Português: 10/01/2022 - 11/01/2022

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Biografia de Platão

 

428 a.C.     Nasce em Atenas, filho de Ariston e de Perictione. É originário de uma família aristocrática e o seu nome é Aristócles, tal como o seu avô, no entanto desde cedo é chamado de Platão, palavra grega que designa um indivíduo de ombros largos e testa ampla.
 
408 a.C.    Conhece Sócrates e torna-se seu discípulo.
 
399 a.C.    Dá-se o processo e a condenação à morte de Sócrates, um processo que marcou profundamente a vida e o pensamento de Platão. Após a morte do Mestre, refugia-se em Mégara, onde permanece algum tempo.
 
399/8 a.C.  Redige as suas primeiras obras, que se tornam conhecidas por «diálogos socráticos».
 
394 a.C.    Ocorre a batalha de Corinto, em que Platão participou.

388 a.C.    Faz a primeira viagem à Sicília, com o objetivo de educar o rei Dionísio I.

387 a.C.    Tendo sido mal sucedida a sua primeira viagem à Sicília, regressa a Atenas. Dedica-se à educação dos jovens e funda a Academia.

385 a.C.    Esta é a data provável em que é escrito o Fédon.

367 a.C.    Dá-se a morte de Dionísio I e a subida ao trono do seu filho Dionísio II. Platão deixa a Academia e retorna à Sicília. Regressa neste mesmo ano a Atenas e retoma o seu lugar na sua Academia, que passa a ser frequentada por Aristóteles.

361 a.C.    Vai pela terceira vez em viagem à Sicília e regressa a Atenas.

353 a.C.    Escreve a Carta VII, que constitui uma fonte importante de dados biográficos.

348/7 a.C. Morre aos 80 ou 81 anos, altura em que escrevia a obra As Leis.

Análise de Madame Bovary

 I. Contexto


II. Ação


     1. Resumo

     2. Capítulos

          * Parte I

          . Capítulo I: resumo

          . Capítulo II: resumo

          . Capítulo III: resumo


          . Capítulo IV: resumo

          . Capítulo V: resumo

          . Capítulo VI: resumo


          . Capítulo VII

          . Capítulo VIII

          . Capítulo IX


          * Parte II

          . Capítulo I: resumo

          . Capítulo II: resumo

          . Capítulo III: resumo


          . Capítulo IV: resumo

          . Capítulo V: resumo

          . Capítulo VI: resumo


          . Capítulo VII: resumo

          . Capítulo VIII: resumo

          . Capítulo IX: resumo

Resumo do capítulo VII da Parte II de Madame Bovary


            Após a partida de Leon, Emma volta a cair em depressão. Ela mostra-se mal-humorada, irritável, nervosa e miserável. Sonha constantemente com Leon e lamenta não ter cedido ao seu amor por ele. Neste estado, conhece um rico e bonito proprietário de terras chamado Rodolphe Boulanger, que traz um criado para ser tratado por Charles. Durante o tratamento, Justin, assistente de Homais que está apaixonado por Emma, desmaia ao ver o sangue. Enquanto a protagonista cuida dele, Rodolphe é arrebatado pela sua beleza e começa a conspirar para a seduzir.

Análise dos capítulos IV a VI da Parte II de Madame Bovary


             Na conclusão do capítulo IV, ficamos a conhecer melhor os sentimentos de Leon por Emma. Deste modo, descobrimos que ele se envergonha da sua cobardia por ser incapaz de declarar o seu amor por ela, que lhe escreveu e rasgou várias cartas de amor e que se sente frustrado por ser casada.
            Flaubert satiriza a ideia romântica do amor como uma força transformadora avassaladora da natureza justapondo imagens de furacões e tempestades com um dos efeitos mais mundanos do clima, os danos causados pela água. Ao apresentar a sua descoberta de uma mossa na parede num tom irônico de arrependimento, zomba da falta de conhecimento prático de Emma, bem como da sua incapacidade e falta de vontade de conceber o real. O seu conflito está contido nesta passagem. Ela anseia por ideais românticos irreais e a princípio ignora e depois dececiona-se com as realidades imperfeitas da vida, como a decadência.
A luta de Emma com a sua consciência, enquanto tenta fazer o seu melhor para se tornar uma esposa e mãe obediente, mesmo quando é tentada por um romance com Leon, em última análise, equivale à sua indulgência com o papel romântico de mártir. Mas quando empurra a sua jovem filha para longe de si num ataque de fúria, não pode continuar a fingir que é uma mulher de família obediente. Ela é salva de uma infidelidade com Leon apenas por pela sua decisão de partir para Paris. Por outro lado, o incidente com Berthe demonstra a sua incapacidade de abraçar os instintos maternais. Pouco antes de empurrar a filha, encara-a com desgosto, considerando-a mais como um objeto estranho – um móvel ou um animal – do que como sua própria filha.
A conversa entre Emma e o padre oferece a Flaubert a oportunidade para troçar da natureza superficial da religião entre a burguesia. Quando procura a ajuda do padre, fá-lo porque necessita mesmo dela. Porém, o abade Bournisien está preocupado não com assuntos espirituais, mas com banalidades mesquinhas: a desordem dos seus alunos e as suas rotinas diárias. Quando Emma diz: “Estou a sofrer.”, ele entende-a mal e assume que ela se refere ao calor do verão. A cena é bem-humorada, mas também critica severamente a Igreja, implicando que ela só pode fornecer confortos superficiais e é incapaz de ministrar a necessidade espiritual bem real de que a protagonista necessita.
Madame Bovary tornou-se uma obra muito famosa em parte por causa da sua técnica narrativa inovadora. Flaubert combina o seu estilo de prosa com narrativa com notável precisão. Quando Emma está entediada, o texto parece arrastar-se; quando ela está noiva, voa. Flaubert amplia o alcance simbólico do romance com o desenvolvimento de Homais, personagem perfeitamente concebida para representar tudo o que Flaubert odeia na nova burguesia. E ele introduz um prenúncio quando o sinistro Lheureux sugere a Emma que é um agiota.

Resumo do capítulo VI da Parte II de Madame Bovary


             Emma ouve o badalar dos sinos da igreja e decide procurar ajuda aí. O pároco, o abade Bournisien, preocupado com os seus próprios problemas e com um grupo de meninos indisciplinados na sua aula de catecismo, ignora a profunda angústia de Emma. Posteriormente, num acesso de irritabilidade, Emma empurra Berthe para longe de se, e a criança cai e corta-se, no entanto diz que a filha estava a brincar e que caiu acidentalmente. Emma está frenética e abalada, mas Charles eventualmente acalma-a.
Leon decide ir para Paris, para estudar Direito. Ama Emma, mas os sentimentos dela tornam o romance impossível, e ele está totalmente entediado em Yonville. Por outro lado, o homem também é tentado por aventuras românticas que pensa que o aguardam em Paris. Quando se despede de Emma, ambos ficam desajeitados e quietos, mas emocionam-se. Depois da sua partida, Charles e Homais discutem as atrações e as dificuldades da vida na cidade.

