Português

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Princípio de cortesia

                O princípio da cortesia refere-se ao conjunto de estratégias, de normas de conduta – verbais e não verbais ‑ (informais, formais, regras de etiqueta), estabelecidas pelas sociedades e usadas pelos interlocutores para reduzir e / ou evitar os conflitos entre si, isto é, para evitar que a troca verbal seja ofensiva ou ameaçadora, acautelando-se assim os conflitos, e, em simultâneo, garantir um comportamento social adequando. É o caso, por exemplo, de um reencontro entre dois indivíduos que não se veem há algum tempo e em que um deles, procurando ser simpático e evitar atingir negativamente o seu interlocutor, lhe diz «Estás com bom aspeto.», mesmo que isso não corresponda à verdade.
                Algumas dessas estratégias são as formas de tratamento (Vossa Excelência, o senhor, tu, sr. João, etc.) e as expressões convencionais de cortesia (por favor, obrigado, etc.).
                Por outro lado, determinados traços da competência comunicativa do falante contribuem também para o princípio da cortesia:
‑ adaptar o seu discurso ao contexto e às circunstâncias;
‑ dominar estratégias que evitem a troca verbal ofensiva ou ameaçadora;
‑ suavizar determinados conteúdos / mensagens considerados agressivos, “chocantes”, cruéis ou que possam agredir o interlocutor;
‑ usar fórmulas e expressões consideradas como corteses.
                Além disso, qualquer falante deve respeitar determinadas regras durante a conversação:
‑ não interromper o seu interlocutor;
‑ evitar o silêncio ostensivo;
‑ revelar atenção ao discurso / não se mostrar desatento;
‑ não proferir ofensas, injúrias, calúnias, insultos, acusações gratuitas e infundadas, etc.
                A este princípio associa-se o conceito de face, isto é, a autoimagem pública que o falante pretende dar de si próprio. De facto, nas interações sociais, “procura causar uma imagem positiva no seu interlocutor, de modo a ser aprovado por ele. Quanto mais positiva for essa imagem, mais os outros a aceitarão.” (in http://dlac.pt). Deste modo, o locutor investe na sua imagem social, de modo a manter a face e a não a perder, constituindo a fala um meio privilegiado de o falante apresentar uma imagem pessoal (positiva ou negativa) aos demais indivíduos. Dá-se o nome de face positiva ao desejo do locutor de que a sua imagem seja apreciada e aprovada e de face negativa ao desejo que o mesmo locutor tem de não ser contrariado e desacreditado.
                Assim sendo, considerando que é do interesse dos falantes protegerem a face um do outro, no pressuposto de que, se A preserva a de B, este preservará a daquele, eles regulam a sua interação por meio do ajuste recíproco de comportamentos e adotam estratégias de mútua cortesia tendentes à prossecução desse objetivo.
                No entanto, há momentos e circunstâncias de tensão em que um falante procura, deliberadamente, que o outro perca a face, por exemplo através de acusações, de interrupções constantes e até de insultos. É frequente, em debates televisivos, um interlocutor interromper o outro com frequência, para que este não consiga expor o seu pensamento.
                Por outro lado, são várias as interações verbais que constituem potenciais ameaças à face (positiva ou negativa) do locutor:
. atos de fala expressivos como a autocrítica, a confissão e a justificação constituem uma ameaça à face positiva;
. atos de fala compromissivos como as ofertas e as promessas constituem uma ameaça à face negativa, dado que condicionam a sua liberdade.
                De igual modo, há interações verbais que ameaçam a face do interlocutor:
. atos de fala expressivos como os insultos, as injúrias, a censura, a desaprovação, as injúrias, a desaprovação, as acusações e as interrupções configuram uma ameaça à face positiva;
. atos de fala diretivos (ordens, pedidos, instruções) constituem uma ameaça à face negativa, visto que o obrigam a tomar uma posição.
                O objetivo do princípio de cortesia é, precisamente, atenuar estas ameaças. Assim, os interlocutores procuram observar determinados princípios (atrás referidos) e fazer uso de diferentes estratégias linguísticas para mitigar as ameaças à face de cada um, procurando diminuir o impacto dos atos de fala acima descritos:
. uso de atos de fala indiretos que contribuem para diminuir a ameaça que as ordens, os pedidos, as perguntas, etc., representam para a face negativa do interlocutor:
‑ Cala-te!
. Não te importas de te calar?
. Podes calar-te, por favor?
. Poderias calar-te?
. Era melhor calares-te.
.
. recurso a outros atos de fala indiretos ‑ introduções explicativas ou desculpabilizadoras que diminuam a ameaça à face positiva provocada por desaprovações ou desacordos:
Está enganado!
. Desculpe, mas está enganado.
. utilização de eufemismos:
O Antunes morreu.
. O Antunes partiu para o céu.
. O Antunes deixou-nos.
. O Antunes já não está entre nós.
. uso do pretérito imperfeito em vez do presente em determinados pedidos:
Quero um bilhete para a última sessão.
. Queria um bilhete para a última sessão, por favor!
. uso de perífrases:
Passos Coelho teve um acidente. Um acidente muito grave. Infelizmente aconteceu o pior. (Esta fala prepara, gradualmente, o interlocutor para o desfecho fatal, sendo de assinalar a conjugação da perífrase com o eufemismo) – in Domínios Gramaticais (adaptado).
. utilização da lítotes:
Isso não é nada pêra doce. (= Isso é muito difícil.) ‑ in Domínios Gramaticais.

