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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Biografia de José Cardoso Pires


             José Augusto Neves Cardoso Pires, filho de António Neves, oficial da Marinha, e de Maria Sofia Cardoso Pires Neves, nasceu a 2 de outubro de 1925 na aldeia de Peso, distrito de Castelo Branco. Com poucos mesos de vida, veio para Lisboa, tendo passado a sua infância e adolescência no n.º 7 da Rua Carlos José Barreiros, em Arroios, e frequentou o primeiro ciclo do ensino básico (antiga escola primária) no n.º 14, no Largo do Leão. Os estudos secundários foram realizados no Liceu Camões, onde se inclinou para o estudo das matemáticas, embora se tenha estreado num jornal com um pequeno texto intitulado “As Aventuras do Mosquito Zigue-Zague”.

            Em 1943, publicou um pequeno ensaio (“Loti, o Sonhador”) e começou a estudar Matemáticas Superiores na Faculdade de Ciências de Lisboa. Enquanto estudava, foi experimentando diversas profissões, alternadas com períodos de desemprego. Essas experiências permitiram-lhe o convívio com todos os tipos de pessoas, incluindo artistas da sua geração, como, por exemplo, Luís Pacheco, Mário Cesariny, Júlio Pomar e Dias Coelho.

            Em 1945, abandonou a faculdade e alistou-se na Marinha Mercante como piloto sem curso, experiência que lhe foi muito útil para a escrita do conto “Salão de Vintém”, incluído na antologia Bloco, publicada em 1946.

            No ano seguinte, cumpriu o serviço militar em Vendas Novas e na Figueira da Foz, seguindo-se o exercício de diversas atividades: agente de vendas, correspondente de Inglês, intérprete de uma companhia de aviação, etc. Entre 1949 e 1953, foi redator e chefe de redação da revista Eva, publicou as obras Caminheiros e Outros Contos e Histórias de Amor (que foi apreendida pela PIDE, que deteve igualmente o escritor, propondo-lhe a edição de uma edição mutilada da obra ou a sua apreensão, opção que Cardoso Pires preferiu), bem como o conto “Week-end”.

            Em 1953, o seu irmão faleceu num acidente com um avião militar. Posteriormente, dedicou-lhe O livro O Hóspede de Job, um protesto contra a chamada Guerra Fria. Nesse ano ainda, dirigiu as Edições Fólio e, em 1954, foi feita a primeira tradução de um texto de Cardoso Pires em Inglaterra, concretamente o conto “The Outsiders” (Os Caminheiros, em português).

            Em 1957, dirigiu a coleção “Teatro de Vanguarda”, das Edições Fólio. O ano seguinte foi bastante preenchido: publicou O Anjo Ancorado, participou no Congresso Mundial da Paz, realizado em Estocolmo, e assistiu ao Ciclo do Espetáculo Coletivo na ex-RDA.

            Em 1959, fez um estudo sobre Roger Vailland (in O Jogo da Cabra Cega) e fez estágio na revista Epoca, em Milão.

            Em 1960, fundou e dirigiu a revista Almanaque e integrou a representação portuguesa no Congresso de Crítica da Universidade do Recife. Entretanto, viu os escaparates a primeira edição de O Render dos Heróis.

            Em 1961, Cardoso Pires foi eleito membro da direção da Sociedade Portuguesa de Escritores pela lista presidida pro Jaime Cortesão. No ano seguinte, iniciou a atividade de copy-writer de publicidade, reestruturou a “Gazeta Musical e de Todas as Artes” e foi delegado no Congresso Internacional de Escritores, em Florença, onde foi eleito vice-presidente da delegação portuguesa da Comunitá Eoropea degli Scrittori.

            Em 1963, participou clandestinamente no Encontro dos Escritores Peninsulares, em Barcelona, editou O Hóspede de Job, que será a primeira edição estrangeira de um romance do autor em Itália. O mesmo livro receberá o Prémio de Novelística Camilo Castelo Branco e o Prémio dos suplementos literários em 1964.

