Português: 22/10/22

sábado, 22 de outubro de 2022

Análise do capítulo XXXIII de Iracema


     Aqui termina a analepse, retomando os elementos do primeiro capítulo: jandaia, um homem - Martim -, uma criança e um cão. Martim volta ao Brasil quatro anos depois e funda a cidade do Ceará.
    Alencar, que se limita quase sempre a contar a história, vai deixando, por vezes, algumas pistas no ar.
    Em relação à predestinação da raça, refere-se à separação das tribos índias e à emigração, traço do caráter brasileiro. Essa predestinação é um dos elementos do Romantismo. Alencar contou, nesta obra, uma lenda que termina neste capítulo com a fundação da cidade do Ceará e com a cristianização do índio. É igualmente importante o nascimento do primeiro cearense: o filho de Iracema e Martim, com predomínio do elemento europeu. Uma prova disso é o facto de, no fim, a indianização do europeu ser substituída pela cristianização do índio, que é definitiva e concreta.
    Em relação a Iracema, no fim, Martim muda radicalmente: marca-o a saudade e a culpa. O fim do romance tem um caráter definitivo: "Tudo passa sobre a terra.", principalmente a alegria. Este final também pode ser entendido como um desabafo ou desalento do autor em relação a Martim, que teve na sua mão a hipótese de ser feliz e não a aproveitou. Este capítulo pode ainda ter outra interpretação, ao nível da ação dos portugueses: a incapacidade de tomar decisões concretas no momento certo e a inadaptação que caracterizam Martim, símbolo do domínio português.

Análise do capítulo XXXII de Iracema


     Iracema perdera de tal forma as suas energias que nem o encontro com o marido consegue reanimá-la. Estamos quase no término da intriga: Iracema morre, apesar da esperança que a reanimou com a chegada de Martim; fisicamente já não consegue recuperar.
    Martim, antes de chegar até Iracema, vem marcado pelo receio de encontrar no olhar de Iracema um sentimento de culpa. Ele sente medo de enfrentar a coragem e fidelidade dela. Apesar de a jovem nunca lhe atribuir qualquer culpa, ele sente-se culpado. Esta é a primeira preocupação que atinge o seu íntimo, só depois de lembrando se ela ou o filho estarão bem.
    A morte de Iracema é descrita em moldes românticos: morre nos braço da pessoa que ama (Martim). O capítulo termina com a justificação do topónimo Ceará: canto da jandaia.

Análise do capítulo XXXI de Iracema

     Caubi parte acedendo ao pedido da irmã, que não quer que ele assistia à tristeza que a invade. Porém, Caubi percebe a verdadeira razão do seu pedido.
     Temos ainda a descrição de todo o sofrimento que ela passa para alimentar o filho e do doloroso método que põe em prática para puxar o leite. Assim, além de estar só, sofre a dor de não poder alimentar i filho.

Análise do capítulo XXX de Iracema


     Relato do isolamento de Iracema e sua angústia. Nasce o filho de Iracema, que é fruto do seu sofrimento e dor.
    Ainda neste capítulo, aparece Caubi, que vem visitar a irmã e logo se apercebe da sua tristeza.

    Em Iracema, podemos ver a necessidade ou obrigação de escrever um romance nos moldes do Romantismo. Mas a obra tem um significado mais amplo: o Romantismo defendia o retorno às origens e o regresso ao início da nacionalidade. Na Europa, significava o regresso à Idade Média. No Brasil, não existia esse período. Assim, Iracema surge como símbolo da nacionalidade do Brasil. Na opinião de Alencar, isto fundamenta-se na simbiose do índio com o europeu. Sendo assim, o verdadeiro elemento brasileiro tinha características índias e portuguesas. Ou seja, há certos traços característicos do elemento brasileiro que são indígenas - capacidade de dedicação e coragem - e europeus - sentimento de saudade. Os sentimentos indígenas são sentidos num nível de intensidade muito elevado. A nacionalidade brasileira recebe elementos de ambas as culturas, com sobreposição de uma das partes: os elementos indígenas caracterizam um herói marcado pela fidelidade e coragem. Nessa origem, temos a oposição entre a sensibilidade que caracteriza Iracema e a racionalidade da "virgem loura". É essa sensualidade que vai caracterizar o elemento indígena.
    Mas, neste romance, há vários elementos românticos: a subjetividade, que faz parte do eterno conflito que marca o herói romântico - anseios e normas do europeu. Entre o índio e o europeu há uma recolha desequilibrada de elementos, porque, pelo menos a nível estrutural, há predomínio do elemento índio - fidelidade de Iracema e sabedoria de Poti - por imposição dos cânones românticos.
    Os objetivos de Alencar em relação a Iracema foram:
        - construção de uma alegoria, de algo simbólico da origem da nacionalidade;
        - construção de um romance que fosse ao mesmo tempo um poema. Esse caráter poético é marcado pela idealização do índio, da natureza, que é dada pelo discurso do narrador e pela descrição da natureza e das personagens.

Análise do capítulo XXIX de Iracema

     Luta entre pitiguaras e outras tribos que se unem aos franceses. Isto é um referente histórico, porque, de facto, houve tribos que lutaram ao lado dos portugueses e outras ao lado das potências estrangeiras.
    O fim do capítulo é significativo, porque narra o nascimento do filho de Iracema e Martim, que, no fundo, é um símbolo da vitória do elemento colonizador, ou seja, do português.

Análise do capítulo XXVIII de Iracema


     Dá-se a explicitação do que já se vinha adivinhando. No capítulo anterior, as conclusões eram tiradas a partir de indícios; aqui são casos concretos. Iracema não acusa Martim; fala com ele e expressa-lhe o que sente, mas não o acusa. Ela tem consciência da dualidade de Martim, quando refere a "virgem loura", que há já muito tempo não aparecia. Ele tem ainda um caráter de prenúncio da fatalidade que se aproxima e nela se adivinha a disponibilidade para o sacrifício maior, que é a sua morte. Apesar de tudo, ela quer evitar a culpa e o remorso de Martim e aceita tudo como acontecimentos naturais, sem intervenção dele. Aceita os sacrifícios como algo que deve fazer, mas nele já se adivinha um sentimento de culpa, pois não consegue responder a Iracema e apenas a beija.

Análise do capítulo XXVII de Iracema


     Dá-se o regresso de Martim, que procura viver de novo um período de felicidade muito efémero. Ele possui um conceito diferente de amor e amizade: são instrumentos e não um fim. Vive em função do passado e do futuro (saudade e esperança de rever o que deixou) e não em função do amor e amizade presentes. Nele, o mais importante não é o amor nem a amizade, mas sim a ausência, solidão e daí a necessidade que ele tem de se afastar. Isto é irónico, porque ele não reconhece os sacrifícios que o amigo e a esposa fizeram, adotando uma atitude de indiferença.
    O fim é muito simbólico: prenúncio do desfecho trágico da história; fim da felicidade de Iracema e Martim.
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