Bibliografia:
. Domínios Gramaticais, Zacarias Nascimento et alii.
. Itinerário Gramatical, Olívia Figueiredo et alii.
. Gramática da Língua Portuguesa, Clara Amorim et alii.

Princípio de pertinência ou relevância

                O princípio de pertinência é uma espécie de guia de comportamento comunicativo humano que garante que o locutor produz enunciados que conduzem a uma interpretação adequada por parte do interlocutor, deixando cair outras interpretações.
                Isto sucede porque os interlocutores reconhecem universos de referência comuns, ou seja, eles partilham saberes sobre o mundo, sobre os valores psicológicos e sociais, sobre os comportamentos, etc.

Bibliografia:
. Domínios Gramaticais, Zacarias Nascimento et alii.
. Itinerário Gramatical, Olívia Figueiredo et alii.
. Gramática da Língua Portuguesa, Clara Amorim et alii.


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Princípio de cooperação

                Para que uma troca verbal, uma conversa, seja eficaz, é necessário que os falantes cooperem / colaborem entre si, respeitando um conjunto de regras que partilham entre si, isto é, devem esforçar-se, em conjunto, para respeitar essas regras, no sentido de a comunicação ser eficaz e atingir o mesmo objetivo, promovendo-se, deste modo, a boa-formação conversacional (a colaboração mútua dos falantes).
                O princípio de cooperação compreende um conjunto de categorias chamadas máximas conversacionais, que o concretizam.
                As máximas conversacionais são quatro.

1.ª) Máxima de quantidade:
. a informação fornecida deve ser a que é requerida;
. a contribuição do falante não deve ser menos nem mais informativa do que é requerido;
. configuram um desrespeito por esta máxima os discursos tautológicos (repetitivos), redundantes ou repetitivos;
. exemplo de respeito por esta máxima:
Pode dizer-me as horas?
São 23 e 10.
. exemplo de desrespeito por esta máxima:
Pode dizer-me as horas?
‑ Posso. / ‑ Não, não posso.
          OU
Pode dizer-me as horas?
‑ São 23 horas, 10 minutos, 35 segundos e 53 centésimos.

2.ª) Máxima de qualidade:
. a contribuição numa conversa deve ser, tanto quanto possível, verdadeira;
. o falante deve omitir o que crê ser falso e evitar afirmar aquilo de que não tem provas ou que desconhece;
. por vezes, o falante viola propositadamente esta máxima, por exemplo em enunciados irónicos(1) ou metafóricos(2):
(1)Tiveste zero no teste. Estás de parabéns!
(2)Amor, tens um coração de manteiga.
. assim, é necessário, ocasionalmente, que o interlocutor infira um outro significado do enunciado produzido pelo locutor, além do sentido literal:
Se tiveres boas notas, compro-te um no telemóvel. (infere-se que o telemóvel só será comprado se o interlocutor «obtiver boas notas»).

