Português: 24/08/22

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Conto "Corpos incompletos", de Mário de Carvalho


     Restaurada de fresco, a estátua do marechal Saldanha, na praça do mesmo nome, começou logo a sentir melhorias de vista. Distinguia pormenores muito afastados e considerou que tinha valido a pena aquela maçadoria de tapumes, andaimes, lixívias, abrasivos, químicos fedorentos. Um arrumador de automóveis recolhia uma moeda ao pé do centro comercial e, cá de longe, a estátua lia perfeitamente: "República Portuguesa, Cem Escudos".
    Nesse estado de deslumbramento, interessou-se por um jovem que dentro de um autocarro lia um livro. Eram contos do catalão Pere Calders, sobre personagens que habitavam as próprias estátuas e à noite saíam para arejar. O engarrafamento foi tão demorado que deu para a réplica do marechal ler o texto completo, ler e indignar-se. Era como se as estátuas fossem invólucro ou repositório e não tivessem de próprio nem vontade nem alma. E deliberou manifestar-se.
    Como toda a gente sabe, as estátuas de Lisboa comunicam facilmente umas com as outras. Um não sei que fluido, transportado em bicos de pássaros, em rumorejo de folhas, em volutas de metano, em brisas atlânticas, mantém entre elas uma conversação satisfatória. O Adamastor, ali a Santa Catarina, não tardou, e resmungava: "lá está o Saldanha com as dele" e o leão do Marquês emitiu um subtil rugido. O cavalo de D. José piscou mais uma víbora e o monarca, frívolo como era, sorriu-lhe a ideia do movimento. Mas todas as estátuas de Lisboa aguardaram a pronúncia sábia e feroz do rei fundador, muito hirto, lá nas alturas do castelo. D. Afonso Henriques sopesou os inconvenientes de acartar com o peso de escudo, espada e malha de ferro. Mas lembrou-se, ao fim dumas horas, de que era um rei enérgico. E proferiu: "Sus, sus!" Era o que todas as estátuas queriam ouvir, para abandonar os pedestais. A noite já ia adiantada.
    "Meu chefe, meu chefe!". O jovem soldado da GNR, Malaquias de Sousa, entrava esbaforido no gabinete do superior, na casa da guarda da Assembleia da República. O sargento, e outros, não correram, voaram para ver. Todo aquele largo era um mar de estátuas paradas fitando o edifício, algumas em pose ameaçadora. A espada de Saldanha muito nervosa parecia pronta a trucidar. A Maria da Fonte sorria, sinistra, de pistolas ao léu. E as figuras da guerra peninsular arrastavam um canhão basto suspeito. O pior é que os dois leões das escadarias andavam por ali à solta e deitavam olhares rancorosos para o leão do Marquês de Pombal. "Passe aí o telemóvel", ordenou o sargento em voz trémula. Era uma situação que exigia consulta aos superiores.
    Ainda Eça de Queirós, na cauda da manifestação, tagarelava com Camilo Castelo Branco, na presença da Nudez Forte da Verdade, quando um frémito percorreu o arvoredo da Estefânia. Não chegou a turbilhão, mas foi suficientemente sensível para que um sujeito que comia um bife na Portugália exclamasse: "Ena, pá!" O busto de Cesário Verde convocava o de Guerra Junqueiro e desafiava-o para um desfile. E de busto em busto se transmitiu que não era justo que as estátuas em corpo inteiro se manifestassem e que os bustos se ficassem. Afinal, se nos bustos havia um corpo incompleto, a verdade é que exibiam "mais concentração do espírito". A frase foi do busto de um poeta, mas não me parece que tenha sido Junqueiro ou Verde. E, alinhados na Alameda de D. Afonso Henriques, os bustos de Lisboa vieram todos avenida abaixo, aos saltinhos, muito alegretes. Aquilo ressoava alto, e houve moradores que telefonaram para a polícia a protestar. Alguns agentes ainda estão hoje a consultar legislação e regulamentos camarários. Mas é duvidoso que encontrem qualquer disposição legal que proíba um busto ou uma estátua de circular pela cidade por seu próprio pé, base ou coto.
    A notícia chegou a altas instâncias e ao governo. O ministro competente, farto de chamadas, ia dizendo: "deixem lá, isso passa!". E tinha razão. As estátuas cansaram-se de estar para ali, a olhar. Nem sequer chegou a haver bulha de leões porque o Marquês deitou-lhes cá um olhar que eles sentaram-se logo, muito domésticos.
    Quando os bustos, rua de S. Bento afora, chegaram à Assembleia da República, numa revoada de clipocloques, as estátuas decidiram retirar-se, com dignidade. Não queriam aquela companhia, nada de misturas. Os bustos, desacompanhados, deram umas voltas, provocaram os leões com assobiadelas e voltaram para os seus pedestais. A manhã foi encontrar estátuas e bustos voltados para o lado oposto ao do costume. Não se tratou de combinação prévia. Foi uma convergência objetiva.
    Houve em Lisboa quem se interessasse pelo assunto. A própria comunicação social chegou a ter informação e preparou-se para noticiar: "Insegurança: vandalismo generalizado desloca monumentos". No entanto, nessa noite, um jogador de bola agrediu a própria mãe, ceguinha, e mobilizou as parangonas.
    Quando, um mês depois, estátuas e bustos se preparavam nova manifestação foram surpreendidos por uma diretiva comunitária proposta por Portugal e aceite por unanimidade. Todos os bustos de estátuas da Europa passaram a ser obrigatoriamente amarrados com cabos de aço.
    A alguns formadores de opinião a medida pareceu pateta e, sobre isso, dispendiosa. Mas talvez tivesse valido a pena, pelos desassossegos que se pouparam.

