O Manifesto é escrito de uma forma parodística. A paródia é uma composição paralela, podendo ser corrosiva ou não. Pode, então, ser só mera paráfrase ou corrosiva; normalmente, teve o sentido corrosivo. É o que acontece aqui.
O primeiro poema que vai abrir o Manifesto Pau-Brasil intitula-se "escapulário". Foi escrito em minúsculas, porque os autores não pretendiam valorizar coisa alguma; apenas igualar. O poema é o seguinte:
No Pão de Açúcar
De cada dia
Dai-nos senhor
A Poesia
De cada dia.
Escapulário é um saco com algo bento para proteger o seu usuário. O texto reitera o título, pedindo proteção. Em vez da poesia ser elaborada, ela já está pronta. A paródia é evidentemente ao Pai Nosso, escapulário e à religião. O Modernismo entra nesse tipo de paródia para mostrar que a poesia está em tudo.
O primeiro nome do Brasil foi Ilha de Vera Cruz; nasce, portanto, sob o signo da religião católica. Os autores iniciais da literatura brasileira mostram a sua preocupação em salvar as almas e no lucro da terra. Temos a associação entre a fé e o império.
O Pão de Açúcar é um tipo de forma de montanha da idade terciária. O escapulário dá a ideia de proteção. A ideia de usar a paródia serve para mostrar que a poesia está em tudo e não vem do trabalho de elaboração nem de exploração.
As correntes anteriores baseavam-se na elaboração no trabalho. A grande crítica que tecem é dirigida ao Parnasianismo: veem este movimento como uma importação descabida.
Análise do Manifesto
1. Não vai atrás se coisas elevadas. Em nenhum momento procura coisas poéticas; vai acabar com a distinção entre factos poéticos e não poéticos, palavra poética e palavra não poética.
Também é evidente o gosto pela cor forte ("acre", "verde", "azul"), que vai ser acatado também pelo Cubismo, que defende a geometria da forma.
O Modernismo brasileiro vão aceitar a mestiçagem. Na poesia barroca, temos a recusa da ancestralidade da mestiçagem indígena. Temos também uma crítica à componente negra do Brasil. Por seu lado, no Romantismo valoriza-se o índio, mas não é colocado em papéis principais. O Parnasianismo não fala nela. Cruz e Sousa, casado com uma negra, quando fala dela, é como se a visse como uma deusa.
Aqui as coisas são aceites como elas são. O Carnaval é uma festa, tão importante como qualquer outra festa religiosa, apesar de pagã.
Temos também a desvalorização da música de elite: "Wagner submerge ante os cordões do Botafogo".
O Pau-Brasil é constituído por uma mistura de tudo, aceitando a miscigenação, Apagam-se as fronteiras entre a fé e o pagão, entre música de composição erudita e a popular: vatapá / o ouro / dança - coisas díspares.
N.B.
- Rompe as fronteiras entre arte e não arte.
- Usa elementos considerados poéticos e não poéticos.
- Vale-se da paródia.
2. Nesta parte, começa a falar de um aspeto importante da cultura do Brasil.
Rui Barbosa, autor da viragem do século, foi um grande orador baiano: defendeu o Brasil na questão das fronteiras, nos tribunais de Haia na Holanda, conseguindo ganhar a causa. O mito que o rodeia fez dele um homem mais inteligente do que o que é na realidade.
É um representante daquela linha de Parnasianismo/Positivismo que inspira a Academia Brasileira de Letras.
3. Alusão à saudade de Coimbra. A ideia que a poesia do Brasil vem sempre da Europa, tinha de ser importada.
4. Alusão à especialização.
5. Crítica às correntes anteriores. O teatro é algo mais popular; a invenção e a imaginação pertencem a uma visão algo romântica.
6. O Modernismo inspira-se mesmo na "língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neo- / lógica. A contribuição milionária de todos os erros. / Como falamos. Como somos."
7. Critica a advocacia: desde a colonização que temos estudantes de Direito; a primeira faculdade criada foi precisamente a de Direito.
8. "Houve um fenómeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo". A obra de arte única cai por terra e todas as pessoas podem ser artistas.
A escultura como obra única também cai por terra: "Só não se inventou uma máquina de fazer versos - já havia o poeta parnasiano." Temos a paródia dos parnasianos.
Fica a ideia de que o progresso faz cair a ideia da obra de arte única.