Português

sábado, 19 de janeiro de 2013

Renascimento

         O Renascimento pode definir-se como a "adoção das formas artísticas greco-latinas e a assimilação do espírito que as anima". O Renascimento é, portanto, uma aceitação e não uma ressurreição das formas greco-latinas, pois a ressurreição supõe a morte e as formas greco-latinas nunca morreram.
         Nos finais do século XV e princípios do século XVI, a literatura portuguesa começou a registar algumas ténues influências da literatura italiana, nomeadamente ao nível da poesia produzida em contexto palaciano, nas cortes de D. João II e depois, mais acentuadamente, de D. Manuel. Esses poemas, da autoria de muitos nobres para quem a arte de versejar era um atributo muito importante, eram portadores, com assinalável frequência, de uma atitude amorosa e poética que revelava a influência do poeta italiano Petrarca, o precursor do Renascimento.
         Em 1516, Garcia de Resende publicou a compilação desses poemas palacianos numa obra intitulada Cancioneiro Geral, dedicada ao príncipe e futuro rei de Portugal D. João III, afirmando no Prólogo que o objetivo do seu trabalho era contrariar a natural tendência de os portugueses não registarem, para o futuro, as suas obras. Publicado no ano de inauguração do Mosteiro dos Jerónimos e no período de florescimento do teatro de Gil Vicente, o Cancioneiro revela a valorização já renascentista que a cultura começara a merecer.
         Em 1521, Sá de Miranda, um dos poetas presentes no Cancioneiro de Resende, empreende uma demorada viagem a Itália, durante a qual contactou com a cultura e a arte da Renascença. Cinco anos mais tarde, de regresso a Portugal, trouxe consigo o gosto pelo novo estilo – o dolce stil nuovo – e introduziu na nossa literatura, entre outras composições poéticas, o soneto, com os seus versos decassilábicos.
         Por outro lado, a literatura renascentista redescobrira os clássicos e a Poética de Aristóteles, uma obra que regulamenta e hierarquiza os géneros literários, considerando a epopeia e a tragédia os géneros mais nobres. Não é, pois, de estranhar que a o desejo de elaboração de uma epopeia se tenha disseminado, vindo a ser concretizado por Luís de Camões, e António Ferreira tenha escrito a tragédia Castro, inspirada nos amores trágicos de D. Pedro I e D. Inês de Castro.