            Em 1965, estreou O Render dos Heróis no teatro Império, em Lisboa. No ano seguinte, juntamente com figuras como Alçada Baptista, João Bénard da Costa, Lindley Cintra, Joel Serrão e José Augusto França, entre outros, fez parte do núcleo português da Association Internationale pour la Liberté de la Culture, que irá atuar como resistência cultural à repressão vivida na época na Península Ibérica.

            Em 1967, fundou e orientou o magazine de artes e letras do Jornal do Fundão& Etc – e publicou uma série de crónicas semanais no Diário Popular, denominadas “Os Lugares Comuns”. Seguiu-se a publicação de uma das obras principais da sua carreira literária – O Delfim –, em 1968, altura em que dirigia o suplemento literário (nova fase) do Diário Popular.

            Em 1969, lançou o suplemento A Mosca e, a convite da Universidade de Londres, lecionou Literatura Portuguesa e Brasileira no King’s College, de onde enviava crónicas para o Diário de Lisboa durante o ano de 1970. Regressou a Portugal no ano seguinte, tendo colaborado pontualmente na BBC, e deu início ao folhetim O Burro em Pé e participou nas comemorações do Cinquentenário do PEN Club, que tiveram lugar em Dublin.

            Em 1972, publicou o estudo “Técnica do Golpe da Censura” simultaneamente em Paris e Londres. A versão original só será publicada depois do 25 de Abril. Enquanto isso, na Assembleia Nacional estalou a polémica em torno do texto Dinossauro Excelentíssimo.

            Em 1974, por ocasião do aniversário do Jornal do Fundão, o Diário de Lisboa escreveu o seguinte sobre o escritor: “Um romancista, José Cardoso Pires, um poeta, Eugénio de Andrade, e um escultor, Cargaleiro, foram exaustivamente analisados e proclamados como testemunhas de um certo tempo português.” (29.01.1974). Em maio, foi designado Diretor-Adjunto do Diário de Lisboa e, em outubro, foi nomeado Vereador da Câmara Municipal de Lisboa e Presidente da Comissão Cultural do Município.

            Em 1975, marcou presença na Conferência Internacional da Independência de Porto Rico e no 25.º Festival da Cidade de Berlim e foi o representante português na Reunião de Helsínquia do Bureau da Presidência do Conselho Mundial da Paz.

            Em 1976, foi movido o primeiro processo sobre a liberdade de expressão em democracia, no caso sobre o Diário de Lisboa, cujos responsáveis, Ruella Ramos e Cardoso Pires, responderam por ter denunciado a violência e os abusos praticados pela polícia de segurança. Por outro lado, integrou a delegação oficial dos escritores portugueses à Bienal do Livro de São Paulo e foi o delegado à reunião do PEN Club de Copenhaga contra a repressão cultural em Espanha e na América Latina.

            Em 1977, foi publicado E Agora José?, um livro de memórias que constitui um excelente exercício sobre a escrita, seguido, em 1979, de O Burro em Pé.

            A década de 80 do século passado foi decisiva para a divulgação de José Cardoso Pires, concretamente com as obras Corpo-delito na Sala de Espelhos, em 1980, Balada da Praia dos Cães, em 1982, consagrado com o Grande Prémio de Novela da Sociedade Portuguesa de Autores e passado à tela pelo cineasta José Fonseca e Costa. Em 1987, saiu outro dos seus grandes livros – Alexandra Alpha – e, em 1988, A República dos Corvos.

            Nos anos seguintes, enfrentou vários problemas de saúde e só voltou a publicar em 1997, especificamente a obra De Profundis, Valsa Lenta, o relato de um tempo sem memória, após ter sido acometido de um AVC. Os seus últimos textos foram Lisboa – Livro de Bordo e Viagem à Ilha de Satanás.

            José Cardoso Pires faleceu a 26 de outubro de 1998, em Lisboa.

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