In Mealibra

Ligações:

Correção do questionário sobre o conto "As mãos dos pretos"

 1. Por que é que as palmas das mãos e dos pés das pessoas negras são mais claras do que o resto do corpo?

1.1. O Professor considera que a brancura das mãos dos pretos deriva da sua falta de sol.
        O Senhor Antunes da Coca-Cola afirma que a cozedura exterior do corpo dos negros determinou a brancura das suas mãos.
        O Senhor Frias crê o frio da água destinou à brancura apenas as palmas das mãos e os pés dos pretos.
        Um livro sustentava que, vivendo encurvados, os negros mantiveram as palmas das mãos brancas.
        Dona Estefânia afirma as mãos dos negros desbotaram à custa de muitas lavagens.
        A Mãe diz que as mãos dos pretos são iguais às de todos os homens.

2.1. As personagens do texto são o Professor, um homem pragmático; o Padre, um indivíduo frio e indelicado que justifica a realidade por meio da fé; a Dona Dores, uma mulher preconceituosa e racista, que justifica a realidade recorrendo à sua fá religiosa; o Senhor Antunes, uma pessoa de fé, fantasiosa e bem-disposta; o Senhor Frias, um homem crente e imaginativo; a D. Estefânia, uma personagem prática, que explica a realidade a partir da sua realidade; a Mãe, uma mulher carinhosa, bem-disposta, refletida, de crença religiosa e que defende a igualdade de direitos entre as pessoas de «raças» diferentes; o Narrador, um jovem curioso e insatisfeito.

2.1.1. O processo usado é a caracterização indireta, visto que os traços característicos de cada personagem não são apresentados diretamente pelo narrador ou por qualquer personagem, mas inferidos a partir da sua atuação (comportamento e atitudes) e das suas palavras no decorrer da ação.

2.2. A personagem principal é o jovem que narra a ação, isto é, o narrador.

2.3. O narrador trata as as personagens adultas a quem se dirige ou refere pelas fórmulas «Senhor» e «Dona», que representam um tratamento respeitoso característico de relações em que existe, por exemplo, uma hierarquia etária, como é o caso, ou mesmo social e cultural, exemplificada pelas referências ao «Senhor Professor» e ao «Senhor Padre».

