Português

domingo, 27 de janeiro de 2019

Afirmação da consciência coletiva na 'Crónica de D. João I'

. Na Crónica de D. João I emerge um sentimento coletivo do povo português que se traduz na consciência de se pertencer a uma mesma nação. A consciência nacional dos portugueses advém, em grande medida, de temerem a invasão estrangeira (castelhana) e de sentirem a independência do reino e a sua liberdade ameaçadas durante a Crise de 1383-1385. Por isso, Fernão Lopes faz a apologia do rei, mas, principalmente, da resistência ao inimigo castelhano, dando voz a uma coletividade que não aceita o lugar que lhe é destinado dentro do direito senhorial, que cria o seu direito novo, fundado no sentimento nacional, o «amor da terra», e defende-o de armas na mão. A palavra “Portugal” define, não já um território, mas um corpo de gente animado de um pensamento, expressão ainda apenas em esboço do direito pelo qual um novo povo se levantou contra um rei, o direito nacional.

. O sentimento nacional afirma-se porque, nessa ameaça, se fortalece a noção de comunidade. O povo de Lisboa manifesta-se contra a regente D. Leonor e contra a influência estrangeira (Cap. XI) e sofre em conjunto a dureza e as privações do cerco que João de Castela monta à capital (cap. CXLVIII). Contudo, são também portugueses de várias terras e regiões que se mobilizam para preparar a resistência a essa invasão e que enfrentam o exército castelhano nas batalhas de Atoleiros e de Aljubarrota.

. A ideia de ser português está enraizada na «arraia-miúda», isto é, o povo; porém, dela comungam também a burguesia e a nobreza que se mantém fiel à causa patriótica. De facto, o povo ganha a consciência coletiva de que tem um papel mais ativo e quer participar na vida política do reino e na condução dos destinos da nação: intervém para «salvar» o Mestre, mobiliza-se para enfrentar os castelhanos e quer decidir quem será o próximo rei de Portugal.

. Em termos narrativos, a consciência de grupo e o sentimento nacional são representados através da noção de personagem coletiva, quando se trata da multidão de Lisboa, que revela uma vontade comum (cap. XI), que se organiza em conjunto para defender a capital (cap. CXV) e que sofre em conjunto o cerco imposto pelos castelhanos à capital do reino (cap. CXLVIII). Por outro lado, a enumeração de grupos sociais e profissionais (soldados) chama a atenção também para o facto de a unidade nacional se fazer a partir da motivação e do desempenho dos grupos que a compõem.

. No plano da escrita da história, a Crónica de D. João I contribui, ao mesmo tempo, para representar o sentimento coletivo vivido durante a Crise de 1383-1385 e para afirmar essa consciência nacional. A obra foi encomendada pelo rei D. Duarte, filho de D. João I. Um dos objetivos de Fernão Lopes foi demonstrar o patriotismo dos portugueses e valorizar o papel do Mestre de Avis, fundador da Casa de Avis, na defesa da independência do reino e na construção do novo Portugal, que nasce na segunda dinastia. Fernão Lopes ajuda a legitimar (justificar) o direito de D. João I ao trono do reino português.

. Fernão Lopes coloca-nos perante a existência do povo como sujeito da História, do povo que se sente senhor da terra onde nasce, vive, trabalha e morre e que ganha consciência coletiva contra os que querem senhoreá-lo, do povo que é a fonte última do direito. O povo é aquele que ganha a sua vida quer com o trabalho manual (mesteirais e lavradores), quer com a «indústria», isto é, a atividade, habilidade e iniciativa em qualquer ramo produtivo e pacífico. Ou seja, uma das grandes novidades da crónica de Fernão Lopes é o aparecimento do povo como força que se quer afirmar, saindo da passividade medieval, do direito senhorial.


   Crise política de 1383-1385
   (período do país sem rei / período de tomada de consciência de liberdade e responsabilidades)
   . papel decisivo na fase de nomeação do Mestre (cap. XI)
   . vivência heroica dos grandes momentos da revolução:
- preparação do cerco, de forma empenhada e valorosa (cap. CXV)
- vivência da miséria associada à falta de mantimentos durante o cerco (cap. 148)


O RASISMO


"Sangria desatada"

     A sangria desatada refere-se a qualquer coisa que requer uma solução ou realização imediata.

     A origem da expressão radica nas guerras, onde se verificava que, se se desprendesse a ligadura colocada sobre as feridas, o soldado morreria por perder muito sangue.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O barbeiro que pode estar em todo o lado


Acentuação: "perú" ou "peru"?

     A palavra tem ou não acento gráfico?

