Português: 02/01/2021 - 03/01/2021

sábado, 27 de fevereiro de 2021

É possível atacar um avião através do wifi

Análise de "Ulisses"

    Análise do poema aqui: Ulisses.

Classificação de Mensagem

          A Mensagem não se presta a uma classificação unívoca; pelo contrário, é possível detectar na obra marcas de diferentes tipologias.

          Desde logo, é possível referenciá-la como uma obra lírica (sobretudo na terceira parte):
               » é um livro de poemas;
               » a forma é fragmentária (ao contrário, por exemplo, de Os Lusíadas);
               » o sujeito lírico evidencia uma atitude introspectiva;
               » o sujeito lírico exprime os seus sentimentos, sonhos, desejos, crenças
                  (relativamente ao presente, ou ao futuro da Pátria);
               » há uma postura de interiorização e de contemplação da alma humana;
               » o simbolismo;
               » a inquietação, a ânsia, o constante interrogar-se («'Screvo meu livro à beira-
                  mágoa»);
               » o presente de sofrimento e mágoa;
               » o tom menor;
               » a visão subjectiva do enunciador.

          Contudo, especialmente na segunda parte, a obra é também de carácter épico:
               » os poemas, juntos, formam um todo integrado;
               » os heróis portugueses do passado possuem um valor simbólico e mitológico;
               » há um apelo à glorificação lusíada no século XX e demais;
               » o heroísmo:
                    . os heróis (os marinheiros que percorreram os mares e se imortalizaram)
                      agem pelo instinto, sem terem a visão do sentido e alcance dos seus actos

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Título: Mensagem

     A explicação em torno do título dado por Pessoa à sua única obra em língua portuguesa publicada em vida não é consensual, daí que não seja de estranhar que existam diversas teorias acerca do tema.

. Título inicial: Portugal:
  • foi alterado, a conselho do seu amigo Cunha Dias;
  • razão: o nome da pátria estava muito associado a textos publicitários, que promoviam, por exemplo, marcas de sapatos e marcas de hotéis;
  • exemplo de um slogan da época: «Portugalize os seus pés».

. 1.ª explicação:
  • o título é constituído por 8 letras:
  • 8 é o número do equilíbrio cósmico que simboliza a palavra criadora;
  • 8 é o símbolo da ressurreição, da mudança e do anúncio de um novo tempo.

. 2.ª explicação:
  • mensagem = comunicação, missiva;
  • o vocábulo pressupõe a existência de um emissor e de um recetor, desde logo sugeridos na epígrafe da obra - «Benedictus Dominus Deus Noster qui dedit nobis Signum» («Bendito Deus Nosso Senhor que nos deu o Sinal»);
  • emissor da mensagem: Deus;
  • recetor: o Poeta, que, pelo seu génio, foi eleito por Deus, para dar conhecimento da mensagem à tribo de que será guia e profeta, transformando-se também, em emissor.

. 3.ª explicação:
  • o título Mensagem teria tido origem na afirmação feita por Anquises, personagem da Eneida, quando explica a Eneias, descido aos Infernos, o sistema do Universo - Mens agitat molem = a mente move a matéria;
  • Mensagem será, assim, um anagrama da afirmação mens + ag(itat mol) + em;
  • o objetivo da obra seria mover as «moles» (a matéria) humanas através da poesia;
  • simbologia da descida aos Infernos:
  • poder associado às ideias de decadência e subsequente renascimento, sendo esse o processo cíclico apontado como condição necessária ao ressurgimento da pátria num estado ideal;
  • aceitando a morte do passado, o poder fecundador do mito trará um futuro perfeito.

. 4.ª explicação:
  • o título poderá ainda estar ligado à expressão «ens gemma», isto é, ente em gema, ovo;
  • tal significaria Portugal em essência, gema;
  • associação à ideia de encantamento, de magia: para os alquimistas, o ovo filosófico é o embrião da vida espiritual, do qual eclodirá a sabedoria;
  • no ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o recetáculo de todas as transmutações e metamorfoses.

. 5.ª explicação:
  • a palavra mensagem pode ser «recortada» e construir as expressões mea gens ou gens mea, isto é, «minha gente» ou «gente minha», remetendo para a raça de heróis nomeados ao longo da obra;
  • outra hipótese remete para mensa gemmarum, isto é, o altar ou mesa onde repousam as gemas portuguesas - Portugal é onde se procede ao sacrifício necessário à realização do sagrado;
  • Portugal seria, assim, o altar onde os sacrifícios em nome do divino foram realizados.