Resumo do capítulo V da Parte II de Madame Bovary


             Emma observa Leon, Homais e Charles e decide que o marido é tão banal que a enoja. Ela percebe que Leon a ama, e, quando se voltam a encontrar, comportam-se ambos de forma tímida e desajeitada, sem saber como proceder. Emma está constantemente nervosa e começa a perder peso. Imagina-se uma mártir, incapaz de se entregar ao amor por causa das restrições que o facto de ser casada lhe impõe. Ela desempenha o papel de esposa obediente de Charles e traz a filha, Berthe, de volta para casa da ama de leite. No entanto, o desejo por Leon torna-se muito mais forte do que o seu desejo de ser virtuosa, e entrega-se à autopiedade. Começa a chorar e culpa Charles por toda a sua infelicidade. Um dia, um lojista chamado Monsieur Lheureux dá a entender que ele é um agiota, caso ela precise de um empréstimo.

Resumo do capítulo IV da Parte II de Madame Bovary


             Durante o inverno, os Bovary têm o hábito de passar as noites de domingo na casa de Homais. Aí, Emma e Leon desenvolvem um forte relacionamento. Cada um sente-se fortemente atraído pelo outro, mas nenhum deles tem coragem de admitir o sentimento. Trocam pequenos presentes, e as pessoas da cidade têm a certeza de que são amantes.

Análise dos capítulos I a III da Parte II de Madame Bovary


             A superficialidade do romantismo de Emma fica clara nas suas interações com Leon, que compartilha do seu amor pelos sentimentos e paixão excessivos. A conversa de Emma com Leon no jantar é banal e sentimental – eles discutem como os livros os transportam para longe das suas vidas quotidianas –, mas para os dois parece arrebatadora e significativa. Ela desafia o seu casamento estável, todavia insatisfatório, com um relacionamento baseado em declarações falsamente profundas, em vez de sentimentos verdadeiros.
O nascimento da filha de Emma sublinha o materialismo dos seus sentimentos, mas também introduz alguns dos argumentos feministas do romance. Ela deseja ser uma figura materna apenas quando parece que o papel pode ser glamoroso. Assim que percebe que não pode comprar roupas e móveis caros para a bebé, o seu interesse desvanece-se, e vemos que o seu único interesse pelo filho constitui um meio para realizar os seus próprios desejos. Emma sonha ter um filho, porque acredita que ele terá o poder que lhe falta a ela. Essa declaração franca mostra que Flaubert estava ciente e talvez desaprovasse as liberdades concedidas às mulheres no final do século XIX. Emma observa que “um homem, pelo menos, é livre; ele pode explorar todas as paixões e todos os países, superar obstáculos, saborear os prazeres mais distantes. Mas uma mulher é sempre prejudicada.” Os amantes de Emma desfrutam sempre de uma liberdade que ela não possui.
            A descrição de Flaubert do mundo mundano que rodeia Emma é realista, mas um tanto exagerada. Ele usa uma linguagem poética e florida para descrever Yonville, referindo que “o campo é como um grande manto desdobrado com uma capa de veludo verde bordada com uma franja de prata”. Mas Flaubert também reconhece a banalidade do cenário quando se refere a “uma terra mestiça cuja linguagem, como a sua paisagem, não tem sotaque nem caráter”. Ao descrever a mesma cena de maneiras contrastantes, Flaubert produz dois efeitos. Primeiro, diferencia-se dos seus antecessores românticos, que teriam avaliado uma cena monótona como indigna de sua atenção. Em segundo lugar, faz contrastar a banalidade que Emma vê com a beleza que um estranho pode perceber. Flaubert estabelece assim que, embora a protagonista possa estar certa sobre o tédio da vida na aldeia, também é incapaz de captar uma camada de beleza que a sua perspetiva é muito estreita para abarcar.
            Os aldeões que cercam Emma proporcionam-nos um contexto para entender historicamente o estatuto social de Emma. A ama de leite que ela visita, por exemplo, mora numa pequena cabana com as crianças de que cuida. Quando vê a protagonista, implora por pequenas necessidades – um pouco de café, um pouco de sabão, um pouco de conhaque. Embora Emma continue infeliz porque não pode socializar com a aristocracia em Paris, a sua visita à ama de leite mostra-nos que está vive, comparativamente, bem. A estalajadeira da aldeia, por sua vez, é uma mulher prática cujas únicas preocupações são se a refeição será servida a horas e se os bêbados que frequentam a pousada vão destruir a mesa de bilhar. Embora ela não tenha imaginação, também representa algo que Emma não: uma mulher que aceita e gosta da sua vida.

sábado, 29 de outubro de 2022

Resumo do capítulo III da Parte II de Madame Bovary


             Leon pensa em Emma constantemente. A prática médica de Charles na nova área de residência começa devagar, mas ele está animado com a chegada do filho. Finalmente, o bebé nasce. É uma menina, contrariando os desejos de Emma. Põem-lhe o nome de Berthe, e os pais de Charles ficam com eles durante um mês após a festa de batizado. Um dia, Emma decide visitar o bebé na casa da ama de leite, que lhe pede algumas comodidades extra. No caminho de regresso, Emma sente-se fraca e pede a Leon para a acompanhar. Entretanto começam a espalhar-se rumores pela vila de que os dois estão a ter um caso amoroso. Após a visita a casa da enfermeira, os dois dão um passeio junto ao rio, durante o qual se descobrem apaixonados um pelo outro.

Resumo do capítulo II da Parte II de Madame Bovary


            O correspondente de Charles em Yonville, um boticário pomposo e detestável chamado Homais, janta na pousada com os Bovary recém-chegados. O dono da pensão, um jovem advogado chamado Leon, é convidado a juntar-se-lhes. Enquanto Charles e Homais discutem medicina, Emma e Leon passam boa parte da refeição descobrindo as suas afinidades. Ela descobre que o interlocutor também adora romances e ideais elevados. Compartilhando essas inclinações, os dois sentem uma proximidade imediata e acreditam que a sua conversa é bastante profunda. Quando os Bovary chegam à sua nova casa, Emma espera que a sua vida mude para melhor e que a infelicidade finalmente diminua.

Resumo do capítulo I da Parte II de Madame Bovary


             A segunda parte da obre inicia-se com uma descrição de Yonville-l'Abbaye, a cidade para a qual os Bovary se estão a mudar. Os espaços mais importantes da cidade são a pousada Lion d'Or, a farmácia de Monsieur Homais e o cemitério, onde o coveiro, Lestiboudois, também cultiva batatas. O povo da aldeia aguarda a chegada da carruagem da noite, que de se dá já tarde, transportando Charles e Emma, dado que foi vítima de um atraso motivado pelo facto de o pequeno cão de Emma ter fugido durante a viagem.

