»)

Coesão frásica

     O texto é uma unidade de comunicação / uma sequência de enunciados (oral ou escrita), de extensão variável - um texto pode ser constituído por um curto enunciado ou por uma variedade de enunciados -, com um princípio e um fim bem delimitados, produzida por um ou por vários autores, que deve obedecer, na sua construção, a um conjunto de regras que, articulando-se entre si, dão sentido ao discurso.

     A palavra texto deriva do latim textum (com origem no verbo texto - "entrelaçar", "construir", "compor"), que significa «tecido, entrelaçamento». Tendo presente esta origem etimológica, o texto resulta da ação de tecer, de entrelaçar unidades que formam um todo interrelacionado, com determinadas propriedades que lhe conferem um sentido, sendo o seu objetivo comunicar algo.

     A coesão frásica designa os mecanismos linguísticos que conferem unidade aos vários elementos que constituem a frase.
     Esses mecanismos são os seguintes:
  • ordem das palavras na frase (ordem direta: SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTOS / MODIFICADORES):
  • Ex.: A Ana aborrece as pessoas.
  • concordância em género e número (entre o núcleo nominal e adjetivos, determinantes, quantificadores, modificadores):
  • Ex.: O João é um bom menino.
  • Ex.: A Joana e a Sofia são boas meninas. 
  • interligação entre o predicado verbal e o sujeito e seus complementos;
  • princípio da regência verbal:
  • Ex.: A mulher de quem eu gosto chama-se Maria. (o verbo «gostar» rege a preposição «de»).

H. II. 2. Coesão e coerência textuais

1. Coesão textual:
2. Coerência:
  • Coerência lógico-concetual;
  • Coerência pragmático-funcional;
  • Isotopia;
  • Configuração do texto.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Vida de Eça de Queirós

Obras

  • O Mistério da Estrada de Sintra (1870) - em colaboração com Ramalho Ortigão.
  • As Farpas (1871).
  • Singularidades de uma Rapariga Loira - conto (1874).
  • O Crime do Padre Amaro (1876) - 2.ª versão.
  • O Primo Basílio (1878).
  • O Crime do Padre Amaro (1880) - 3.ª versão.
  • O Mandarim (1880).
  • A Relíquia (1887).
  • Os Maias (1888) - 2 volumes.
  • Uma Campanha Alegre - de As Farpas (1890-1891) - 2 volumes.
  • As Minas de Salomão (tradução), de Rider Haggard (1891).

Obras póstumas:
  • A Correspondência de Fradique Mendes (1900).
  • A Ilustre Casa de Ramires (1900).
  • A Cidade e as Serras (1901).
  • Contos (1902).
  • Prosas Bárbaras (1903).
  • A Capital (1926).
  • Cartas de Eça de Queirós (1949).
  • A Tragédia da Rua das Flores (1983).


Bibliografia:
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