Enquadramento cultural de Mensagem

● Em ruptura com a tradição, os artistas optam por uma abordagem mais irónica e provocatória;

● Na Literatura, os protagonistas passam de heróis a seres vulgares;

● Enaltecido pelas correntes literárias anteriores, o indivíduo perde a sua identidade e unidade, criando «outros eus» (fragmentação do «eu»);

● Maior liberdade na linguagem, atribuindo sentidos metafóricos novos às palavras;

● Reinventam-se as formas, usam-se técnicas novas e experimentam-se caminhos desconhecidos;

● Movimentos:
          ► Modernismo: diversidade e pluralidade, caminho pessoal de questionação e reinvenção
               dos valores;
          ► Futurismo: movimento, velocidade, energia explosiva e máquinas como demonstração
               da força do indivíduo;
          ► Cubismo: fraccionamento da realidade;
          ► Abstraccionismo: recusa de representação do real;
          ► Surrealismo: apelo à imaginação, ao sonho e à loucura; escrita automática.

Circunstâncias de produção de Mensagem

● Influenciado pela poética saudosista e pelos ideais lusitanistas do poeta Teixeira de Pascoaes, que intuíra e profetizara uma futura civilização lusitana, Fernando Pessoa publica uma série de artigos na revista A Águia (em Abril de 1912), em que exprime o seu entusiasmo e o forte sentimento de patriotismo, o desejo de regeneração nacional e visiona um movimento poético (e um consequente movimento social e civilizacional) grandioso e exaltante.

● A Mensagem terá tido origem no projecto de um livro cujo título seria Gládio, do qual resultou apenas um poema com esse nome, integrado na obra, surgido em 1913.

● A ideia de um livro de poemas de inspiração nacional terá surgido, pela primeira vez, por volta de 1917-1918, na época em que governou Sidónio Pais.

● O intervalo de elaboração dos poemas vai de 21 de Julho de 1913 a 26 de Março de 1934.

● Em 1922, foi publicado um conjunto de poemas, sob o título de «Mar Português», que acabaria por constituir a segunda parte de Mensagem.

● O trabalho de produção dos poemas é acompanhado de um trabalho exaustivo de leitura, de investigação e de estudo de temática patriótica presente em vários textos da sua autoria.

● A estrutura definitiva da Mensagem é concebida entre Janeiro e Março de 1934, tendo alguns poemas sido reescritos.

● A obra é publicada (a única em língua portuguesa em vida do poeta), propositadamente, em 1 de Dezembro de 1934, um ano após Salazar ter assumido a chefia do governo do país, instaurando o Estado Novo. A data foi escolhida em razão da carga simbólica que encerra, dado tratar-se do dia da Restauração. De facto, Pessoa pretendia, com este gesto, dar nota das intenções patrióticas que o dominavam.

● A publicação da Mensagem suscitou algumas reservas no poeta, «acusado» de contribuir, com ela, para reforçar a ideologia fascista do Estado Novo.

● Registe-se, a título de curiosidade, que Fernando Pessoa colaborou com o regime salazarista entre 1933 e 1934, no entanto esta situação foi sol de pouca dura, visto que o poeta, que não suportava a ausência de liberdade e a opressão, se tornou opositor do regime.

● A obra foi proposta para o Prémio Antero de Quental, que se destinava a distinguir "poesia nacionalista", mas tal acabou por não acontecer por não possuir o número de páginas estipulado (100). António Ferro, amigo de Pessoa dos tempos da revista Orpheu e responsável pelo Secretariado de Propaganda Nacional, improvisou um prémio de segunda categoria para distinguir Mensagem.

● A obra integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando um conjunto vasto de símbolos e de mitos, como, por exemplo, o Sebastianismo, o Quinto Império, as Idades, etc.

● De acordo com o próprio Pessoa (Páginas Íntimas), a obra é um livro «abundantemente embebido em simbolismo templário e rosacruciano», ao mesmo tempo marcado por tonalidades épicas e messiânicas.

● Na Mensagem, Pessoa assume-se como o cantor do fim do império português (Camões foi o cantor do seu início e auge). De facto, a Pátria, no tempo do poeta, encontrava-se num estado de decadência e desagregação, circunstância que faz despertar nela a ânsia de renovação e regeneração que procura plasmar na sua obra. Ele acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza de outrora. Por isso, as duas partes iniciais de Mensagem assinalam o passado histórico e grandioso de Portugal, enquanto a terceira descreve o presente decadente e anuncia a vinda do Encoberto, representado na figura mítica de D. Sebastião, o pilar do Quinto Império.

● O projecto de Fernando Pessoa relaciona-se, em parte, com o ideal da Renascença Portuguesa, antevendo o «ressurgimento assombroso de Portugal, um período de criação literária e social como poucos o mundo tem tido, em que a alma portuguesa encerraria a alma recém-nascida da futura civilização europeia, que será uma civilização lusitana.»

● Pessoa preconizava para Portugal a construção de um novo império, já não de carácter material, como o fora o dos descobrimentos, mas de natureza espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora tinham ocupado a nível mundial. Seria, assim, um império da língua e da cultura portuguesas, um império do modo de ser português, do culto da liberdade e da solidariedade, da capacidade de adaptação às situações mais imprevistas.

