Português: 07/09/21

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Capítulo XV de A Sibila

             1. A doença de Quina
 
1.1. "Uma pneumonia prostrou Quina".
 
1.2. A tendência popular para atribuir alcunhas: "Libória, a criada, por alcunha a Sancha...".
 
1.3. Breve retrato de Inácio Lucas: "muito velho e muito trôpego".
 
 
2. Retrato de Custódio
- voltava tarde para casa;
- saía diariamente depois da ceia, ficando por vezes dois ou três dias sem vir a casa;
- libertino;
- fumava muito;
- jogava (p. 178);
- não bebia, mas roubava o vinho para Libória.
 
 
            3. Quina e a família:
durante a sua doença, apenas o cunhado, Inácio Lucas, e Estina a visitam e cuidam de Quina, mas até Estina revela grande contrariedade pela ausência forçada de casa: "Apesar de estreitamente ligadas de coração, Estina sofreu como um exílio aquela época em que esteve afastada dos hábitos..." (p. 183). Todos os outros ignoraram a sua doença e não a visitaram, "porque [Quina] não revelara a seriedade da doença e (...) porque, exceto Estina, os outros se tinham tornado bastante indiferentes, minados por despeitos, ainda que, num plano geral, a estimassem..." (p. 184). No entanto, o seu orgulho não lhe permitiu que confessasse o sofrimento que a indiferença da família lhe causava.

            Mais tarde, Abel visita-a de surpresa nove anos depois do último contacto entre ambos, e constatando a sua debilidade física ("Nunca mais recobrou por inteiro a saúde." – p. 186), insiste para que o acompanhe e se trate na cidade, que a irmã recusa: "... isto é só velhice." (p. 186).

            Note-se como, novamente, se revela a oposição entre o carácter das mulheres da Vessada e dos homens, dúctil e superficial ["Abel (...) era de fácil comoção..." – p. 187].

 
            O materialismo e a ambição de Abel não tardam, todavia, a revelar-se:

. "... magicara adular Quina por intermédio do rapaz...";

. "E, já não podendo conter mais o rancor que, havia anos, acumulava, vazou ali todas as suas queixas, acusou-a de o arruinar, de o lograr (...)" (p. 188);

. "visitando Estina, intrigando contra a irmã que – dizia – o fazia pobre e derramava a rodos o património para satisfazer os caprichos daquele rapaz, mostrou-se magoado e cheio de generosas apreensões..." (p. 188).

            Contudo, e confirmando o espírito de união das mulheres da casa da Vessada já antes demonstrada, Estina, numa atitude "maternal e risonha", limita-se a observar "aquele irmão, bonito, mentiroso, aventureiro..." que "nunca lhe parecera ter crescido". (p. 188)

Capítulo XIV de A Sibila

             1. Quina

- a afeição por Custódio;

- a debilidade física (p. 164);

- última intervenção de Quina como medianeira (p. 165);

- solitária;

- desorbitação de Quina ou o Prometeu libertado (p. 170).

 
 
            2. Retrato de Custódio adulto

- "fizera-se homem";

- degenerado;

 - ingenuidade bronca da criança que teria sido;

- perverso;

- valdevinos;

- liga-se ao crime, integrando o grupo do Morte (p. 171);

- apesar da sua escassa capacidade intelectual, Custódio manifesta, todavia, alguma sensibilidade:  quando o Morte e o seu bando são julgados e condenados, tendo ele permanecido na obscuridade graças ao silêncio dos colegas de banditismo, chorou muito dois dias (p. 173);

- o episódio do pombal (p. 175) revela-nos uma faceta de doçura, carinho e ternura da parte de Custódio.

 
 
            3. Os símbolos
 
            . O pombal (episódio dos borrachos) ≠ o episódio das rãs –  a fragilidade / ternura de Custódio e, simultaneamente, a sua violência primitiva.

Capítulo XIII de A Sibila

             1. Caracterização de Abel
 
            As primeiras referências aos três filhos de Francisco Teixeira e Maria da Encarnação (Abílio, João e Abel) são negativas e caracterizam-nos por oposição à irmã, Quina: fracos, como todos os homens, parecidos com o pai: "Mas todos eles eram muito do pai; volúveis, fracos com aduladores e com mulheres, moralmente a tender para a cobardia das responsabilidades, muitos jogos de argúcia para sofismar a fé que se quer atraiçoar".

