Na obra, encontramos
uma espécie de triângulo amoroso, motivado pelo auditório e constituído por
Tomás Manuel, Maria das Mercês e Domingos:
Tomás fica no topo do
triângulo, por causa do seu estatuto de chefe incontestado e incontestável,
situado num plano superior ao das outras duas personagens. Maria das Mercês e
Domingos aproximam-se por virtude do seu estatuto de inferioridade, ela por
pertencer ao género feminino, ele por ser criado, maneta e mestiço. Ao viverem
sob o domínio de Tomás Manuel, a aproximação dos dois irá promover um
desequilíbrio na narrativa: ao cometerem adultério, tudo rui à sua volta, ambos
morrem e, com a sua morte, brota um outro tempo para a população da Gafeira,
que passará a ter livre acesso à Lagoa.
Deste modo, podemos
concluir que a forma de Tomás Manuel era aparente, visto que bastaram duas
personagens de condição inferior e sem poder para mudarem todos os “valores
antigos” a que o Engenheiro teimava em se agarrar.
Por outro lado, este
adultério conduz a uma mudança que simboliza a ideia de que a ditadura também
poderia ser derrubada, desde que as pessoas se unissem contra o então governo
de Marcelo Caetano, também ele considerado o “delfim” de Salazar.