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Assunto: o
sujeito lírico descreve a beleza dos olhos de Helena, cuja magia e beldade é
comprovada pelo efeito que provocam: tornam belos todos os elementos da
Natureza, cativam os corações e a alma e o próprio amor lhes presta vassalagem.
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Tema: o poder
transformador de Helena / a beleza da mulher.
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Estrutura interna
• 1.ª parte (mote) –
Introdução: se Helena afastar os seus olhos do campo, nascerão abrolhos – a
beleza da Natureza depende dos olhos de Helena.
• 2.ª parte (vv. 4-12) – Os
efeitos / o poder dos olhos de Helena na Natureza:
▪ a verdura dos campos;
▪ acalma os ventos;
▪ transforma espinhos em flores;
▪ faz as ferras floridas;
▪ faz límpidas as fontes (isto é,
purifica-as).
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• 3.ª parte (vv. 13-21) – Os
efeitos dos olhos de Helena nas pessoas:
▪ trazem as vidas suspendidas – ou seja,
causam admiração e fascínio;
▪ prendem os corações – isto é,
seduzem (fazem com que os homens se apaixonem);
▪ uma alma pende cada pestana –
sentido equivalente ao verso 18.
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• 4.ª parte (vv. 22-24) – Os efeitos
dos olhos de Helena no Amor (Cupido), que se ajoelha, rendido à magia do olhar:
▪ rendição (v. 22);
▪ êxtase e espanto / surpresa (v.
24).
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Uma outra possível divisão do texto passará por considerar
que é constituído por duas partes: a primeira, situada entre os versos 1 e 13 e
constituída pelos efeitos dos olhos de Helena na Natureza, e a segunda, entre os
versos 14 e 24, compreendendo os efeitos nos seres humanos.
●
Caracterização dos olhos de Helena
▪ verdes: “A verdura […] deveis / aos
olhos de Helena”;
▪ serenos: “Os ventos serena”;
▪ belos: “faz flores d’abrolhos”; “Faz
serras floridas”;
▪ claros: “Faz claras as fontes”;
▪ luminosos: “na luz dos seus olhos”;
▪ meigos e sedutores: “Os corações
prende”;
▪ graciosos e divinos: “Com graça
inumana”
▪ amorosos: “Amor se lhe rende”.
● Retrato da Natureza
• A imagem que nos é apresentada no
poema corresponde ao locus amoenus clássico, isto é, uma paisagem
idealizada, uma espécie de paraíso terrestre, constituído por elementos como o
campo verdejante, um arvoredo vasto, flores coloridas e fontes claras (águas
límpidas e transparentes).
• Esta natureza mágica propicia o
amor, o encantamento sensorial e espiritual do Homem.
● Relação entre Helena e a Natureza
• Os olhos / a beleza de Helena influencia(m)
grandemente a Natureza: os seus olhos verdes e belos tornam a terra verde e
florida, que depois serve de alimento para o gado; a paz do seu olhar serena os
ventos, transforma os espinhos em flores e clareia a água das fontes.
• Por outro lado, estas
características prendem os corações, isto é, fazem o Amor render-se, numa
espécie de vassalagem amorosa (personificação do Amor – vv. 22 a 24).
• Em suma, a beleza da Natureza fica
a dever-se à beleza de Helena, que tem o poder de transformar o que se situa em
seu redor.
● Análise formal
• Classificação: vilancete
constituído por um mote de 3 versos (terceto) e três voltas de 7 versos
(sétimas).
• Métrica: versos de 5 sílabas
métricas – redondilha menor (medida velha).
• Rima:
» esquema rimático: abb / cddccbb
» o 1.º verso do mote é branco
» rima emparelhada e interpolada
» aguda (vv. 1, 5 e 6) e grave (os
restantes)
» consoante (todo o poema)
» pobre (“olhos” e “abrolhos”) e rica
(“amena” e “Helena”)
» imperfeita (“giolhos” e “olhos”)
● Recursos expressivos
• Reiteração do nome «olhos»
(5 vezes): enfatiza a importância, os efeitos e o seu poder transformador.
• Adjetivos: realçam a beleza
de Helena, dos seus olhos e respetivo poder.
• Verbos:
▪ Presente do indicativo:
torna mais viva a presença dos olhos de Helena.
▪ Futuro do indicativo:
exprime os efeitos desastrosos do eventual afastamento dos olhos de Helena (v.
13).
• Sinédoque: “seus olhos” (v.
2) – o sujeito poético atribui à mulher as maiores qualidades físicas e morais,
referindo-se-lhe através de uma das partes do corpo mais importantes e
expressivas – os olhos (são o espelho da alma).
• Apóstrofe (v. 5): identifica
o interlocutor do sujeito poético, que inconscientemente beneficia dos efeitos
transformadores dos olhos de Helena, para lhe dar conta do seu extraordinário
poder, capazes de colorir a verdura.
• Hipérbato (vv. 8 a 10): o
«eu» dá primazia à ação e ao objeto onde esta recaiu ao inverter a ordem
natural dos elementos da frase, relegando para o fim o sujeito (“O ar de seus
olhos”).
• Anáfora (vv. 9, 11-12):
enfatiza o poder transformador dos olhos de Helena sobre a Natureza.
• Enumeração + Assíndeto (vv.
8 a 12): o sujeito poético enumera os elementos da Natureza afetados e
transformados pelos olhos de Helena.
• Interrogação retórica:
salienta o poder dos olhos de Helena, que transita da Natureza para as vidas
humanas; leva-nos a refletir sobre os efeitos dos olhos nos seres humanos (se
eles conseguem ter todo aquele poder na Natureza, o que conseguirão fazer à
vida das pessoas?).
• Comparação (vv. 15-17):
destaca a quantidade de vidas que Helena traz apaixonadas pela luz dos seus
olhos; deste modo, reforça-se o efeito provocado por eles, equiparando um molho
de ervas ao conjunto de vidas presas pelo fascínio de Helena.
• Personificação (v. 22):
traduz a atitude de vassalagem do Amor face aos olhos de Helena.
• Sinédoque + Metáfora
+ Hipérbole (“De cada pestana / Uma alma lhe pende” – vv. 20-21):
reforço do poder de Helena através da referência às pestanas enquanto agentes de
sedução e magia (as pessoas ficam suspensas da beleza do seu olhar). As
pestanas representam os olhos e estes simbolizam a própria Helena.