Esta ode refere-se a um tema central
da poesia de Ricardo Reis: o Destino.
De acordo com os dois versos
iniciais do poema, cada ser humano cumpre um destino (“cumpre o destino”) que
lhe está de antemão reservado (“que lhe cumpre”). O ser humano não cumpre o que
deseja, isto é, não alcança o que deseja, nem deseja o que cumpre, visto que é
o Destino que decide por ele, que se limita a cumprir a sua (do Destino)
vontade. Atente-se no jogo de palavras em torno do vocábulo homónimo “cumpre”.
A primeira forma verbal tem o significado de “executar”, “desempenhar”,
“completar”, enquanto a segunda significa “caber”, “pertencer”.
Nos versos 3 e 4, há a destacar a
presença do quiasmo, que destaca o facto de o destino que o ser humano “cumpre”
nem sempre ser o que ambiciona, daí resultando uma natural insatisfação. O «eu»
defende, pois, a inerte aceitação do Destino, dado que nada podemos contra ele
– o que devemos fazer é aceitar as leias da vida em vez de tentar modifica-la.
Por sua vez, a comparação dos versos
5 e 6 entre o ser humano e “as pedras na orla dos canteiros” acentua a
imobilidade e a impossibilidade de resistir e contrariar o destino. Essa
comparação é explicada (“que” – conjunção subordinativa causal) nos dois versos
seguintes: a “Sorte” / o Destino coloca onde quer ou onde deve cada um de nós,
sem que haja (tal como sucede com as pedras) a possibilidade de mudar de
posição.
Nos últimos quatro versos, o sujeito
poético evidencia a sua resignação ao aceitar o poder do Destino. Assim, cada
ser humano deve desistir de ter “melhor conhecimento” do que lhe calhou em
sorte na vida e deve limitar-se a consentir o que lhe coube. A procura de
desejos frívolos é encarada como a principal barreira para se poder atingir o
conhecimento: “Não tenhamos melhor conhecimento / Do que nos coube que de que
nos coube”.
Os dois versos finais (duas frases
declarativas) confirmam a abdicação do sujeito poético e a sua anuência
voluntária ao Destino, pois este é inexorável, na permite e é impossível
resistir-lhe.
Note-se como, ao longo do poema, a
pessoa verbal evolui da terceira do singular (“cumpre”) para a primeira do
plural, a partir do verso 6, um «nós» que reflete sobre o destino comum e a
condição análoga de todos os humanos sujeitos à ditadura do Destino.
O sujeito poético defende, em suma,
uma filosofia de vida que assenta na aceitação voluntária e tranquila do
Destino, sem o tentar combater ou fugir-lhe, pois todos esses esforços serão
inúteis. Deste modo, o «eu» revela o seu conformismo face ao Destino, numa
atitude estoica de nada desejar e de aceitar com dignidade o que lhe é imposto.
De facto, de acordo com o Estoicismo, o homem não deve lutar contra o Destino,
antes cumpri-lo sem o questionar ou se lhe opor.
A conceção de vida segundo Reis é
marcada por uma profunda simplicidade, por uma intensa serenidade na aceitação
da relatividade das coisas.
Contrariamente a Alberto Caeiro,
Ricardo Reis, prosseguindo na esteira do Estoicismo, “prefere” a prevalência da
cognição face às emoções.