Manual Plural 12

A Contra-Reforma e a união com a Espanha

         Cerca de 1550 ocorreram alguns acontecimentos decisivos, que coincidem com a crise geral então vivida. Em 1547, é definitivamente estabelecida a Inquisição em Portugal, após esforços que datavam de 1531. Naquele mesmo, ano sai o primeiro rol de livros proibidos, sucessivamente acrescentado em 1551, 1561, 1564, 1581, 1624. Em 1550, o grupo de professores trazido a Portugal por André de Gouveia (já falecido em 1548) é posto à margem após um processo movido por inimigos do Colégio. Em 1555, o rei entrega este colégio, rebatizado como Colégio das Artes, à Companhia de Jesus, que domina os Estudos Menores (hoje diríamos secundários) em Lisboa e Évora, e que no mesmo ano funda uma universidade sua nesta última cidade. A partir de 1557, ano da morte de D. João III, a principal personagem do reino é o cardeal-infante D. Henrique, inquisidor-geral, que alterna a regência com a rainha-viúva. Em 1564, as decisões do Concílio de Trento são promulgadas em Portugal sem restrições, caso único entre os reinos da Europa Ocidental. Desde cerca de 1550, foram silenciados mesmo os mais estrénuos erasmistas, como André de Resende, Damião de Góis e Diogo de Teive, e por 1580 está extinta a geração dos letrados e gramáticos antiescolásticos que tinham campeado por altura das grandes reformas escolares do início do reinado de D. João III.
         Entre os autores proibidos ou amputados pela Censura contam-se Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda, João de Barros, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Jorge de Montemor, António Ferreira. Nenhum livro podia sair, na segunda metade do século XVI, sem três licenças: a do Santo Ofício, a do Ordinário eclesiástico na diocese respetiva e a do Paço. O relator do Santo Ofício examinava o livro em manuscrito e obrigava o autor a alterá-lo, amputá-lo ou acrescentá-lo, antes de lhe conceder a fórmula «nada contém contra a nossa Santa Fé e bons costumes». E, assim, desde a segunda metade do século XVI até à reforma pombalina da censura, não podemos afirmar que conhecemos o texto original de uma obra impressa, mas somente um texto ao qual os censores anuíram. A impressão, a venda, a herança e a entrada de livros vindos do estrangeiro estavam sujeitas a apertada vigilância, incluindo inspeções domiciliárias, declarações periódicas obrigatórias e as mais graves penalidades, com recompensa de denúncias secretas à custa dos bens confiscados.
         Aos efeitos da Contra-Reforma vieram juntar-se, a partir de 1581, os da união com Espanha. Do primeiro resultou murcharem as promessas do Humanismo. O segundo teve como consequência o desaparecimento da corte de Lisboa, o foco literário mais estimulante do País. Os homens de letras e artistas, que até então viviam sobretudo da munificência régia, procuraram a proteção da corte de Madrid, ou acolheram-se ao mecenato das maiores casas senhoriais, como as dos condes de Vila Real e dos duques de Bragança. Outros viveram à sombra das ordens religiosas a que pertenciam, tratando uma temática predominantemente devota. O teatro, o grande género das cortes monárquicas do século XVII, decaiu após as criações de Gil Vicente e António Ferreira. Na lírica e na épica, os padrões renascentistas mal se renovaram. Na prosa, o primeiro plano da cena é ocupado pelos cronistas das diversas ordens religiosas, quer se ocupem da história do Reino, quer da dos conventos e santos respetivos. Tirante os discípulos dos quinhentistas refugiados em várias «cortes na aldeia», o clero reforça a posição predominante na produção literária.
         A Universidade de Coimbra é dominada pelos Jesuítas, embora as outras principais ordens religiosas tenham acesso às suas cátedras. Durante o século XVII atinge o seu apogeu a «escola conimbricense», que é uma tentativa para adaptar a Escolástica e o Aristóteles dos Escolásticos à problemática mais recente. A universidade jesuíta de Évora é outro foco importante de Teologia escolástica.
         O ensino universitário jesuíta, de início razoavelmente actualizado e eficiente, decai à medida que se aproxima e avança o século XVII, convertendo-se os tratados universitários em manuais, e estes em postilas sem autoria responsável, equivalente às sebentas no nosso tempo.
         Além do ensino universitário, os Jesuítas dominam, em geral, com os seus colégios de Artes, os Estudos Menores, ou preparatórios, em toda a extensão do império da Casa da Áustria, através de numerosas escolas onde se educam tanto a aristocracia de sangue como a burguesia. Nesses colégios, entre os quais se destacam o Colégio das Artes de Coimbra e o de Santo Antão de Lisboa, além de noções de Matemáticas e Geometria necessárias à construção ou manobra naval, à vida militar, etc., ministra-se principalmente uma cultura geral que, embora adoptando as formas da erudição humanística, era escolástica na sua inspiração mais profunda. A Ratio Studiorum, regulamento pedagógico de todas as escolas jesuítas (1599), tem em vista desenvolver a expressão oral e escrita em latim, a capacidade de disputa e de exibição literária em público, através de sabatinas, concursos de emulação escolar, récitas, representações teatrais, proscrevendo expressamente todo o magistério ou prática escolar que favoreça a curiosidade intelectual, o gosto da novidade, o espírito crítico. Aristóteles, base de todo o ensino, deve ser interpretado segundo os comentadores consagrados, especialmente S. Tomás.
         Diferentemente do que sucede em Espanha, o papel cultural das outras ordens religiosas é em Portugal, nesta época, modesto em comparação com o dos Jesuítas. Devem-se no entanto aos Cistercienses de Alcobaça, aos Dominicanos, aos Franciscanos e a outros, numerosas hagiografias, histórias monásticas, histórias nacionais, que constituem o grosso da produção impressa em língua portuguesa no século XVI.
         Convém ter bem presente que sob o governo dos Filipes são, mais do que nunca, bilingues não só os autores como o público português. Significativo é que o Quijote de Cervantes tenha duas edições em Lisboa no próprio ano da sua primeira edição; e que a primeira edição do Guzmán de Alfarache, 2.ª parte, de Mateo Alemán, seja igualmente lisboeta. Esboça-se desta forma uma tendência a dar ao castelhano, língua geral da Península, preponderância no teatro e nos géneros de grande circulação, como o romance, ficando o português reduzido à condição de língua regional. Tendência passageira, resultante da ausência de uma corte régia em Lisboa, e que pode ter contribuído para a decadência ou falta de continuidade do romance e do teatro em língua portuguesa.