● Em várias ocasiões, o poeta designou esse seu desígnio de «nova Índia», uma «Índia que não há» ("E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal anterremedo, realizar-se-á..." - in A Nova Poesia Portuguesa) e que seria projectada / cantada por um Super-Poeta, um Super-Camões (provavelmente, o próprio Pessoa), que cantará a genialidade do seu povo e a espalhará por todo o mundo. No fundo, considera-se investido no cargo de anunciador do tal novo império (na sequência dos textos do Padre António Vieira), o Português.

● O conteúdo enaltecedor da maioria dos poemas contrasta com o contexto em que foram produzidos:
          » acompanham alguns dos factos principais da História de Portugal;
          » retratam as suas figuras centrais;
          » recuperam os seus símbolos, as suas lendas e o essencial da sua mitologia;
          » criam o destino de uma super-nação mítica que faltaria cumprir.

● Intencionalidade comunicativa da obra:
          » regenerar o orgulho português;
          » cantar o passado histórico glorioso de Portugal de uma forma emblemática e simbólica,
             transformando-a num mito, a partir do qual seja possível reinventar o futuro;
          » anunciar o renascer de uma pátria grandiosa, um novo império civilizacional, uma
             Super-Nação mítica.

Enquadramento histórico de Mensagem

● Início do século XX;

● Período de ressaca da questão do Mapa Cor-de-Rosa e do «Ultimatum» inglês, que provocou um sentimento de humilhação no povo português;

● Período de avanços tecnológicos e científicos, contrastando com as más condições de trabalho dos operários;

● I Guerra Mundial (1914-1918);

● Revolução russa (1917);

● Necessidade de repensar a sociedade e o próprio Homem:
          ► Nietzsche põe em causa os fundamentos de então e sugere uma reavaliação dos
               valores para viver a vida na sua plenitude;
          ► Freud demonstra a complexidade do Homem e o seu lado inconsciente;
          ► Einstein põe em causa grande parte do conhecimento científico.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Análise de "Aquela cativa"


Assunto: o sujeito lírico exalta a beleza exótica de Bárbara, uma escrava cativa que o cativara, apresentando um retrato mais psicológico do que físico que se desenvolve mediante vários contrastes: cativa/cativadora; pretidão/brancura da neve; Bárbara/delicada.
 
 
Tema: exaltação da beleza feminina de Bárbara, através do seu retrato.
 
 
Estrutura interna
 
1.ª parte (v. 1-vv. 4) – Apresentação de Bárbara.
 
2.ª parte (vv. 5-28) – Retrato físico de Bárbara.
 
3.ª parte (vv. 29-36) – Retrato psicológico de Bárbara.
 
4.ª parte (vv. 37-40) – Retoma da apresentação de Bárbara, mais próxima emocionalmente.
 
 
Retrato de Bárbara

 

 
Retrato do sujeito poético
 
            O sujeito poético está apaixonado por Bárbara, como se pode constatar ao longo da composição poética, pela hiperbolização das qualidades da mulher amada: ela é a mais virtuosa, a mais bela, é única/não tem par. De igual modo, os versos iniciais deixam claro o amor do «eu» pela figura feminina: “Aquela cativa / que me tem cativo”. Este trocadilho explica-se da seguinte forma: Bárbara é «cativa» porque é escrava; ele é «cativo» porque se encontra aprisionado pelo seu amor. Apesar de, socialmente, o «eu» ser superior, em termos amorosos, ela subjuga-o.
            Por outro lado, a mulher exerce efeitos no «eu»: amor (vv. 1-4); fascínio (vv. 5-8); tranquilidade (v. 14); refreio da dor (vv. 33-36). A metáfora do verso 34 («tormenta») sugere que Bárbara lhe dá felicidade, faz com que seja feliz e com que se esqueça de penas e sofrimentos.
 
 
NOTAS
 
1. Constata-se, a partir do retrato elaborado, que Camões não é escravo de nenhuma "moda" literária e que a sua vivência afetiva irrompe, de forma exuberante e doce, na sua produção poética. Fisicamente, apresenta-nos uma mulher caracterizada pela singularidade, pela estranheza e pelo exotismo.
 
2. Tal como noutras poemas de Camões (por exemplo, “Pastora da serra”), a mulher exerce uma grande influência no ambiente circundante: “tão doce a figura, que a neve lhe jura / que trocara a cor”, “Presença serena / que a tormenta amansa”.
 
3. Em síntese, podemos afirmar que da imagem de Bárbara se desprende um quadro de serenidade e doçura, conseguido através da sua caracterização física e psicológica:

® a suavidade da sua beleza (vv. 5-8);

® a singularidade do rosto e o sossego do olhar (vv. 13-16);

® a sua doce figura que suscita na neve o desejo de mudar de cor (vv. 25-28);

® a mansidão, a alegria e a sensatez (vv. 29-30);

® a serenidade da sua presença bonançosa que refreia a dor e tranquiliza o sujeito.

