Noutros tempos,
a barba era um sinal de prestígio, honra e poder.
D. João de
castro, o quarto vice-rei da Índia, ficou registado nos livros de História como
o protótipo do português antigo, de consciência reta e austera. No século XVI,
enquanto exerceu o cargo mencionado, resistiu ao cerco montado a Diu em 1546
pelo sultão Mafamud, conservando assim a soberania portuguesa naquelas paragens
do Oriente.
Após os confrontos,
D. João de Castro teve de reconstruir a fortaleza de Diu para impedir novos
ataques, mas faltava-lhe o dinheiro necessário pata executar a tarefa, por isso
escreveu à câmara de Goa uma missiva em que solicitava um empréstimo de vinte
mil pardaus, oferecendo em penhor as próprias barbas. E foi isso que aconteceu:
o empréstimo foi-lhe concedido e a fortaleza refeita. Ora, na época, ter a
barba cortada representava uma humilhação.
Note-se que a
barba constituiu um atributo indispensável ao prestígio da magistratura. De
facto, os magistrados usavam barba para conferir maior solenidade à função de
julgar. Talvez por isso, em 17 de junho de 1716, o regedor do reino português
ordenou que cada um dos desembargadores tivesse dez cruzados anuais para o barbeiro.
Várias línguas
possuem provérbios que dão nota da importância da barba como sinal do valor de
um homem. Um desses provérbios é de origem espanhola e reza o seguinte: «Cuando
las barbas de tu vecino veas pelar, pon las tuyas a reojar», ou seja, “Quando
vives as barbas do vizinho ficar sem pelos, põe as tuas de molho.”. Daí
terá surgido o provérbio português, “Quando vires as barbas do vizinho a
arder, põe as tuas de molho.», que significa observar o dano, o perigo na
vizinhança e, em consequência, tomar precauções.
O uso popular
adotou a parte final do provérbio: “pôr ou deitar as barbas de molho”,
ou seja, acautelar-se, ficar de sobreaviso, precaver-se contra um perigo
iminente.