A. J. Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa (adaptado)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Renascimento em Portugal - Generalidades

         Apesar da dinâmica que se fez sentir na sociedade portuguesa a partir do século XV, do impacto dos Descobrimentos na mudança das mentalidades e da contratação de humanistas estrangeiros por parte de monarcas portugueses a partir do reinado de D. Afonso V, o Renascimento chegou tardiamente ao nosso país. Observe-se, por exemplo, como a arquitetura nunca se chegou a impor verdadeiramente, em razão da influência do estilo gótico, que se prolongou até ao reinado de D. Manuel e esteve na origem do estilo manuelino, uma espécie de modernização renascentista do gótico. Somente no reinado de D. João III (1521 – 1557) se constituíram edifícios marcadamente renascentistas, como a Igreja de Nossa Senhora da Graça em Évora, a Misericórdia de Beja, as sés de Miranda do Douro, Leiria e Portalegre e um dos claustros do Convento de Cristo em Tomar.

         Politicamente, durante o período de vida de Camões (1524 ? ‑ 1580), reinaram em Portugal D. João III, D. Sebastião e D. Henrique. Camões assistiu ao fim do ciclo dos Descobrimentos, que foram anteriormente, simultaneamente, uma das causas e consequências do espírito renascentista. Contribuindo para a abertura de novos horizontes ao homem europeu, os Descobrimentos determinaram um conjunto de transformações:


         Aproximadamente doze anos após o nascimento de Camões, surge em Portugal o Tribunal da Inquisição. Em 1531, regista-se um grande terramoto no reino, ficando destruídas povoações inteiras. A desproporção entre a escassez de recursos humanos e a vastidão geográfica das terras descobertas, a sucessão de naufrágios (o de Sepúlveda foi em 1522), a derrota em Alcácer Quibir em 4 de agosto de 1578 contribuíram fortemente para a queda do nosso império. Em suma, é lícito concluir que o tempo biográfico de Camões corresponde à trajetória política portuguesa, que culmina com a perda da independência em 1580.

Renascimento - Contexto português

         Acentua-se, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o processo de concentração do poder político e económico sob a chefia do rei, iniciado com as campanhas do Norte de África e a exploração do ouro da Mina. A exploração económica do ultramar faz-se grandemente em regime de monopólio da Coroa. Apesar dos progressos da burguesia rural e comercial desde o século XIV, ela não conseguiu evitar que as novas expansões económicas fossem na maior parte absorvidas como renda feudal, sob formas variadas (rendas da colonização insular e brasileira, monopólios dos "resgates" e "tratos" ultramarinos, monopólios de produção interna sujeita a direitos "banais", e, finalmente, administração da Coroa a favor duma oligarquia), o que dificultou a acumulação do capital propriamente dito e seu posterior investimento na agricultura e, em geral, na produção interna.
         Esta espécie de monopólio comercial ultramarino a favor da nobreza palaciana encontra dificuldades: vícios internos do seu funcionamento, ataques vindos de Holandeses, Franceses, Ingleses, aliados por vezes no Oriente a populações locais, que dificultam cada vez mais o domínio militar das estradas e feitorias. O sistema entra em crise por meados do século XVI. D. João III é obrigado a evacuar algumas praças marroquinas. Realizam-se tentativas para descobrir novas minas de ouro ou prata na América e na África, mas volta-se depois ao projecto da guerra africana, tendo em mira a ocupação do reino de Fez. O desastre de Alcácer Quibir vem agravar a bancarrota económica com o colapso militar e político. A união com Castela apareceu finalmente à maior parte da camada dirigente como uma saída. E, assim, a Coroa portuguesa integra-se, desde 1580, no sistema de hegemonia espanhola, que se mantém até finais da Guerra dos Trinta Anos, cerca de meados do século XVII, como uma extensa coligação de coroas, distintas mas acumuladas sobre a mesma cabeça imperial ou ligadas entre si pela consanguinidade dos monarcas Habsburgos.
         No entanto, mesmo dentro de Portugal e Espanha, a burguesia mercantil não deixava de progredir, desafiando o monopólio do Estado e o poder da nobreza. Pouco a pouco domina a praça de Lisboa e o comércio entre o ultramar e a Europa. Grande parte destes homens de negócios descende dos judeus convertidos à força em 1496 e efetivamente assimilados. Daqui tiram pretexto os círculos dirigentes para instituir a Inquisição (1536), em teoria dirigida sobretudo contra a prática clandestina do judaísmo. Graças ao Santo Ofício, estabeleceu-se a discriminação contra os «Cristãos-Novos», verdadeiros ou supostos descendentes dos Judeus, que eram grande parte dos "homens de negócios", e tentou-se impedir o acesso deles a postos de direção no Estado, na Igreja e até na Universidade; ao mesmo tempo que, através do fisco inquisitorial, se expropriava uma parte dos seus bens. Esta perseguição foi contraproducente, pois teve, entre outros resultados, o de que muitos cristãos-novos emigraram e constituíram uma rede internacional com núcleos na Holanda, na França, na Inglaterra, no Brasil, no Peru, na África e na Índia, pelas malhas da qual passava uma grande parte do comércio mundial. Através destas relações, a burguesia mercantil portuguesa tende a ganhar um carácter cosmopolita.

