Português: Os Maias
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segunda-feira, 29 de maio de 2023

Análise do capítulo II de Os Maias


1. Casamento de Pedro e Maria Monforte
 
1.1. Descrição da lua-de-mel:
- a “felicidade de novela”;
- a viagem por Itália;
- o fastio e medo da “velha Itália clássica”;
- a viagem a Paris:
. o suspirar por uma “boa loja de modas, sob as chamas do gás, ao rumor do Boulevard”;
. a cidade de Paris agitada, revolucionária, conflituosa, ao som da “Marselhesa”, triste; o medo dos “operários, corja insaciável”;
. a vida luxuosa e faustosa;
. o ciúme de Pedro por causa da “admiração absurda de Maria pelos novos uniformes da Garde Mobile”;
. a gravidez de Maria e...
- o regresso a Arroios:
. Maria     - exige que Pedro escreva ao pai;
- odiou Afonso por a rejeitar,  por isso apressou o casamento e a partida para Itália como forma de vingança e de lhe demonstrar que valia mais o seu poder de sedução do que as tradições familiares e os graus de parentesco;
- com o regresso a Lisboa deseja a reconciliação para se poder mostrar à sociedade “pelo braço desse sogro tão nobre e tão ornamental”;
- perante nova afronta, injuria-o, chamando-lhe “D. Fuas” e “Barbatanas”;
- recusa-se a amamentar a filha, embora a adore e acarinhe em êxtase de idolatria;
- detém grande poder sobre Pedro e usa-o astutamente;
. Pedro     - demonstra não ter vontade própria, pois a carta que escreve ao pai “Fora um conselho, quase uma exigência de Maria”;
- demonstra grande ternura e amor pelo pai, mas a partida do pai para Santa Olávia deixa-o indignado e enfurecido, não lhe comunicando o nascimento da filha e declarando a Vilaça que já não tinha pai;
- deixa-se seduzir e influenciar/manipular facilmente por Maria;
. a filha de Pedro e Maria:
- o narrador omite o seu nome para que não seja explícito antes do momento escolhido que Carlos e Maria Eduarda são irmãos;
- em termos de caracterização ficamos a saber que se trata de “uma linda bebé, muito gorda, loura e cor-de-rosa, com os belos olhos negros dos Maias”.
 
1.2. O ambiente romântico de Arroios – “festança, atravessada pelo sopro romântico da Regeneração”:















1.2.1. Maria:
- recebe e vive requintadamente;
- vive rodeada de luxo, fausto e ostentação;
- fuma e joga;
- “nunca fora tão formosa”;
- escolhe a túlipa, “opulenta e ardente”, para flor que a simbolize, flor que sugere a sua sensualidade;
- desperta paixões em todos os amigos do marido;
- apazigua os ciúmes de Pedro, sábia e sedutoramente, com carícias e beijos;
- muito sensual e sedutora;
- lê novelas românticas, deixando-se influenciar de tal forma por elas que o nome do segundo filho é escolhido a partir do nome de uma personagem duma dessas novelas;
- revela indícios de cultivar uma paixão por Tancredo:
. a excitação e a noite mal dormida perante a ideia de ter “um príncipe entusiasta, conspirador, condenado à morte, ferido agora, por cima do seu quarto”;
. os ciúmes que sente perante as idas constantes da arlesiana ao quarto de Tancredo;
. a pergunta a Pedro se “era necessária (...) constantemente a sua própria criada no quarto de Sua Alteza!”;
. a sua palidez e a sua cólera quando Pedro lhe responde que Tancredo achava “picante” a arlesiana;
. o choro da arlesiana após uma conversa com Maria;
. os suspiros sem razão (p. 43);
- em determinado momento opera-se nela uma grande mudança:
. troca o vestuário luxuoso por um vestuário preto;
. suspende as soirées mundanos por outras singelas onde faz crochet, estuda música clássica e falta de política com sisudez, apenas com alguns íntimos;
. é adepta da Regeneração;
. organiza uma associação de caridade, a Obra Pia dos Cobertores;
. visita os pobres;
. torna-se devota;
. a “deusa” transforma-se em terna Madona e vai adiando para o inverno a visita reconciliadora a Afonso.
 
1.2.2. Tancredo – o homem fatal do Romantismo:
- personagem enigmática, incompreendida, foragida, em oposição ao poder instituído, condenado à morte;
- possuidor de uma beleza extraordinária que provoca uma sedução irresistível;
- a figura pálida que atrai e provoca sofrimento;
- barba curta e frisada;
- longos cabelos castanhos, ondeados e “com reflexos de ouro”;
- taciturno;
- orgulhoso;
- misterioso;
- olhar sombrio;
- desenha flores para Maria bordar e tange-lhe canções populares napolitanas à guitarra, indícios de um romance oculto.
 