Análise dos capítulos VII a IX de Madame Bovary


             A narrativa é contada totalmente pela perspetiva de Emma, o que permite ao narrador começar a desenvolver o conflito básico inerente à sua situação: ela é incapaz de aceitar o mundo como ele é, mas não pode mudá-lo para ser como deseja que seja. Agora que está casada com um idiota da classe média, não aceita o seu destino, por isso mergulha na fantasia, enquanto a pressão da sua constante revolta contra a realidade a deixa inquieta, mal-humorada e, eventualmente, fisicamente doente.
            A representação do baile por parte de Flaubert e os eventos que se seguem mostram o contraste irónico entre a experiência de Emma e a realidade. Flaubert apresenta, em simultâneo, a realidade externa de como Emma olha para o baile e a realidade psicológica de como o evento lhe parece. Ela está tão feliz que não percebe que ninguém no baile lhe presta atenção, e a sua dança insignificante com o visconde torna-se, na sua imaginação, um tremendo momento romântico. Na verdade, esta personagem continua a ignorar o amor bem-intencionado do seu marido bem-humorado, mas insípido, em favor das suas lembranças do baile passadas várias semanas depois de todos já o terem esquecido. Quando Charles decide mudar-se para Yonville na tentativa de salvar a saúde de Emma, esta, enquanto faz as malas, atira a sua coroa de noite para o lume. Este gesto simboliza a sua rejeição ao casamento e ao mundo complacente da classe média que, na opinião dela, a aprisionou.
Os olhos preconceituosos da personagem intensificam a atenção realista de Flaubert aos detalhes, nomeadamente os detalhes da estupidez de Charles são muito ampliados. Por exemplo, o narrador descreve cada barulho que faz quando come. Flaubert também dedica vários parágrafos a uma descrição da rotina diária extremamente aborrecida de Emma. O seu tédio torna-se um dos temas do romance e um meio de desenvolver a personagem. O foco do autor no tédio marca outro dos momentos em que o romance evolui do Romantismo.
A relação de Emma com as suas raízes agrícolas também é explorada nesta seção. Flaubert coloca uma lembrança do passado no meio da fantasia noturna de Emma, para mostrar que ela nunca poderá, realmente, fugir às suas origens. No baile, permite-se esquecer que não é um membro privilegiado do mundo da classe alta que está a «visitar», mas, quando um criado parte o vidro de uma janela, ela vê os camponeses do lado de forma, o que lhe traz à memória a vida simples no campo da sua juventude.

Resumo do capítulo IX de Madame Bovary


             Fixada na sua caixa de charutos e nas revistas femininas da moda, Emma fantasia com a vida da alta sociedade em Paris, enquanto cresce o seu desânimo e frustração e se mostra mal-humorada e caprichosa com o marido. Embora os negócios de Charles prosperem, a esposa fica cada vez mais irritada com a sua falta de modos e estupidez. À medida que a sua inquietação, o tédio e a depressão se intensificam, ela fica fisicamente doente. Esforçando-se para a curar, Charles decide que se devem mudar para Yonville, uma cidade que precisa de um médico. Antes da mudança, porém, Emma descobre que está grávida. Enquanto faz as malas, ela deita o seu buquê de noiva seco no fogo e vê-o arder.

Resumo do capítulo VIII de Madame Bovary


             Embora encantada com a atmosfera de riqueza e luxo do baile, Emma fica constrangida com o marido, que perspetiva como um idiota desajeitado e sem sofisticação. Ela está rodeada por nobres e mulheres ricos e elegantes, entre eles um velho que foi um dos amantes de Maria Antonieta. Quando o salão de baile fica muito quente, um criado parte as janelas para deixar entrar o ar. Emma olha para fora e vê camponeses olhando boquiabertos; lembra-se da sua vida na quinta, que agora parece um mundo distante. Um visconde dança com ela, que se sente como se tivesse sido enganada da vida para a qual nasceu. A caminho de casa, o mesmo visconde passa por eles na estrada e deixa cair uma caixa de charutos, que Emma guarda. De volta a Tostes, mostra-se zangada com todos ao seu redor.

Resumo do capítulo VII de Madame Bovary


            Durante a lua de mel em Tostes, Emma sente-se dececionada por não estar num chalé romântico na Suíça. Ela considera que o marido é aborrecido e pouco inspirador e começa a ressentir-se da falta de interesse dele numa vida mais apaixonada. Por seu lado, Charles continua a amá-la. A sua mãe visita-os e odeia Emma por ter conquistado o seu amor. Depois de ela se ir embora, Emma tenta amar Charles, mas a deceção permanece, pelo que se questiona acerca do motivo por que se casou. Então, um dos pacientes do marido, o Marquês d'Andervilliers, convida o casal para um baile na sua mansão. 

Análise dos capítulos IV a VI de Madame Bovary


             A mudança do ponto de vista de Flaubert de personagem para personagem segue o padrão do enredo do romance. Após o casamento de Charles e Emma, o ponto de vista dela conta da narrativa. Esta mudança de perspetiva tem início no capítulo V e é coincidente com o contraste que se começa a notar entre o amor cego do esposo por ela e a desilusão desta, que esperava que o matrimónio fosse outra coisa diferente e lhe trouxesse o romantismo que lera nos romances. Na reflexão de Emma sobre a sua insatisfação conjugal, temos uma primeira visão real dos seus pensamentos, sendo fácil concluir que tudo está pronto para espoletar da crescente crise de personalidade que acabará por caracterizar a sua vida.
            A maior parte da ação de Madame Bovary é narrada por um narrador na terceira pessoa, centrado principalmente nos pensamentos e nas ações de Emma. No entanto, o ponto de vista do narrador flutua, adotando este vários tons. De facto, o narrador fala frequentemente como um outsider, comentando objetivamente os acontecimentos, mas também nos mostras as coisas de forma subjetiva através do olhar das personagens, informando-nos do que sentem e pensam. Por outro lado, Flaubert usa com alguma frequência o discurso indireto livre, uma técnica narrativa que permite que as palavras do narrador soem muito como os pensamentos e os padrões de fala de uma das personagens, mesmo quando ele não a cita diretamente. Por exemplo, quando Rouault se lembra do seu casamento no capítulo IV, Flaubert escreve: “Há quanto tempo tudo isso aconteceu! O filho deles já teria trinta anos. Então ele olhou para trás e não viu nada na estrada.” A narração passa diretamente da transcrição do pensamento de Rouault para a descrição de sua ação, sem separar o pensamento por aspas. Como resultado disso, muitas vezes temos de parar para considerar se estamos a ouvir a voz do narrador ou a de uma das personagens.
            Uma das características mais importantes de Emma é o conflito entre a sua natureza romântica e a tendência para o descontentamento. O seu flashback mostra até onde o gosto pelo romance se estende. Ainda com treze anos, ela foi incapaz de resistir à atmosfera melancólica e romântica do convento e mergulhou em romances e canções românticas, cujas histórias desejava desesperadamente que se realizassem na sua própria vida. Emma, no entanto, fica facilmente descontente. Coisas que ela acredita que a vão salvar, como o convento, a quinta do pai ou a vida de casada acabam por não estar à altura dos seus desejos. A sua euforia após o casamento, por exemplo, cai no momento em que encontra o buquê de noiva de Heloise na casa de Charles, e imediatamente começa a interrogar-se por que a sua vida não corresponde às ficções sentimentais que lera e esperava que se tornassem realidade.
            Flaubert é frequentemente considerado um escritor realista. Os realistas desafiaram os seus antecessores românticos escrevendo livros que se concentravam nos detalhes da vida quotidiana sem fechar os olhos para os seus aspetos sombrios. Ora, oescritor participa nesse movimento descrevendo as emoções, as ações e os cenários onde se movimentam as suas personagens de forma vívida e sem embelezamento romântico ou fantástico. A cena do casamento, que ocupa quase todo o capítulo IV, é um exemplo clássico do que torna Flaubert um realista. É o que sucede, por exemplo, quando desce ao pormenor: o enlace é descrito minuciosamente. O autor escreve sobre cada parte da celebração, por vezes listando apenas item atrás de item. Mais: narra o tipo de veículo que transporta os convidados, como usam o cabelo, de que tecidos são feitas as roupas e a sua aparência física. A descrição do banquete é tão elaborada que parece que há comida demais para apenas quarenta e três convidados degustarem. No entanto, Flaubert não nos dá conta apenas dos detalhes, dado que também tece comentários implicitamente sobre o seu valor social. Quando nos fala sobre as jovens raparigas presentes, sobre “os cabelos gordurosos com pomada de rosas e com muito medo de sujar as luvas”, podemos ver como elas são desajeitadas e pouco refinadas. Ao descrever as tentativas do povo do campo de se vestir, zomba dos seus esforços.
Tais comentários sutis sobre os traços das personagens menores constitui apenas uma das maneiras através das quais Flaubert pinta Madame Bovary como um retrato crítico da vida burguesa. No capítulo VI, afirma que Emma ama as flores e os ícones da sua religião, mas que a verdadeira fé espiritual é “estranha à sua constituição”. Esta nota mostra que a personagem, apesar de todas as suas pretensões de grandes sentimentos, é realmente incapaz de sentimentos profundos. A observação do narrador também satiriza os fiéis burgueses que se mostram profundamente religiosos, mas, na realidade, possuem pouca piedade genuína.

