Português

sábado, 15 de outubro de 2016

Análise do poema "Quando as crianças brincam"

          Este tema do poema é, como em tantos outros, a infância, mais concretamente a saudade de uma infância feliz que, na realidade, nunca existiu. Esse tema é suscitado por um facto da realidade que despertou as reflexões do sujeito poético: a observação / audição das brincadeiras das crianças.

          No que diz respeito à estrutura interna, o poema pode ser dividido em duas partes: a primeira, constituída pelas duas primeiras estrofes e a segunda, pela última.
          Na primeira parte, o sujeito poético exprime a alegria que lhe despertam as crianças (“Qualquer coisa em minha alma / Começa a se alegrar” e “Numa onda de alegria” – vv. 3-4 e 7) e a saudade (sentimento) de uma infância de brincadeiras (“E toda aquela infância / […] me vem” – vv. 5 e 6), apesar de nunca ter, de facto, vivido essa alegria quando era criança (“E toda aquela infância / Que não tive me vem, / […] / Que não foi de ninguém.” – vv. 5-6 e 8).
               Na segunda, o «eu» lírico começa por considerar o seu passado um enigma (“Se quem fui é enigma” – v. 9), sugerindo, de seguida, que o futuro é imprevisível (“E quem serei visão” – v. 10), reclamando de si mesmo o dever de se alegrar com a evocação de um tempo feliz, sempre associado à ideia de infância (“Quem sou ao menos sinta /: Isto no meu coração.” – vv. 11-12).
         Esta segunda parte é introduzida pelo marcador discursivo Se, que possui um valor condicional, sugerindo as condições necessárias (a consciência de um passado que o sujeito poético não entende e a incapacidade de prever o futuro) para existir um estado de espírito marcado pela alegria. Porém, o valor semântico desse marcador aproxima-se mais da ideia de causalidade (Já que quem fui é enigma, / E quem serei visão.”).
          Estas circunstâncias levam a que o «eu» se sinta perdido, algo de que ele tem plena consciência, como se pode verificar pelo verso 9: "Se quem fui é enigma".

          Ao longo do texto, predominam três tempos verbais: o presente, o pretérito perfeito e o futuro, todos do indicativo.
          Na primeira estrofe e no verso 11, o sujeito poético refere-se ao presente e, por isso, utiliza as formas verbais no presente (“brincam”, “oiço”, “começa”, “sou”). Já na segunda e terceira estrofes, quando recorda o passado, utiliza o pretérito perfeito (“tive”, “foi”, “fui”) e, por fim, no verso 10, recorre ao futuro para se referir ao porvir (“serei”).

          A forma como o sujeito poético encara o futuro é aparentemente contraditória, já que ele o olha com ceticismo e, simultaneamente, esperança, ideia visível pelo recurso à expressão “ao menos” (verso 11), a qual implica a consciência da necessidade de fazer um esforço (esperança), embora assuma simultaneamente um tom de falta de convicção (ceticismo).

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

sábado, 24 de setembro de 2016

"Autumn of my life", Bobby Goldsboro


     Para celebrar (tardiamente) a chegada de mais um outono, este tema de 1968, que nada tem a ver com estações do ano.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

"O português como língua de Camões é um mito"

