Português: A Sibila
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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Capítulo XIX de A Sibila

 1. Germa, herdeira universal da Vessada
 
            O testamento de Quina (um testamento é um desejo / uma forma de domínio para além da morte) é feito em favor de Germa: “O testamento indicou Germa como herdeira absoluta, com exceção do usufruto de duas propriedades adquiridas depois da morte de Maria, e que se destinava a Custódio.” (pág. 238). É, pois, um ser feminino que assume “um nome”, “uma raça”, “um empréstimo”. Recorde-se que Germa é filha de Abel, o filho de F. Teixeira e Maria da Encarnação que foi registado com o sobrenome materno, facto que reforça a continuidade pelo feminino.
            Germa não é só a dona do domínio físico da propriedade, mas herdeira de um discurso de impulso, curiosidade, alegria, impressão.
 
 
2. A morte de Estina e o casamento de Inácio Lucas com “uma velha parenta sua” (p. 241).
 
 
3. Desenlace trágico de Custódio, vítima da sua demência (pp. 244-245).
 
 
4. Fim da analepse: a evocação de Quina.
 
 
5. Quina, paradigma do ser humano: “Ela era, de resto, a mais profunda e inegável expressão do humano. A vocação para ultrapassar o humano está em todos nós, assim como a tentação para o medíocre.” (p. 246).
 
 
6. Quina e Germa apresentadas em paralelismo (antepenúltimo e penúltimo parágrafos). De Quina, que viveu “equilibrando-se” a Germa, que tem “o génio do equilíbrio”, transmite-se a “vez” e o “tempo” de “traduzir a voz da sua sibila”, mas pressente-se aqui a dívida sobre a capacidade dessa tradução por causa da “degenerescência dos tempos” ou por outras razões informuladas e infinitas: o modo finalizante, “porque… porque…”, deixa o romance aberto.
 

Capítulo XVIII de A Sibila

             Tema: a morte de Quina.
 
1. A mudança operada em Custódio: comparação organizada em função da relação entre dois eixos temporais:

 

ANTES

 

DEPOIS
 
. Ausências de casa.

. Membro de bandos.

. Noitadas.

. Relação crispada com Libória.

 

. Indiferença pelo trabalho.

. Inoperante.

. Inconsciência pelos valores materiais.

quadro de anormalidade

 

 
. Discurso de reiterada presença no quarto de Quina ou noutro lugar da casa.

. Permissibilidade manhosa.

. Cúmplices jogos de cartas.

. Zeloso administrador.

. Multiplicação do pequeno trabalho.

. Consciência da propriedade.

 

quadro de repentina lucidez
 
 
2. Pressão de Custódio sobre Quina, condicionado pela noção de perda:
. sucessão de elocuções:
- “Gosta de mim?”;
- “Ajude-me”;
- “Esta casa, esta casa”;
- “Vossemecê não me deixa tudo?”;
- “Deixe-me tudo”;
- “É a minha mãezinha, a minha pomba branca, e vai-me vender ao mundo. Tenha dó de mim.”
 
            As falas de Custódio em discurso direto exteriorizam uma linha de patético que o desregrado dos gestos ilustra e sublinha.
 
 
3. Noção de propriedade (pág. 220) – ver definição de outros capítulos: “… aquela casa não era sequer a ela, Quina, que pertencia. Era a um nome, a uma raça…” (pág. 230).
 
 
4. Morte de Quina ao amanhecer.
 

Capítulo XVII de A Sibila

 1. O tempo cronológico inscrito no corpo de Quina: "Ainda todo o mês ela andou a pé" "recolheu ao leito" "sentiu-se repentinamente mal" "começou a agonia".
 
 
2. A recordação do passado – o tempo, uma medida inversa
 
            A memória percorre as partes vividas, confluentes numa espécie de cristalização das pequenas coisas do afeto integrador de retratos, locuções, pequenos gestos, peças de vestuário, objetos, passos, sons, atmosferas – recordar coincidente da memória de Quina e da memória do texto.
            O processo de recordação é uma espécie de alucinação sensual que a linguagem modalizante, dada através da expressão como se e do imperfeito do conjuntivo, estrutura.
 
