Português: 16/08/19

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Espaço psicológico de A Sibila

            O espaço psicológico, revelação do interior das personagens, é geralmente observável a partir de monólogos interiores, sonhos, visões, meditações, devaneios ou reflexões.
            Sendo Quina e Germa personagens modeladas, são, evidentemente, dotadas de grande densidade psicológica, de uma vida interior rica e capazes de recorrer à introspeção.
            No caso de Quina, a revelação do espaço psicológico ocorre nos momentos de transe ou desorbitação (pp. 66-67, 170) e nos derradeiros instantes de vida (p. 234).
            A vida interior de Quina manifesta-se, sobretudo, na sua reação contra o materialismo interesseiro do pai, na evocação emotiva que faz da tia e das suas histórias contadas à lareira (pp. 143-144), no desdém por Bernardo (pp. 7-9).


O espaço social de A Sibila

            Sendo A Sibila um romance de personagem, todas as personagens secundárias e todos os acontecimentos gravitam em torno da protagonista e contribuem para a sua caracterização.
            Aos dois espaços físicos antagónicos, correspondem dois espaços sociais também antagónicos: as pessoas do campo e as pessoas da cidade. A sociedade rural é portadora das mais legítimas e autênticas tradições portuguesas e a sua autenticidade contrasta com o artificialismo e a superficialidade da sociedade urbana, onde se refugiam os que atraiçoaram a ruralidade e esqueceram a terra. Quina insere-se no primeiro espaço (o campo) e repudia o artificialismo da vida urbana, privilegiando os ideais da vida rural. Este ponto de vista da protagonista está de acordo com o do narrador omnisciente (autora), isto é, quanto à visão dicotómica da sociedade portuguesa, na medida em que ela é imposta pelo abandono do campo, pelo desprezo do povo rural e dos seus valores tradicionais. Esta visão dicotómica da realidade social denuncia ainda a injustiça do abandono e esquecimento da terra e seus valores, imprescindíveis em qualquer sociedade.
            O ostracismo a que a terra é votada pela burguesia urbana, pela própria aristocracia rural e, consequentemente, pelo poder político central, leva a que estejamos perante uma sociedade bastante restrita e recriada através da caracterização de vários estratos: as mulheres (matriarcas, reprimidas, casamenteiras); os maridos repressores; os conquistadores; os aristocratas e os burgueses rurais; os agiotas; os marginais; os emigrantes (falhados e bem sucedidos); os padres de aldeia; os que renegam as origens; ... .
            Há ainda outra dicotomia: o homem e a mulher. O homem é visto, numa perspetiva crítica, como um ser egoísta, repressor da mulher, boémio e destruidor de fortunas. A mulher aparece-nos como um objeto do homem, desprezada e oprimida. Grande parte das reações e comportamento de Quina constituem uma compensação psicológica em relação ao machismo dominador do homem.


As Misteriosas Cidades de Ouro - Episódio 9: "O Fim do Solaris"


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