 Fonte: História da Literatura Portuguesa, A.  J. Saraiva e O. Lopes

A escola pública é uma merda!!!


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Renascimento - Origem

·         O Renascimento é «um movimento cultural que, articulado com fatores sociais, económicos, políticos e religiosos, criou uma profunda de dinâmica de mudança na Europa dos séculos XV e XVI». É um movimento de recuperação da cultura greco-latina, cuja designação se ficou a dever a uma certa oposição à Idade Média, considerada, erradamente em parte, como uma «época de trevas» pelos homens do Renascimento. Nas palavras de António José Saraiva e Óscar Lopes, o Renascimento é o período que caracterizado pela «adoção das formas artísticas greco-latinas e a assimilação do espírito que as anima», o que sugere que estamos perante uma aceitação e não uma ressurreição das formas clássicas, visto que a ressurreição supõe a morte e as formas greco-latinas nunca morreram. Com efeito, durante a Idade Média leram-se Homero e Virgílio, comentaram-se as obras de Aristóteles e Platão, estudaram-se as línguas grega e latina.
     ·         O berço do Renascimento foi a Itália do século XV, nomeadamente cidades como Florença, Génova e Veneza, não obstante alguns sinais de mudança se terem começado a sentir no final da Idade Média, em determinados centros intelectuais europeus.
     ·         Esta origem explica-se pelo facto de, sobretudo em Florença, se ter formado uma elite de políticos e intelectuais que, enriquecida pelo comércio, esteve na génese de um movimento profundo de renovação cultural.
     ·         Ainda em Florença, é de destacar o papel da família Médicis ao longo do século XV, família essa que governou a cidade e se constituiu como mecenas de inúmeros artistas, o que fomentou o desenvolvimento das letras e das artes. Durante o século XVI, membros dessa família dominaram o papado, o que fez com que Roma se tornasse o novo centro de irradiação do Renascimento.
     ·         O movimento renascentista acabou por e expandir por toda a Europa – tendo como base a Itália e a Flandres, outro centro de comércio e desenvolvimento artísticos ‑, tendo atingido o auge nas primeiras décadas do século XVI.
     ·         Por outro lado, durante o período do Renascimento, a Europa assistiu ao surgimento de cortes luxuosas, de estados poderosos e de forte centralização do poder. Reis e papas interessaram-se pela cultura, pelo que se rodearam de artistas, edificaram palácios e igrejas que ornamentaram com pinturas e esculturas, muitas vezes contendo o retrato do patrono e / ou de familiares seus.
     ·         A riqueza, aliada ao desejo de promoção e notoriedade, possibilitou o investimento na arte por parte de ricos comerciantes e de altos dignitários da Igreja. Em simultâneo, o mecenato alastrou a diversas cortes europeias.
     ·         A difusão do Renascimento pela Europa ficou a dever-se, em larga medida, às viagens e à troca de correspondência encetadas pelos artistas e intelectuais da época, favorecendo assim a difusão de ideias.
·         Esse grupo de letrados desenvolveu uma intensa atividade intelectual distribuída por diferentes áreas:
·         Pedagogia ‑ propunham:
·        a leitura e o comentário dos textos de autores clássicos para apreensão do seu significado preciso;
·        a introdução de matérias novas, como a História, no conjunto das disciplinas existentes;
·        a introdução, nos estudos, das obras de autores científicos da Antiguidade.
·         Sociedade ‑ defendiam:
·        a escolha dos dirigentes segundo o saber e a capacidade;
·        a condenação da guerra;
·         Literatura:
·        adotaram como modelos os géneros literários, as formas poéticas, os recursos estilísticos cultivados pelos antigos autores gregos e romanos;
·        adaptaram as línguas modernas ao estilo antigo.
     ·         Por outro lado, foram vários os fatores que contribuíram para a difusão deste novo espírito:
·         O desenvolvimento do comércio, das atividades industriais e das cidades e, portanto, de uma sociedade mercantil;
·         A descoberta da tipografia, graças a Gutenberg, que se constituiu como um meio prodigioso para a difusão das ideias e da informação, associada ao crescimento de um público a quem já não satisfazia a reprodução manuscrita do livro, com todos os constrangimentos que acarretava;
·         A descoberta do caminho marítimo para a Índia e para a América;
·         O encontro de civilizações desconhecidas, como a chinesa, facto que levou à modificação das conceções acerca do planeta, dos costumes e das crenças;
·         As invenções e aperfeiçoamentos técnicos, como a artilharia ou os novos processos de navegação ou de exploração das minas.
·         Verifica-se, por isso,
·         o alargamento da curiosidade a vários aspetos do património cultural antigo (o saber prático ou especulativo, o lucro e a operosidade mercantil, a inteligência e o corpo humano, a vida terrena);
·         a difusão da cultura clássica pelas novas técnicas de produção do livro, por meio da edição dos clássicos greco-latinos e das obras de análise e interpretação dos humanistas.

