Português

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Como se no primeiro ano de Matemática aprendessem a tabuada

Texto de Paula Barata Dias, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na sequência de outro da autoria do professor João Veloso, roubado ao blogue dererummundi.blogspot.pt.

     «O texto de João Veloso é exato e terrível. Exato, porque faz o diagnóstico de um sistema educativo que, desde há muito, maltrata as humanidades, entre elas as línguas clássicas, as "absolutamente marcadas pelo labéu da inutilidade" (para que servem? para que serve a música? para que serve a poesia?...). Terrível, porque sicut uoces praecantes in deserto, são cada vez menos os que alertam para os efetivos prejuízos da construção de um currículo de ensino não superior no qual as humanidades figuram com um enquadramento disforme, seccionado, com o maior desrespeito pelas línguas enquanto saber exato, varrendo-se, das ofertas escolares, o latim, o grego, mas também o alemão, o francês...

     Sou professora de línguas clássicas no ensino superior, mas, por contingências da vida universitária, tenho lecionado outras disciplinas, tendo-me passado pelas mãos algumas centenas de alunos. E, assim, posso testemunhar algo que certamente outros professores já viram: o aluno universitário médio com défices severos não só de formação, mas também de estruturas mentais que lhe permitam aprender: exprime-se em períodos de 3 ou 4 palavras (mais do que isso é uma tese, ou então, interrompido por cadeias de monossílabos); o vocabulário é restrito, a ponto de inibir a compreensão oral de uma exposição do docente; raramente é capaz de ler bibliografia em língua estrangeira (qualquer que ela seja!); parece que a memória se encontra em completo repouso. Já encontrei alunos não treinados para a leitura silenciosa, ou que a acompanham com um mover abichanado dos lábios...

     Após anos, planos e euros gastos com Planos Nacionais de Leitura; reformas curriculares; reformas de programas escolares; aplicação da TLEBS; e.escolas, chegámos a um estado bizarro: somos o único país de língua românica que coloca o latim como opção, a competir com a disciplina de Literatura Portuguesa (que escolha é esta?: então o aluno de humanidades é obrigado a escolher entre o latim e a literatura do país de que é cidadão?).

     O quadro é penoso: somos o único país de língua ocidental (não estamos a cingir-nos apenas aos países românicos) em que o ensino de latim e grego em meio universitário, nas duas únicas licenciaturas de Estudos Clássicos a funcionar no país, admite níveis de iniciação para saberes nos quais, ao fim de três anos, saem licenciados. Seria como se, numa licenciatura de Matemática, os jovens entrassem no primeiro ano para aprender a tabuada.»

Prof. Paula Barata Dias

terça-feira, 19 de junho de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Correção do exame nacional de Português - 12.º ano

Grupo I

A

1. As qualidades que permitem atingir as «honras imortais» e «graus maiores», isto é, a obtenção de alyos cargos da hierarquia social, são as seguintes:
  • a busca esforçada /  esforço denodado («Mas com buscar, co seu forçoso braço, / As honras que ele chame próprias suas» - vv. 17-18);
  • a determinação («Mas com buscar, co seu forçoso braço» - v. 17)
  • a combatividade, a capacidade de luta, o espírito de sofrimento e superação pessoal («Vigiando e vestindo o forjado aço» - v 19);
  • a valentia demonstrada na guerra em nome da Pátria («Vigiando e vestindo o forjado aço» - v. 19);
  • a coragem e a capacidade de resistência evidenciadas nas navegações árduas por regiões inóspitas, enfrentando inúmeros perigos, à custa de sofrimento («Sofrendo tempestades e ondas cruas, / Vencendo os torpes frios no regaço / Do Sul, e regiões de abrigo nuas» - vv. 20-22);
  • a abnegação («Engolindo o corrupto mantimento / Temperado com árduo sofrimento.» - vv. 23-24);
  • a firmeza e a imperturbabilidade estóica perante o sofrimento dos companheiros, não por razões pessoais, mas para impedir que o desalento e o desânimo se instalem junto deles («E com forçar o rosto, que se enfia, / A parecer seguro...» - vv. 25-26);
  • a vitória sobre os obstáculos e as limitações pessoais («Pera o pelouro ardente que assovia / E leva a perna ou braço ao companheiro.»).
2. Intenção crítica - Nestes versos, o poeta critica:
  • aqueles que vivem à sombra da glória dos antepassados («Não encostados sempre nos antigos / troncos nobres de seus antecessores» - vv. 5-6);
  • aqueles que se entregam à vaidade, aos luxos e aos requintes supérfluos, à avidez e à preguiça  («Não nos leitos dourados, entre os finos / Animais de Moscóvia zibelinos» - vv. 7-8);
  • aqueles que não resistem aos «manjares novos e esquisitos»,  à ociosidade («Não cos passeios moles e ouciosos»), aos prazeres, aos apetites, que tornam «moles» / fracos («Que afeminam os peitos generosos» - v. 12) os «peitos generosos» e corajosos.
     A anáfora reforça a intenção crítica do poeta, que, pela repetição da negativa («Não cos», ««Não»), realça aquilo que deve ser rejeitado, isto é, os comportamentos que merecem a sua reprovação e que contribuem para a decadência e a degradação moral da Pátria.