            2.1. A mãe:
- irónica;
- narrando as proezas do seu Chico e desculpabilizando-o: "não tivera culpa de ser bonito".
 
            2.2. Abílio: era como se fosse repetida a morte de Abílio (cap. III).
 
            2.3. Estina (cap. III, no depois do adeus de Luís Romão):
- rosto impenetrável;
- intratável;
- dura.
 
            2.4. Narcisa Soqueira (cap. II):
- imunda;
- a sua pitoresca viagem (cap. III);
- a bronquice da filha (cap. IV).
 
            2.5. João (cap. IV):
- adolescente;
- os perdigueiros mosqueados.
 
            2.6. O retrato de Abílio parecido com o pai:
- orelhas acabanadas;
- pescoço alto;
- pomo de Adão saliente;
- olhos vítreos;
- mãos ossudas e longas.
 
            2.7. Pai: "Toda a casa, para Quina, era a doce evocação do pai":
- a voz quente e paciente, "um tanto trocista";
- pequeno, seco e ágil;
- felino;
- astuto;
- ternurento e generoso;
- presença calma e indolente;
- inconstante, pródigo, vulnerável aos vícios;
- causador da ruína da casa;
- terno e terrível, prudente e astuto, sarcástico.
 
                        2.7.1. A influência do pai:
- na mãe:
- "O génio justiceiro e prudente de Maria obscurecia-se";
- "os seus ralhos perdiam a autoridade";
- a relação com Quina:
. "não o encarava nunca";
. "O seu amor por ele era feito de temor e duma ousadia infinita e secreta...";
- a compreensão do pai;
- "o galanteio, o consolo, a exortação e a incomensurável ternura". (Note-se a erótica cumplicidade.)
 
 
3. Novo retrato de Custódio
. depravado;
. marcado por taras;
. brutal;
. criminoso;
. melindroso: "Gostava de petiscos, que exigia a diário, e sem os quais se enfurecia e chegava a chorar de despeito";
. 24 anos;
. alto;
. vigoroso;
. cuidava-se como uma mulher;
. a beleza estava em declínio;
. desdenhava os amores;
. vida pimpona, vadia e melancólica;
. não se divertia;
. era cruel – o episódio das rãs;
. não tinha amigos, depois do Morte;
. perturbado, face ao tipo de relação mantida com Libória, que lhe explora a avidez e lhe descreve uma galeria de tipos aldeãos e anormais que usa como expressão de superioridade à situação em que ficará depois da morte de Quina.

Capítulo XVI de A Sibila

 1. Visita de Quina à cidade
 
            - Casa de Abel
 
1.1. Ar de viagem casual, de romagem pretexto para regressar depressa.
 
1.2. Quina e o espaço citadino:
 
1.3. Caracterização de Germa
- trinta e três anos
- afastamento da mentalidade burguesa citadina/dos valores do pai;
- intelectual inativa:
. a ociosidade;
. o tédio;
. a recusa dos visíveis facilmente trocados ou mercadejáveis;
. o desejo da paz da obscuridade (p. 198);
. a reflexão sobre a infância;
. a revisitação à infância;
- traços de hereditariedade das mulheres da casa da Vessada: "Ela possuía, em parte, o temperamento de Estina e se sua avó...";
- aristocrata de espírito;
- as semelhanças com Quina:
. as contradições;
. a impertinência;
. o individualismo
 
1.4. Quina interesseira: "O plano dela para conseguir a quinta de Augusto não é duma pessoa que se sente morrer." (p. 191) – a compra dos campos de Augusto.
 
1.5. Augúrio: "A solução destas vidas é sempre uma herança" (p. 193).
 
 
            - Casa de João
 
1.6. Sentimentos de Quina
 
1.7. Caracterização da mãe de Germa
- orgulhosa
- "afogada no romantismo"
- resignada
- insensível
- religiosa
- teimosa
- praticante profusamente da caridade, da justiça
 
1.8. Observações
 
            . Pela primeira vez na obra, Quina sai completamente para fora do universo rural: vai à cidade.
 