1.2.3. Alencar → o Ultrarromantismo:
- as frase ressoantes;
- as poses de melancolia;
- o poema “Flor de Martírio” e as referências à noite;
- a paixão platónica por Maria.
  
1.3. Presságios:
® a associação de Maria a Helena e Troia, ambas adúlteras e causadoras de “guerras trágicas”;
® a referência ao “luxo sombrio do luto oriental de Judite”;
® a escolha do nome do segundo filho, feita a partir de uma novela romântica “... de que era herói o último Stuart, o romanesco príncipe Carlos Eduardo; e, namorado dele, das suas aventuras e desgraças, queria dar esse nome a seu filho... Carlos Eduardo da Maia! Um tal nome parecia-lhe conter todo um destino de amores e façanhas.”:
. a influência perniciosa da literatura romântica em Maria Monforte;
. tal como a personagem da novela era “o último Stuart”, também Carlos será o último dos Maias;
. tal como o príncipe, Carlos irá levar uma vida de “aventuras e desgraças”;
. a presença do destino.
 
 
2. Desenlace trágico da intriga secundária
 
2.1. O adultério e a fuga de Maria( com a filha)
causas:
- a ociosidade de Maria: uma personagem dominada pelo luxo, pela ostentação, sem uma ocupação que lhe preencha utilmente a vida, entrega-se aos prazeres e cai no adultério;
- a literatura romântica, que é causa de desvarios no leitor: é uma literatura idealista e desvinculada da vida real que origina condutas anómalas ® a fuga de Maria com Tancredo tem o carácter de um episódio de novela romântica.


 
 
2.1.2. Estado de espírito de Afonso:
- a cólera inicial por ver naquela situação o escândalo, a desonra da família e “o seu nome pela lama”;
- a indignação pela incapacidade de o filho reagir “como homem” à situação, lançando-se “...para um sofá, chorando miseravelmente...”;
- a ternura imediata face à dor de Pedro;
- o carinho embevecido e a felicidade que sente ao pegar no neto;
- a preocupação em eliminar de Pedro uma ideia fixa: “– Sim, mais tarde, depois pensarás nisso, filho...”;
- depressão;
- não comeu quase nada: “... tomou uma colher de sopa...”;
- estado de melancolia: “... e ali ficou envolvido, pouco a pouco, naquele melancólico crepúsculo de Dezembro”;
- centra o pensamento na sua desgraça:  “... pensando em todas as coisas terríveis que assim invadiam num tropel patético a sua paz de velho...”;
- a antevisão de alegrias futuras na presença do neto: “... e toda a sua face sorria à chama alegre, revendo a bochechinha rosada, sob as rendas brancas da touca.”;
- após o suicídio do filho, Afonso parte para Santa Olávia mergulhado em pesado luto, o que leva Vilaça a afirma que “... o velho não durava um ano”.


 
2.3. Presságios:
® o estado psicológico de Pedro era tal que se pressente a eminência de um desfecho trágico, como as rosas de Inverno que se “esfolhavam num vaso de Japão”;
® “Pedro, no entanto, como sonâmbulo, voltara para a varanda, com a cabeça à chuva, atraído por aquela treva de quinta que se cavava em baixo com um rumor de mar bravo.” (p. 50);
® “Uma brasa morria no fogão.” (p. 50);
® “... nesse silêncio as goteiras punham um pranto lento.” (p. 50).
 
 
3. NOTAS
 
            1.ª) A intriga secundária – a história de Pedro da Maia e de Maria Monforte – é de índole naturalista. Com efeito, o percurso amoroso e biográfico de Pedro só é explicável à luz de fatores naturalistas: raça/hereditariedade, educação e meio social. Quanto  à hereditariedade, o texto salienta o paralelismo de identidade entre a mãe e o filho(cap. I, p. 20); quanto à educação, recebe a que a mãe escolhe, tendo o Padre Vasques por orientador, uma educação que impede o desenvolvimento físico, moral e intelectual, tornando-o “um fraco em tudo”; quanto ao meio, Pedro, após a morte da mãe, frequentou um ambiente moralmente baixo. Eis, pois, Pedro lançado no trilho que o levará inexoravelmente à destruição. Fica provada a tese de que o ser humano é um produto desses fatores naturalistas que o condicionam irrefreavelmente. Pedro torna-se um herói romântico, sem heroísmo, com uma solução romântica

            2.ª) A intriga secundária caracteriza-se por um grande ritmo rápido de novela e por um narrador omnisciente. As duas personagens centrais desta intriga têm como função maior (além da demonstração das teses atrás citadas) mostrar os paralelismos de comportamentos com os amores de Carlos e Maria Eduarda.
 
