O presente texto, constituído por versos decassilábicos intercalados com hexassilábicos, começa por comparar os homens a «deidades exiladas», afirmando que aqueles se devem julgar deuses, embora não o sejam na realidade (de notar a expressividade da forma verbal «tiremos»), isto é, devem ser senhores do seu destino. E devem julgar-se deuses (dado que têm a mesma origem) exilados na Terra, ou seja, afastados da convivência com os outros deuses, os que vivem no Olimpo. A semelhança que existe entre estas «entidades» passa pela Vida, possuída por direito próprio e tão antiga que ninguém a pode impugnar. Quer isto dizer que, se os deuses receberam o direito a ela das mãos de Júpiter, os homens possuem o mesmo direito a um nível semelhante, em tempo e qualidade.
No segundo andamento do poema, o sujeito poético defende um determinado conceito de vida para o Homem, começando por aconselhá-lo a portar-se altivamente (v. 7) e a ser dono de si mesmo, uma atitude tipicamente estoicista. Por outro lado, deve orientar-se no sentido de levar uma vida em paz, serena, tranquila, sem sobressaltos, sem agitação (a magna quies), ideia acentuada pela comparação, presente nos versos 8 a 10, com a «vila», a casa de campo concedida aos mortais pelos deuses para amenizar os rigores do Verão (o «estio»). Os homens deveriam usar a sua existência da mesma forma: num ambiente bucólico, sossegado, fazendo o culto da natureza (a aurea mediocritas). E esta parte não termina sem um apelo à moderação e ao quietismo (típicos do Epicurismo), por oposição a «outra forma mais apoquentada» de conduzir a existência, justificado pelo facto de esta estar cheia de incertezas («é indecisa» - v. 13) e desaguar necessariamente na morte (é «afluente / Fatal do rio escuro.» - vv. 13-14 - perífrase e eufemismo).
Na última estrofe, o «eu» apela ao autodomínio. Dado que o Destino comanda os próprios deuses, se situa acima deles, que lhe obedecem e não lhe podem fugir; dado que o Destino é calmo e inexorável (o que aponta para uma concepção fatalista da existência), os homens deverão primar pelo autodomínio. Assim, deverão construir o seu próprio destino (visto que não é possível fugir ao Fado e aos próprios deuses) e, deste modo, a opressão que o Destino exerce parecerá voluntária (conformismo) e os homens entrarão no mundo da morte pelos próprios pés, como se se tratasse de um acto voluntário e deliberado.
À semelhança do que sucede em muitas das suas odes, Ricardo Reis defende uma filosofia de vida assente nos seguintes princípios:
. Autodomínio;
. Abnegação / resignação;
. Desprendimento;
. Controlo das paixões;
. Evitar tudo o que possa causar perturbação;
. Construção do próprio destino (conformismo e submissão a ele);
. ...
A razão deste modelo de vida encontra-se na impossibilidade de escapar ao Fado. Os seus objectivos / as suas consequências passam por evitar o sofrimento e a angústia causados pela morte, pela construção de uma vida sem sobressaltos e pela dignificação do ser humano.
Na última estrofe, o «eu» apela ao autodomínio. Dado que o Destino comanda os próprios deuses, se situa acima deles, que lhe obedecem e não lhe podem fugir; dado que o Destino é calmo e inexorável (o que aponta para uma concepção fatalista da existência), os homens deverão primar pelo autodomínio. Assim, deverão construir o seu próprio destino (visto que não é possível fugir ao Fado e aos próprios deuses) e, deste modo, a opressão que o Destino exerce parecerá voluntária (conformismo) e os homens entrarão no mundo da morte pelos próprios pés, como se se tratasse de um acto voluntário e deliberado.
À semelhança do que sucede em muitas das suas odes, Ricardo Reis defende uma filosofia de vida assente nos seguintes princípios:
. Autodomínio;
. Abnegação / resignação;
. Desprendimento;
. Controlo das paixões;
. Evitar tudo o que possa causar perturbação;
. Construção do próprio destino (conformismo e submissão a ele);
. ...
A razão deste modelo de vida encontra-se na impossibilidade de escapar ao Fado. Os seus objectivos / as suas consequências passam por evitar o sofrimento e a angústia causados pela morte, pela construção de uma vida sem sobressaltos e pela dignificação do ser humano.