3.1. As palavras e expressões são as seguintes: «não sei», «Lembrei-me», «nós não prestávamos», «os pretos eram melhores do que nós».

3.2. No que diz respeito à presença, o narrador é participante e autodiegético, dado que é uma personagem do texto. Quanto à focalização, aquele adota a perspetiva interna da própria personagem que ele encarna.

3.3. As palavras e expressões que demonstram que o narrador tende a exagerar a sua presençã são as seguintes: «Eu», «me», «nós», etc.

4. À semelhança do que sucede, por exemplo, com o conto tradicional popular, este texto não possui grandes marcas temporais, para sustentar a intemporalidade do tema que aborda, concretamente o racismo e a necessidade da sua discussão.

5.1. O espaço físico é a África.

5.2. No que respeita ao espaço social, predomina no conto a classe média colonizadora.

6.1. As palavras e expressões coloquiais do discurso do Senhor Antunes da Coca-Cola são, por exemplo, «resolveram fazer», «Sabes como?», «Pegaram», «enfiaram-no», «Fumo, fumo, fumo», «escurinhos como carvões», «Pois então».

6.2. O registo coloquial confere verosimilhança ao texto.

7.1. De acordo com a mãe do narrador, os pretos existem por decisão de Deus, para haver equilíbrio na humanidade.

7.2. O uso de reticências nessa fala remete para a omissão da consciência de que a criação de Deus pode ter sido um erro, gerador de racismo.

7.3. A referência insistente a Deus constitui uma marca da fé e crença religiosas características das pessoas de «raça» branca, que colonizaram África, e que se tornou bandeira dos Descobrimentos e da colonização.

8.1. Jogar à bola é uma atividade lúdica, de entretenimento, o que significa que as atividades deste género aliviam o sofrimento.

8.2. O choro da mãe significa provavelmente que a memória do sofrimento, por conhecer a escravatura e o racismo, ou por ter sido vítima dos mesmos, é aceite.

9. A moral do conto aponta para a ideia de que as pessoas não valem pelo que parecem ser, mas pelo que são efetivamente e, sobretudo, pelas suas ações e atitudes.

10. A expressão enfática «é que» sublinha o acaso do surgimento da longa reflexão sobre a cor das mãos dos pretos.

11. O diminutivo constitui uma expressão coloquial de intenção pleonástica, no sentido de vincar uma determinada ideia.


Ligações:
    👉 Texto.
    👉 Questionário.

Questionário sobre o conto "As mãos dos pretos"


 1. Toda a ação do conto gira em torno de uma questão. Formule-a.

    1.1. Sintetize cada uma das explicações apresentadas como resposta a essa questão numa só expressão ou frase.

2. Detenha-se nas personagens.

    2.1. Identifique-as e trace um breve retrato de cada uma delas.

        2.1.1. Refira o processo de caracterização de que se serviu para responder à pergunta anterior.

    2.2. Ainda que o núcleo de personagens seja reduzido, como é característica de uma narrativa curta como conto, distinga a personagem principal.

    2.3. Justifique a deferência no tratamento de algumas personagens por parte do narrador.

3. O conto é rico em palavras e expressões que provam a presença do narrador na ação.

    3.1. Faça o levantamento desse vocabulário presente no primeiro parágrafo.

    3.2. Classifique o narrador do conto quanto à presença e à focalização.

    3.3. Transcreva palavras e/ou expressões textuais que demonstrem que o narrador tende, por vezes, a exagerar a sua presença.

4. Explique a (quase) total ausência de marcas temporais.

5. No que diz respeito ao espaço, o conto possibilita uma associação a um espaço físico lato, mas concreto.

    5.1. Identifique-o.

    5.2. Indique o espaço social, atendendo à tipologia das personagens.

6. A linguagem do conto tende, por vezes, para a coloquialidade, quer no que toca ao discurso do narrador, quer no discurso direto.

