QUADRO
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CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER
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Origem |
Cruzamento de influências provençais e peninsulares. |
Sujeito |
Masculino: o trovador ou o jogral. |
Objeto |
Sátira e crítica indireta (escárnio) ou
direta (maldizer). |
Características |
. Crítica encoberta.
. Crítica direta.
. Temas satíricos.
. Retrato satírico da sociedade medieval.
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Temas |
. A cobardia dos cavaleiros.
. A corrupção e os desmandos do clero.
. A
decadência da nobreza: a ambição e a pelintrice dos infanções.
. O escudeiro
pelintra, mas fanfarrão e pretensioso.
. A ridicularização
dos maus trovadores.
. A decadência da
sociedade.
. A avareza dos
reis.
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Representação de afetos e emoções |
A dimensão satírica 1. A paródia ao
amor cortês: . Estas cantigas são
conhecidas como “escárnios de amor”, em que se procede a uma inversão
dos códigos do amor cortês. . Assim, são os
trovadores parodiam, através da ironia, a cantiga de amor e os
principais tópicos deste tipo de composição: » o elogio da “senhor”
como ser superior pela sua beleza, inteligência, bom senso, saber estar em
sociedade (“Ai dona fea…”); » o respeito e a
submissão do trovador à dama; » as convenções do
amor cortês, como a exacerbação da «coita de amor» e o artificialismo da
morte de amor (“Roi Queimado”) . Constitui, por
isso, um contragénero da cantiga de amor. 2. A crónica de
costumes: . A cantiga de
escárnio e maldizer concretiza a crítica dos costumes, individual ou social,
através da sátira de diversos comportamentos: » os aspetos
circunstanciais e anedóticos da vida da corte e da boémia
jogralesca; » as polémicas
entre trovadores e jograis, nomeadamente a incompetência na arte de
trovar; » a denúncia da nobreza
empobrecida e da sua miséria envergonhada, sobretudo a dos
infanções; » a falta de pagamento
dos honorários dos jograis, ou a sua efetivação por meio de roupas e
alimentos; » acontecimentos históricos,
políticos e militares, nomeadamente a cobardia e traição
de alguns cavaleiros; » a decadência
generalizada dos costumes (a vida dissoluta do clero, os casamentos por
conveniência, a prostituição, a exploração dos mais fracos, a injustiça,…). |
Ambiente (espaços, protagonistas e
circunstâncias) |
• Ambiente cortesão, palaciano.
• Crítica
à vida social da época.
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Classificação formal |
. Cantigas de mestria.
. Cantigas de refrão;
. Presença
de rima.
. Regularidade
estrófica e métrica.
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Linguagem
e estilo |
▪
Vocabulário sarcástico e humorístico.
▪ Trocadilhos
(expressões com dois sentidos).
▪ Uso
cómico do diminutivo e do aumentativo.
▪
Recursos expressivos: ironia, hipérbole, adjetivação, sarcasmo,
…
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022
Síntese da cantiga de escárnio e maldizer
terça-feira, 4 de janeiro de 2022
Relação da donzela com a Natureza na cantiga de amigo
Representação de
sentimentos |
A
Natureza representa ou reflete frequentemente os sentimentos da donzela, isto
é, os elementos naturais estão em sintonia com o estado de espírito da jovem,
as aves cantam os sentimentos. Por exemplo, a juventude e a alegria da
rapariga encontram-se em consonância com os espaços verdes e primaveris, ou
com as avelaneiras em flor; por outro lado, a inquietação e a agitação
interior espelham-se na agitação das ondas, enquanto o sofrimento e a dor do
amor não correspondido, nas fontes secas e nas aves sedentas. |
Cenário |
Em
diversas cantigas, a Natureza constitui o cenário do encontro amoroso entre a
donzela e o seu amigo. O ambiente verdejante ou as árvores em flor realçam a
beleza da jovem e criam um ambiente que convida ao amor. Vários elementos da
Natureza têm significado simbólico: o cervo ou veado, pela elegância e pelo
vigor, representa o amigo; a água da fonte é uma referência à donzela; o ato
de lavar o cabelo sugere a sua sensualidade; a fonte era, muitas vezes, um
pretexto para a donzela se encontrar com o amigo. |
Interlocutora da donzela |
Os
elementos da Natureza são, nalgumas cantigas, interlocutores da donzela,
quando, por exemplo, se dirige às ondas ou às flores para exprimir o seu
lamento e a sua saudade ou para pedir que lhe deem notícias/informações sobre
o paradeiro ou o estado do amigo. E
a Natureza (mensageira) por vezes responde dando-lhe notícias do amigo,
tranquilizando-a, etc. |
Confidente |
A
donzela desabafa com os elementos da Natureza os seus sentimentos: por vezes,
o amor e a alegria de amar e ser correspondida; outras, a dor e a saudade da
ausência do amado. |
Oponente/hostil |
Ocasionalmente,
a Natureza configura um oponente ao amor da donzela. É exemplo isso o mar,
através do qual o amigo partiu, deixando a jovem sozinha, saudosa e dolorida. |
segunda-feira, 3 de janeiro de 2022
A variedade do sentimento amoroso na cantiga de amigo
Através da análise das cantigas de
amigo, perscrutamos a alma da donzela enamorada e a diversidade dos seus
sentimentos, que correspondem a momentos diferentes da relação com o amigo.