3.ª) Máxima de relação ou de relevância
. a contribuição discursiva do falante deve ser relevante e pertinente relativamente ao objetivo da conversa, isto é, deve ter a ver com o objetivo da conversa;
. a violação desta máxima é, frequentemente, aparente, dado que o locutor espera que o seu interlocutor faça inferências:
A ‑ Vamos ao cinema logo?
B ‑ A minha mãe está doente. (infere-se desta resposta que o convite foi recusado, pois B não pode ir ao cinema.)

4.ª) Máxima de modo:
. o locutor deve ser claro, evitando a obscuridade e a ambiguidade;
. o locutor deve ser breve;
. a contribuição conversacional deve ser ordenada e metódica;
. exemplo de desrespeito por esta máxima:
* Entrei na escola e saí do autocarro. (neste caso, é evidente que os acontecimentos não estão ordenados de forma lógica; de facto, o locutor deveria ter saído primeiro do autocarro e, de seguida, entrado na escola.)

                As máximas conversacionais são, frequentemente, violadas, umas vezes deliberadamente, outras não. As violações deliberadas estão associadas ao recurso à ironia, à hipérbole, à metáfora, à interrogação retórica e aos de fala indiretos.

Princípios reguladores da interação discursiva

     Para que a interação discursiva se desenvolva de modo eficiente e correta e alcance o seu objetivo, é necessário observar alguns princípios reguladores, os quais orientam o modo como os falantes interagem.
     A comunicação pressupõe uma espécie de ação conjunta entre os interlocutores, que atuam de forma responsável, coordenada e alternando os papéis de locutor e interlocutor.
     A interação discursiva entre os falantes ocorre de forma disciplinada, coordenada e recíproca, o que faz com que aqueles sejam corresponsáveis pela condução eficiente da interação comunicativa.

     Quando se fala em princípios a interação discursiva, estamos a referir-nos ao princípio da cooperação e às respetivas máximas conversacionais, ao princípio da cortesia e ao princípio da pertinência ou relevância.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Texto instrucional

Passeio turístico à cidade de Évora

     Venha visitar a cidade histórica de Évora, situada no coração do Alentejo, herdeira de um rico e variado património cultural, construída e preservada ao longo do tempo. A sua abundância de monumentos levou à sua classificação como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1986.
     Além deste património único no país, a região que rodeia Évora tem muito para lhe oferecer: infindáveis campos dourados com oliveiras e sobreiros, montes, albufeiras e riachos. As aldeias encontram-se junto às muralhas medievais, enquanto artesãos mantêm vivas as tradições.
     Esperam por si as suas gentes hospitaleiras, o artesanato, a rica gastronomia, os cheiros e os sabores que caracterizam esta bela região. Seguramente, vai desejar voltar!
     O percurso inicia-se em F... e termina em Évora. Para chegar a esta cidade, siga em direção à A25, depois à A23 e, em Portalegre, siga para o IP2.
     A saída está marcada para as 7H 00 da manhã do dia 25 de abril da vila de F..., com destino a Évora. São 344 km, sendo a duração média da viagem de 5 horas. O horário de chegada previsto será às 12H 00.
     Pare na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe e contemple o maior monumento megalítico da Península Ibérica, o cromeleque dos Almendres. Às 13H 00, almoce no restaurante "O Antão" e delicie-se com a cozinha tradicional alentejana.
     Pelas 15H 00, visite o Templo Romano, um dos grandes marcos da cidade construída no século I. Visite também o Jardim Diana, que se situa junto ao monumento, e é um belíssimo miradouro sobre a cidade e a planície alentejana. Não deixe, ainda, de visitar a Sé Catedral, que é a maior do país.
     Às 19H 00 siga em direção ao Hotel Dom Fernando, localizado numa das principais artérias da cidade e jante no restaurante "São Brás".
     No segundo dia, 26 de abril, de manhã, passeie no jardim público de um harmonioso espaço verde que conta com três monumentos: o Palácio D. Manuel, as Ruínas Fingidas e o coreto centenário. De seguida, almoce no restaurante "O Aqueduto".
     De tarde, visite o Aqueduto de Água Prata e a original Capela dos Ossos, na Igreja Matriz. Às 16H 00, termine o seu passeio histórico na famosa Praça do Giraldo e tome um café numa das muitas esplanadas aí existentes. Para mais tarde recordar, tire uma fotografia no célebre chafariz do século XVI.
     O regresso a F... ocorrerá pelas 17H 00.
     Espero que se delicie com a gastronomia, com a beleza dos monumentos e desfrute da tranquilidade de uma paisagem maravilhosa.