            Abel, que não gostava de trabalhar, era, todavia, gastador, instável, amante do luxo e da aventura, e gostava de frequentar ambientes requintados, de preferência onde houvesse "meninas para casar" (p. 52). O gosto pela aventura e pelo luxo, a superficialidade aproximavam-no do pai e, quiçá por isso, da simpatia da mãe (pp. 61-62).

            Casou rico e, inicialmente, não era muito exigente com Quina relativamente à quota que esta lhe devia pagar anualmente pela exploração dos bens. Mantinha na vida e nos negócios o espírito de jogo de azar, como o pai (p. 88).

            Dado que Quina não tinha descendentes, Abel, duma forma perspicaz, chama a atenção de Germa para a necessidade de ser agradável à tia e ele próprio age de uma forma que considera adequada para que a filha seja a herdeira de Quina (p. 123).

            O materialismo de Abel (evidente na "caça à herança" da irmã) contrasta com o pensamento de Germa (p. 142), mas manter-se-á sempre "um diletante da experiência", que encara a vida como um jogo, à semelhança do pai e da irmã, Quina (p. 150).

            Ao contrário de João, que não queria que lhe falassem de Quina, Abel preocupa-se imenso com a herança e inquieta-se com a presença de Custódio e o carinho que a irmã lhe dedica, aponto de discutir com ela. Também a sua situação familiar e económica é diferente da de João. Na verdade, é lógico que dele provenha a herdeira universal de Quina. Só Germa dava garantias de continuidade e respeito pelo «sangue». Todavia, o que ressalta é a ambição desmedida de Abel.

 
 
            2. Caracterização de João
 
            Tem em comum com Abel o facto de não gostar de trabalhar, mas fora esta semelhança, diferem em tudo o mais e as suas vidas vão seguir rumos diferentes.

            João era, sobretudo, caçador, trabalhava pouco, mas, ao contrário do irmão, não era gastador.

            Casou com uma mulher burguesa, proprietária com pretensões fidalgas, feia e bronca, que desagradou muito a Maria da Encarnação: "Ela é uma lorpa, nem do campo nem fidalga, que não sabe ser nem uma coisa nem outra" (p. 69). O que lhe desagradava sobretudo na noiva do filho era a falta de autenticidade, o artificialismo, a pobreza do espírito.

            É por influência da esposa que João vai viver para a cidade e vende a Quina a sua parte da herança. Esta mudança para a cidade e a troca dos bens rurais por dinheiro traduzem o seu aburguesamento. Mas a vida citadina será medíocre e João rapidamente se arrependerá do negócio. A mulher está cada vez mais feia e ridícula. (pp. 122-123)

            Aproximadamente quinze anos depois, quando Abel o procura, João vive no último andar (84 degraus) de um prédio velho, propriedade da mulher, numa situação económica débil ("uma quase pobreza" – p. 149).

            À medida que o tempo passa e se reconhece pobre, enquanto Quina enriquece, João começa a odiá-la por se sentir ludibriado: "Parecia gravemente ofendido (...), mas, mesmo na indignação, era mais sofredor do que agressivo (...). Era um homem fraco, conciliador e liberal na fartura, mas sujeito à inveja e a torturada maledicência quando o êxito de alguém lhe revelava mais profundamente a própria impotência". (pp. 151-152)

            A fraqueza e o carácter "sofredor" revelam-se também no acervo (ultra-)romântico da sua biblioteca. Não tendo filhos legítimos [simbolicamente, a esposa era estéril, como a sua opção pela cidade, a recusa da terra (= fecundidade), o artificialismo, a falta de autenticidade], João, em consonância com as suas leituras "românticas", teve dois bastardos de uma criada.

            Tendo sido sempre um indigente, que ocupa o seu tempo na caça e, mais tarde, no quintal, João acaba por ser dominado pela mulher, intelectualmente medíocre, pretensiosa e ridícula, que o torna ainda mais amorfo e irresponsável. (pp. 154-155)

 
 
            3. Domínio de Custódio sobre Quina: "Ele aprendeu depressa a dominar Quina – ora pelo carinho de menino, ora pela grosseira arremetida que ela temia muito pela suspeita de escândalo que podia ocorrer aos vizinhos.". (p. 153)
 
