Português

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Coesão

1. Leia o texto.
            Madalena: (despertando) ‑ Ah! sois vós, Telmo… Não, já não leio: há pouca luz de dia já; confundia-me a vista. E é um bonito livro este! O teu valido, aquele vosso livro, Telmo.
            Telmo: (deitando-lhe os olhos) ‑ Oh! oh! livro para damas ‑ e para cavaleiros… e para todos: um livro que serve para todos; como não há outro, tirante o respeito devido ao da palavra de Deus! Mas esse não tenho eu a consolação de ler, que não sei latim como o meu senhor… quero dizer, como o Sr. Manuel de Sousa Coutinho ‑ que lá isso!... acabado escolar é ele. E assim foi seu pai antes dele, que muito bem o conheci: grande homem! Muitas letras, e de muito galante prática, e não somenos as outras partes de cavaleiro: uma gravidade!... Já não há daquela gente. Mas, minha senhora, isto de a palavra de Deus estar assim noutra língua, numa língua que a gente… que toda a gente não entende!... confesso-vos que aquele mercador inglês da Rua Nova que aqui vem às vezes tem-me dito suas cousas que me quadram… E Deus me perdoe, que eu creio que o homem é herege, desta seita nova da Alemanha ou da Inglaterra. Será?

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa

1.1. Preencha o quadro, identificando as palavras / expressões que retomam as expressões nominais apresentadas.

O que é substituído
Aquilo por que é substituído
Classe ou grupo de palavras
Referente
Tipo de anáfora
Correferentes
Nome
livro










Grupo nominal
[a]o livro da palavra de Deus



O que é substituído
Aquilo por que é substituído
Classe ou grupo de palavras
Referente
Tipo de anáfora
Correferentes
Grupo nominal
o meu senhor








Nome
pai







2. Apresente a cadeia de referência de cada um dos referentes.
a) livro
b) O da palavra de Deus
c) Meu senhor
d) pai

3. Leia o texto.
Pois eu, que no deserto dos caminhos,
Por ti me expunha imenso, contra as vacas;
Eu, que apartava as mansas das velhacas,
Fugia com terror dos pobrezinhos!

Vejo-os no pátio, ainda! Ainda os ouço!
Os velhos, que nos rezam padre-nossos;
Os mandriões que rosnam, altos, grossos;
E os cegos que se apoiam sobre o moço.

Cesário Verde, Em Petiz

3.1. Aponte os referentes das palavras sublinhadas.

4. Assinale o referente das expressões sublinhadas nas frases seguintes:
a) «Filho: Vou fazer-te uma pergunta: posso ir ao cinema?»
Mãe: Presta atenção ao que te vou dizer: não podes ir ao cinema.»

4.1. Indique, justificando, como se designam as expressões sublinhadas.

© Roteiros para a acção didáctica no secundário

* * * * * * * * * *

Correção

1.1.
O que é substituído
Aquilo por que é substituído
Classe ou grupo de palavras
Referente
Tipo de anáfora
Correferentes
   Nome
   livro
  Anáfora nominal (sinonímia)
  (o teu) valido
  Anáfora nominal (repetição)
  (aquele vosso) livro
  Anáfora nominal (repetição)
  livro para damas
  Anáfora nominal
  um livro que serve para todos
  Anáfora pronominal
  outro
   Grupo nominal
   [a]o livro da palavra de Deus
  Anáfora pronominal
  esse

O que é substituído
Aquilo por que é substituído
Classe ou grupo de palavras
Referente
Tipo de anáfora
Correferentes
Grupo nominal
o meu senhor
Anáfora nominal (sinonímia)
Sr. Manuel de Sousa Coutinho
Anáfora pronominal
ele
Determinante (possessivo)
seu [pai]
Anáfora pronominal
[d]ele
Nome
pai
Anáfora pronominal
o
Anáfora nominal (sinonímia)
grande homem
Anáfora nominal (hiperonímia)
[d]aquela gente

2.
a) Livro: valido, livro (3), outro.
b) O da palavra de Deus: esse.
c) Meu senhor: Sr. Manuel de Sousa Coutinho.
d) Pai: o, homem, aquela gente.