 
4. Trata-se de um amor insólito que torna o sujeito poético cativo de uma mulher cativa por uma lei social.
 
5. O retrato, que trabalha características físicas como os olhos, o rosto, os cabelos, a figura, e psicológicas, evidencia a beleza da mulher através de várias analogias: é a rosa, são as flores e as estrelas.
 
6. Os quatro versos iniciais e os quatro últimos são praticamente idênticos, evidenciando a construção em círculo do poema e o carácter obsessivo da relação amorosa que se estabelece entre o sujeito poético e Bárbara.
 
 
Tipo de mulher retratada no poema
 
            O retrato físico de Bárbara é escasso: bela como a rosa, como as flores, como as estrelas; "rosto singular" (exótico), "olhos e cabelos pretos". Mais acentuado, embora também impreciso, é o retrato moral/espiritual: "olhos sossegados" (notar como os olhos a caracterizam física e moralmente) e "cansados mas não de matar" (ou seja, não se tratada de uma mulher fatal), "uma graça viva" (notar o determinante indefinido a sugerir a subtileza dessa graça), "senhora" (em contraste com cativa), "doce figura, leda mansidão que o siso acompanha", "estranha, / Mas bárbara não" (ou seja, exótica, mas não de costumes bárbaros – notar o uso do adjetivo bárbara, jogando com o nome próprio Bárbara), "presença serena", "cativa" que aqui tem sobretudo valor de adjetivo, o que se nota no trocadilho: "Esta é a cativa" – "que me tem cativo").

            Esta figura de mulher oriental, exótica, indefinida, quase inefável, surge-nos assim num retrato em que todo o sortilégio vem de qualidades espirituais: "doce figura", "presença serena", "leda mansidão". Note-se que estas qualidades sugerem um porte senhorial, em oposição à sua condição de escrava ("parece estranha, mas bárbara não").

            Não obstante o retrato de Bárbara, marcadamente espiritual, se revista de qualidades que se enquadram dentro do tipo da mulher petrarquista, no entanto, a cor dos olhos e dos cabelos (preta) está longe de pertencer ao tipo da mulher petrarquista – Laura. Na verdade, contra as convenções do petrarquismo, que via na mulher loira a formosura ideal, Camões canta uma beleza oriental, indígena, atribuindo-lhe, todavia, um porte senhorial, o que a distancia menos da mulher cantada por Petrarca (Laura).

            Bárbara aparece como mulher clássica, perfeita, inacessível, mulher deusa: "Ua graça viva / que neles lhes mora, / mera ser senhora / de que é cativa".

 
 
Linguagem e recursos estilísticos

 
            Relativamente ao nível fónico, estamos na presença de um poema constituído por cinco oitavas em versos de redondilha menor, com rima interpolada e emparelhada (ABBACDDC), consoante ("cativo" / "vivo"), grave ("cativa" / "viva") e aguda ("singular" / "matar"), rica ("cativa" / "viva") e pobre ("molhos" / "olhos"). O ritmo é ligeiro, próprio da redondilha menor. Há vários casos de transporte, como, por exemplo, do verso 1 para o 2, do 3 para o 4, do 5 para o 6, etc. Refira-se também a aliteração em v (“cativa”, “cativo”, “vivo” e “viva”), que intensifica a ideia de que a vida do sujeito poético depende da mulher (“cativa”) por quem se apaixonou.
 
            Quanto aos aspetos morfossintáticos, o poeta usa o trocadilho e os jogos de palavras (cativa / cativo e vivo / viva, na 1.ª e na última estrofes) para salientar a atração exercida por Bárbara sobre o sujeito poético e, por outro lado, para sugerir que Bárbara é, socialmente, uma escrava de um senhor que, por sua vez, é cativo/escravo de amor por ela.

            A adjetivação caracterizante do rosto ("rosto singular") e dos olhos ("olhos sossegados, pretos e cansados") apresenta Bárbara como uma mulher exótica, de olhos moderadamente românticos, mas sem serem fatais ("... mas não de matar"). A adjetivação em geral realça as características físicas e psicológicas de Bárbara: os seus traços psicológicos são típicos da mulher petrarquista, mas fisicamente afasta-se desse modelo.

            O retrato psicológico é também conseguido pela enumeração de nomes abstratos.

            O determinante indefinido "ua" realça a graça indefinível e misteriosa desta mulher, graça essa vincada pela forma verbal mora, de aspeto durativo. A mudança do determinante demonstrativos aquela (v. 1) para esta (v. 37) traduz uma ideia de aproximação sentimental entre o sujeito poético e a mulher amada.

            O aumentativo Pretidão exprime a intensidade da cor e, simultaneamente, intensifica o afeto que liga o sujeito à escrava.