 
4. Linguagem
 
. Duplo advérbio de tempo + verbo no futuro: “– Sim, mais tarde, depois pensarás nisso, filho...” ® a preocupação de Afonso em eliminar de Pedro uma ideia fixa.
. Uso do discurso indireto livre, intercalado entre o discurso direto e o discurso indireto sugere a personagem a falar em voz alta, confundindo-se com o narrador, e a interpretar uma pergunta, não formulada, de Afonso: “Ainda lá tinha a sua cama, não é verdade? Não, não queria tomar nada...”.
. Advérbio expressivo: “O pai ouviu-lhe os passos por cima e o ruído de janelas desabridamente abertas.” ® revela a falta de autodomínio e o conflito emocional que marcam Pedro naquele instante.


terça-feira, 12 de maio de 2020

Análise do capítulo I de Os Maias

Localização espacial de temporal da ação
Espaço: Ramalhete, em Lisboa.
Tempo: outono de 1875.

1. Descrição do Ramalhete

1.1. Objetivo da descrição: permitir, à maneira naturalista, um melhor enquadramento das personagens e definição dos carateres, como espaço de convergência e harmonia entre o ambiente e seus anfitriões e frequentadores.

1.2. Descrição do Ramalhete (espaço histórico-familiar) – presente:

▪ é a residência da família Maia, em Lisboa;

▪ situa-se na Rua de S. Francisco, às Janelas Verdes;

▪ é um “sombrio casarão de paredes severas”;

▪ tem “um renque de estreitas varandas de ferro”;

▪ possui também “uma tímida fila de janelinhas”;

▪ “tinha o aspeto tristonho de residência eclesiástica”;

▪ estivera desabitado durante longos anos, pelo que ganhara tons de ruína;

▪ é um edifício de “gravidade clerical”;

interior:

- “disposição apalaçada”;

- “tetos apainelados”;

- “paredes cobertas de frescos”.

 
1.3. Origem do nome Ramalhete: um painel de azulejos representando um ramo de girassóis, substituindo o escudo heráldico da família.
 
1.4. Descrição do quintal do Ramalhete:
▪ pobre, inculto e abandonado;
▪ cheio de ervas bravas;
▪ elementos que nele existem: um cipreste, um cedro, uma cascatazinha seca, um tanque cheio de entulho e uma estátua de Vénus Citereia enegrecendo a um canto por causa da humidade.
 

sábado, 2 de maio de 2020

Subtítulo Episódios da Vida Romântica

▪ O plural episódios remete para o estudo ou diagnóstico da sociedade portuguesa através de vários episódios, o que corresponde a uma características realista: primado do real + intuito reformista.

▪ Visão crítica de uma época:
» Crónica de costumes – Visão crítica da sociedade, denunciando os seus costumes, defeitos e virtudes através de personagens-tipo – personagens que tipificam um grupo, uma personagem, um vício.
» O mundo social e político da sociedade lisboeta de grande parte do século XIX.
» Caráter estático.
» Menos ficção, mais descrição.
» Menor interferência do narrador, embora adote frequentemente um tom irónico e pessimista.

▪ A representação dos espaços sociais e crónica de costumes – episódios:
» Jantar no Hotel Central (cap. VI) – temas e crítica:
. a literatura (Realismo vs. Romantismo e a crítica literária);
. a situação financeira de Portugal;
. a mentalidade retrógrada da elite lisboeta.
» Corridas no Hipódromo (cap. X) – crítica:
. a imitação do estrangeiro;
. a mentalidade provinciana portuguesa.
» Jantar dos Gouvarinhos (cap. XII) – temas e crítica:
. instrução e ensino;
. conceção da educação da mulher;
. mediocridade mental dos mais altos funcionários do estado.
» Jornais A Corneta do Diabo e A Tarde (cap. XV) – crítica:
. a parcialidade do jornalismo da época;
. clientelismo partidário;
. vingança política;
. dependência política.
» Sarau no Teatro da Trindade (cap. XVI) – crítica:
. superficialidade das conversas;
. falta de cultura;
. ausência de espírito crítico;
. sentimentalismo e gosto convencional ultrapassados;
. a oratória oca e sem originalidade.
» Passeio final por Lisboa (cap. XVIII) – crítica:
. a degradação do país.