3. 1.
Que: eu
me: eu
que: eu
os: os pobrezinhos
os velhos: os pobrezinhos
que (nos rezam): os velhos
os mandriões: pobrezinhos
que (rosnam): os mandriões
os cegos: os pobrezinhos
que (se apoiam): os cegos

4.
Fala do filho: «posso ir ao cinema».
Fala da mãe: «não podes ir ao cinema».

4.1. As expressões designam-se catáforas, pois estão dependentes do referente, que surge posteriormente no texto.

Processos de formação de palavras

1. Associe os elementos da coluna A aos elementos da coluna B.
Coluna A
1. GNR
2. blá-blá
3. janela (ecrã do computador)
4. foto
5. pacemaker
6. informática
7. FENPROF
8. pen
9. slogan
10. MP4
11. miau
12. rato (do computador)

Coluna B
a) Empréstimo
b) Acrónimo
c) Amálgama
d) Truncação
e) Sigla
f) Extensão semântica
g) Onomatopeia

2. Atente no campo lexical de «Internet»:
a) WWW
b) página
c) link
d) internauta
e) portal
f) blog
g) site

2.1. Identifique e classifique os neologismos.

3. Identifique o processo de formação da lista de palavras seguinte.
a) engarrafar
b) desleal
c) lealdade
d) infelizmente
e) Entre-os-Rios
f) aterrar
g) pré-história
h) socioeconómico
i) bomba-relógio
j) ex-namorada
k) porta-voz
l) telemóvel
m) informática
n) naturalmente
o) laser
p) reciclar
q) azul-escuro
r) biblioteca
s) táxi
t) anoitecer
u) picapau
v) afro-luso-indiano
w) desvalorizar
x) vestir (verbo) / vestir (nome)
y) comprar > compra
z) além-mar

* * * * * * * * * *

Correção

1.
1 – E
2 – G
3 – F
4 – D
5 – A
6 – C
7 – B
8 – A / F
9 – A
10 – A / E
11 – G
12 ‑ F

2.
a) sigla (world wide web)
b) extensão semântica
c) empréstimo
d) amálgama (internet + nauta = navegador da rede internacional)
e) extensão semântica
f) truncação (blogue)
g) empréstimo

3.
a) derivação por parassíntese
b) derivação por prefixação
c) derivação por sufixação
d) derivação por prefixação e sufixação
e) composição morfossintática
f) derivação por parassíntese
g) derivação por prefixação
h) composição morfológica
i) composição morfossintática
j) derivação por prefixação
k) composição morfossintática
l) amálgama
m) amálgama
n) derivação por sufixação
o) empréstimo
p) derivação por parassíntese
q) composição morfossintática
r) composição morfológica
s) truncação
t) derivação por parassíntese
u) composição morfossintática
v) composição morfológica
w) derivação por prefixação
x) conversão
y) derivação regressiva
z) composição morfológica

Relações entre palavras

1. Considere as frases seguintes.
a) «A Feira de Eventos da escola é amanhã.»
b) « muito calor a caminho.»
c) «O tumor de que padece a minha avó é de origem benigna
d) «A Sofia e a prima vão acampar para a Serra do Caramulo.»
e) «O Antunes não seguiu a prescrição médica e sofreu um AVC.»

1.1. Construa uma frase em que utilize uma palavra homófona da assinalada em b).

1.2. Elabore uma frase em que utilize uma palavra homónima da utilizada em d).

1.3. Redija uma frase com um antónimo da palavra destacada na alínea c).

1.4. Elabore duas frases com palavras parónimas das sublinhadas nas alíneas a) e e).

2. Assinale as afirmações verdadeiras (V) e as afirmações falsas (F).
a) As palavras destacadas em «São Macário é o nosso padroeiro.» e «Os nossos grandes escritores são bem conhecidos internacionalmente.» são homónimas.
b) Entre «homens cabeludos» e «jovens carecas» existe uma relação de paronímia.
c) Entre as palavras sublinhadas em «A Joaquina pratica assiduamente a arte do beijo.» e «A prática desportiva faz bem à saúde.» existe uma relação de homografia.
d) As palavras «feiticeiras» e «monstros» são hiperónimos do hipónimo «figuras grotescas».
e) Em «Chegou a hora de estudar a sério.», a palavra sublinhada mantém uma relação de homofonia com o vocábulo destacado em «Ora bolas!».

