terça-feira, 1 de agosto de 2023
Análise do poema "Se eu fosse apenas", de Cecília Meireles
terça-feira, 25 de julho de 2023
Análise do poema "Viagem", de Cecília Meireles
domingo, 23 de julho de 2023
Análise do poema "Mulher ao Espelho", de Cecília Meireles
Análise do poema "Transição", de Cecília Meireles
quarta-feira, 3 de maio de 2023
Análise do poema "Epigrama N.º 2", de Cecília Meireles
Por
outro lado, a felicidade constitui a razão de ser do tempo, a qual, por ser tão
“precária e veloz”, “obrigou” o ser humano a medir o tempo e a inventar as
horas, para que esses momentos fossem medidos e valorizados: “Foste tu que
ensinaste aos homens que havia tempo, / e, para te medir, se inventaram as
horas.”
Na
segunda estrofe, o sujeito poético designa a felicidade como “coisa”, o que
significa que é muito difícil compreender a sua natureza, defini-la. Esta ideia
é frisada quando o «eu» qualifica a felicidade com o adjetivo «estranha»,
sugerindo, assim, que é algo que não se pode explicar (estranha), apenas
sentir. No entanto, apesar de ser um sentimento bom, pode tornar-se muitas
vezes “doloroso”, dado que são tristes as horas subsequentes quando comparadas
aos momentos em que ela se fez sentir.
A
felicidade, tal como o tempo, é transitória, passageira, o que torna a vida do
homem mais triste, uma vez que, após a passagem dos momentos felizes, resta ao
homem uma realidade monótona porque rotineira, pelo que aquele inventou as horas,
porque, desse modo, saberá dar valor ao tempo em que está feliz: “Porque um dia
se vê que as horas todas passam, / e um tempo, despovoado e profundo, persiste.”
O
sujeito poético, no último verso, enfatiza, de forma melancólica, a
transitoriedade da vida, “porque um dia se vê que as horas todas passam”. Como
tudo é passageiro, a felicidade também é transitória e passa, razão pela qual o
«eu» lírico se refere a “um tempo, despovoado e profundo, persiste”.
Esta
tristeza que brota após a passagem da felicidade não é individual; pelo
contrário, é expressa em nome dos homens que sofrem quando a perdem ou passam
por momentos de felicidade, facto que lhe ensina o valor do tempo e da sua
existência, bem como a importância do significado da felicidade, visto que o
sujeito poético é alguém que já experimentou o sabor da felicidade, pelo que
conhece o quão importante é e o que há a esperar dela.
terça-feira, 16 de agosto de 2022
Análise do poema "Província", de Cecília Meireles
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Análise de "Retrato", de Cecília Meireles
De
facto, o título do texto remete exatamente para o traçar do próprio
retrato, tanto físico (as feições do rosto e do corpo) como psicológico (do
qual ressalta a angústia existencial interior, motivada pela consciência da
passagem do tempo).
O
sujeito poético começa por constatar a mudança operada no seu rosto, graças à
passagem do tempo: “Eu não tinha este rosto de hoje” – v. 1. No segundo verso,
são enumeradas três características desse rosto: “calmo”, “triste” e “magro”.
Destes traços ressalta a tristeza do «eu», originada talvez pela própria mudança
e pela consciência tardia da transitoriedade da vida. O tom negativo do retrato
é acentuado nos dois versos seguintes (anafóricos), que acrescentam mais duas
características: os olhos vazios e o lábio amargo. Os olhos azuis parecem sugerir
o vazio existencial que marca o presente do «eu», enquanto o lábio (note-se o
uso do singular) evidencia a sua amargura e, por extensão, sugere a ausência do
sorriso, motivados pela perda da beleza (do próprio «eu» e da vida).
Deste
modo, a primeira quadra destaca a preocupação, a tristeza, a amargura e a
melancolia do sujeito poético por causa da passagem do tempo e do
envelhecimento, bem evidentes nas mudanças que constata terem-se operado.
Note-se, ainda, o facto de os elementos corporais servirem não tanto para a
descrição de traços físicos, mas sim psicológicos. A única característica
física que é associada ao rosto é a magreza e, ainda assim, serve como
«justificação» para a sua tristeza.
No
verso inicial da terceira estrofe, o sujeito poético prossegue o seu
autorretrato descrevendo as mãos, que representam, frequentemente, a força e o
trabalho. No caso do poema, é destacada a sua fraqueza / fragilidade (“sem
força” – v. 5) e, logo de seguida, são descritas como “Tão paradas e frias e
mortas” (polissíndeto e tripla adjetivação), enfatizando a sua degradação e
frieza. O terceiro verso foca-se no coração, que perdeu o seu vigor e os
sentimentos, pois o «eu» observa-o e constata que está escondido: “Eu não tinha
este coração / Que nem se mostra.”
Na
terceira quadra, o sujeito lírico revela que não se apercebeu da ocorrência da
mudança ao longo dos anos: “Eu não dei por essa mudança”. Que mudança foi essa?
“Tão simples, tão certa, tão fácil.”. A tripla adjetivação, a anáfora e a
reiteração do advérbio «tão» reforçam o caráter da transitoriedade, que ocorreu
tanto física quanto interiormente. A mudança ocorreu de forma rápida e cruel.
Nos derradeiros
dois versos, está presente uma metáfora e uma interrogação em forma de discurso
direto, anunciado pelos dois pontos e pelo travessão: o espelho representa um tempo
passado, onde as feições eram outras e marcavam uma outra idade, e a face é o
reflexo da passagem do tempo e da velhice, em suma, do decurso da vida. O
último verso sintetiza uma reflexão existencial profunda: onde foi que a
essência do «eu» lírico se perdeu?
Em
suma, Cecília Meireles questiona, neste texto, a mudança na vida do ser humano decorrente
da passagem do tempo no sentido do envelhecimento. Os anos passam, o aspeto
físico das pessoas altera-se, as doenças surgem, as limitações físicas
acentuam-se e tudo isso se reflete na parte psicológica.