Resumo do capítulo VI de Madame Bovary


    Emma recorda a vida no convento onde foi educada. No início, entregou-se à vida religiosa, tratando a religião com a mesma paixão que dedicava à leitura de romances e a ouvir baladas de amor. Quando a mãe morreu, porém, mergulhou num estado de profunda dor. Agradava-lhe pensar em si mesma como um exemplo de pura melancolia. Todavia, logo se cansou do luto e abandonou o convento. Durante algum tempo, apreciou a vida na quinta do pai, mas logo se viu entediada e desgostosa com essa existência. É nesse estado de desilusão que se dá o encontro com Charles, contudo, ao contrário do que previra, ele não lhe proporciona a escapatória a esse sentir que ela esperava.

Resumo do capítulo V de Madame Bovary


             De volta a Tostes, Emma inspeciona a nova casa e obriga Charles a remover o buquê de noiva seco da sua ex-esposa morta do quarto. Enquanto planeia pequenas melhorias na casa, Charles mostra toda a sua adoração por ela num torpor de amor e felicidade. Emma, por seu turno, sente-se estranhamente insatisfeita com a nova vida. De facto, sempre esperou que o matrimónio fosse sinónimo de romantismo e felicidade, porém sente que a sua nova existência fica aquém das altas expectativas que bebeu nos romances românticos que leu: “Antes do casamento, ela imaginou-se apaixonada; mas como a felicidade subsequente não veio, ela deve, pensou, estar enganada. E Emma tentou descobrir o que significavam exatamente na vida as palavras felicidade, paixão, êxtase, que lhe pareciam tão bonitas nos livros.”

Resumo do capítulo IV de Madame Bovary


             Na primavera, quando o período de luto de Charles pela sua primeira esposa termina, casa-se com Emma. O casamento é um grande evento em toda a quinta de Rouault, e os convidados vêm vestidos com roupas extravagantes a que não estão habituados. Após o casamento, todos regressam à quinta numa longa e festiva procissão que se estende “como um longo lenço colorido que ondulava pelos campos”. O banquete prolonga-se pela noite e inclui um bolo de casamento de três camadas incrivelmente elaborado. No dia seguinte, depois da noite de núpcias, Charles está obviamente muito feliz. Emma encara a perda da sua virgindade de forma calma e fria. Enquanto o casal parte para a sua casa em Tostes, Rouault relembra a felicidade que sentiu no dia do seu próprio casamento.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Terra do Pecado, de José Saramago

     Terra do Pecado foi a primeira obra de José Saramago, publicada em 1947. Não era suposto o livro ter este título, mas sim A Viúva, o qual foi rejeitado pelo editor, algo que desagradou ao escritor.
    A narrativa tem como protagonista Maria Leonor, uma mulher viúva, mãe de duas crianças, que se vê a braços, subitamente, com o processo de luto pela morte do marido, com as dificuldades de gerir a sua casa, administrar a propriedade, a vida e a educação dos filhos e as suas relações sociais, além de ter de lidar com as saudades do marido e com as expectativas da sociedade relativamente ao seu novo estado civil (de viuvez).
    Maria Leonor é uma mulher frágil, que apenas desempenhou os papéis que lhe cabiam socialmente: filha, esposa e mãe. Assim sendo, o seu universo limitava-se à casa da propriedade rural em que vivia, cuidando dos filhos e do marido, supervisionando os empregados e dedicando-se aos seus bordados e à leitura. Quando o esposo morre, ela não suporta a perda e adoece, sobretudo por causa dos seus nervos frágeis e abalados pelos acontecimentos. O tempo passa e a atividade da quinta fica em suspenso, até que questões urgentes de caráter prático a forçam a sair da cama e a assumir as suas responsabilidades de proprietário rural.
    Apesar das várias recaídas que vai sofrendo, consegue restabelecer a ordem na casa e evolui como administradora da propriedade, no entanto interiormente continua a ser afetado pela falta do marido e por se aperceber de algo que era considerado socialmente um pecado muito grande: ela continuava viva. De facto, de acordo com os costumes da sociedade em que existia, a viúva deveria morrer com o marido, mesmo que continuasse a existir fisicamente, ou seja, não poderia voltar a sorrir ou seguir com a sua vida, muito menos considerar a hipótese de se envolver romanticamente com outro homem. Mas é isso exatamente que Maria Leonor vai fazer. Observe-se que ainda hoje se encontram mulheres que viuvavam há anos ou décadas, se vestiam de preto e assim viveram para sempre. Voltando à protagonista, de facto, estabelece uma relação com dois homens: o cunhado e um médico próximo da família: o doutor Viegas.
    Daqui decorre uma estranha e complicada relação com Benedita, a sua empregada de confiança, que a condena pelo que acredita ser a fraqueza e o desrespeito de Maria Leonor para com a memória do marido. Com efeito, Benedita tem um sentimento quase de posse em relação à patroa, intrometendo-se por vezes de forma quase ofensiva e denegridora da protagonista.
    Contudo, a obra gira, sobretudo, em torno do sentimento de culpa da própria Maria Leonor, em relação às suas ações e comportamentos, bem como aos desejos e pensamentos. É também por isso, além da pressão social, que a vemos esgueirar-se pelas sombras da própria casa, receando os olhares e o julgamento dos empregados, inventando as mentiras mais escabrosas que acabam por destruir a vida de pessoas inocentes só para manter a sua reputação e não ser alvo de comentários e coscuvilhice, que inevitavelmente a atingiriam, bem como aos filhos e aos negócios. Valha a verdade, porém, que nem toda a sociedade a julga e exige dela que seja uma morta em vida. De facto, se Benedita condena as suas ações e a desrespeita, há outras personagens que procuram compreender e defender as atitudes de Maria Leonor, apesar de as considerarem perniciosas.
    No fundo, a obra procura retratar um Portugal da época, centrando a ação numa pequena localidade do país, habitada por uma população profundamente católica e conservadora que oprime os outros com as regras sociais que vigoram.
    Esta primeira obra de Saramago difere das que o consagraram por causa das questões formais, nomeadamente a ausência de pontuação e de digressões, todavia são já visíveis alguns dos temas que caracterizarão os seus textos, como, por exemplo, a crítica religiosa, a partir do confronto entre o caráter beato de Benedita e a presença constante o padre local e os comentários céticos e algo sarcásticos do doutor Viegas.
    