     A grafia correta do vocábulo é "peru", ou seja, não acentuada graficamente.

     As palavras agudas terminadas em u não necessitam de acento: peru, caju, urubu, cru, tabu, menu, nu, etc.


Vide aqui [acentuação].

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

O abizo


"Salada de fruta" ou "salada de frutas"?

     Como se deve dizer: "salada de fruta" ou "salada de frutas"? A fruta deverá ser colocada no singular ou no plural? Ou ambas serão aceitáveis?

     A forma correta é salada de fruta, portanto no singular.

     De facto, a palavra «fruta» é um nome coletivo, ou seja, designa, no singular, um conjunto de frutos.

     Por esse motivo, devemos dizer "salada de fruta"-

domingo, 13 de janeiro de 2019

Conceção da História e método historiográfico de Fernão Lopes


. Fernão Lopes, na sua obra, apresenta uma conceção original de História, tanto em relação à tradição historiográfica como aos autores contemporâneos.
. Antes dele, todos os textos que se reportassem a acontecimentos do passado, independentemente de serem lendas, contos tradicionais, romances de cavalaria e narrativas de crónicas e de livros de linhagens, eram aceites como relatos históricos sem que a sua veracidade fosse averiguada.
. A experiência profissional de Fernão Lopes como notário e arquivista não só lhe incutiu a consciência da necessidade de fundar a verdade histórica num documento escrito, como também lhe proporcionou o acesso a documentos escritos e a testemunhos orais, que, caso contrário, lhe estariam vedados.
. No prólogo da Crónica de D. João I, o cronista expõe o seu ponto de vista sobre o trabalho do historiador, descrevendo o método utilizado para tentar manter a imparcialidade:
1. Recolher informação de numerosos testemunhos escritos, de modo a assegurar o rigor dos factos históricos avançados;
2. Apesar de seguir a historiografia anterior no processo de elaboração do texto, procedendo ao corte e montagem de textos de outros autores, sujeito as fontes a uma análise criteriosa, procurando verificar qual seria a mais verosímil ou a mais adequada à lógica interna dos factos; verificou também a verdade desses testemunhos escritos através do seu confronto com documentos oficiais.

Adaptado de Entre nós e as palavras 10, Editorial Santillana.

sábado, 12 de janeiro de 2019

Zona concessionada de iletrados


"Adesão" ou "aderência"?


     Este é mais um daqueles casos de frequente confusão (e consequente uso errado) entre duas palavras e seu(s) significado(s), tidas por vezes como sinónimas(os), já que ambas exprimem a ideia de ligação, só que em contextos diferentes. Foi o que sucedeu a quem digitou o texto acima reproduzido.
     O nome adesão provém da forma latina "adhaesione" e significa "concordância", "aprovação", "apoio a uma causa", "união", "acordo", "manifestação de solidariedade", podendo ser utilizada em expressões deste género: adesão a um tratado, adesão a uma ideia, adesão a um partido político, adesão a uma moda, adesão a um desporto, adesão a um modo de vida, adesão a um princípio, etc.
     Normalmente, este termo é utilizado em relação a pessoas: A adesão dos sócios à campanha foi extraordinária.

     O vocábulo aderência provém da forma latina "adhaerentia" e designa "a qualidade do que é aderente", a "ligação de superfícies" ou a "ligação de uma substância a outra".
     O termo é usado em expressões do género "a aderência dos pneus", "a aderência do pó aos móveis", "a aderência da sujidade à pele": A polícia desconfia da aderência dos pneus ao pavimento.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O leixa-pren da cantiga de amigo

  
▪ O leixa-pren aproxima-se das desgarradas populares (ou cantigas ao desafio) e consiste em começar cada estrofe repetindo o último verso de uma estrofe anterior.
 
▪ O 1.º verso do terceiro dístico retoma o 2.º verso do primeiro dístico = o 2.º verso da 1.ª estrofe é o 1.º verso da 3.ª estrofe – acrescentando um verso novo.
 
▪ O 2.º verso do quarto dístico retoma o 2.º verso do segundo dístico e repete, com variação, o 2.º verso do terceiro dístico = o 2.º verso da 2.ª estrofe é o 1.º verso da 4.ª; e assim sucessivamente.
 
▪ A progressão do pensamento verifica-se apenas no 2.º verso das estrofes ímpares.
 
            Através do paralelismo perfeito, é possível construir uma composição de 6 estrofes e 18 versos em que apenas há 5 versos semanticamente diferentes, incluindo o refrão.
 

Mutivos pessoais


Professor, o multifunções



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