    6.1. Proceda ao levantamento de palavras e expressões coloquiais do discurso da personagem Senhor Antunes da Coca-Cola.

    6.2.Explique em que medida o registo coloquial enriquece a narrativa.

7. A última personagem que explica a brancura das mãos dos pretos é a mãe.

    7.1. Apresente a razão pela qual, na sua perspetiva, existem pretos.

    7.2. Comente a expressividade da pontuação da segunda frase do discurso da mãe.

    7.3. Explique a referência insistente a Deus.

8. Releia o último parágrafo do conto.

    8.1. Explique a necessidade que o narrador tem de anular a informação da sua fuga com a referência a que foi jogar à bola.

    8.2. Apresente uma interpretação para o choro da mãe.

9. Indique a moral do conto.

10. Na primeira frase do texto surge uma expressão enfática. Identifique-a e comente a sua expressividade.

11. Explique o emprego do diminutivo na expressão «Coisa certa e certinha».


Ligações:
    👉 Texto do conto.

A escola do século XIX em imagens – IV


Jan Steen, Escola rural (c.1665)

 

    De volta ao século XVII para ilustrar uma presença comum em muitas escolas ao longo dos tempos, até mesmo nos progressistas Países Baixos: o castigo corporal, neste caso aplicado com recurso à palmatória, um instrumento de punição, alguns dirão mesmo de tortura, que muitos portugueses hoje idosos ainda tiveram o desprazer de conhecer nos seus tempos de escola. Aqui quem, sob o olhar atento dos colegas, dá a mão à palmatória, é um desafortunado rapaz que terá, ao que podemos supor, rasgado e atirado ao chão a folha onde fazia os exercícios.

    É muito antiga, e até certo ponto faz sentido, a associação do estudo ao esforço: para aprender é preciso vontade, determinação, persistência, espírito de sacrifício. Mais difícil de aceitar, e nos dias de hoje ideia definitivamente posta de parte, é que esse esforço deva assumir a forma de punição física. O velho ditado espanhol, la letra con sangue entra, não é definitivamente, para tomar à letra…

    Voltando ao quadro, repare-se na simplicidade do mobiliário, numa sala de aula ainda pouco estruturada enquanto tal. Mesas e bancos – apenas o professor se sentará numa cadeira – compõem o mobiliário e contrastam com as lousas e os objetos de uso doméstico e quotidiano pendurados nas paredes. Escreve-se em folhas e cadernos com penas que se molhavam em tinteiros. O lápis não era ainda de uso comum e a caneta com aparo só surgirá no século XIX. No topo da imagem, passando quase despercebida num primeiro olhar, uma prateleira fixa à parede aloja os livros e papéis necessários ao ofício do mestre-escola.

Fonte: escolapt

Conto "As mãos dos pretos"