            . Na 1ª parte do capítulo, é desenvolvido um conjunto de pares comparativos:
- casa de João/casa de Abel (cap. anterior);
- mulher de João/mulher de Abel.
            Quina funciona como terceiro termo nesta comparação, funcionando como elemento que observa e sofre os efeitos dos outros termos: constrangimento em casa de Abel, superioridade em casa de João.
            No segundo caso, as caracterizações de ambas as mulheres estão de acordo com os cenários em que se movimentam. Também aqui o segundo termo leva vantagem relativamente ao terceiro, visto que para Quina o importante é o cunho humano da mulher de João e não a falta de "adesão humana" da mulher de Abel.
 
            . A ausência da referência do nome das cunhadas de Quina é símbolo de exclusão, de um clã que se define pelo fechamento.
 
 
2. Retorno à casa da Vessada
 
            2.1. Presságio: "Pela primeira vez, Quina via aquela casa fechada e vazia, como amarrotada entre a treva e já feita ruína, recordação, passado. E teve a impressão de estar a assistir a alguma coisa irremediavelmente acontecida e afastando-se dela..." (p. 200) última desorbitação de Quina.
 
            2.2. Sentimentos de Quina
- a alegria;
- a felicidade;
- a observação familiar de pessoas, objetos, gestos, sons, cheiros, ventos;
- a ternura para com Custódio.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Capítulo XV de A Sibila

             1. A doença de Quina
 
1.1. "Uma pneumonia prostrou Quina".
 
1.2. A tendência popular para atribuir alcunhas: "Libória, a criada, por alcunha a Sancha...".
 
1.3. Breve retrato de Inácio Lucas: "muito velho e muito trôpego".
 
 
2. Retrato de Custódio
- voltava tarde para casa;
- saía diariamente depois da ceia, ficando por vezes dois ou três dias sem vir a casa;
- libertino;
- fumava muito;
- jogava (p. 178);
- não bebia, mas roubava o vinho para Libória.
 
 
            3. Quina e a família:
durante a sua doença, apenas o cunhado, Inácio Lucas, e Estina a visitam e cuidam de Quina, mas até Estina revela grande contrariedade pela ausência forçada de casa: "Apesar de estreitamente ligadas de coração, Estina sofreu como um exílio aquela época em que esteve afastada dos hábitos..." (p. 183). Todos os outros ignoraram a sua doença e não a visitaram, "porque [Quina] não revelara a seriedade da doença e (...) porque, exceto Estina, os outros se tinham tornado bastante indiferentes, minados por despeitos, ainda que, num plano geral, a estimassem..." (p. 184). No entanto, o seu orgulho não lhe permitiu que confessasse o sofrimento que a indiferença da família lhe causava.

            Mais tarde, Abel visita-a de surpresa nove anos depois do último contacto entre ambos, e constatando a sua debilidade física ("Nunca mais recobrou por inteiro a saúde." – p. 186), insiste para que o acompanhe e se trate na cidade, que a irmã recusa: "... isto é só velhice." (p. 186).

            Note-se como, novamente, se revela a oposição entre o carácter das mulheres da Vessada e dos homens, dúctil e superficial ["Abel (...) era de fácil comoção..." – p. 187].

 
            O materialismo e a ambição de Abel não tardam, todavia, a revelar-se:

. "... magicara adular Quina por intermédio do rapaz...";

. "E, já não podendo conter mais o rancor que, havia anos, acumulava, vazou ali todas as suas queixas, acusou-a de o arruinar, de o lograr (...)" (p. 188);

. "visitando Estina, intrigando contra a irmã que – dizia – o fazia pobre e derramava a rodos o património para satisfazer os caprichos daquele rapaz, mostrou-se magoado e cheio de generosas apreensões..." (p. 188).

            Contudo, e confirmando o espírito de união das mulheres da casa da Vessada já antes demonstrada, Estina, numa atitude "maternal e risonha", limita-se a observar "aquele irmão, bonito, mentiroso, aventureiro..." que "nunca lhe parecera ter crescido". (p. 188)

Capítulo XIV de A Sibila

             1. Quina

- a afeição por Custódio;

- a debilidade física (p. 164);

- última intervenção de Quina como medianeira (p. 165);

- solitária;

- desorbitação de Quina ou o Prometeu libertado (p. 170).