3. Atente nas frases fornecidas.

a) «Os entomólogos são indivíduos estranhos que dedicam a sua existência ao estudo dos insetos. Não há mosca, borboleta, abelha ou mosquito que escape à sua observação.»
b) «O computador que o Ernesto comprou vinha sem teclado, rato e disco rígido

3.1. Assinale o tipo de relação lexical que se estabelece entre as palavras sublinhadas e a que está em itálico e a negrito.

4. Observe, agora, as frases seguintes.
a) «Esqueci-me de pagar a conta da água.»
b) «O Zeca conta muitas anedotas.»

4.1. Identifique a relação existente entre os vocábulos sublinhados em cada frase.

* * * * * * * * * * *

Correção

1.1. «A Maria ofereceu uns patins à avó.»

1.2. «A minha prima foi apanhada nua no vão da escada com o namorado.»

1.3. «O tumor de que padece a minha avó é de natureza maligna

1.4.
a) «Einstein registou a patente de diversos inventos
b) «Já foi decidida a proscrição do mandato de Isaltino Morais?»

2.
a) V
b) F (A relação é de sinonímia.)
c) V
d) F (São hipónimos do hiperónimo «figuras grotescas».)
e) V

3.1. Na frase a), a relação é de hierarquia, pois «insetos» é o hiperónimo e as palavras sublinhadas são hipónimos.
            Na frase b), a relação é de inclusão: «computador» é o holónimo e as palavras sublinhadas são merónimos.

4.1. Trata-se de uma relação de homonímia, dado que as palavras são homónimas, isto é, possuem a mesma grafia e pronúncia, mas significados diferentes.


terça-feira, 30 de abril de 2013

Beresford

          Se D. Miguel personifica o poder civil e Principal Sousa o religioso, William Carr Beresford representa o domínio britânico a que Portugal estava submetido e o poder militar. De facto, ele é um marechal do exército britânico que foi nomeado para reorganizar o exército português e investido de amplos poderes pelo rei D. João VI.

          Não obstante, despreza Portugal, país onde é obrigado a viver e que considera insignificante e provinciano ("... quem não viu as árvores da minha terra, nunca viu árvores...""Esta situação é, em si mesma, uma crítica a Portugal, que ele, como se depreende, despreza." - pág. 56), «um país de intrigas e de traições», opiniões que as figuras dos restantes governadores e dos delatores (Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento) exemplificam / concretizam. Não é, pois, de estranhar que aproveite qualquer pretexto para ridicularizar Portugal e assuma, sistematicamente, uma postura de arrogância e de superioridade relativamente ao reino e às suas gentes, contrapondo a sua terra natal, uma «terra onde as leias são humanas» (depreende-se, por contraste, que em Portugal são desumanas), «as pessoas cultas» (em Portugal, incultas e ignorantes), «a vida cheia de sentido» (em Portugal, o oposto) e «um homem vive como um homem» (em Portugal, como um bicho / animal? - ou seja, em condições degradantes). Pelo contrário, o reino lusitano é um país de intrigas e traições (pág. 63) onde reina a desonra («Honras? E quem mas presta?» - pág. 57) e os títulos nobiliárquicos não têm valor («Títulos? Mas quem é o marquês de Campo Maior fora do botequim do Marrare?» - pág. 58), cuja superioridade enfatiza.
          Dois dos traços característicos de Portugal com que mais antipatiza são o catolicismo caduco e o exercício incompetente do poder, mostrando-se, nos diálogos que trava com Principal Sousa, sistematicamente, sarcásticoirónicojocosozombadormordaztrocista e profundamente crítico quer com aquela personagem, que com o país, quer com as suas instituições («O tom do marechal é sempre jocoso. Sente-se que não toma os Portugueses a sério, embora esteja disposto a  colaborar com eles na medida do necessário para a obtenção dos seus fins.» - pág. 55 - assim se revela um perfeito oportunista). Atente-se, por exemplo, nas opiniões que manifesta sobre o exército (considera-o pindérico), o Rei e a Igreja, que despreza.