Bibliografia:
» Manual Plural 12,
» Manual Português +, Areal Editores
» História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes;
» História da Literatura

Aspetos culturais: Renascimento, Humanismo e Classicismo

         O desenvolvimento do comércio, das atividades industriais e das cidades relaciona-se com o grande movimento que se designa pela palavra Renascimento em sentido lato. A velha cultura clerical não consegue satisfazer as novas necessidades e aspirações culturais. E alguns grandes acontecimentos, aparentemente súbitos, mas na realidade preparados por um longo processo, transformam rapidamente o horizonte mental dos grupos sociais mais dinâmicos.
         A descoberta da tipografia e a invenção da imprensa em meados do século XV, atribuída a Gutenberg, é estimulada pela existência de um público em crescimento, para o qual já não bastava a reprodução manuscrita do livro. Essa invenção acelerou prodigiosamente a difusão dos livros, das ideias e das notícias, e constituiu-se em poderoso fator de transformação ideológica.
         O descobrimento do caminho marítimo para a Índia e o da América ‑ ambos rapidamente divulgados pela imprensa ‑, assim como o encontro de civilizações desconhecidas, como a chinesa, modificam as concepções multisseculares do europeu acerca do planeta, dos costumes e das crenças.
         Outras invenções e aperfeiçoamentos técnicos, como a artilharia, os novos processos de exploração de minas, etc., mostram as possibilidades de domínio da natureza, abrindo caminhos para a ciência conexamente matemática e experimental, que será um facto no final do século XVI com os trabalhos de Galileu.
         Não surpreende por isso que, sobretudo antes de começarem e depois de terminarem as lutas religiosas que ensanguentaram os meados do século XVI, principie a esboçar-se um moderno ideal de sociedade, sob a alegoria, por exemplo, de uma distante cidade quimérica e racionalizada, sem tribunais nem violência ‑ a Utopia de Tomás Morus (a que se seguiram, mais tarde, a Cidade do Sol, escrita em 1602 na prisão por Campanella, e a Nova Atlântida, 1627, de Francisco Bacon).
         É neste contexto que se torna possível uma assimilação mais ampla da cultura greco-latina. Embora alguns autores latinos não fossem ignorados antes do século XV (especialmente Séneca, Cícero e Ovídio) e muitos lugares-comuns literários da Antiguidade tivessem feito caminho até à literatura cortês através das obras do clero medieval, certas facetas da cultura clássica eram inassimiláveis pelo mundo feudal e agrário. O desenvolvimento da sociedade mercantil e de toda uma cultura ligada à sua experiência põe em causa a síntese doutrinária lentamente elaborada pelo clero das universidades nos séculos imediatamente anteriores, e um dos efeitos desta situação é o alargamento da curiosidade a outros aspetos do património cultural antigo em que, contrariamente à Escolástica, se dignificassem as atividades civis, o saber prático ou especulativo em diretrizes teológicas, o lucro e a operosidade mercantil, a inteligência e até o corpo humano, a vida terrena. Pouco a pouco, o esquema teológico da Criação, Queda e Redenção serve de modelo a este outro: Luzes greco-romanas, Trevas "góticas" e monaicas. Daqui a designação de Renascimento, que só mais tarde se começou a usar explicitamente em relação ao Quattrocento (século XV italiano) e a uma parte do século XVI europeu de demarcação problemática.
         Os promotores deste movimento são os Humanistas, letrados cuja actividade se exerce geralmente fora da hierarquia clerical, e que constituem um grupo cada vez mais numeroso. A palavra humanismo com que se designou este movimento, inspirada pelo conceito de humanitas (o da humanidade, ou qualidade humana, como cultura e estrutura moral) de Cícero, exprime a crença num conjunto de valores morais e estéticos universalmente humanos, os quais se achariam definidos tanto nas Escrituras e na Patrística como na cultura profana da Antiguidade.
         Já Petrarca, herdeiro da poesia provençal, viaja incansavelmente em busca de códices latinos. Boccaccio (1313-1375), Poggio (1380-1459), Alberti (1404-1472) e outros letrados italianos descobrem e dão a conhecer textos ignorados de Tácito, Cícero, Quintiliano, Tito Lívio. Prelados bizantinos fixados em Itália por ocasião dos concílios quatrocentistas, outros intelectuais de Bizâncio, posteriormente fugidos aos Turcos, e eruditos italianos, como Filelfo, e Lorenzo Valla (1405-1457), criador da filosofia clássica ‑ , contribuem para a revelação da língua e da literatura helénicas, quase completamente ignoradas no Ocidente medieval.

