Em 20 de julho de 1888, cerca de um
mês após a publicação de Os Maias, o jornal Repórter deu à
estampa uma crítica à obra, da autoria de Fialho de Almeida.
Fialho, em primeiro lugar, considera
que as personagens-tipo fundamentais dos romances anteriores de Eça se repetem
n’Os Maias, dando como exemplo Craft, que confirmaria a «deslumbrada
anglomania» do romancista. Por outro lado, considera igualmente repetitiva a visão
pessimista sobre a sociedade lisboeta: «a permanência do escritor do ponto de
vista maldizente dos outros seus volumes». Fialho de Almeida divide as
personagens da obra em dois grupos, «um que tem viajado, outro que não tem
viajado», observando que «O primeiro como que paira ainda numa certa região
superior de ideias e elegância», enquanto o outro «enchafurda todo num atascal
de parvoíce e de ignorância.».
Os elogios de Fialho centram-se em
duas cenas: a entrevista de Castro Gomes com Carlos da Maia e a reconciliação
de Carlos com a amante. Além disso, enaltece ainda o romance, considerando-o
«um dos mais surpreendentes trabalhos de humour de que possa orgulhar-se
uma literatura» e exaltando «o fantasista prodigioso, que, pelo poder da
observação e pelo poder da ironia, iguala Theckeray».
Eça responde em 8 de agosto a partir
de Bristol, através de uma carta, na qual, ironicamente, estranha ser acusado
de maldizente por um escritor realista. No que diz respeito à uniformização das
personagens, afirma que «Em Portugal há só um homem – que é sempre o
mesmo, ou sob a forma de dandy, ou de padre, ou de amanuense, ou de
capitão: é um homem indeciso, débil, sentimental, bondoso, palrador, deixa-te
ir, sem mola de caráter ou de inteligência que resista contra as
circunstâncias. É o homem que eu pinto – sob os seus costumes diversos,
casaca ou batina. E é o Português verdadeiro. É o Português que tem feito este
Portugal que vemos…».
Uma segunda polémica é espoletada por
Bulhão Pato, que, ainda em 1888, escreve uma crítica, intitulada «O Grande
Maia», incluída na coletânea poética Hoje, através da qual se pretende
vingar de Eça por considerar que Tomás de Alencar, o representante do
Ultrarromantismo n’Os Maias, era uma caricatura da sua pessoa. A 13 de
dezembro desse mesmo ano, sai no jornal O País, do Rio de Janeiro, o
artigo «Bulhão Pato e Eça de Queirós», em que o seu autor, Pinheiro Chagas,
traz a público a ofensa sofrida pelo poeta, aproveitando-a para ridicularizar o
romancista. Como resposta, em 8 de fevereiro de 1889, Eça faz publicar uma
carta no jornal O Tempo, sob o título «Os Maias – Tomás de
Alencar – uma explicação». Aí, o escritor afirma que «’ser retratado’ num
romance ou numa comédia constitui (…) a mais decisiva evidência da
celebridade», considerando também que a Sátira de Bulhão Pato visou
somente «criar um tumulto de curiosidade, obrigar todos os olhos a volverem-se
para o motivo que a provocou». E conclui esclarecendo que a personagem Tomás de
Alencar não era a personificação de Bulhão Pato, pelo que nada poderia
justificar «a permanência do sr. Bulhão Pato no interior do sr. Tomás de
Alencar, causando-lhe manifesto desconforto e empaturramento». O romancista
conclui, declarando que o «intuito final» da carta era «apelar para a conhecida
cortesia do autor da Sátira, e rogar-lhe o obséquio extremo de se
retirar de dentro do (seu) personagem». E deixa sem comentários a segunda
sátira de Bulhão Pato, Lázaro Cônsul, datada de 1889, mais contundente e
ofensiva, pois procurava rebaixá-lo como escritor por falta de vernaculidade na
expressão linguística («Flaubert, Daudet, Zola resplendem no francês: / Tu,
raso imitador, babas o português») e acusava-o de «caluniador da mulher
portuguesa».
Bibliografia:
FERREIRA, Maria E. T., Orientações
para a Leitura d’Os Maias de Eça de Queirós. Verbo.