O capítulo I do conto corresponde ao ponto de partida, à situação inicial da ação, com a referência a um assunto corriqueiro: a venda da propriedade Canterville Chase, por parte de Lorde Canterville, ao embaixador norte-americano, Hiram B. Otis. Uma «chase» é uma propriedade rural, situada numa vasta área de terras abertas para taça, o tipo de terra que era apenas acessível à elite da sociedade. A concretização da transação constitui o prólogo da história, visto que são apresentados alguns dos aspetos mais importantes do conto.
Assim, em primeiro lugar, o narrador enquadra o principal motivo da venda, ou seja, o facto de a casa estar alegadamente assombrada. Por outro lado, o início da narrativa lembra aqueles casos em que alguém assume um novo projeto ou toma uma decisão fulcral na sua vida e ignora os sinais negativos. De facto, não há dúvidas: todos pensam que o Sr. Otis comete um grande erro quando decide comprar a propriedade. A este propósito, convém atentar na diferença entre as atitudes adotadas pelas personagens. Assim, enquanto Lorde Canterville desiste da sua casa ancestral, um sinal do declínio da aristocracia inglesa, o Sr. Otis vive num mundo onde tudo é possível, incluindo colocar fantasmas num museu. Na época da ação, não era costume a aristocracia vender as suas propriedades, pelo que o facto de Lorde Canterville transacionar a sua mostra que estamos a entrar numa era de algumas mudanças. Além disso, o facto de o Sr. Otis comprar Canterville Chase indicia que a sua posição e estatuto lhe proporcionam riqueza, enquanto Lorde Canterville herdou a sua fortuna e a propriedade por meio da sua linhagem real. A aquisição mostra, na Era Vitoriana (1837-1901), o homem da classe média pode ascender socialmente, enquanto o poder da aristocracia entra em declínio.
Em segundo lugar, encontramos um dos fios condutores da obra: o confronto entre a conservadora visão britânica e a abordagem moderna dos norte-americanos, entre a formalidade recatada dos primeiros e uma certa falta de refinamento dos segundos. Vive-se um tempo de rápidas transformações, essencialmente motivadas pela Revolução Industrial. As cidades cresciam impulsionadas pela indústria, e o comércio global tornava-se mais fácil e eficiente, graças à produção rápida de bens manufaturadas e novas formas de transporte mais velozes, como, por exemplo, o comboio. No contexto desta sociedade em transformação, as velhas formas de pensar eram gradualmente substituídas por um pensamento mais moderno.
O início do conto introduz de forma clara o contraste entre (para continuar a ler a análise, clica aqui: »»»).