3. O poeta, nesses versos, enuncia as qualidades que aqueles que procuram a virtude têm de possuir:
  • o desprezo pelas honras, pela riqueza e pelos privilégios conquistados graças à «ventura» (por isso imerecidos)  e não pela virtude;
  • a sua (das honras e da riqueza) conquista através da prática da virtude e da justiça, do sentido de honra, do esforço pessoal do indivíduo.
4. Partindo do entendimento esclarecido, sustentado na experiência e na libertação dos interesses mesquinhos («O baxo trato humano»), o poeta conclui que o herói é aquele que
  • se dignifica através do seu esforço e da sua capacidade de sofrimento;
  • adquiriu serenidade com a experiência («repousado» - v. 34), distanciando-se do homem comum («embaraçado» - v. 36);
  • ascende a um plano superior («alto assento» - v. 35), de onde observa, com distância, os comuns mortais («Fica vendo, como de alto assento, / O baxo trato humano embaraçado» - vv. 35-36);
  • se torna ilustre por merecimento e não por calculismo, isto é, contra a sua vontade e nunca a seu pedido («Subirá (como deve) a ilustre mando, / Contra vontade sua, e não rogando.» - vv. 39-40);
  • será reconhecido, nos territórios onde as leis forem justas, como alguém capaz de governar («Este, onde tiver força o regimento / Direito e não de afeitos ocupado, / Subirá (como deve) a ilustre mando» - vv. 37-39).
     Assim, o herói é aquele que apresenta uma conduta exemplar que o transforma num modelo a imitar e a seguir, tornando-se digno de ascender a um plano divino.


B

. Introdução:
  • Povo, personagem coletiva anónima, exaltada e retirada do anonimato pelo narrador («estratagema» das letras do alfabeto), é o herói do romance:
  • Herói diferente do tradicional: deficiente, feio, rude e violento por vezes.
. Desenvolvimento:
  • Humilde e trabalhador, vive na mais completa miséria física e moral;
  • É explorado e escravizado (ex.: muitos homens são arrancados à força de suas casas e afastados das suas famílias e conduzidos a Mafra amarrados) para trabalhar no convento;
  • Vive em condições de alojamento (a Ilha da Madeira) e de alimentação muito precárias;
  • Sofre trabalhos e dificuldades diversos durante a edificação do convento (ex.: os acidentes e as consequentes deficiências e mortes);
  • É-lhe exigido um esforço inumano durante a edificação do convento (ex.: a Epopeia da Pedra);
  • Herói imortalizado que, com o seu esforço, dedicação e coragem, foi indispensável à realização da obra.
. Conclusão:
  • Apresentação de uma visão diferente da registada pela História, apresentando o povo como o verdadeiro herói das grandes feitos e das obras obras.


Grupo II

     Versão 1                      Versão 2

1.1. C                                       D

1.2. B                                       A

1.3. D                                       C

1.4. A                                       B

1.5. C                                       B

1.6. A                                       C

1.7. B                                       D

2.1. Oração subordinada substantiva completiva.

2.2. Predicativo do sujeito.

2.3. «(d)a versão em castelhano».



Grupo III

. Introdução
  • A procura da popularidade, sobretudo pelas camadas mais jovens da população, a todo o custo e por diversos meios;
  • A facilitação da popularidade por parte dos meios de comunicação e das redes sociais (facebook, Youtube, twitter...);
  • O caráter ilusório e efémero da popularidade.
. Desenvolvimento
  • Arg. 1 - A procura da popularidade como sinónimo de fama, reconhecimento público e sucesso profissional rápidos.
  • Ex. 1 - A utilização das redes sociais, do Youtube como meios de divulgação das capacidades artísticas (por exemplo, na área da música).
  • Arg. 2 - A popularidade associada ao desejo de ser aceite pelo outro, de fazer amizades.
  • Ex. 2 - O uso do facebook e a «caça» aos «like» e aos «amigos».
  • Arg. 3 - A adesão massiva a programas televisivos (reality shows e programas de entretenimento) que prometem a promoção pessoal, a fama e o sucesso rápidos.
  • Ex. 3 - Programas como «Ídolos».
  • Contra-arg. 1 - O caráter efémero da popularidade e as consequências negativas que tal acarreta (o cair rapidamente no esquecimento, as depressões, as tentativas de suicídio).
  • Ex. 4 - O caso de Zé Maria, vencedor do primeiro Big Brother.
  • Contra-arg. 2 - A impreparação / a dificuldade para lidar com a popularidade súbita e intrusiva.
  • Ex. 5 - Os casos Zé Maria e Susan Boyle (concorrente com talento que lhe proporcionou uma fama instantânea que, por sua vez, conduziu à depressão, por incapacidade para lidar com a situação).
  • Contra-arg. 3 - A exposição exagerada da pessoa e da sua privacidade e os seus efeitos negativos.
  • Ex. 6 - A explosão do cyberbullying; o modo como certos adolescentes são envolvidos e enganados pro adultos (por ex., pedófilos), levando-os à fuga de casa, ao rapto - alusão ao caso das duas jovens encontradas numa quinta da região da Guarda
. Conclusão
  • A procura da popularidade é, por vezes, ilusória, tendo presente o dinamismo da vida contemporânea, sempre em busca de novidade e mudança;
  • Necessidade de estrutura mental para lidar com este tipo de situações;
  • A TV e as redes sociais escondem inúmeros perigos e podem constituir uma feira de ilusões.

