Sendo A Sibila
um romance de personagem, todas as personagens secundárias e todos os
acontecimentos gravitam em torno da protagonista e contribuem para a sua
caracterização.
Aos dois
espaços físicos antagónicos, correspondem dois espaços sociais também
antagónicos: as pessoas do campo e as pessoas da cidade. A sociedade rural é
portadora das mais legítimas e autênticas tradições portuguesas e a sua
autenticidade contrasta com o artificialismo e a superficialidade da sociedade
urbana, onde se refugiam os que atraiçoaram a ruralidade e esqueceram a terra.
Quina insere-se no primeiro espaço (o campo) e repudia o artificialismo da vida
urbana, privilegiando os ideais da vida rural. Este ponto de vista da
protagonista está de acordo com o do narrador omnisciente (autora), isto é,
quanto à visão dicotómica da sociedade portuguesa, na medida em que ela é imposta
pelo abandono do campo, pelo desprezo do povo rural e dos seus valores
tradicionais. Esta visão dicotómica da realidade social denuncia ainda a
injustiça do abandono e esquecimento da terra e seus valores, imprescindíveis
em qualquer sociedade.
O ostracismo a
que a terra é votada pela burguesia urbana, pela própria aristocracia rural e,
consequentemente, pelo poder político central, leva a que estejamos perante uma
sociedade bastante restrita e recriada através da caracterização de vários
estratos: as mulheres (matriarcas, reprimidas, casamenteiras); os maridos
repressores; os conquistadores; os aristocratas e os burgueses rurais; os
agiotas; os marginais; os emigrantes (falhados e bem sucedidos); os padres de
aldeia; os que renegam as origens; ... .
Há ainda outra
dicotomia: o homem e a mulher. O homem é visto, numa perspetiva crítica, como
um ser egoísta, repressor da mulher, boémio e destruidor de fortunas. A mulher
aparece-nos como um objeto do homem, desprezada e oprimida. Grande parte das
reações e comportamento de Quina constituem uma compensação psicológica em
relação ao machismo dominador do homem.