 
            4. Caracterização de Germa
 
            Com a devida diferença de cultura, Germa segue as mesmas opções que, anteriormente, já tinham sido tomadas por Quina: conceção do casamento como um negócio e submissão a seres inferiores – os homens: "Aquela rapariga de vinte e seis anos, que não casara ainda e que não parecia disposta a transacionar legalmente o seu corpo e todos os seus dotes de educação e mentalidade por uma situação vantajosa para toda a família, parecia-lhe insolente e digna de reproche.". (p. 155)

            Em suma, estamos perante um esboço que aproxima Germa e Quina: solteiras, independentes, insolentes. Este estado de espírito opõe-se diretamente ao do pai, ambicioso e materialista: "Ele entretinha-se, às vezes, a depreciar os seus dotes, com simulado intuito de desafio, para a ver reagir e demonstrar uma atividade útil das suas qualidades – casando-se depressa, procurando um partido indiscutível, ainda que fosse como vingança.". (p. 155)

            É uma intelectual, aristocrata de espírito, que um grande afastamento da mentalidade burguesa citadina do pai e de Bernardo e a aproximação da «aristocracia "ab imo" da terra»: "Tenho espírito demais (...)" até "sessenta dias". (p. 155)

 
 
            5. Retrato de Custódio
 
            Na adolescência ("Aos doze anos..."  -  p. 156), torna-se delinquente ("... moldava em estearina chaves falsas, para abrir as gavetas onde suspeitava valores, que trocava sempre com prejuízo..." ;  "Tornou-se conhecido dos ourives de feira, recetadores de roubos." – p. 156). Chega a roubar a própria Quina, mas esta tudo lhe perdoa. Mantém-no na ociosidade e oferece-lhe até um cavalo branco: "Pobrezinho, és desatinado e tolo, há muitos bem melhores do que tu..." (p. 157); "Custódio roubava-a, ela apenas se precavia mais, sem o repreender; insultava-a, proferindo ameaças, ela optava pelo silêncio." (p. 157). Mesmo quando a sua crueldade o leva a matar "com um pontapé o cãozito rafeiro, cego já e que Quina tinha salvo dum ribeiro havia muito tempo", ela toma outra atitude que não o isolamento e o silêncio.

            A posição tomada para com Custódio compreende-se pelo ascetismo a que Quina aspira:  elevação humana, abandono da vulgaridade dos que a rodeiam, vaidade absoluta e egocentrismo, ostentação dos seus méritos, enternecimento por uma causa humana.

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Capítulo XII de A Sibila

             Inicia-se neste capítulo a terceira e última fase de Quina, coincidente com a adoção de Custódio como uma espécie de filho.
 
 
            1. O apogeu de Quina no poder material e espiritual:

            "Eis aqui a senhora Joaquina Augusta, da casa da Vessada, a quem o seu acréscimo de propriedades e riquezas em rendosos dinheiros conferia já o título de dona. Tinha cinquenta e oito anos, mantinha-se com uma esbelteza de rapariga, se bem que um tanto corcovada e de cabeleira totalmente branca. Estava ela no apogeu das suas faculdades de administradora, de discernimento e de vivacidade. (...) Estava perfeita no seu cargo de sibila...". (pp. 134-135)

 
 
            2. A vulnerabilidade de Quina
 
            Quina recebe em sua casa Emílio, aliás Custódio, uma espécie de filho adotivo, e começa a revelar os primeiros sinais de fraqueza e vulnerabilidade: "Mas não passava duma mulherzinha inteiramente ignara, tola e vulnerável de coração, no dia em que aceitou em sua casa aquela criança e incondicionalmente a adotou". (p. 135)
 
 
            3. A sabedoria popular: as diligências de Quina para conseguir que o menino fale, embora defeituosamente. (p. 135)

            Por outro lado, na página 138, a narradora fez referência à tendência popular para atribuir e conservar alcunhas: "Estava ela [Custódio] registada com o nome de Emílio, mas, como todas as crianças antes do batismo são chamadas Custódios pelo povo, aos quatro anos designavam-no apenas como tal, e nunca o reconheceram com outro nome".