     Em 735 adjetivos usados por Luís de Camões n'Os Lusíadas, apenas um é uma criação nova do poeta, uma estreia na história da língua portuguesa. É a palavra "insofrido", que significa "impaciente".
     Esta contabilidade foi feita pelo linguísta Fernando Venâncio, que hoje apresenta alguns resultados da sua investigação dedicada àquela que será a primeira história do léxico português numa aula do curso de Estudos Camonianos da Universidade Nova de Lisboa, às 18h. "A primeira descoberta é que Camões inovou muito pouco", explica numa entrevista feita por telefone e email a partir de Amesterdão, onde é investigador na universidade.
     "O uso que Camões faz do léxico exclusivo português já conhecido é extremamente moderado e, mais do que tudo, as exclusividades portuguesas introduzidas pela sua obra foram residuais. Dir-se-ia que Camões não acreditou numa língua portuguesa de perfil autónomo."
     Sem ser n'Os Lusíadas, Fernando Venâncio encontrou apenas outro adjetivo novo de origem autóctone na lírica camoniana, desta vez "famulento", que significa "faminto".
     Já as criações castelhanas estreadas naquele poema épico, publicado em 1572, são cinco (e estamos a contar sempre só adjetivos, palavras normalmente utilizadas para testar a inovação numa língua): "alvoroçado", "disfarçado", "enamorado", "rebelde" e "sotoposto".
     Depois foram ainda enumerados os adjetivos latinos exclusivos do português, que atingem o número de treze ("abominoso", "cintilante", "celso", "fulvo", "humílimo", "longínquo", "piscoso", "crástino", "equório", "estelante", "frondente", "inconcesso", "prisco"). Entre estes, só dois - "longínquo" e "cintilante" - são realmente importantes, "o resto é extravagante e os adjetivos não voltam praticamente a ser usados".
     Mas os adjetivos latinos já correntes em castelhano estreados por esta obra-prima da literatura renascentista europeia, que conta em verso a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, sobem até aos 54: "aéreo", "aquoso", "árido", "aspérrimo", "áureo", "belígero", "canino", "canoro", "cerúleo", "ciente", "cônsono", "diáfano", "dissonante", "espumante", "estipulante", "estupendo", "famélico", "ferino", "fétido", "fradulento", "fugaz", "fulgente", "fulminante", "furibundo", "hispano", "impudico", "inerme", "inerte", "infido", "inúmero", "inusitado", "lácteo", "malévolo", "náutico", "pirático", "plácido", "plúmbeo", "preeminente", "prestante", "proceloso", "pudibundo", "radiante", "rapace", "régio", "rotundo", "rutilante", "salso", "sanguinoso", "sitibundo", "sonoroso", "truculento", "vasto", "vendível", "virgíneo". Uma lista "extensa" que mostra que Camões transportou para a escrita portuguesa "o que de melhor, mais sólido e mais expressivo já circulava em castelhano em matéria de latinismos". Metade destes adjetivos "revelaram-se aquisições felizes e definitivas", tão duradouros como os outros que o poeta utiliza e que já vêm da Idade Média.
     Até aqui o que faltou numa língua que tem sido intensamente escrutinada foi estudá-la numa perspetiva histórica, "comparando-a com a dos contemporâneos e de épocas anteriores". O professor da Universidade de Amesterdão diz que é assim que se consegue perceber que a inovação está lá, "mas não é portuguesa".
     "Os cultismos que Camões utiliza são já correntes em castelhano", conhecidos na época por qualquer português instruído. "Camões não parece acreditar num português castiço, autónomo, irredutível". Empenha-se "numa modernização do português culto", mas "com recurso a criações castelhanas e ao latim do castelhano". E isso é "uma absoluta novidade, que desautoriza os nossos mitos criados à volta de uma 'língua de Camões', um mantra sem base material".
     Se o português era a língua dos marinheiros e dos comerciantes, o castelhano era a grande língua internacional da classe culta portuguesa e europeia. "Os portugueses estavam muito familiarizados com o castelhano. Isso vale para todo o português com contactos na corte, nas universidades. A língua culta, aquela em que as classes instruídas se exprimem é muito devedora do castelhano".
     Fernando Venâncio dá o exemplo de Catarina de Áustria, que foi rainha de Portugal durante 53 anos e que nunca escreveu uma linha de português. "A verdade é que a língua da corte era o castelhano. Depois havia muitos professores, pregadores, confessores que vinham de Castela e isso obrigava muita gente, ativa ou passivamente, a exprimir-se ou a dominar o castelhano. Portanto, a presença do castelhano é imensa. Vemos isso naquilo que ficou, nos livros de piedade, nos dicionários. Tudo isso é castelhano ou traduzido do castelhano com muitos castelhanismos." O primeiro dicionário de português é de 1562, quando Camões já teria quase 40 anos.
     Assim, era normal que quem quisesse ser erudito e moderno o fizesse sob uma influência castelhana. A preocupação de Camões foi, então, tudo o parece indicar, "iberizar o português", de modo a que a língua funcionasse internacionalmente. "Modernizou o português e fê-lo, inteligentemente, segundo o modelo castelhano, para poder ser lido por espanhóis e pela Europa culta da época."


Movida em Goa

     Esta influência linguística do castelhano em Camões já foi anteriormente estudada, mas de uma forma limitada, tendo sido identificado na lírica de Camões algum aproveitamento lexical de célebres poetas castelhanos, como Juan de Mena e Garcilaso de la Vega, ou ainda de Juán Boscán, n'Os Lusíadas. Venâncio cita o trabalho dos anos 40 de Vieira de Lemos e Martínez Almoyna e, mais recentemente, o de Nicolás Extremera Tapiá. "Mas essa é uma parte ínfima do aproveitamento lexical que Camões fez do que já estava disponível em castelhano. Esta minha investigação é realmente o Camões todo. A novidade é a espetacular extensão do fenómeno."
     Camões não está sozinho neste projeto linguístico, como lhe chama o investigador. Fernando Venâncio encontrou no jesuíta Luís Fróis "um duplo linguístico de Camões", porque o missionário também transpôs para português toda a riqueza latina que os castelhanos já usavam. Este homem, que sai de Lisboa aos 16 anos para nunca mais regressar, depois de chegar à Ásia em 1548, é "o mais dotado 'jornalista' português no Oriente" e as suas cartas sobre a Índia e sobre o Japão foram durante décadas "lidas, relidas e disputadas logo que chegavam a Portugal". Também ele, nitidamente, "investia numa 'iberização' da língua".
     Estão os dois a fazer o mesmo em simultâneo. Apesar de terem percursos muito diferentes, ambos passam por Goa, que era por volta de meados do século XVI "um centro cultural fortíssimo". "De certeza que absorvem um clima cultural, a que eu chamei 'movida', que já não havia em Portugal. Uma imensa liberdade criativa e mundana que contrasta com o controlo social da época de D. João III e que durou  até à chegada da Inquisição." O investigador diz que é "impensável" que Camões e Fróis, que conviveram oito anos em Goa, entre 1554 e 1562, "não se tenham conhecido, e até culturalmente estimulado". Todo este projeto linguístico de Camões e de Fróis, Fernando Venâncio tinha-o mostrado a Vasco Graça Moura, antes da morte do poeta e camonista, que ficou, descreve o professor universitário, "assombrado".
     A partir de hoje o investigador vai com certeza testar a tese com outros camonistas. A história do léxico português, diz, é provável que seja publicada já para o ano no Brasil. Se não há quase nenhuma inovação lexical em Camões no português autóctone, isso não diminui a grandeza da sua criação literária. "E Camões é, sem a menor dúvida, um grande artista."