 
            Ao nível semântico, são vários os recursos que exaltam a beleza de Bárbara. É o caso da comparação: o sujeito poético compara a mulher com a Natureza (rosa, flores, estrelas), ou seja, a sua beleza supera a dos elementos naturais (hipérbole). O paradoxo "senhora de quem é cativa" salienta que, através da sedução, Bárbara se tornou senhora / dona do seu senhor, ideia confirmada no trocadilho: "Esta é a cativa / Que me tem cativo".

            A antítese (versos 19 e 20) entre a posição de dependência (cativa) e a superioridade na relação amorosa – senhora  ¹  cativa – aponta para a relação feudal da cantiga de amor. Por outro lado, destaca o facto de, sendo escrava, se comportar como uma senhora. Outras antíteses se encontram no poema para realçar a beleza de Bárbara: a beleza dos cabelos pretos suplanta a dos louros; a sua pretidão é mais bela que a brancura da neve; parece estranha (= exótica) mas não bárbara (= não civilizada, selvagem – trocadilho entre este adjetivo bárbara e o nome próprio Bárbara); a sua presença serena acalma a tormenta e o sofrimento (pena) do sujeito.

            Outras figuras de estilo que realçam a beleza singular da mulher são a personificação ("que a neve lhe jura / Que trocara a cor"); as metáforas ("Eu nunca vi rosa"; "Nem no campo flores / Nem no céu estrelas"; "Presença serena / Que a tormenta amansa"; "tão doce a figura") e a hipérbole ("que a neve lhe jura / Que trocara a cor"; "Presença serena / Que a tormenta amansa").

            Referência por último para as construções negativas: "Eu nunca vi rosa / Nem no campo flores, / Nem no céu estrelas".

 
 
Influências
 
Petrarca:

-» idealização da mulher amada, valorizando a sua beleza espiritual, psicológico- moral, e exprimindo o seu fascínio;

-» as características psicológicas e morais da mulher.

 
Vivência pessoal: apresentação de um retrato físico de uma mulher exótica, oriental.
 
Cantiga de amor:

- atitude de vassalagem amorosa do sujeito face à mulher;

- o amor platónico;

- a imagem da mulher ideal, perfeita e divinizada.

 
 
Desenvolvimento: endecha ® composição poética de fundo melancólico, constituída por quadras ou oitavas, utilizando versos de 5 ou 6 sílabas, proveniente do Cancioneiro Geral.
 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Análise do poema "Aniversário"

          Poema lido em aula mais por recreação do que por razões de leccionação...
          Nas duas estrofes iniciais, o sujeito poético caracteriza o seu passado da infância como um tempo feliz, de alegria partilhada pela família e de inocência e despreocupação. De facto, nesse período dourado que foi a infância, simbolizada pelo seu aniversário («No tempo em que festejavam o dia dos meus anos»), ele era feliz, inocente ("a saúde de não perceber coisa nenhuma" - v. 6) e inconsciente ("não ter as esperanças que os outros tinham por mim" - v. 8), era admirado pelos que o rodeavam ("De ser inteligente para entre a família" - v. 7) e que depositavam na sua pessoa grandes esperanças (v. 8). Era, ainda, amado ("O que fui de amarem-me..." - v. 14) e, no dia do seu aniversário, era especialmente bem tratado pela família, que se reunia para o celebrar (vv. 32 a 34). Em suma, as razões dessa felicidade passam pelo facto de se encontrar rodeado de toda a família, de conviver com rotinas que lhe davam segurança e certezas e de todos estarem alegres. De notar que o tempo verbal predominante nestas estrofes é o pretérito imperfeito do modo indicativo ("festejavam", "era", "tinha", etc.), que remete para um tempo passado duradouro - a infância.

          A terceira estrofe levanta a questão: o que foi o sujeito poético? E a resposta não se faz esperar: foi aquilo que ele mesmo supunha ser e foi amado (vv. 11 a 14). O verso 5 desta estrofe revela-nos um «eu» aflito e espantado: "O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui..." (v. 15). Ou seja, na infância era feliz, mas não sabia que o era; só agora, no presente, em que já não possui a inocência e a inconsciência desse tempo, sabe que foi (feliz). Neste passo, já não é o pretério imperfeito que domina, mas o pretérito perfeito, que revela uma época passada concluída.

          Na quarta estrofe, «saltamos» para o presente, tempo em que a felicidade foi substituída pela dor ("e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas" - v. 21). Mais: presentemente, o «eu» sente-se abandonado, tal como sucedeu à casa da sua infância, que foi vendida e surge abandonada, cheia de humidade nas paredes, ideias transmitidas pela comparação do verso 19 e pelas metáforas que se lhe seguem. A metáfora do verso 24 traduz a frieza que caracteriza o sujeito poético na actualidade, o tempo que já passou e não regressa. Em síntese, o presente é um tempo de dor, de abandono, de ausência, de solidão, de perda, de não retorno.