          Homem prático e decidido («Excelências: não vim aqui para perder tempo com conversas filosóficas. Venho falar-lhes de coisas mais sérias.» - pág. 41) e objectivo(«Beresford é um homem prático, que encara objectivamente a realidade» - pág. 42), as suas intervenções, nos diálogos travados com as demais personagens, denunciam um homem calculistaperspicazpráticoobjectivomaterialista e ambicioso, um mercenário, em suma, que não tem qualquer pejo em confessar que só está em Portugal por um único motivo - «Pretendo uma coisa de vós: que me pagueis - e bem!»«Troco os meus serviços por dinheiro, Excelência.» - pág. 58) -, isto é, para assegurar «um futuro que [o] compense dos sacrifícios do presente [...]» (pág. 57).

          Relativamente ao General, assume que o odeia e que é seu inimigo por razões pessoais: «... é meu inimigo, portanto, quem me dificulte esta missão.» - pág. 63  o General; «quem me possa substituir na organização do exército»  o General; «sou um grande sargento e um mau oficial» (o oposto do General); «sei organizar um exército, mas que não o sei comandar em campanha.»  a falta de liderança (o oposto do General). Ou seja, Beresford receia que Gomes Freire ponha em perigo a manutenção do seu lugar de marechal no exército português. Daí que também ele, na conjura, trace o perfil do alvo a abater: «[...] temos de encontrar alguém que tenha prestígio no exército. Julgo que nos convém um oficial de patente elevada, com um bom passado militar.» (pág. 64).
          À semelhança de D. Miguel, apresenta-se como uma personagem que segue os princípios do maquiavelismo, ou seja, alguém para quem os fins justificam os meios («Tragam-nos a proclamação... obtenham-na seja como for...» - pág. 52; «Senhores, afirmo-vos em nome dos meus 16 000$00 anuais que farei tudo o que for necessário para os continuar a receber!» - pág. 59). Dito de outra forma, a condenação de Gomes Freire - a condenação de um inocente - visa a conservação do seu poder, da sua tença, do seu prestígio e dos seus privilégios. Assim, fomenta a denúncia e o suborno no sentido de encontrar o responsável pela conspiração («Comprem quem for preciso, vendam a alma ao diabo, mas tragam-nos o nome dos chefes...» - pág. 69).

          Já o diálogo mantido com Matilde mostra-nos um Beresford egoístainsensível e frio que não se deixa comover pelas súplicas desesperadas da companheira do general. Pelo contrário, usa com ela uma linguagem trocistairónica e arrogante, que se destina a agredi-la moralmente e a humilhá-la, é mordaz, não desperdiçando a oportunidade para a humilhar e espezinhar e de, através dela, humilhar indiretamente Gomes Freire.

Principal Sousa


         Principal Sousa, a figura que representa o poder religioso, é, em nossa opinião, de todas, a personagem mais odiosa da peça. Porquê? Desde logo, porque deveria representar o BEM e, por isso, estar ao lado do povo humilhado, explorado, oprimido e ignorante. No entanto, pelo contrário, Principal Sousa personifica uma Igreja contrária aos princípios cristãos e ao exemplo de Jesus Cristo: autocráticadogmáticaconservadora nos usos e costumes, falsa hipócritadefensora dos seus interesses, daí o seu comprometimento com o poder político (a equivalência à relação, em determinados períodos do Estado Novo, entre a Igreja católica, representada pelo Cardeal Cerejeira, e o Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar).