          Isabel Salema, in Público (20 de abril de 2016)

A ilegalidade das aulas de apoio

     O SPN (Sindicato dos Professores do Norte) produziu um esclarecimento sobre reuniões e apoios educativos.
     O que se pode concluir desse esclarecimento é que muitas escolas / muitos agrupamentos constroem o horário dos seus docentes em nítida irregularidade. É o caso do agrupamento em que trabalhamos. De facto, maioritariamente, os apoios educativos prestados a grupos de alunos foram colocados como componente não letiva, quando, de acordo com o ponto 3 do artigo 82.º, alínea m), do ECD, os mesmos deveriam ser inscritos na componente letiva.

     O esclarecimento  encontra.-se devidamente escalpelizado no ComRegras, mais concretamente aqui: »»».

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A expressão "calendas gregas"

     A expressão "para as calendas gregas" (ex.: "Fulano adiou a decisão para as calendas gregas.") significa «nunca», «em tempo algum».

     A sua origem está relacionada com um dito espirituoso do imperador romano Augusto, no qual terá feito uso da expressão latina "ad calendas graecas".
     Com efeito, os Romanos dividiam os meses do ano em calendas, nonas e idos. Estes últimos correspondiam ao dia 1 dos meses de março, maio, julho e outubro e ao dia 13 nos outros meses. Por seu turno, as nonas eram o sétimo dia dos meses de março, maio, julho e outubro e o quinto dia nos restantes meses. Quanto às calendas, eram o primeiro dia de cada mês. Sucede que os Gregos não possuíam, no seu calendário, as calendas. Daí que Augusto quisesse significar, com a sua frase, «Nunca».

Fonte:
          Orlando Neves, Dicionário de Expressões Correntes

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

"Concerto" vs "conserto"

     É bastante frequente encontrar falantes que confundem o uso destas palavras.

     Antes de mais, convém atentar nas diferenças entre os seguintes vocábulos:
  • concerto (/concérto/: forma do verbo "concertar" no presente do indicativo;
  • Eu concerto as medidas disciplinares com o diretor de turma.
  • conserto(/consérto/): forma do verbo "consertar" no presente do indicativo;
  • Eu conserto a roda da bicicleta.
  • concerto (/concêrto/): nome que significa "sessão musical";
  • Assisti ao concerto dos A-ha.
  • conserto (/consêrto/): nome que significa "reparação";
  • Fiz um conserto na máquina de lavar a roupa.


     Em suma:

               a) concertar: ajustar, combinar, contratar;

               b) consertar: reparar, restaurar, arranjar.

"Mais bem" ou "melhor"?

     A locução adverbial "mais bem" é usada:

          a) quando o advérbio «bem» intensifica um particípio passado ou adjetivo
               verbal:
                    - Este texto está mais bem escrito do que o outro.
                    - O muro do Tom Sawyer está mais bem pintado do que o do Huck.
                    - O comportamento dos alunos tem de ser mais bem controlado.

     O advérbio "melhor" utiliza-se:

          b) quando surge isoladamente:
                    - Pensando melhor, vou dar positiva a todos os alunos.

          c) quando modifica a ação de um verbo:
                    - Eça escrevia melhor do que Jorge Jesus.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Mobilidade por Doença


Roubada aqui.
     4160 professores colocados na mobilidade por doença.

     Com algumas exceções, estes professores foram colocados em escolas / agrupamentos que não dispõem de horários letivos para lhes atribuir, pelo que desempenharão outras tarefas que, por mais úteis que possam ser, não correspondem à sua função primordial.

     Pelo que se vai sabendo, há inúmeros casos de «abuso», para não chamar fraude. Urge fiscalizar este mecanismo. Urge... urgentemente.

sábado, 10 de setembro de 2016

Plano de tutoria


     Agora que as tutorias estilo tudo ao molho e fé em Deus vão entrar em vigor, aqui fica um exemplar de um plano de tutoria, elabora na EB 2/3 de Perafita.
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