quarta-feira, 1 de setembro de 2021
Análise de "Serenata sintética", de Cassiano Ricardo
Análise de "Poética", de Cassiano Ricardo
Uma ilha cercada de palavras por todos os lados.
Um homem que trabalha o poema com o suor de se rosto.
Um homem que tem fome como qualquer outro homem.
O tema do poema é o universo
poético, mais concretamente a poesia e o poeta, como indicia o título do texto.
De facto, este indica o assunto da composição, funcionando como uma espécie de
verbete do qual o poema (as estrofes) representa as definições.
Ambas as estrofes possuem uma
estrutura semelhante: pergunta seguida de resposta. A primeira procura esclarecer
o que é a poesia: “uma ilha cercada de palavras por todos os lados”. Uma ilha é
uma porção de terra cercada por todos os lados de água. Na realidade, esta
definição é incorreta, visto que essa extensão de terra é uma porção emersa de
uma montanha submersa. Se fosse mesmo cercada por todos os lados, teria água
acima e abaixo da extensão de terra, o que não é verdade. Seja como for, a
definição apresentada de poesia enfatiza a importância da palavra: qualquer uma
pode ser dotada de poeticidade.
A segunda interrogação destina-se a
saber o que é um poeta. Este é definido como um homem comum, que trabalha e tem
necessidades (fome) como qualquer outro homem. Por outro lado, o poeta é um ser
que vive do seu suor, do seu trabalho esforçado, e que precisa de se alimentar
como qualquer outra pessoa. Ora, estas aproximações roubam um pouco o
romantismo associado ao ofício de poeta, que necessita, como qualquer outro
indivíduo, de possuir rendimentos para (sobre)viver.