 
 
            4. Custódio
 
                        4.1. Caracterização
 
            Era "um belo menino" que quase não falava (era "belfo"), filho do escudeiro da Condessa de Monteros e duma prostituta. Falecida Elisa Aida, o escudeiro entrou ao serviço de Quina. Um dia, desapareceu e Quina ficou com a criança. (pp. 138-139)
 
 
                        4.2. A importância de Custódio para Quina   -   o despertar da ternura: "Nunca ninguém a considerara tão única, tão imprescindível, tão suprema". (p. 140)

            De facto, a entrada de Custódio na sua vida vai operar nela uma grande mudança, despertando-lhe toda a sua recalcada capacidade de ternura humana: "Tinha-se operado nela uma estranha mudança. (...) Tinha ganho talvez em suavidade e simpatia, mas, de facto, alguma coisa do seu carácter se constrangera até se estiolar.". (p. 140)

 
 
                        4.3. Retrato de Custódio (segundo Germa – pp. 141-142)

- "belo e fatal"

- "quase adolescente"

-"graças dum efebo um tanto selvagem":

. "no expectante do gesto"

. "no movimento da cabeça (...) ingénuo"

- lábio vulgar e espesso demais

- fronte saliente e obtusa

- cabelos curtos

- olhos azuis, baços

 
 
            5. Luta entre Germa e o pai
 
            Abel mostra-se muito preocupado e inquieto com a mudança de Quina, que acolhera Custódio, lhe dedicava toda a sua ternura e podia elegê-lo como seu herdeiro, deixando-lhe a fortuna. Abel sempre sonhara com o dote da irmã solteirona para a filha, Germa, e constatava agora o perigo que constituía a intromissão de Custódio. Germana não se identifica com esta mentalidade calculista burguesa, tem uma diferente visão do mundo e da vida, fruto da sua formação intelectual temperada pelos contactos com o campo e a conceção de vida rural, simbolizados pela casa da Vessada. (p. 142)
 
 
            6. Germa adulta
 
            A memória e o fascínio da Vessada fazem regressar Germa, só que depara com a mudança de Quina e acaba por se sentir a mais. Assim, a Vessada assume as formas de um "paraíso perdido" (pp. 143-145). Contrastando com a sua rápida evolução em criança, Germa, já mulher, manifesta uma certa estagnação mental: "Germa era uma mulher, agora; porém, essa maturidade que se exprime nas criaturas por um estacionamento mental, a súmula de perceções acerca da sociedade e da natureza que regem até à morte o homem, sem que o seu espírito experimente mais ima instigação de curiosidade, de interesse, de reparo, de conclusão nova, isso ela não adquirira". (p. 142)
 
 
            7. A sabedoria popular e a verosimilhança (pp. 143-144).
 
 
            8. Nova focalização de Custódio por Germa
 
            Este novo retrato revela-nos um ser insociável e tímido, donde se destaca a sua animalidade irracional, a violência e a crueldade (a caça às rãs) e o isolamento (pp. 147-148).

Capítulo XI de A Sibila

             1. A adolescência de Germa
 
            Aos treze anos, Germa entra num período de afirmação da personalidade e forte individualismo gerador de contestação e conflitos com a tia, a ponto de durante muito tempo não voltar à casa da Vessada: "Tinha então quase treze anos, e continuava bonita." (p. 122)
            "Foi o contraste de caracteres, a inadaptação, a perene batalha do seu espírito contra o ambiente, que amadureceu muito depressa Germa. Toda a gente, e igualmente Quina, lhe desagradavam. (...) Entrou depois no período esfuziante da adolescência, e durante muito tempo não voltou à casa da Vessada, que achava opressiva...". (p. 125)
 
            Dedica à tia um grande respeito. O convívio com Quina proporciona-lhe um perfeito conhecimento do ser humano.
 
 
            2. Morte de Elisa Aida
 
            A causa imediata da sua morte é uma queda, que lhe quebra uma perna. Gradualmente, a sua vida vai-se degradando, "afastando os amigos e aceitando a falência de certos hábitos" (p. 128), mantendo somente a amizade de Quina.
 
 
            3. Referência ao escudeiro de Elisa Aida: "bonito grumete loiro, com essa petulância (...). Além de filho, disseram-no seu amante". (p. 128)
            Quina recebe-o e acaba por conhecer a sua história: era casado com uma prostituta de quem teve um filho, "um menino de quatro anos, belo como um pastorinho de presépio, e que não falava ainda", mas que "não tinha qualquer significação para si" (p. 134). A prostituta morre, entretanto, e face à indiferença e desinteresse do pai relativamente à criança, Quina decide recebê-lo em sua casa.         

Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa

 

    Este é o primeiro episódio «a sério» do podcast «Que farei com este livro?», dedicado à Poesia Trovadoresca. Para ouvir o original, basta clicar na ligação [Ep. 1.1.].
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