Diana G.

Análise de "O último andar" - Cecília Meireles


1       No último andar é mais bonito:
         do último andar se vê o mar.
         É lá que eu quero morar.

         O último andar é mais longe:
5       custa muito a lá chegar.
         Mas é lá que eu quero morar.

         Todo o céu fica a noite inteira
         sobre o último andar.
         É lá que eu quero morar.

10    Quando faz lua, no terraço
         fica tudo luar.
         É lá que eu quero morar.

         Os passarinhos lá se escondem,
         para ninguém os maltratar,
15    no último andar.

         De lá se avista o Mundo inteiro,
         tudo parece perto, no ar.
         É lá que eu quero morar:

         no último andar.

                Neste poema, o sujeito poético exprime o seu desejo de habitar o “último andar”, que caracteriza de diferentes formas.

                Assim, começa por o apresentar como «mais bonito» (v. 1), pois dele «se vê o mar». Trata-se, portanto, de um espaço amplo, vasto, ilimitado, como é sugerido pela amplitude da visão que proporciona, do mar e do céu (3.ª estrofe). É nesse lugar, pois, que o «eu» deseja morar.
                Na segunda estrofe, associa-o à altura («é muito longe» ‑ v. 4) e à consequente dificuldade de acesso («custa-se muito a chegar» ‑ v. 5). Não obstante, reafirma, convictamente, o desejo de aí morar.
                A ideia de amplitude e vastidão é reafirmada na terceira estrofe. De noite, é possível ver todo o céu (hipérbole), quase como se estivesse ao alcance da mão e nele fosse possível tocar. O próprio luar parece repousar inteiramente nele.
                No último andar, os passarinhos (diminutivo afetivo) escondem-se para ninguém os maltratar. Assim, o espaço assume-se como uma espécie de refúgio e sinónimo de liberdade. De refúgio, porque serve de proteção e acolhimento, e de liberdade, pelo que o voo das aves no céu ilimitado, metaforicamente, simboliza.
                Por último, desse lugar é possível avistar-se o mundo inteiro e «tudo parece perto» (hipérbole). Ou seja, o último andar é um local elevado quer no plano físico quer no plano moral, pelo que representa enquanto espaço simbólico: local associado ao anseio de liberdade (que caracteriza o ser humano de qualquer época e espaço), local de refúgio e proteção, local que permite o acesso à vastidão do mundo e à contemplação das suas belezas, local de desejo de transcendência e plenitude.

terça-feira, 18 de março de 2014

terça-feira, 4 de março de 2014

Ex-aluno terá de pagar 60 mil euros por difamar professora

     Um antigo aluno de uma escola secundária foi condenado, por um tribunal australiano, a pagar 93.849 dólares (60.745 euros), por difamar uma professora na internet.

(c) A Bola

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Consílio dos Deuses no Olimpo



. Início da narração (estância 19): «in medias res», à semelhança das epopeias greco-latinas.

. A ação de Os Lusíadas não é narrada cronologicamente. De facto, o poeta inicia a narração quando a viagem de Vasco da Gama à Índia se situa já no Oceano Índico, perto da costa de Moçambique.
   Esta técnica narrativa, um traço das antigas epopeias, designa-se «in medias res», ou seja, a narração é iniciada a meio dos acontecimentos.

. O início da viagem e os acontecimentos que ocorreram até ao ponto em que a narração é iniciada na estância 19 serão contados posteriormente, num recuo temporal (analepse), pelo próprio Vasco da Gama.

. Espaço:
‑ Oceano Índico;


Continuação da análise → Análise do Consílio dos Deuses no Olimpo.
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