Renascimento - A Europa - Aspetos sociais

         Do final do século XV a meados do século XVI, a indústria desenvolve-se para além dos quadros corporativos das cidades e há um surto de invenções e melhoramentos técnicos, favorecidos pela procura crescente de mercadorias. Os senhores feudais apropriam-se tanto quanto podem de terras comunais, reduzindo muitos servos ou colonos a assalariados e produzindo para o mercado. O aumento do volume de trocas, implicando o da circulação monetária, traz como resultado a procura de ouro, prata e outras mercadorias preciosas. Intensifica-se o trabalho mineiro e buscam-se minas, quer dentro quer fora da Europa. O descobrimento da prata na América e do caminho marítimo para a Índia vêm ao encontro desta necessidade de acréscimo dos meios de troca, e provocam uma alta de preços, ruinosa para os que apenas vivem de foros e serviços feudais.
         Tornam-se possíveis grandes acumulações de capital e operações bancárias à escala de toda a Europa e respetivos interesses ultramarinos. Formam-se grandes casas financeiras, como os Fugger e os Welser. Descobrem-se meios de drenagem de capitais, como o empréstimo público.
         Estas formas de concentração e mobilização dos meios monetários servem de base aos grandes estados nacionais e até supranacionais, como o reino de França, o império de Carlos V (dependente da casa Fugger e das minas de prata) e o império português (dependente do ouro da Mina e da pimenta). Os monarcas, recorrendo largamente ao empréstimo, consumindo em massa material de guerra, onde já figurava a artilharia, oferecendo garantias de diversa ordem, estimulam fortemente o crescimento do capitalismo mercantil. Por vezes a realeza favorece a burguesia mercante; outras vezes, ajudada pela concentração do poder económico e político, atua como vértice de uma aristocracia militar e administrativa, na sua maior parte oriunda da aristocracia agrária.
         Os bens feudais da Igreja dão origem a constantes conflitos entre a Igreja e os príncipes, que tendem a chamar a si, no todo ou em parte, o poder religioso e os bens eclesiásticos, quer separando-se de Roma, como Henrique VIII de Inglaterra, quer arrancando-lhe, como o rei de França, concessões importantes.
         Com o incremento do volume da produção, sob o estímulo do comércio europeu e intercontinental, acelera-se o ritmo de desenvolvimento de algumas cidades, especialmente no Reno, no Báltico e na Flandres. A burguesia industrial e comercial destas cidades resiste às tentativas de dominação empreendidas por Carlos V e por outros príncipes. Ao mesmo tempo, o aumento da exploração agrícola, em que se lançam alguns senhores feudais, agrava a situação dos camponeses e provoca insurreições como a de 1525 na Alemanha.
         Estas circunstâncias facilitaram a propagação da heresia religiosa desencadeada pelo protesto de Lutero contra a venda de indulgências, em 1517, que inicia o movimento de contestação da Igreja de Roma que ficaria conhecido por Reforma e que acabaria por dividir os países europeus em católicos e protestantes. Os escritos de Lutero e outros protestantes tornaram-se rapidamente conhecidos, graças à recente invenção da imprensa. Relembremos que uma das suas ideias mais polémicas foi a preconização da livre interpretação dos textos bíblicos (é sob a sua direção que sai a primeira tradução da Bíblia em alemão). A burguesia das cidades, desejosa de se libertar da tutela eclesiástica, apoiou, em grande parte, o movimento. O mesmo fizeram os príncipes alemães, que cobiçavam os bens feudais da Igreja. Massas de camponeses, artesãos e assalariados das cidades insurrecionavam-se em nome do Evangelho contra a complexa formação social ‑ senhoria e mercantil ‑ que os oprimia. Mas Lutero condenou os levantamentos populares.
         A Igreja atravessa então um momento difícil. O rei de Inglaterra separa-se do Papa; o de França toma uma atitude ambígua; e mesmo os príncipes favoráveis ao Papa desacatam a Santa Sé, como Carlos V, cujo exército em 1527 saqueia Roma, saque que revelou até que ponto a religião se sujeitara a interesses dinásticas e, em geral, políticos e sociais.
         A necessidade duma reforma é geralmente admitida, até por alguns cardeais. Existe uma grande corrente que, sem pôr em discussão a autoridade do Papa, preconiza a emenda dos abusos e a interiorização do sentimento religioso. Essa corrente, que tem o seu intérprete máximo em Erasmo de Roterdão, chegou a aparecer como um compromisso possível entre Luteranos e «Papistas».
         Entretanto, a cultura e o saber científico desenvolvem-se. Exemplo desse desenvolvimento é a defesa, em 1543, na Polónia, pelo astrónomo Copérnico, da teoria do heliocentrismo, ignorada, porém, durante 72 anos, até Galileo a confirmar.
         Após uma época de anarquia e de indecisão, define-se a nova fisionomia política e religiosa da Europa. No concílio de Trento (1545-63), cortam-se as pontes entre os dois fragmentos da antiga cristandade: a Península Ibérica torna-se o mais forte baluarte do mundo católico; as cidades do Reno, do Báltico e do mar do Norte, o eixo do mundo protestante. A França está dividida entre um e outro. No fragmento católico desenvolve-se uma reacção conhecida pelo nome de «Contra-Reforma», que consiste, sob seu aspecto negativo, numa repressão por meios coativos de todas as manifestações culturais suspeitas de heterodoxia, incluindo manifestações toleradas durante épocas anteriores; e sob o aspecto positivo, numa tentativa de recuperação da Escolástica e no desenvolvimento de formas exteriores de devoção. A Inquisição (romana, espanhola e portuguesa) torna-se o principal instrumento de representação ideológica. À Companhia de Jesus cabe o papel principal na difusão do novo catolicismo "tridentino". No mundo protestante, as condições foram, em geral, mais favoráveis à expansão da ciência, assim como à difusão de uma cultura laica.
         As duas mentalidades afrontar-se-ão nas guerras com que Filipe II tenta submeter a Inglaterra e as cidades da Flandres e Países Baixos. O império espanhol, abrangendo, além da Espanha, Portugal, domínios nas Índias Ocidentais, o Brasil, grande parte da Itália, etc., funcionará em benefício de uma aristocracia de sangue, servida por uma poderosa organização militar e que possui, além da maior parte da terra em Espanha, postos dominantes no comércio transoceânico e os saques e tributos de guerra ou domínio. A defesa da fé católica é o motivo mais frequentemente invocado por esta aristocracia feudal para as guerras no exterior e as confiscações ou perseguições no interior. Em contraste, os Países Baixos aparecem como uma federação de cidades burguesas invocando princípios que mais tarde se diriam democráticos, como o direito ao autogoverno e à liberdade de crença.