Nas palavras do professor Rodrigues
Lapa (Lições de Literatura Portuguesa – Época Medieval, p. 159), “Toda a
escala sentimental da vida amorosa da menina nos é comunicada com o mais vivo
realismo: a timidez, o pudor alvoroçado e a inexperiência do amor, […] a
travessura, a alegria e o orgulho de amar e de ser amada, os pequeninos
arrufos, as tristezas e ansiedades, a saudade, a impaciência e o ciúme, a
crueldade e a vingança, a compaixão, o arrependimento e, finalmente, a
reconciliação.”
Por seu turno, António José Saraiva
e Óscar Lopes (História da Literatura Portuguesa, p. 64) afirmam o
seguinte: “A saudade, o ciúme, o ressentimento, os amuos, as ansiedades, as
desconfianças, a reivindicação da liberdade de amar perante a intervenção materna,
etc., exprimem-se de modo muito vivo; e ao lado da diversidade de situações é
de notar dois tipos psicológicos simulados: as mulheres ora são ingénuas, ora
experimentadas; ora compassivas e inclinadas à piedade, ora astutas e
calculistas; ora indiferentes, ora suscetíveis.”
O amor que a jovem exprime pelo seu
amado pode assumir várias facetas e despertar diferentes efeitos na figura
feminina.
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
O sirventês provençal
quinta-feira, 18 de novembro de 2021
O sirventês galego-português
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
Análise de "Meu senhor arcebispo, and'eu escomungado"
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
Análise de "Proençaes soem mui bem trobar"
De facto, apesar de serem dotados de
qualidade artística, de mestria poética, dado que “soem mui bem trovar”, só o
fazem na primavera, enquanto o sujeito poético exprime na sua poesia um amor verdadeiro,
sincero, pautado pelo sofrimento. Os provençais compõem poemas apenas nessa
estação do ano, porque é uma época propícia ao amor. Não o fazem no inverno,
pois os seus sentimentos estão adormecidos (“razom / nom am”). Assim sendo, não
sentem verdadeiro amor, que estaria presente em todas as estações.
Esse falso sentimento amoroso é
observado com ironia por parte do «eu»: “e dizem eles que é com amor” (verso
2). Assim que a primavera termina, os provençais deixam de ter motivo para
trovar, o que confirma que o seu sentimento não é verdadeiro.
Em suma, os trovadores provençais
apenas poetam na primavera e não todo o ano e escrevem que sofrem de amor, mas
esse sentimento é artificial: eles não padecem da «coita de amor» e vivem
alegres.
Por um lado, a poesia baseia-se no
convencionalismo e na imitação servil, na esteira dos trovadores provençais e
dos seus cantares de amor.
Por outro lado, D. Dinis sugere uma poesia
sustentada na expressão autêntica da «coita de amor», como se pode constatar
nesta composição poética.
▪ Estrofes: três sextilhas
isométricas.
▪ Métrica: versos eneassílabos (9 sílabas) e
maioritariamente decassílabos.
▪ Rima:
- esquema rimático. ABBCCA
- interpolada e emparelhada
- consoante (“amor”/”flor”)
- aguda ou masculina
- rica (“non”/”coraçom”) e pobre (“trobar”/”levar”)
▪ Ritmo binário.
▪ Transporte/encavalgamento: vv. 3-4, 4-5, 5-6, etc.
▪ Gradação “da coita de amor”: na primeira cobla, o
sujeito poético refere somente a sua «gram coita»; na segunda, afirma que não
existe outra igual (“qual eu sei sem par”); na última, assinala o facto de esta
coita ser a sua «perdiçom» e que o «á de matar».
▪ Nomes:
- proençaes: é o objeto da
crítica presente na cantiga e, simultaneamente, o criador do cantar de amor;
- tempo, frol: estes
nomes remetem para a crítica – os provençais trovam apenas na primavera;
- coita: o sofrimento que
atormenta o sujeito poético, em contraste com a artificialidade e o fingimento
dos provençais:
- perdiçom: a morte de amor,
dada a não correspondência amorosa da «senhor».
▪ Vocábulos provençais: prez, sem.
▪ Anáfora do e: explica que os provençais não
têm “gram coita no seu coraçom”, é um fingimento, pois só trovam numa dada época
do ano.
▪ Paralelismo estrutural e semântico.
▪ Ironia: “dizem eles que é com amor” (vv. 7-9); “sabem loar / sas senhores o mais e o melhor / que eles podem” – os provençais compõem belas cantigas, mas o que escrevem não corresponde aos seus sentimentos, pois tudo é fingimento.
É curioso que Nuno Júdice (in Cancioneiro de D. Dinis) a inclui na secção das cantigas de escárnio e maldizer por causa do seu tom crítico e satírico.