 
 
            2. Retrato de Custódio adulto

- "fizera-se homem";

- degenerado;

 - ingenuidade bronca da criança que teria sido;

- perverso;

- valdevinos;

- liga-se ao crime, integrando o grupo do Morte (p. 171);

- apesar da sua escassa capacidade intelectual, Custódio manifesta, todavia, alguma sensibilidade:  quando o Morte e o seu bando são julgados e condenados, tendo ele permanecido na obscuridade graças ao silêncio dos colegas de banditismo, chorou muito dois dias (p. 173);

- o episódio do pombal (p. 175) revela-nos uma faceta de doçura, carinho e ternura da parte de Custódio.

 
 
            3. Os símbolos
 
            . O pombal (episódio dos borrachos) ≠ o episódio das rãs –  a fragilidade / ternura de Custódio e, simultaneamente, a sua violência primitiva.

Capítulo XIII de A Sibila

             1. Caracterização de Abel
 
            As primeiras referências aos três filhos de Francisco Teixeira e Maria da Encarnação (Abílio, João e Abel) são negativas e caracterizam-nos por oposição à irmã, Quina: fracos, como todos os homens, parecidos com o pai: "Mas todos eles eram muito do pai; volúveis, fracos com aduladores e com mulheres, moralmente a tender para a cobardia das responsabilidades, muitos jogos de argúcia para sofismar a fé que se quer atraiçoar".

            Abel, que não gostava de trabalhar, era, todavia, gastador, instável, amante do luxo e da aventura, e gostava de frequentar ambientes requintados, de preferência onde houvesse "meninas para casar" (p. 52). O gosto pela aventura e pelo luxo, a superficialidade aproximavam-no do pai e, quiçá por isso, da simpatia da mãe (pp. 61-62).

            Casou rico e, inicialmente, não era muito exigente com Quina relativamente à quota que esta lhe devia pagar anualmente pela exploração dos bens. Mantinha na vida e nos negócios o espírito de jogo de azar, como o pai (p. 88).

            Dado que Quina não tinha descendentes, Abel, duma forma perspicaz, chama a atenção de Germa para a necessidade de ser agradável à tia e ele próprio age de uma forma que considera adequada para que a filha seja a herdeira de Quina (p. 123).

            O materialismo de Abel (evidente na "caça à herança" da irmã) contrasta com o pensamento de Germa (p. 142), mas manter-se-á sempre "um diletante da experiência", que encara a vida como um jogo, à semelhança do pai e da irmã, Quina (p. 150).

            Ao contrário de João, que não queria que lhe falassem de Quina, Abel preocupa-se imenso com a herança e inquieta-se com a presença de Custódio e o carinho que a irmã lhe dedica, aponto de discutir com ela. Também a sua situação familiar e económica é diferente da de João. Na verdade, é lógico que dele provenha a herdeira universal de Quina. Só Germa dava garantias de continuidade e respeito pelo «sangue». Todavia, o que ressalta é a ambição desmedida de Abel.

 
 
            2. Caracterização de João
 
            Tem em comum com Abel o facto de não gostar de trabalhar, mas fora esta semelhança, diferem em tudo o mais e as suas vidas vão seguir rumos diferentes.

            João era, sobretudo, caçador, trabalhava pouco, mas, ao contrário do irmão, não era gastador.

            Casou com uma mulher burguesa, proprietária com pretensões fidalgas, feia e bronca, que desagradou muito a Maria da Encarnação: "Ela é uma lorpa, nem do campo nem fidalga, que não sabe ser nem uma coisa nem outra" (p. 69). O que lhe desagradava sobretudo na noiva do filho era a falta de autenticidade, o artificialismo, a pobreza do espírito.

            É por influência da esposa que João vai viver para a cidade e vende a Quina a sua parte da herança. Esta mudança para a cidade e a troca dos bens rurais por dinheiro traduzem o seu aburguesamento. Mas a vida citadina será medíocre e João rapidamente se arrependerá do negócio. A mulher está cada vez mais feia e ridícula. (pp. 122-123)

            Aproximadamente quinze anos depois, quando Abel o procura, João vive no último andar (84 degraus) de um prédio velho, propriedade da mulher, numa situação económica débil ("uma quase pobreza" – p. 149).