     Já não sei a que propósito é que isso vinha, mas o Senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo. Lembrei-me disso quando Senhor Padre, depois de dizer na catequese que nós não prestávamos mesmo para nada e que até os pretos eram melhores do que nós, voltou a falar nisso de as mãos deles serem mais claras, dizendo que isso era assim porque eles, às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar.
    Eu achei um piadão tal a essa coisa de as mãos dos pretos serem mais claras que agora é ver-me a não largar sejam quem for enquanto não me disser por que é que eles têm as palmas das mãos assim mais claras. A Dona Dores, por exemplo, disse-me que Deus fez-lhes as mãos assim mais claras para não sujarem a comida que fazem para os seus patrões ou qualquer outra coisa que lhes mandem fazem e que não deva ficar senão limpa.
    O Senhor Antunes da Coca-Cola, que só aparece na vila de vez em quando, quando as coca-colas das cantinas já tenham sido todas vendidas, disse que tudo o que me tinham contado era aldrabice. Claro que não sei se realmente era, mas ele garantiu-me que era. Depois de eu lhe dizer que sim, que era aldrabice, ele contou então o que sabia desta coisa das mãos dos pretos. Assim:
    "Antigamente, há muitos anos, Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Virgem Maria, São Pedro, muitos outros santos, todos os anjos que nessa altura estavam no céu e algumas pessoas que tinham morrido e ido para o céu, fizeram uma reunião e resolveram fazer pretos. Sabes como? Pegaram em barro, enfiaram-no em moldes usados e para cozer o barro das criaturas levaram-nas para os fornos celestes; como tinham pressa e não houvesse lugar nenhum, ao pé do brasido, penduraram-nas nas chaminés. Fumo, fumo, fumo e aí os tens escurinhos como carvões. E tu agora queres saber por que é que as mãos deles ficaram brancas? Pois então se eles tiveram de se agarrar enquanto o barro deles cozia?!".
    Depois de contar isto o Senhor Antunes e os outros Senhores que estavam à minha volta desataram a rir, todos satisfeitos.
    Nesse mesmo dia, o Senhor Frias chamou-me, depois de o Senhor Antunes se ter ido embora, e disse-me que tudo o que eu tinha estado para ali a ouvir de boca aberta era uma grandessíssima peta. Coisa certa e certinha sobre isso das mãos dos pretos era o que ele sabia: que Deus acabava de fazer os homens e mandava-os tomar banho num lago do céu. Depois do banho as pessoas estavam branquinhas. Os pretos, como foram feitos de madrugada e a essa hora a água do lago estivesse  muito fria, só tinham molhado as palmas das mãos e as plantas dos pés, antes de se vestirem e virem para o mundo.
    Mas eu li num livro, que por acaso falava nisso, que os pretos têm as mãos assim mais claras por viverem encurvados, sempre a apanhar o algodão branco de Virgínia e de mais não sei aonde. Já se vê que a Dona Estefânia não concordou quando eu lhe disse isso. Para ela é só por as mãos deles desbotarem à força de tão lavadas.
    Bem, eu não sei o que vá pensar disso tudo, mas a verdade é que ainda que calosas e gretadas, as mãos dum preto são sempre mais claras que todo o resto dele. Essa é que é essa!
    A minha mãe é a única que deve ter razão sobre essa questão de as mãos de um preto serem mais claras do que o resto do corpo. No dia em que falámos nisso, eu e ela, estava-lhe eu ainda a contar o que já sabia dessa questão e ela já estava farta de se rir. O que achei esquisito foi que ela não me dissesse logo o que pensava disso tudo, quando eu quiser saber, e só tivesse respondido depois de se fartar de ver que eu não me cansava de insistir sobre a coisa, e mesmo assim a chorar, agarrada à barriga como quem não pode mais de tanto rir. O que ela fosse foi mais ou menos isto:
    "Deus fez os pretos porque tinha de os haver. Tinha de os haver, meu filho, Ele pensou que realmente tinha de os haver... Depois arrependeu-se de os ter feito porque os outros homens se riam deles e levavam-nos para as casas deles para os pôr a servir como escravos ou pouco mais. Mas como Ele já os não pudesse fazer ficar todos brancos porque os que já se tinham habituado a vê-los pretos reclamariam, fez com que as palmas das mãos deles ficassem exatamente como as palmas das mãos dos outros homens. E sabes por que é que foi? Claro que não sabes e não admira porque muitos e muitos não sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os homens fazem é apenas obra dos homens... Que o que os homens fazem é feito por mãos iguais, mãos de pessoas que se tiverem juízo sabem que antes de serem qualquer coisa são homens. Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com que as mãos dos pretos fossem iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus por não serem pretos".
    Depois de dizer isso tudo, a minha mãe beijou-me as mãos.
    Quando fugi para o quintal, para jogar à bola, ia a pensar que nunca tinha visto uma pessoa a chorar tanto sem que ninguém lhe tivesse batido.

in Nós Matámos o Cão Tinhoso

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