▪ A expressão vida romântica remete-nos para uma sociedade ainda marcada pelo Romantismo:



▪ A crónica de costumes concretiza-se através da construção de ambientes e da atuação de personagens-tipo, revelando-se como uma ação aberta.

▪ A intriga principal é narrada em alternância com uma série de episódios centrados na vida da sociedade lisboeta da segunda metade do século XIX, ainda bastante marcada pelos efeitos do Romantismo, como o subtítulo sugere:


Título
Os Maias
Subtítulo
Episódios da vida romântica
Capítulo I
. Instalação de Afonso e de Carlos no Ramalhete.
. Juventude de Afonso.
. Infância de Pedro.
Intriga secundária:
. Pedro vê Maria Monforte.
. Pedro namora Maria Monforte.
. Pedro casa com Maria Monforte.

Capítulo II
. Pedro e Maria Monforte viajam por Itália e por Paris. Têm uma filha.
. Pedro e Maria Monforte regressam a Portugal. Têm um segundo filho.
. Maria Monforte trai Pedro com Tancredo.
. Maria Monforte foge com Tancredo e leva a filha.
. Pedro suicida-se e deixa o filho com Afonso.

Capítulo III
. Infância e educação de Carlos.

Capítulo IV
. Juventude e formação académica de Carlos.
. Viagem de Carlos pela Europa.

Capítulo V
. Vida social de Carlos e Ega em Lisboa.

Capítulo VI
Intriga principal:
. Carlos vê Maria Eduarda pela primeira vez no Hotel Centra.
Episódio do Jantar no Hotel Central
Capítulo VII
. A condessa de Gouvarinho vai procurar Carlos ao consultório.

Capítulo VIII
Intriga principal:
. Carlos faz um passeio a Sintra com Cruges com o intuito de encontrar Maria Eduarda.

Capítulo IX
. Carlos e a condessa de Gouvarinho beijam-se.
Baile de máscaras em casa dos Cohen.
Capítulo X
. Carlos mantém a relação adúltera com a condessa de Gouvarinho.
Episódio das corridas de cavalos.
Capítulo XI
Intriga principal:
. Carlos conhece Maria Eduarda, devido à doença de Miss Sara.

Capítulo XII
. Carlos declara o seu amor a Maria Eduarda.
. A relação incestuosa começa inconscientemente.
Jantar em casa do conde Gouvarinho
Capítulo XIII
. Carlos e Dâmaso entram em confronto.
. Carlos termina a relação com a condessa de Gouvarinho.

Capítulo XIV
Intriga principal:
. Afonso parte para Santa Olávia.
. Maria Eduarda muda-se para a Toca.
. Maria Eduarda visita o Ramalhete.
. Carlos Viaja para Santa Olávia.
. Castro Gomes revela a Carlos a verdade sobre a sua relação com Maria Eduarda.

Capítulo XV
. Maria Eduarda relata a Carlos a sua história.
. Afonso regressa ao Ramalhete.
Episódios dos jornais
Capítulo XVI
. Guimarães revela a Ega que tem um cofre que pertencia a Maria Monforte para entregar à família e que Maria Eduarda e Carlos são irmãos.
Episódio do Sarau da Trindade
Capítulo XVII
. Ega revela, com o apoio de Vilaça, o conteúdo do cofre a Carlos.
. Carlos revela o conteúdo do cofre a Afonso.
. Carlos comete incesto conscientemente.
. Carlos encontra o avô após uma noite com Maria Eduarda.
. Afonso morre.
. Ega revela o conteúdo do cofre a Maria Eduarda.
. Maria Eduarda parte para Paris.

Capítulo XVIII
Epílogo:
. Viagem de Carlos.
. Estada de Carlos e Ega em Lisboa, após 10 anos.



O título Os Maias

Os Maias narram a história de uma família lisboeta, representante da alta burguesia, num conjunto de três gerações sucessivas, reduzida, no presente, a duas personagens: Afonso da Maia e o seu neto, Carlos da Maia.


• No romance, narra-se a história de uma família constituída por várias gerações, focando-se duas intrigas:
» Intriga principal: vida e amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda.
» Intriga secundária: vida e amores de Pedro da Maia.

• Relação entre a intriga principal e a secundária: a intriga principal firma-se nos acontecimentos que marcam a intriga secundária (narrada em analepse), dado que, do casamento frustrado de Pedro e Maria Monforte, resulta a separação dos dois irmãos, que desconhecem a verdade. Afonso dissera a Carlos que a mãe e a irmã tinham morrido.