A. J. Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa
(Texto adaptado)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Motoristas ganham mais do que professores

Ministro Motoristas de Crato ganham mais que professores
O ministério liderado por Nuno Crato tem ao seu serviço um total de 13 motoristas, 12 deles com um salário-base mensal de 1.850 euros, noticia esta segunda-feira o Diário de Notícias.
Motoristas de Crato ganham mais que professores
DR
ECONOMIA
O Ministério da Educação e Ciência tem um total de 13 motoristas, entre o gabinete do ministro Nuno Crato e três secretarias de Estado, escreve hoje o Diário de Notícias (DN), que acrescenta que todos os motoristas com excepção de um têm um vencimento-base mensal de 1.848,53 euros.
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De acordo com o jornal, também sete secretárias pessoais têm salários-base acima dos 1.800 euros, e outros dez funcionários de apoio técnico administrativo ganham mais de 1.500 euros brutos, de acordo com os valores que constam das listas de nomeações publicadas no Portal do Governo.
O Ministério da Educação assegura, contudo, que desde que Nuno Crato assumiu funções já cortou as despesas de funcionamento do seu ministério para menos de um terço dos valores registados nos anteriores ministérios da Educação e da Ciência e do Ensino Superior que foram, entretanto, unificados na mesma pasta.
O DN alerta ainda que a maioria dos motoristas e secretárias pessoais dos gabinetes do ministério ganham melhor que todos os 15 a 20 mil professores contratados a termo, que auferem um salário de 1.373,13 euros brutos, e também mais que os professores do quadro até ao terceiro escalão. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Deputada bêbeda


Deputada do PS detida por conduzir com 2,41 g/l de álcool

Glória Araújo foi detida em Lisboa por crime ao volante no dia do seu 37.º aniversário.
Glória Araújo é deputada desde 2005, eleita pelo círculo do Porto DR
Glória Araújo, deputada do Partido Socialista (PS), foi detida na passada sexta-feira em Lisboa, por conduzir com excesso de álcool no sangue (2,41 gramas por litro), bem acima do limite a partir do qual esta infracção é qualificada como crime (1,2 g/l).
A notícia foi avançada pela Rádio Renascença. Contactada pelo PÚBLICO, a deputada socialista recusou fazer qualquer comentário.