          Perante a constatação do seu presente amargo e doloroso, na 5.ª estrofe o sujeito exprime um desejo: o de regressar à infância ("Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez" - v. 27), de a recuperar, ou seja, de recuperar a alegria e a felicidade então experimentadas, de forma ansiosa e voraz ("Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!" - v. 30 - realce para a comparação e a metáfora). Porém, esse desejo é impossível de concretizar.

          Esse desejo de regressar é tão forte que, na estrofe seguinte, a memória que o sujeito poético tem do passado acaba por se sobrepor ao presente (a expressão "Vejo tudo outra vez com uma nitidez..." - v. 31 - traduz, exactamente, essa presentificação do passado da infância). E ele (re)vê os objectos, as pessoas e as circunstâncias que o representam e à felicidade: a mesa posta, os objectos do aparador, a família, a sua centralidade nesse tempo ("e tudo era por minha causa" - v. 34).

          No entanto, a partir do verso 36 o «eu» retoma o seu presente rogando ao coração (apóstrofe e metonímia de si próprio) que pare, que deixe de pensar. É o retorno da dor de pensar que tanto atormentara o ortónimo, a dor de ser inconsciente e incapaz de sentir ("Pára, meu coração! / Não penses! Deixa o pensar na cabeça." - vv. 36-37). Ou seja, ele toma consciência de que é impossível recuperar a infância, que se encontra irremediavelmente perdida, e de apenas lhe resta o presente de abandono, solidão e vazio. O pensamento põe, assim, fim ao desejo de regressar à infância, sonho que viveu por instantes mas logo foi interrompido pela sua racionalidade. Daí a tripla invocação à figura de Deus, plena de dramatismo e desespero, ao constatar essa impossibilidade de retorno: "Hoje já não faço anos." (v. 39).
          Qual será, então, o seu futuro? O seu futuro será a velhice ("Serei velho quando o for." - v. 42). Até lá, restam-lhe o tédio e a abulia traduzidos pelas formas verbais "duro" e "somam-se-me", que destacam a forma como o «eu» desistiu de viver, limitando-se a a existir, vendo os dias passar. Por tudo isto, de facto, já não faz qualquer sentido festejar o seu aniversário. E a penúltima estrofe encerra com nova metáfora ("Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!..." - v. 44) que confirma que o desejo de recuperar o tempo da infância ou de a presentificar / trazer para o presente é impossível de concretizar. Por outro lado, como tantas vezes nos acontece na vida, o sujeito poético só toma consciência do valor do que perdeu quando já é tarde demais: "Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. / Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida."  - vv. 9-10; "... o que só hoje seu que fui..." - v. 15. É, afinal, um sentimento de impotência, de raiva incontida que brota nesse instante em que toma consciência da perda definitiva.

          A última estrofe do poema - um monóstico exclamativo - coloca-nos perante um sujeito poético marcado pela nostalgia, pela saudade e pela tristeza, em forma de lamento pela perda. Por outro lado, é possível identificar uma circularidade no poema, que abre e finaliza com versos muito semelhantes, que marca o desejo de reviver o passado.

Alguma curiosidades sobre aviação e aviões

O episódio do avião da Germanwings

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Análise de "Descalça vai pera a fonte"


Classificação
 
Vilancete     - mote de três versos

- duas voltas de sete versos (sétimas)

- métrica: redondilha maior (7 sílabas métricas)

 
• O vilancete é uma forma poética musical composta a partir de um mote curto (constituído por 2 ou 3 versos), tradicional, geralmente alheio, que introduz o tema. De início, este mote era tirado de uma canção popular-vilã e a ele cabia, em exclusivo, a designação de vilancete, que depois passou a atribuir-se a todo o poema. A seguir ao mote existem as voltas ou glosas, compostas por sete versos (sétimas), que desenvolvem o tema introduzido pelo mote. A glosa divide-se, por sua vez, em cabeça (os primeiros 4 versos) e cauda (os restantes 3). O último verso da cabeça rima com o primeiro da cauda, fazendo assim a ligação entre ambos; os dois últimos versos da cauda rimam com os dois últimos versos do mote, e o último deste é, no vilancete perfeito, integralmente repetido no último verso da cauda.
 
 
Tema: a mulher / a beleza feminina – o retrato da mulher amada e idealizada.
 