            À medida que o tempo passa e se reconhece pobre, enquanto Quina enriquece, João começa a odiá-la por se sentir ludibriado: "Parecia gravemente ofendido (...), mas, mesmo na indignação, era mais sofredor do que agressivo (...). Era um homem fraco, conciliador e liberal na fartura, mas sujeito à inveja e a torturada maledicência quando o êxito de alguém lhe revelava mais profundamente a própria impotência". (pp. 151-152)

            A fraqueza e o carácter "sofredor" revelam-se também no acervo (ultra-)romântico da sua biblioteca. Não tendo filhos legítimos [simbolicamente, a esposa era estéril, como a sua opção pela cidade, a recusa da terra (= fecundidade), o artificialismo, a falta de autenticidade], João, em consonância com as suas leituras "românticas", teve dois bastardos de uma criada.

            Tendo sido sempre um indigente, que ocupa o seu tempo na caça e, mais tarde, no quintal, João acaba por ser dominado pela mulher, intelectualmente medíocre, pretensiosa e ridícula, que o torna ainda mais amorfo e irresponsável. (pp. 154-155)

 
 
            3. Domínio de Custódio sobre Quina: "Ele aprendeu depressa a dominar Quina – ora pelo carinho de menino, ora pela grosseira arremetida que ela temia muito pela suspeita de escândalo que podia ocorrer aos vizinhos.". (p. 153)
 
 
            4. Caracterização de Germa
 
            Com a devida diferença de cultura, Germa segue as mesmas opções que, anteriormente, já tinham sido tomadas por Quina: conceção do casamento como um negócio e submissão a seres inferiores – os homens: "Aquela rapariga de vinte e seis anos, que não casara ainda e que não parecia disposta a transacionar legalmente o seu corpo e todos os seus dotes de educação e mentalidade por uma situação vantajosa para toda a família, parecia-lhe insolente e digna de reproche.". (p. 155)

            Em suma, estamos perante um esboço que aproxima Germa e Quina: solteiras, independentes, insolentes. Este estado de espírito opõe-se diretamente ao do pai, ambicioso e materialista: "Ele entretinha-se, às vezes, a depreciar os seus dotes, com simulado intuito de desafio, para a ver reagir e demonstrar uma atividade útil das suas qualidades – casando-se depressa, procurando um partido indiscutível, ainda que fosse como vingança.". (p. 155)

            É uma intelectual, aristocrata de espírito, que um grande afastamento da mentalidade burguesa citadina do pai e de Bernardo e a aproximação da «aristocracia "ab imo" da terra»: "Tenho espírito demais (...)" até "sessenta dias". (p. 155)

 
 
            5. Retrato de Custódio
 
            Na adolescência ("Aos doze anos..."  -  p. 156), torna-se delinquente ("... moldava em estearina chaves falsas, para abrir as gavetas onde suspeitava valores, que trocava sempre com prejuízo..." ;  "Tornou-se conhecido dos ourives de feira, recetadores de roubos." – p. 156). Chega a roubar a própria Quina, mas esta tudo lhe perdoa. Mantém-no na ociosidade e oferece-lhe até um cavalo branco: "Pobrezinho, és desatinado e tolo, há muitos bem melhores do que tu..." (p. 157); "Custódio roubava-a, ela apenas se precavia mais, sem o repreender; insultava-a, proferindo ameaças, ela optava pelo silêncio." (p. 157). Mesmo quando a sua crueldade o leva a matar "com um pontapé o cãozito rafeiro, cego já e que Quina tinha salvo dum ribeiro havia muito tempo", ela toma outra atitude que não o isolamento e o silêncio.

            A posição tomada para com Custódio compreende-se pelo ascetismo a que Quina aspira:  elevação humana, abandono da vulgaridade dos que a rodeiam, vaidade absoluta e egocentrismo, ostentação dos seus méritos, enternecimento por uma causa humana.

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