Português: 07/02/20

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Retrato de D. João de Portugal

▪ Nobre: família dos Vimiosos (I, 2).
▪ Cavaleiro: combate com o seu rei (D. Sebastião) em Alcácer Quibir.
▪ Evoca o nome bíblico de João, o apóstolo de Jesus Cristo.
▪ Ama a Pátria e o seu Rei.
▪ Representante da época de ouro portuguesa.
▪ Imagem da Pátria cativa.
▪ Ligado à lenda de D. Sebastião.
▪ Nos dois atos iniciais, é uma personagem abstrata: existe somente nos pensamentos de D. Madalena, Maria e Telmo (e até de Manuel de Sousa Coutinho e Frei Jorge); torna-se uma personagem concreta no ato III na figura de romeiro.
▪ Personagem simbólica: espécie de personificação da fatalidade, do Destino que vai precipitar o desenlace trágico.
▪ No final da obra, ninguém se compadece dele como marido ultrajado, mas das outras personagens.
O Romeiro apresenta-se como um peregrino, mas é o próprio D. João de Portugal. Os vinte anos de cativeiro transformaram-no e já nem a mulher o reconhece. D. João, de espectro invisível na imaginação das personagens, vai lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do Romeiro que se identifica como Ninguém. O seu fantasma paira sobre a felicidade daquele lar como uma ameaça trágica. E o sonho torna-se realidade.

Retrato de Manuel de Sousa Coutinho

▪ Nobre: cavaleiro de Malta (só os nobres ingressavam nessa ordem religiosa) (I, 2 e 4).
▪ Evoca o nome bíblico de Emanuel (Deus connosco): paz de consciência, desprendimento dos bens materiais e da própria vida (I, 11).
▪ Racional: deixa-se guiar pela razão, no que contrasta com D. Madalena.
▪ Guiado pela razão, toma as suas decisões à luz de um conjunto de valores universais: a liberdade, a moral, a honra, o nacionalismo (por exemplo, a resposta dada às tentativas dos governadores, incendiando o palácio).
▪ Bom marido e pai terno (II, 7; I, 4).
▪ Corajoso, audaz, determinado e decidido (I, 7, 8, 9, 11, 12, 19; III, 8).
▪ Marcado pelo Destino (I, 11; II, 3 e 8).
▪ Após o aparecimento do Romeiro, deixa-se perturbar pela emoção, revelando-se então uma personagem mais romântica do que clássica.
▪ Encarna o mito romântico do escritor: refúgio no convento, que lhe proporciona o isolamento necessário à escrita.
Manuel de Sousa Coutinho (mais tarde Frei Luís de Sousa) é um nobre e honrado fidalgo que queima o seu próprio palácio, para não receber os governadores. Embora apresente a razão a dominar os sentimentos, por vezes estes sobrepõem-se quando se preocupa com a doença da filha. É um bom pai e um bom marido.

Retrato de D. Madalena de Vilhena

▪ Nobre: “família e sangue dos Vilhenas” (I, 8); o epíteto de “dona” só era dado no século XVII às senhoras da aristocracia.
▪ Sentimental: deixa-se arrastar pelos sentimentos muito mais do que pela razão.
▪ Pecadora: o nome “Madalena” evoca a figura bíblica da pecadora com o mesmo nome.
▪ Religiosa; não compreende, todavia, que o amor de Deus possa exigir o sacrifício do amor humano.
▪ O amor de esposa sobrepõe-se ao amor de mãe.
▪ Torturada pelo remorso do passado: não chega a viver o presente por impossibilidade de abandonar o passado, que a deixa constantemente aterrorizada.
▪ Redimida pela purificação no convento, que constitui a saída romântica para a solução dos conflitos.
▪ Modelo da mulher romântica: para os românticos, a mulher ou é anjo ou diabo.
▪ Marcada pelo Destino: amor fatal; ligada à lenda dos amores infelizes de Inês de Castro (I, 1).

D. Madalena de Vilhena é a primeira personagem que aparece na obra, mas pode afirmar-se que toda a família tem um relevo significativo. São as relações entre esposos, pais e filha, o criado e os seus amos ou mesmo o apoio de Frei Jorge que estão em causa. Um drama abate-se sobre esta família e, enquanto Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena se refugiam na vida religiosa, Maria morre como vítima.
D. Madalena tinha 17 anos quando D. João de Portugal desapareceu na batalha de Alcácer Quibir. Durante sete anos procurou-o. Há catorze anos que vive com Manuel Coutinho. Tem agora 38 anos (17+21). Mulher bela, de carácter nobre, vive uma felicidade efémera, pressentindo a desventura e a tragédia do seu amor. Racionalmente, não acredita no mito sebastianista, que lhe pode trazer D. João de Portugal de volta, mas teme a possibilidade da sua vinda. É com medo que a encontramos a refletir sobre os versos de Camões e a sentir, como que em pesadelo, a ideia de que a sobrevivência de D. João destrua a felicidade da sua família. No imaginário de D. Madalena, a apreensão torna-se pressentimento, dor e angústia. É neste terror que se vê na necessidade de voltar para a habitação onde com ele viveu.

A École Dynamique


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