 
Estrutura interna
 

v  Mote (tese) – Apresentação de Leanor:

localização espacial: a caminho da fonte (ambiente bucólico e rural);

tempo; primavera (a “verdura”) – presente;

caracterização da figura retratada:

nomeação/identificação: Leanor;

social:

- pobre / do povo (“Descalça”);

- atividade doméstica: ida à fonte;

▪ física: formosa / bela;

▪ psicológica:

- insegura (“não segura”)

- ansiosa

posição do sujeito poético: observador da figura feminina.

 
v  Voltas (confirmação da tese) – Desenvolvimento:

• da caracterização física:

▪ pele branca – “mãos de prata” – metáfora

▪ formosa – “fermosa” – adjetivação expressiva

▪ cabelo louro – “cabelos de ouro” – metáfora

▪ muito bela – “tão linda que o mundo espanta” – hipérbole + oração subordinada adverbial consecutiva

▪ graciosa – “chove nela graça tanta” – metáfora + trocadilho

vestuário:

- “cinta de fina escarlata” – vermelho alegria, paixão, sensualidade

- “sainho de chamalote” – diminutivo carinho

- “vasquinha de cote, / mais branca que a neve pura“ – comparação + hipérbolebranco pureza

- “a touca”

- “o trançado”

- “fita”

cores

- vermelho alegria, sensualidade, paixão

- branco pureza

- louro dos cabelos

▪ elementos do quotidiano de trabalho de Leanor

- o pote

- o testo

 
efeitos da sua beleza física:

▪ espanta o mundo

▪ dá graça à formosura

 
• da caracterização psicológica:

▪ insegura e ansiosa

▪ apaixonada

▪ causas da insegurança:

- caminhar com o pote na cabeça > insegurança (desequilíbrio) > encontro com o amigo?

- a beleza (ser ou não ser apreciada)?

- o encontro com o namorado (faltará ou marcará presença?)

- os seus sentimentos?

 
 
Estrutura narrativa do poema
 
*      Espaço: ambiente campestre, rural, bucólico (“verdura”, “fonte”).

 
*      Tempo: presente – momento em que o sujeito observa a mulher.

 
*      Ação: ida à fonte – “vai para a fonte”.

 
*      Personagem: Leanor.

 
 
Forma
 
• Métrica: redondilha maior (versos de 7 sílabas métricas) – medida velha.
 
Rima:
- esquema rimático: ABB / CDCCBB
- emparelhada e interpolada
- consoante (“verdura”/”segura”)
- rica (“verdura”/”segura”) e pobre (“prata”/”escarlata”
- grave ou feminina (“verdura”/”segura”)
 
 
Recursos expressivos

 
Nomes:

- fonte: ambiente rural e campestre; local de cumprimento de uma tarefa doméstica; possível local de encontro amoroso;

- verdura: ambiente rural e bucólico;

- neve: a pureza e tom de pele claro de Leanor;

- ouro, prata: metais preciosos que sugerem o tom de pele claro e os cabelos louros de Leanor, bem como a sua preciosidade.

 
Verbo “chover”, com valor transitivo e sentido hiperbólico: a graça de Leanor era tão evidente e abundante como a chuva.
 
Advérbios de intensidade “tanto” e “tão”: intensificam a beleza física de Leanor.
 
Personificação: “tão linda que o mundo espanta”.
 
Diminutivos – “sainho” e “vasquinha”: sugerem o carinho e a simpatia do sujeito pela mulher, bem como o seu encantamento face à sua beleza e graciosidade.
 
Trocadilho: “Chove nela graça tanta / Que dá graça à fermosura”.
 
Aliteração em /v/.
 
• Alternância de sons abertos (ó, á), sugestivos de vitalidade, fechadas (ô, u) e nasais (on, na).
 
Transporte: vv. 1-2, 15-16.
 
• Associação de cores (o vermelho do vestuário, o branco da pele e o louro dos cabelos) para sugerir a alegria, a pureza e a perfeição de Leanor, respetivamente.
 
• As peças de vestuário e os objetos que transporta, cuja graciosidade o sujeito poético pretende transferir para a mulher.
 
 
Retrato de Leanor – síntese
 
Social:
- do povo
- pobre – descalça
- cumpre tarefas domésticas
 
Físico:
- jovem
- bela
- pele branca
- cabelo louro
 
Psicológico:
- pura
- insegura
- ansiosa
 
Ideal de mulher petrarquista
 
 
Influências - Intertextualidade
 
Ø  Petrarca (inovações renascentistas):
- caracterização física (a pele branca, o cabelo louro…) e psicológica da mulher (a pureza, a castidade;
- caracterização predominantemente psicológica e só aparentemente física.
 
Ø  A utilização do trocadilho, da hipérbole e do jogo de conceitos e ambiguidades, como recursos do engenho poético (também existentes na endecha "Aquela cativa"), coloca, em certa medida, Camões como precursor da poesia cultista e conceptista do século XVII.

 


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Análise da "Ode Triunfal" (3.ª parte)

 Forma
 
         O poema é composto por estrofes de extensão variada (vv. 4, 10, 11, 17, etc.) e por versos em que não existe uma regularidade métrica (vv. 23, 6, 16, 24, etc.). Esta irregularidade sugere a exaltação (aparentemente) descontroladora do «eu» lírico e a ideia de que uma nova realidade pede um novo tipo de poesia que seja menos presa à regularidade.