Correção do exame nacional de Língua Portuguesa - 9.º ano

Clicar AQUI.

Boa sorte!

Falta pouco...


domingo, 17 de junho de 2012

A Grécia e o(s) Euro(s)


Exames a Sério

     «Considerando o facilitismo da escola e o simulacro de exames, o que terá surpreendido, durante todos estes anos, o observador menos advertido, foi os resultados terem sido sempre piores. Explicação óbvia: quando se pede zero, obtém-se menos que zero.
     E foi para que se não descobrisse o efeito do projecto inconfessável, imposto à escola durante todos estes anos, que foram desvalorizando os exames, que tentaram acabar com todos eles. Usando "argumentos" tão inteligentes e ideologicamente reveladores como os de que os exames ferem a auto-estima dos alunos, discriminam os mais desfavorecidos e levam os professores a preocupar-se apenas (?) em preparar os alunos para as provas.
     Só a opinião pública, progressivamente esclarecida, impediu que acabassem com todos os exames. Vieram, então, as provas cada vez mais fáceis, de "faz-de-conta". Mas mesmo assim, com exigência mínima, provas ridículas, pressão sobre os professores para "passarem" todos os alunos, as retenções aumentaram sempre. Por uma razão tão óbvia que só os "cientistas" da educação, preparados para perceberem as coisas difíceis, não podem compreender: a descida da exigência gera cada vez mais ignorância, desinteresse e irresponsabilidade nos alunos e explicável desmotivação em muitos professores.
     O facto de a exigência, a auto-exigência, a avaliação a sério não serem cultivadas na escola, apresentadas como um auto-desafio, leva as crianças, desde o primeiro dia de aulas, a aprenderem o seu contrário, isto é, a não levarem a escola a sério.
     Nesta perspectiva, os exames a sério - sendo um exercício de autonomia para os alunos - são o momento (educativo, diria mesmo ético e cívico) em que alunos, professores, directores, os próprios pais e, claro, o ME, são confrontados com as suas responsabilidades.
     Cada realidade educativa deve ter um regime de exames adequado. Em Portugal, a situação do ensino, a cultura dominante nas escolas, exige a regulação, durante um certo período, de um regime intensivo de exames.
     Por isso, a imposição da exigência e de exames a sério, com todas as outras mudanças de fundo e instrumentais que serão progressivamente introduzidas, irá reduzir a necessidade de retenções. Como em breve se verá e o "eduquês" teme.
     Esqueçamos as tretas, libertemo-nos da moda: os exames a sério não são, pois, para reprovar, mas, pelo contrário, para transitar... sabendo-se. (Havendo casos em que a transição sem o aproveitamento desejável pode ser considerada útil para o progresso do aluno).
     Todos temos consciência de que a generalidade dos alunos, na generalidade das disciplinas, só estuda empenhadamente quando a avaliação é a sério. Serão poucos os que investem quando a passagem é "de borla". E só se aprende quando se estuda, ao contrário do que é prometido pelos "especialistas" da educação.
     O exame é uma orientação e um desafio de superação para os alunos, os professores e mesmo os pais. A competição é sempre connosco próprios, deve ser assim promovida e vivida.
     Com o novo ministro da Educação vêm os primeiros exames a sério. Deveriam ter vindo antes de qualquer outra medida, para se avaliar o verdadeiro estado da educação.
     Mas esses primeiros exames, convém sublinhá-lo, por serem a sério e não ter havido ainda tempo para mudar a escola, irão traduzir-se, como só o Professor Santana Castilho parece não compreender (?), em resultados previsivelmente piores.
     Devemos, no entanto, estar preparados para alguma surpresa: é que os alunos portugueses não são menos dotados, em inteligência, orgulho e vontade, do que os alunos dos outros países e, como dizia uma das personagens do Frei Luís de Sousa, "a necessidade pode muito". De facto, quando foi noticiado o nome do actual Ministro da Educação, um aluno do 11.º ano disse ao pai: "Temos de estudar, vem aí o Nuno Crato."
     É preciso, pois, aguardar com esperança os efeitos "imediatos" da libertação do "quartel general" do "eduquês".

Guilherme Valente, Expresso (16/06/2012)

sábado, 16 de junho de 2012

Caixa de comentários

     Não vale a pena insistir em linguagem de corredor de escola, vão de escada ou caserna na caixas de comentários. Todos eles serão eliminados.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

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