          Defensor do despotismo iluminado ("É de origem divina o poder dos reis e é portanto a sua - e não a do povo - a voz de Deus." - p. 36), é um obscurantista, na medida em que defende a manutenção do povo na ignorância para que, desse modo, o poder opressivo e tirânico possa manter o seu reinado livremente. É uma forma de assegurar o sufocar da revolta popular ("... a sabedoria é tão perigosa como a ignorância! Ambas podem afastar o homem de Deus e do seu caminho." - p. 36) - que receia (p. 40) -, pois a ignorância impede que o povo seja capaz de refletir sobre si, sobre a sua existência, sobre os mecanismos do poder opressivo e de os questionar. Assim, também não é de estranhar que ele odeie a Revolução Francesas e os ideais / valores que lhe estão subjacentes, além dos próprios franceses ("... perdoe o ódio que tenho aos Franceses..." - p. 39), acusando-os de serem responsáveis pelo espírito revolucionário que germina e que poderá contribuir para o fim do seu consulado.

          Por outro lado, dá voz a determinadas ideias do Salazarismo: a conservação de um povo«pobre mas feliz» (pág. 40). Odeia Beresford ("O principal não gosta de Beresford..." - p. 41), que considera um herege (pág. 41), mas aceita e submete-se à sua presença porque tem consciência de que precisa do seu auxílio para manter o poder (p. 59). Além disso, é vingativo, pretendendo justificar a condenação do general com uma ofensa que este terá praticado relativamente ao seu irmão ("Agora me lembro de que há anos, em Campo d' Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a meu irmão Rodrigo!" - p. 72). Astuto, converte rapidamente os eu ódio pessoal numa razão de Estado (RÉPLICAS DA PÁG. 74)

          Adota, sucessivamente, uma postura calculista, hipócrita e cínica. Por exemplo, mostra-se falsamente preocupado com a possibilidade de se condenar um inocente e parece hesitar cada vez que se alude à trama que estará na base da condenação de Gomes Freire (p. 60), mas é denunciado por Beresford, que lhe diz que está nas suas mãos impedi-lo. Por outro lado, é ele próprio quem encontra as razões que o «tranquilizam»: «São muitos os inimigos [...] Maçonaria?» - pág. 67; o episódio acima referido acerca da ofensa que terá praticado. No entanto, pouco depois deixam de o mover o sentimento de culpa e os princípios morais e religiosos que deveriam servir de base à sua atuação, que são substituídos pela inquietação em torno de não se encontrarem as pessoas certas para a condenação de Gomes Freire. Além disso, faz uso constante de uma linguagem pejada de termos religiosos, invocando periodicamente a figura divina para justificar os seus atos, como se agisse em seu nome, e de um discurso paternalista («Vá, meu filho, e ajude-nos a cuidar do rebanho...» - pág. 38). Além disso, não demonstra qualquer escrúpulos em adulterar / deturpar o discurso bíblico, adequando-o aos seus propósitos, interesses e necessidades (PÁGINA 36). Não obstante, o seu inconsciente parece atormentá-lo: sonhou com o seu julgamento e com a sua condenação à forca (p. 68), o que o deixa aterrado e sem dormir.

          Vive deformado pelo fanatismo religioso, evidenciando uma ausência aflitiva de valores éticos e um paternalismo falsooco e beato. Daí a sua linguagem estereotipada, paternalista e falsamente compreensiva. Acaba por ser Matilde a desmascará-lo e humilhá-lo, dirigindo-lhe e à Igreja que representa um conjunto de acusações diretas e violentas: de hipocrisia, violência, falsidade, mentira e traição. A culminá-las, atira-lhe uma moeda aos pés que simboliza os princípios da traição, do apego aos bens materiais  e da corrupção que sempre nortearam o percurso de Principal Sousa.

          Em suma, a figura de Principal Sousa representa:
  1. o conluio entre a Igreja e o Poder;
  2. a política do orgulhosamente sós, princípio em que se espelha, mais uma vez, o Salazarismo;
  3. o não cumprimento da sua missão, evidenciada pela hipocrisia, pela ausência de valores éticos e morais consonantes com a ética cristã e pela cobertura que dá à injustiça.
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