Português: 01/09/21

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Análise de "Serenata sintética", de Cassiano Ricardo

 
Serenata sintética
 
Rua
torta.
 
Lua
morta.
 
Tua
porta.
 
            O título deste poema de Cassiano Ricardo tem a ver com o facto de o texto se referir a vários elementos relacionados com uma serenata, como «lua», «rua», «porta», de modo sintético.
            Relativamente à forma, o poema é constituído por três dísticos; cada verso é composto por uma só palavra e por uma única sílaba métrica; por outro lado, não foi utilizado nenhum verbo, o que confere maior dinamismo à composição.
            Cada verso é constituído por um nome e um adjetivo ou determinante possessivo. O primeiro dístico, «rua torta», remete para uma rua sinuosa. Metaforicamente, «rua» pode remeter para caminho, passagem, destino, e «torta» como difícil, sinuosa, misteriosa, duvidosa. No verso três, o vocábulo «lua» não se refere apenas ao satélite natural da Terra, mas também ao complemento romântico de uma serenata; no quarto, «morta» significa sem vida. Assim sendo, o dístico «Lua morta» refere-se à ausência da lua, à noite sem luar, sem luz. Se a noite é escura, essa escuridão torna-a misteriosa. A terceira estrofe aponta o destino da serenata: a «tua porta». Que porta? A de casa ou a do coração? Ambas. Porém, não se sabe se ela se abrirá ou não para o seresteiro.
 

Análise de "Poética", de Cassiano Ricardo

 1.
Que é poesia?

Uma ilha cercada de palavras por todos os lados.

 

2.
Que é o poeta?

Um homem que trabalha o poema com o suor de se rosto.

Um homem que tem fome como qualquer outro homem.

 

            O tema do poema é o universo poético, mais concretamente a poesia e o poeta, como indicia o título do texto. De facto, este indica o assunto da composição, funcionando como uma espécie de verbete do qual o poema (as estrofes) representa as definições.

            Ambas as estrofes possuem uma estrutura semelhante: pergunta seguida de resposta. A primeira procura esclarecer o que é a poesia: “uma ilha cercada de palavras por todos os lados”. Uma ilha é uma porção de terra cercada por todos os lados de água. Na realidade, esta definição é incorreta, visto que essa extensão de terra é uma porção emersa de uma montanha submersa. Se fosse mesmo cercada por todos os lados, teria água acima e abaixo da extensão de terra, o que não é verdade. Seja como for, a definição apresentada de poesia enfatiza a importância da palavra: qualquer uma pode ser dotada de poeticidade.

            A segunda interrogação destina-se a saber o que é um poeta. Este é definido como um homem comum, que trabalha e tem necessidades (fome) como qualquer outro homem. Por outro lado, o poeta é um ser que vive do seu suor, do seu trabalho esforçado, e que precisa de se alimentar como qualquer outra pessoa. Ora, estas aproximações roubam um pouco o romantismo associado ao ofício de poeta, que necessita, como qualquer outro indivíduo, de possuir rendimentos para (sobre)viver.

 

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