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Análise do poema "Massacre de São Tomé", de Agostinho Neto


           Este poema, constituído por trinta e um versos brancos, distribuídos por cinco estrofes, alude a um massacre ocorrido em 1953 na ilha de São Tomé e Príncipe, mais conhecido por massacre de Batepá, e que consistiu na chacina de centenas de são-tomenses pela administração colonial e fazendeiros. O massacre ocorreu na localidade do distrito de Mé Zóchi (chamada Batepá). Estes acontecimentos foram a consequência das relações laborais e sociais no sistema colonial, que distinguia os fôrros – grupo etno-cultural dominante em São Tomé não sujeito ao estatuto de indigenato – dos trabalhadores contratados oriundos de Angola, Moçambique e Cabo Verde. Estes últimos eram considerados inferiores e levados para as ilhas para trabalhar nas roças de cacau e café, tarefas que os fôrros se recusavam a fazer por as considerarem incompatíveis com o seu estatuto.

            Esta tensão acumulada entre os vários segmentos da população do arquipélago e o facto de, nos anos 50, a mão de obra ter diminuído – dado que tinha sido proibida a sua importação de Angola, que necessitava dessa força de trabalho – levou ao extremar dessas tensões entre a administração colonial e as populações de S. Tomé. O massacre constitui, assim, o culminar desse processo que envolveu vários micro processos de repressão e de violência nos meses imediatamente anteriores a 3 de fevereiro de 1953.

            Na noite de 1 para 2 de fevereiro desse ano, um soldado do Corpo de Polícia Indígena, de apelido Amaral, foi morto durante uma rusga noturna na localidade de Caixão Grande. No dia seguinte – 2 –, Zé Mulato, alcunha do enfermeiro José Joaquim, que também desempenhava as funções de verdugo às ordens do governador da ilha, Carlos Gorgulho, chegou a Trindade na companhia de um grupo de homens. Como retaliação pela morte do soldado Amaral, assassinaram um nativo, na rua, o que fez com que a população da localidade se refugiasse no mato. Todos aqueles que não conseguiram fugir foram presos. Enquanto isso, os homens às ordens de Zé Mulato, armados com espingardas e pistolas, disparavam indiscriminadamente sobre as pessoas e incendiavam casas e lojas. Pouco depois, juntaram-se-lhes os colonos brancos, armadas, fazendo-se transportar em jipes, sempre em grupo. As perseguições e as prisões aumentaram consideravelmente e a violência propagou-se às povoações de Batepá, Madalena, Santo Amaro e Uba Flor. A partir de 3 de fevereiro, e pelo menos até ao dia 8, os arredores e a vila de Trindade foram quase totalmente destruídos.

            Em suma, o massacre consistiu em vários atos de violência – assassinatos, violações, casa incendiadas –, prisões em massa, o desterro para o campo de trabalho forçado em Fernão Dias, onde se previa a construção de um cais acostável, além de torturas em cadeira elétrica e exílio para a ilha do Príncipe de alguns dos mais destacados membros da elite são-tomense e roubos de terrenos que pertenciam aos fôrros. O massacre foi mais intenso entre os dias 3 e 7 de fevereiro de 1953, mas prolongou-se durante vários meses.

            Pra, é a isto que se refere o título do poema. A dedicatória à poetisa e amiga Alda Graça refere-se a Alda Espírito Santo, uma são-tomense, uma jovem à altura dos acontecimentos, mais tarde escritora e ativista política, que, em fevereiro de 1953, escreveu uma carta a alguns amigos, na qual descreveu os acontecimentos como uma “matança em série, uma loucura coletiva da parte da quase totalidade da população branca, que cumpriu ordens do governador e seus acólitos”. Nessa longa carta, Alda Espírito Santo contou também que o povo são-tomense era explorado e oprimido pelo governador Gorgulho, nomeadamente através de rusgas noturnas e sequestros para trabalhar nas obras públicas sem ou com escassa remuneração, submetidos a castigos corporais.

            Todo o poema está revestido de palavras que refletem dor, violência e morte, mas também, em simultâneo, por palavras de esperança. Logo nos primeiros versos, encontramos um quadro trágico e sepulcral, quando o sujeito poético afirma que o mar devolveu os cadáveres “envolvidos em flores brancas de espumas”. As flores brancas são, frequentemente, usadas em velórios, só que, neste caso, não houve nenhum funeral, pois os mortos devolvidos pelo mar não receberam uma celebração formal e com dignidade, por isso as flores são feitas das espumas das águas do mar, podendo ser um reflexo da resposta da Natureza aos assassinatos dos africanos. Além das “flores brancas de espumas”, os corpos estavam envolvidos pelo “ódio incontido das feras sobre sangues coagulados de morte”, o que evidencia a violência com que foram mortos. O sal das águas do oceano e os possíveis espancamentos deram origem à coagulação do sangue e as “feras” simbolizariam os assassinos que causaram as fraturas e levaram à morte das pessoas.

            Na segunda estrofe, o sujeito poético apresenta símbolos de devastação, como, por exemplo, o corvo e o chacal, ambos animais que surgem em cena após uma grande matança, como sucedeu neste massacre. As praias estão cheias de corvos e chacais com fome e sede dos cadáveres que jazem na areia. É possível associar o corvo e o chacal aos portugueses, ou aos próprios assassinos, tendo em conta que o corvo é uma ave carnívora que é considerada benfazeja pelos portugueses, enquanto o chacal, também ele um mamífero carnívoro, mas que em sentido figurado significa uma pessoa que explora os mais desfavorecidos, é apresentado como um animal, que mais do que estar à espera de alimento, representará os próprios exploradores ou assassinos. O pleonasmo “fomes animalescas de carnes esmagadas na areia” pode ter uma dupla interpretação. Por um lado, enfatiza a fome dos corvos e dos chacais e a grande devastação que é visível na praia. Por outro lado, o adjetivo “animalesco” é usado para designar um comportamento animal por parte de um ser humano, neste caso, a fome pela ruína, pelo sangue e pela carne que foi esmagado, isto é, pelo corpo violentado.

            Ainda na segunda estrofe, refere-se que os corpos estão na areia “[…] da terra queimada pelo terror das idades / escravizadas em cadeias”, o que permite deduzir que o sujeito poético se refere aos períodos de escravidão vividos pelo continente africano. A terra designada “queimada pelo terror das idades”, é apelidada posteriormente “terra verde”. O verde é o símbolo da esperança, neste caso da esperança ligada às crianças, que assim a designam: “as crianças ainda chamam verde de esperança”. Deste modo, as crianças constituem o símbolo da pureza, mas, sobretudo, do futuro, por isso nomeiam a terra queimada através de uma expressão que remete para algo positivo: a esperança, o alimento essencial para alimentar a luta pela independência e pelo consequente fim da exploração pelos europeus.