 
Rutura com a lírica tradicional
 
1. Formal:

- irregularidade estrófica, métrica e rítmica;

- uso excessivo de coordenação, em detrimento da subordinação;

- catadupa de recursos expressivos (onomatopeias ousadas, apóstrofes e enumerações exageradas…);

- predomínio de vocabulário técnico, destituído de valor poético.

 
2.▪Conteúdo:

- uso de palavras completamente prosaicas (comuns ou vulgares);

- o canto excessivo da civilização industrial, encarada como matéria épica;

- a ousadia de mencionar os aspetos negativos da sociedade.

 
 
Influências
 

A “Ode” evidencia a presença do futurismo de Marinetti: Campos canta as máquinas, os motores, a velocidade, a civilização mecânica e industrial…

 
Futurismo:

- Movimento italiano de início do século XX (Marinetti);

- Rutura com a vida e a arte do “passado” (a perspetiva aristotélica);

- Criação de uma nova estética para um novo mundo;

- Celebração da modernidade industrial e urbana;

- Culto da máquina e da velocidade;

- Fruição do mundo moderno (ligação ao Sensacionismo de Pessoa), feita através das sensações.4

 
. Em Portugal, o Futurismo é uma das facetas do Modernismo. Derivou do Futurismo de Marinetti, cujo primeiro manifesto saiu no jornal Figaro em 22 de novembro de 1909.

. Tem um cariz agressivo e escandaloso e propõe-se cortar com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da vida moderna.

. Desponta, em Portugal como um escândalo, tal como desejado pelos seus iniciadores (Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor), apelidados de «malucos» e «loucos» pelos jornais.

. Os textos distinguem-se por uma enorme quantidade de frases exclamativas, de invetivas e de insultos, com o intuito de desmistificar, demolir, acabar com os hábitos culturais esclerosados e retrógrados: criar a pátria portuguesa do século XX (segundo Almada).

 
Por outro lado, o poema evidencia também a presença do sensacionismo de Walt Whitman: Campos canta a civilização moderna industrial, mas, mais do que os objetos – as máquinas, os motores, etc. ‑, o que ele busca são as sensações que lhe despertam, num desejo de sentir tudo de todas as maneiras.
 
Por outro lado, em diversos momentos sente-se a presença do Pessoa ortónimo: a sua inteligência torturada (a denúncia do lado da civilização moderna), a referência à infância…
 
 
Linguagem e estilo
 
A tendência para humanizar as máquinas: “Grandes trópicos humanos de ferro, fogo e forças”; “E há Platão e Virgílio dentro das máquinas”, etc.
 
O uso da ironia, sobretudo para traduzir a face negativa da civilização industrial:

- "escrocs exageradamente bem vestidos": além da ironia, note-se a presença da antítese entre a compostura exterior (o vestuário) dos escrocs e as suas intenções;

- "Chefes de família vagamente felizes": neste caso, o advérbio «vagamente» projeta o cansaço (de viver?) sobre a felicidade dos chefes de família;

- "Banalidade interessante (...) / Das burguesinhas (...) / Que andam na rua com um fim qualquer": notar novamente a presença da antítese, agora entre o aspeto exterior das «burguesinhas» (diminutivo irónico) e as suas obscuras intenções;

- "A maravilhosa beleza das corrupções políticas, / Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos": a adjetivação antitética assume o valor de oximoro.

 
A antítese:

- "tudo o que passa e nunca passa": traduz a concentração do passado no presente, ou a continuidade dos acontecimentos diários;

- "O ruído cruel e delicioso da civilização de hoje": traduz os sentimentos contraditórios do sujeito poético em relação à civilização industrial.

 
Metáforas e imagens:

- "Arde-me a cabeça de vos querer cantar";

- "Grandes trópicos humanos de ferro, fogo e força" (aliteração em «f»);

- "Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável";

- "Nos cafés, oásis de inutilidade ruidosas";

- "Quilhas de chapa de ferro sorrindo".

   Estes recursos estilísticos, nos exemplos apresentados, evidenciam a forma como o sujeito poético vibra com a modernidade, com a civilização industrial (com a fúria do movimento das máquinas, com a excessiva quantidade de carvão...).

 
O ritmo do poema é torrencial, feroz, vivo, onde surgem em catadupa as diferentes realidades captadas pro um «eu» em plena histeria de sensações.
 
Onomatopeias (“r-r-r-r-r-r-r eterno”).
 
Apóstrofes (“Ó rodas, ó engrenagens”).
 
Aliterações: “Rugindo, rangendo […] ferreando”.
 
Empréstimos: «jockey».
 
Grafismos inovadores (“Hup-lá, hup-lá, hup-lá-ô, hup-lá”; “Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!”).
 
Diferentes registos de língua, nomeadamente o recurso ao calão: «putas».
 


Análise da "Ode Triunfal"

     . Apresentação.


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