A história de uma família lisboeta, representante da alta burguesia, num conjunto de três gerações sucessivas – características:
. Possui um carácter dinâmico.
. A ficção confere um carácter mais literário.
. Há uma maior interferência do narrador.
. A geração de Carlos da Maia continua os ideais da primeira geração romântica, pela sua necessidade de renovação da sociedade portuguesa e pelo papel que é atribuído à arte enquanto elemento dinamizador dessa regeneração, após um período de estagnação.

• Não obstante, não estamos na presença de um típico romance de família, pois, apesar de se ficarem de forma clara três gerações dos Maias, as duas primeiras constituem «meros» meios para explicar as atitudes e o comportamento de Carlos.

• A intriga principal é uma ação fechada.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

A receção de Os Maias

Em 20 de julho de 1888, cerca de um mês após a publicação de Os Maias, o jornal Repórter deu à estampa uma crítica à obra, da autoria de Fialho de Almeida.
Fialho, em primeiro lugar, considera que as personagens-tipo fundamentais dos romances anteriores de Eça se repetem n’Os Maias, dando como exemplo Craft, que confirmaria a «deslumbrada anglomania» do romancista. Por outro lado, considera igualmente repetitiva a visão pessimista sobre a sociedade lisboeta: «a permanência do escritor do ponto de vista maldizente dos outros seus volumes». Fialho de Almeida divide as personagens da obra em dois grupos, «um que tem viajado, outro que não tem viajado», observando que «O primeiro como que paira ainda numa certa região superior de ideias e elegância», enquanto o outro «enchafurda todo num atascal de parvoíce e de ignorância.».
Os elogios de Fialho centram-se em duas cenas: a entrevista de Castro Gomes com Carlos da Maia e a reconciliação de Carlos com a amante. Além disso, enaltece ainda o romance, considerando-o «um dos mais surpreendentes trabalhos de humour de que possa orgulhar-se uma literatura» e exaltando «o fantasista prodigioso, que, pelo poder da observação e pelo poder da ironia, iguala Theckeray».
Eça responde em 8 de agosto a partir de Bristol, através de uma carta, na qual, ironicamente, estranha ser acusado de maldizente por um escritor realista. No que diz respeito à uniformização das personagens, afirma que «Em Portugal há só um homem – que é sempre o mesmo, ou sob a forma de dandy, ou de padre, ou de amanuense, ou de capitão: é um homem indeciso, débil, sentimental, bondoso, palrador, deixa-te ir, sem mola de caráter ou de inteligência que resista contra as circunstâncias. É o homem que eu pinto – sob os seus costumes diversos, casaca ou batina. E é o Português verdadeiro. É o Português que tem feito este Portugal que vemos…».
Uma segunda polémica é espoletada por Bulhão Pato, que, ainda em 1888, escreve uma crítica, intitulada «O Grande Maia», incluída na coletânea poética Hoje, através da qual se pretende vingar de Eça por considerar que Tomás de Alencar, o representante do Ultrarromantismo n’Os Maias, era uma caricatura da sua pessoa. A 13 de dezembro desse mesmo ano, sai no jornal O País, do Rio de Janeiro, o artigo «Bulhão Pato e Eça de Queirós», em que o seu autor, Pinheiro Chagas, traz a público a ofensa sofrida pelo poeta, aproveitando-a para ridicularizar o romancista. Como resposta, em 8 de fevereiro de 1889, Eça faz publicar uma carta no jornal O Tempo, sob o título «Os Maias – Tomás de Alencar – uma explicação». Aí, o escritor afirma que «’ser retratado’ num romance ou numa comédia constitui (…) a mais decisiva evidência da celebridade», considerando também que a Sátira de Bulhão Pato visou somente «criar um tumulto de curiosidade, obrigar todos os olhos a volverem-se para o motivo que a provocou». E conclui esclarecendo que a personagem Tomás de Alencar não era a personificação de Bulhão Pato, pelo que nada poderia justificar «a permanência do sr. Bulhão Pato no interior do sr. Tomás de Alencar, causando-lhe manifesto desconforto e empaturramento». O romancista conclui, declarando que o «intuito final» da carta era «apelar para a conhecida cortesia do autor da Sátira, e rogar-lhe o obséquio extremo de se retirar de dentro do (seu) personagem». E deixa sem comentários a segunda sátira de Bulhão Pato, Lázaro Cônsul, datada de 1889, mais contundente e ofensiva, pois procurava rebaixá-lo como escritor por falta de vernaculidade na expressão linguística («Flaubert, Daudet, Zola resplendem no francês: / Tu, raso imitador, babas o português») e acusava-o de «caluniador da mulher portuguesa».

Bibliografia:
FERREIRA, Maria E. T., Orientações para a Leitura d’Os Maias de Eça de Queirós. Verbo.

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