            De seguida, o sujeito poético afirma que os corpos “se embeberam de vergonha e sal”, recuperando a ideia do sangue coagulado, dado que a coagulação do sangue ocorre em contacto com o sal. No caso do poema, ela foi espoletada pelo sal das águas do mar. A vergonha será proveniente da humilhação que sofreram. Por outro lado, as águas ensanguentadas de desejos e fraquezas refletem o paradoxo entre o forte e o fraco: o desejo é o combustível da luta e a fraqueza decorre da tortura física e da humilhação a que foram sujeitos.

            Na quarta estrofe, o sujeito lírico afirma que “nos olhos em fogo / ora sangue ora vida ora morte / enterramos vitoriosamente os nossos mortos”, associando os olhos à memória, visto que os mortos foram enterrados nos olhos, isto é, na visão, como se fossem guardados num arquivo. Se tivermos em conta que o fogo é um elemento simbólico que pode representar a ideia de purificação e o entusiasmo, os olhos em fogo podem aludir a olhos que purificam e a olhos entusiasmados, interpretação confirmada pelo verso “enterramos vitoriosamente os nossos mortos”, visto que, apesar de terem sido humilhados e torturados até à morte, não podem ser considerados derrotados: “reconhecemos a razão do sacrifício dos homens / pelo amor / e pela harmonia / e pela nossa liberdade / mesmo ante a morte pela força das horas / nas águas ensanguentadas / derrotas acumuladas para a vitória”. Assim sendo, a morte não equivale à derrota, antes pelo contrário: pode apontar para a vitória. A ausência de pontuação no verso “ora sangue ora vida ora morte”, da penúltima estrofe, sugere a ideia de um tempo que não cessa, que é cíclico. Por outro lado, a expressão “ora sangue” remete para o nascimento e para a morte; “ora vida”, para o ciclo da existência; “ora morte”, para a luta e o fim dessa existência.

            Na última estrofe, o sujeito poético afirma que, para o povo são-tomense, aquela terra verde “será também a ilha do amor”, remetendo novamente para a ideia da esperança e da vida, apesar de todas as tragédias que lá sucederam.

            Em suma, este poema põe em confronto colonizado e colonizador, enfatizando o esmagamento e a opressão de que o primeiro é vítima e apontando para a tentativa permanente de se reerguer, não obstante a violência que sofre por causa da fusão de culturas.

            Olhando para si mesmo como sujeito, o homem africano busca uma identidade e passa a refletir e a agir como uma figura atuante no que diz respeito à sua cultura: o poeta é visto como alguém que tem a missão de criar a consciência da sua raça. Neste poema, a função do mar enquanto elemento que devolve ou expele para a terra africana a violência indicia, em simultâneo, o desvelar da violência que ele engoliu (ou seja, expõe-na) e a tentativa de analisar os traumas causados pela redescoberta da sua identidade, que primeiro nega o mar e, gradualmente, reconhece o seu papel fundamental no ocultar e resgatar de memórias.

 
Fonte:
- SILVA, Lediane Moreira, O Mar de Memórias na Poesia de Agostinho Neto.
- Jornal Observador.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Fernão Lopes, o pai da História Portuguesa e a Crónica de D. João I


Análise do poema "Confiança", de Agostinho Neto


             Este poema é caracterizado pela irregularidade formal: vinte versos brancos e de métrica irregular, distribuídos por uma quintilha, um dístico, três tercetos e uma quadra. Há autores que sugerem que a forma livre da composição poética simboliza a constituição da identidade do angolano, que não segue um padrão, mas que está a ser construída e questionada.

            O poema está escrito na primeira pessoa do singular (“fui”, “me”, “mim”, etc.), o que nos permite entender que o «eu» poético representa a voz do povo angolano.

            A quintilha inicial introduz o sentimento de não-pertencimento e apresenta o oceano como o responsável pela separação de si: “O oceano separou-me de mim / enquanto me fui esquecendo nos séculos”. Estes versos sugerem, desde logo, a ideia de cisão do sujeito lírico com a identidade, comum ao povo africano, visto que, a partir do contacto com a cultura europeia, as suas tradições são reprimidas, passando a um não-pertencimento, a um entre-lugar, a um não pertencer a isto nem àquilo. De facto, o negro não faz parte da primeira cultura (a de origem) nem da segunda (a estrangeira, a europeia). Isto é fomentado pelo mar / oceano, o agente da transição de culturas e da transformação do negro colonizado num ser híbrido, dado que o coloca em contacto com a cultura do colonizador. Para o angolano, o mar é um elemento negativo, causador de dor e sofrimento, pois foi através dele que veio o colonizador e que, posteriormente à chegada deste, partiram muitos africanos rumo à escravatura e ao trabalho de contrato (sem haver a previsão e a certeza do retorno). Além disso, foi no mar que ocorreram muitas mortes durante estas viagens. Assim sendo, o oceano é apresentado como aquilo que rompe com o conhecido e como a divisória entre o velho e o novo.

            A noção de passado e presente, de passagem do tempo é visível no uso de termos como “século” (v. 2), “presente” (v. 3), “tempo” (v. 5) e “história” (v. 6). Neste contexto, é importante observar a ideia de que o «eu» poético se foi esquecendo de si mesmo nos séculos, ou seja, foi perdendo a sua identidade ao longo do tempo, por causa do contacto com o europeu e, sobretudo, ao facto de ter sido explorado pelo colonizador. Por outro lado, afirma que, no presente, está a reunir em si o espaço e a condensar o tempo, remetendo para esse terceiro ser que resultou da fusão entre a cultura africana e a cultura europeia. Essa ideia de união é traduzida pelo verbo «reunir», que significa “unir de novo”, ou seja, o que existe no presente é a reunião de tempos distintos, isto é, a junção do que havia em África e do novo trazido pelo europeu.

            A ambiguidade em torno da identidade do «eu» é reforçada na segunda estrofe: “Na minha história / existe o paradoxo do homem disperso”. Estes dois versos reforçam e reafirmam a necessidade presente de reunir o que há em si.

            O terceto seguinte é dominado pela figura do paradoxo, nomeadamente entre «sorrisos» e «dor», representando a situação do negro que é explorado e trabalha para a construção da riqueza europeia: “Enquanto o sorriso brilhava / no canto de dor / e as mãos construíam mundos maravilhosos”. O negro sofre (“dor”) enquanto é explorado e trabalha para a alegria (“o sorriso”) e a riqueza do europeu (“as mãos construíam mundos maravilhosos”).

            A quarta estrofe introduz um exemplo concreto dos sofrimentos a que o africano estava sujeito, nomeadamente através da descrição de atos de violência física (“John foi linchado”, “o irmão chicoteado”) e social (“a mulher amordaçada”, “o filho continuou ignorante”). Atente-se no nome escolhido para uma das figuras do exemplo: “John”, um vocábulo de origem inglesa, atribuído a um homem africano de um país colonizado por Portugal. Isto representa a noção de transposição cultural, reforçando-se, assim, a ideia de repressão e de afastamento da cultura nativa, original. Por outro lado, a figura do chicote (“o irmão chicoteado nas costas nuas”) simboliza o sistema colonial, que dele se socorria para castigar violentamente o negro e o tornar obediente, submisso e servil. A “mulher amordaçada” representa a ausência de liberdade, a ausência de voz na sociedade por parte da mulher, bem como a forma como era privada de participar nas atividades culturais de raiz do colonizado. Quanto ao filho, simboliza a perpetuação da situação no futuro: a ausência de conhecimento da sua origem, de quem é no presente e a educação para o trabalho braçal, perpetuando o que é o presente e a vida dos pais e avós.

