● Título
do poema: um
testamento é um documento jurídico que tem como função proceder à distribuição
dos bens, da herança de uma pessoa após a sua morte. No caso da composição de
Alda Lara, estamos na presença de um testamento poético, através do qual
destina as suas «posses» e os seus sentimentos a pessoas amigas, como seria
expectável, e outros a gente que o «eu» não conhece, mas o sujeito poético crê
que precisam dele e/ou dos seus bens. Assim sendo, este testamento poético é,
naturalmente, um testamento diferente.
● Pessoas
contempladas no testamento e bens distribuídos: o sujeito poético deixará os seus
brincos de cristal à prostituta mais nova; o seu vestido de noiva à virgem
esquecida; o seu rosário antigo ao amigo ateu; os seus livros aos homens
humildes e analfabetos; os seus poemas ao homem amado, para que ele os ofereça
às crianças que encontrar na rua.
● Critério
que preside à distribuição dos bens: o sujeito poético distribui aos seus «herdeiros» aquilo que
ele imagina que lhes será útil ou lhes agradará. Por outro lado, os bens doados
coincidem precisamente com aquilo que os contemplados não possuem e talvez
desejem.
● Expressividade
da antítese: o poema
é rico em recursos expressivos, nomeadamente em antíteses. As mais importantes
são aquelas que contrapõem «mais nova» a «mais velho» e «bairro escuro» ao
«cristal límpido». No primeiro caso, a poeta contrapõe a juventude da prostituta
ao bairro velho, o que só faz ressaltar a característica da mulher; a segunda
destaca a limpidez dos brincos, por oposição à escuridão do bairro. Por outro
lado, as demais antíteses salientam aquela que é a base do poema: a oposição
entre o que não se tem e aquilo que o sujeito poético distribui.
● Caracterização
dos poemas do sujeito poético: os poemas são de dois tipos – os «loucos», que exprimem
sentimentos de dor sincera e desordenada, e os de esperança, desesperada, mas
firme.
● Fecho
do poema: a última
estrofe do texto faz referência às crianças, aos destinatários últimos das suas
composições poéticas. Tendo em conta que estes são de dois tipos – um que
exprime dor e outro que reflete esperança –, o sujeito poético pretende,
precisamente, oferecer às crianças a esperança, na forma de poemas, às crianças
de cada rua. Esta oferta simbolizaria a possibilidade de transformação do futuro.
● Temática
da solidariedade: ao
elaborar o seu testamento, o sujeito poético identifica aquilo que crê ser a carência
de cada pessoa e procura, com ele, precisamente diminuir ou colmatar essas
falhas.