“Agradeço o seu contacto, mas não vou fazer qualquer comentário”, respondeu Glória Araújo, deputada desde 2005, eleita pelo círculo do Porto.

Segundo a Renascença, tudo aconteceu na sexta-feira, dia em que Glória Araújo completou 37 anos.

A deputada foi detida numa operação stop no centro de Lisboa às 3h20 da madrugada e foi depois notificada para comparecer perante o Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa, desconhecendo-se o resultado da audiência com o juiz.

Ao abrigo do Código da Estrada, os condutores são punidos se apresentarem uma taxa de alcoolemia igual ou superior a 0,5 g/l (contra-ordenação grave). A partir de 0,8 g/l, é considerada uma contra-ordenação muito grave e uma taxa igual ou superior a 1,2 g/l é considerada crime.

O Código Penal prevê uma pena de prisão até um ano ou multa até 120 dias para quem cometer o crime de condução sob efeito de álcool, além de ficar sujeito a uma pena acessória de retirada da carta de condução por um período entre três meses e três anos.

Natural de Aveiro, Glória Maria da Silva Araújo passou a infância e juventude em Paços de Ferreira, vivendo actualmente em Lousada.

Licenciada em engenharia mecânica, a deputada socialista faz parte da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, sendo suplente na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e na Comissão de Defesa Nacional. A nível partidário, integra a comissão nacional do PS.

Glória Araújo já participou até em acções sobre a segurança na estrada, como a Comissão Interparlamentar da Segurança Rodoviária (Setembro de 2008) e um encontro com empresários em Lousada para debater a Estratégia Nacional para a Segurança Rodoviária (Março de 2009).

David Bowie - "Absolute Beginners"


          Este senhor comemora hoje o seu sexagésimo sexto aniversário.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Regresso às aulas: 'Precisamos de merda'

"Precisamos de Merda", João de Vasconcelos e Sá
Fonte: Ephemerajpp

     Texto lido durante um jantar, por ocasião do Carnaval de 1934, na presença do ministro da Agricultura de então, um sujeito de nome Leovigildo Queimado Franco de Sousa. O autor foi o poeta João de Vasconcelos e Sá, avô do fadista António Pinto Basto.

* * * * * * * * * * * * * * *

Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Agricultura

Exposição

Porque julgamos digna de registo,
a nossa exposição, Sr. Ministro,
erguemos até vós humildemente,
uma toada uníssona e plangente,
em que evitámos o menor deslize,
e em que damos razão da nossa crise.

Senhor, em vão esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Mas falta-nos a matéria orgânica precisa,
na terra que é delgada e sempre fraca.
A matéria em questão, chama-se caca.

Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…

Se os membros desse ilustre Ministério
querem tomar o nosso caso bem a sério;
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade,
e mijem-nos também, por caridade…

O Senhor Oliveira Salazar,
quando tiver vontade de cagar,
venha até nós, solicito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo, com sossego,
ajeite o cu bem apontado ao rego,
e como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho.

A nação confiou-lhe os seus destinos…
Então comprima, aperte os intestinos.
E ai… se lhe escapar um traque não se importe…
quem sabe se o cheirá-lo não dará sorte…

Quantos porão as suas esperanças
num traque do Ministro das Finanças…
E também, quem vive aflito e sem recursos,
já não distingue os traques, dos discursos…

Não precisa falar, tenha a certeza,
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos nelas.

Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisamos de outra coisa,
adubos de potassa, cal, azote;
tragam-nos merda pura do bispote,
e de todos os penicos portugueses,
durante pelo menos uns seis meses.

Sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente eles nos despejem trampa.
Ah terras alentejanas, terras nuas,
desesperos de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sempre a paixão nostálgica da merda…

Precisamos de merda senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
Ah, merda grossa e fina , merda boa,
das inúteis retretes de Lisboa.

Como é triste saber que todos vós
andais cagando, sem pensar em nós…
Se querem fomentar a agricultura, 
mandem vir muita gente com soltura…

Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala…
Ah, venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade,
formas normais ou formas esquisitas.
E desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia, à grande bosta,
tudo o que vier a gente gosta.

Precisamos de merda, Senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
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