            Os dois tercetos finais afirmam que, a partir do drama (“E do drama intenso”) e da vida intensa de trabalho (“vida imensa e útil”), ressalta a importância do negro para constituição da sociedade como um todo (“As minhas mãos colocaram pedras / nos alicerces do mundo”), principalmente das suas riquezas, pelo que ele também tem direito ao alimento: “mereço meu pedaço de pão”, pão esse que simboliza o sustento, a riqueza, a vida. É neste âmbito que poderemos refletir sobre o título do poema (“Confiança”), que remete exatamente para essa ideia de ter direito ao sustento e à vida, para crença do «eu» segundo a qual tem os seus direitos, tem esperança firme no futuro, que decorre da convicção do valor que tem enquanto pessoa.

Análise do poema "Partida para o Contrato", de Agostinho Neto


           O poema “Partida para o contrato”, de 1945, aborda o tema da despedida e a dor que causa aos entes queridos. É constituído por vinte e três versos livres, sem rima e de métrica irregular, distribuídos por um monóstico, três dísticos, uma sextilha, uma sétima e um terceto.

            O título, “Partida para o Contrato”, aponta desde logo para a temática da partida, da viagem, através do mar, de alguém, neste caso para o contrato, que consistia numa espécie de trabalho semiescravo, a que muitos colonizados se sujeitavam por não haver outras formas de sustento durante o período de colonização.

            A primeira estrofe, um dístico, remete desde logo para o sofrimento vivido durante uma despedida, sofrimento esse refletido pelo rosto da pessoa, tanto da que parte como das que ficam De facto, o rosto reflete o estado de espírito (“retrata a alma”), caracterizado (“Amarfanhada”) pelo sofrimento. Atente-se na expressividade do particípio adjetival «amarfanhada». O verbo «amarfanhar» significa “criar vincos ou pregas”, “amarrotar”, “amachucar”, o que significa que, de facto, os rostos daquelas pessoas patenteavam marcas físicas do sofrimento que sentiam.

            A segunda estrofe identifica a pessoa que parte (Manuel), o momento/tempo em que sucede (“Nesta hora de pranto / Vespertina e ensanguentada”), o local para onde se dirige (a ilha de São Tomé), o espaço da travessia (o mar) e quem deixa para trás, possivelmente a mulher amada (“Manuel / o seu amor”).

            A terceira estrofe, um monóstico, é constituída por uma interrogação (“Até quando?”), que traduz a voz da mulher que fica à espera de Manuel, magoada, desamparada, sem qualquer noção de quando ele regressará ou se regressará.

            A estrofe seguinte situa-nos numa praia, caracterizada pelo horizonte, pelo sol e pelo barco que se afogam no mar. A presença do sol, um elemento que indica luz, luminosidade e calor, e da embarcação, o veículo que transporta Manuel, que indica movimento e que representa deslocamento, formam a visão que a mulher tem daquele momento: a sensação de que se está a afogar com a despedida e de que a sua dúvida, a sua interrogação, não terá resposta. Por outro lado, a presença da forma verbal «afogam» indicia a presença da morte: os barcos naufragam e os que neles viajam correm o risco de se afogar, de morrer. Perante este panorama, o «eu» poético, ao aludir à presença da noite e/ou da escuridão, enfatiza a tristeza e o sofrimento da mulher (“escurecendo / o céu escurecendo a terra / e a alma da mulher”).

            O terceto que se segue é todo dominado pela cor negra: “Não há luz / não há estrelas no céu escuro / Tudo na terra é sombra”. O mesmo sucede nos dois dísticos que encerram o poema: “Negrura / Só negrura…”. Ora, esta ausência de luz é muito significativa, pois sugere que não há alegria na vida daquela mulher, nem sabedoria ou conhecimento (“não há norte na alma da mulher”). A pessoa que não tem norte é alguém que está sem rumo, que perdeu a direção ou o caminho, que está confuso e inseguro. Assim se sente a mulher sem o seu amado Manuel. Apenas resta a cor negra, que sintetiza o sentido de ser negro como aquele que sofre. A repetição de palavras que remetem para a ideia de escuridão enfatiza a tristeza da mulher e a dúvida que sente se o tornará a ver, que se espalham com as ondas do mar, levando as certezas e a alegria.

            O «eu» poético coloca-se, no poema, como observador privilegiado da cena da partida e dos efeitos que a mesma acarreta para a mulher. Ora, este tópico constitui um traço identitário dos africanos, neste caso expresso através da descrição dos sentimentos de uma mulher apaixonada, que traduz o sentimento coletivo experimentado por todos aqueles que tiveram de passar por um momento ou uma situação análoga. Note-se, por outro lado, que o mar simboliza um espaço de dor, de separação (já era assim, por exemplo, nas cantigas de amigo), de incerteza e a linha que divide o que é familiar e o que é estrangeiro.

            Aquele que assiste à partida e que fica está inundado de dúvidas acerca do futuro e encara o mar como elemento de rutura, algo que lhe «rouba» aquilo que lhe é precioso. Para quem parte, o mar assume igualmente contornos de dor e de ausência de certezas em relação ao que será o futuro. Deste modo, o mar configura um elemento que agride o angolano e o traumatiza, ou seja, é um inimigo.

domingo, 23 de outubro de 2022

Na aula (XLIV): unidades confusas

     O miligrama é uma unidade de peso que representa a milésima parte do metro.

Marta T.

Análise do poema "A Mãe d'Água", de Gonçalves Dias


     Mãe d'Água é uma figura mitológica, um elemento do indianismo e do Romantismo, que valorização do elemento indígena.
    O poema está dividido em várias partes, marcadas por uma diferença de metro e ritmo. Temos uma descrição da mãe d'água, que é um elemento indígena, sob dois pontos de vista:
        => O do menino, como um ponto de vista positivo: é uma bela moça e boa. Ele fala dela num tom carinhoso e é vista como uma menina.
        => O ponto de vista da mãe, que é negativo: considera a mãe d'água uma sombra. Aconselha o filho a não a fitar, para não se deixar enganar.
    A descrição da mãe d'água é feita quase sempre através de comparações:
        - com elementos da natureza brasileira;
        - com elementos neoclássicos, que predominam através dela ser um elemento da natureza brasileira.

II:
    O menino lembra-se dos conselhos da mãe e turva a água para obedecer à mãe, porque ele só a podia ver na água límpida. Mas logo se arrepende de ter feito desaparecer uma imagem tão bela e é repreendido pela mãe. Mas o clima que fica é o da sua tristeza.

III:
    Mãe d'água torna a aparecer e é descrita com um vocabulário clássico que remete para a Idade Média: harpa, luzeiros. É uma descrição feita em termos especiais, porque estamos perante um poema indianista e sobre uma figura mitológica índia e, como tal, era de esperar que o vocabulário fosse brasileiro. Prevalece a ideia de luz, que envolve a mãe d'água. Ela exerce um poder de fascínio sobre o menino e, quanto mais dela se aproxima, mais se afasta da mãe, de quem ouve a voz ao longe.

IV:
    Esta parte do poema é cortada por uma estrofe, que marca a oposição entre o encantamento e a voz da mãe, da qual se afasta cada vez mais. Esta estrofe vai ainda reforçar mais a ideia de encantamento.
    Continuo o uso de vocabulário medieval: donzela angelical, luz, cristal. A luz e a riqueza cega captam a atenção. A mãe d'água consegue captar a atenção do menino através de um discurso que o leva a desejar coisas que não tinha e que ela lhe podia dar.

V:
    O menino acede à sedução, apesar da mãe o tentar dos perigos.


Conclusões:

        => Toma uma figura da mitologia indígena, o que torna o poema indianista.

        => A descrição da mãe d'água é essencialmente romântica. Assim, o poema, além de indianista, é romântico:
                - descrição e recurso à mitologia;
                - prevalência de um ambiente luminoso;
                - vocabulário medieval, tom de diálogo coloquial;
                - uso de diversos ritmos e metros.
    Se, em todo o poema, o motivo é indianista, o modo como se constrói e trata esse motivo é romântico. Pode concluir-se que o Romantismo brasileiro surge como faceta do Romantismo universal. Gonçalves Dias é um romântico, embora tenha poemas indianistas e de caráter urbano, mas sempre de índole romântica.

Análise do poema "Juca Pirama", de Gonçalves Dias


     O título do poema está em tupi e pode traduzir-se por "o que há de ser morto, o que é digno de ser morto".
    O poema está dividido em 10 cantos. O objetivo deste poema épico é cantar os feitos heroicos de um povo. Gonçalves Dias vai cantar a valentia e dignidade do índio, tanto dos timbiras como dos tupis. Vários são os aspetos que nos remetem para o tom épico: vocabulário, divisão em cantos, começar a narração "in medias res".

I:
    Descrição de uma paisagem, onde se inserem as personagens, com o uso de um vocabulário muito arcádico, que é o reflexo da formação neoclássica do poeta, diferente do tom melodioso com que nos deparamos em Iracema.
    Temos depois a descrição dos timbiras, com a apresentação imediata da ação: está em prática um ritual, mas nada nos é dito sobre os antecedentes dessa ação. Temos também a apresentação do herói, que é um "índio infeliz" (3.ª estrofe). Toda a ação é rápida e dá-nos a preparação de um ritual que culminaria com a morte de um guerreiro.
    Outro aspeto que ressalta, desde logo, ao olhar é a abundância de metros e ritmos diferentes em cada canto. Por outro lado, a escolha de um título em tupi pode significar a afirmação do nacionalismo.
    O canto começa com a descrição da paisagem natural e humana; o herói só aparece na quarta estrofe, seguindo-se a preparação do ritual.

II:
    Descrição da atitude do guerreiro: não chora nem se queixa e o único indício de temor é o que está estampado no seu rosto, Temos um apelo à coragem e à força na morte, porque "Além dos Andes" há a recompensa, ou seja, quanto mais forte fosse o homem, mais hipóteses teria de viver essa nova vida além dos Andes.
    Temos uma mudança de ritmo, verso e estrutura, o que é mais uma característica romântica que neoclássica.

III:
    Novamente, podemos observar uma mudança de ritmo. É uma espécie de intervalo após a penetração no íntimo do índio. Agora é preciso voltar à ação. No fim, temos a interpelação do índio, convidado a identificar-se e defender-se.

IV:
    É a parte mais conhecida do poema, marcada por um tom forte. O guerreiro identifica-se como pertencendo a uma tribo tupi do norte.
    Temos a referência a uma traição: morte de um amigo que teria tido origem numa traição. O pai do guerreiro quer morrer, mas o filho procura uma solução para o salvar. Conta como caiu prisioneiro e o resto do poema é um apelo ou mesmo um pedido de vida. Pede que o deixem viver, enquanto o pai for vivo, que depois se apresentará como escravo.

V:
    A feição dramática é dada pela mudança de metro e rapidez do diálogo. O índio é solto e agradece o facto de os timbiras terem pena dele, mas estes consideram-no um cobarde, porque chorou. A única coisa que o acalma é a imagem do pai.
    A linguagem é precisa, ritmada e expressiva, para o que contribui a pontuação.

VI:
    Encontra o pai, que logo suspeita do que poderá ter acontecido ao filho, apesar de ser cego, por causa do odor da tinta, macieza das plumas, etc. O filho acaba por confirmar a suspeita do pai, que esperava que ele tivesse lutado e conseguido fugir. Todas as ilusões do velho começam a cair e, então, ele parte em direção ao lugar onde moravam os timbiras.

VII:
    O velho encontra a tribo índia e entrega-lhe o filho como prisioneiro, tentando assim compensar a cobardia anterior do filho, mas o chefe timbira recusa, porque ele havia chorado como cobarde.

VIII:
    Depois que o pai sabe o que se passou, lança uma maldição ao filho e recusa-se a aceitá-lo como tal, porque foi cobarde. De certo modo, ele não quer sujar a imagem de coragem da sua pessoa e da sua tribo. Ele desonrava a coragem de seu pai. Temos de novo o processo de acumulação de sintagmas.

IX:
    Dá-nos o retrato do velho, quando este ouve o grito de guerra do filho. Há um contraste entre a dor anterior e a alegria que agora sente: o filho, sozinho, resolve enfrentar a tribo, porque não aceita a maldição do pai, que agora chora de orgulho, mas com lágrimas que não desonram.

X:
    Tem a forma de gesta, de memória, dada por um certo caráter de lenda, que ficou passado algum tempo dos acontecimentos, e afirmação da veracidade do que aconteceu, característica do Romantismo.
    Também o ritmo, métrica e repetição de estrofes contribuem para esse caráter de gesta. O fim surge um pouco deslocado, devia vir no canto IX. É um modo inovador de acabar um poema, o que rompe com os cânones normais do poema épico.

Conclusões:

    1. Métrica e ritmo: o ritmo é ágil e de acordo com os momentos da narração: assim, quando descreve, temos um verso amplo com ritmo mais longo; nos momentos de ação é mais rápido. Isto permite uma representação musical e plástica. A linguagem precisa e rigorosa dá-lhe uma grande expressividade, apesar do equilíbrio que se verifica.
    Temos uma estrutura em movimento como se fosse um bailado. Toda a mudança do ritmo dá a ideia de movimento.

    2. Conteúdo: rotação psicológica, em que se alternam o pasmo e a exaltação. Esta alternância é dada pela própria estrutura melódica do texto, mudanças de ritmo sucessivos e escolha de vocabulário. No entanto, a rotação psicológica acaba por se fixar, no fim, num modelo de heroísmo.
    Temos ainda o recurso inesperado ao lamento do prisioneiro, que rompe a tensão monótona da bravura do tupi, porque a intenção do poema é mostrar o heroísmo do índio, o que se torna mais nítido porque se opõem duas situações contrastantes.
    Temos uma visão do índio como símbolo da sensibilidade e natureza brasileiras, como elemento lírico e como herói, no sentido idealista.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...