Português: 01/08/23

terça-feira, 1 de agosto de 2023

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Análise do poema "Se eu fosse apenas", de Cecília Meireles


 
Se eu fosse apenas uma rosa,

com que prazer me desfolhava

já que a vida é tão dolorosa

e não sei dizer mais nada!

 
Se eu fosse água ou vento,

com que prazer me desfaria,

como em teu próprio pensamento

vai desfazendo a minha vida!

 
Perdoa-me causar-te a mágoa

desta humana, amarga demora!

– de ser menos breve do que a água,

mais durável que o vento e a rosa…

 
    Como sucede com frequência, o título fornece pistas sobre a mensagem do poema, implicando o «eu», que são confirmadas nas duas estrofes iniciais. De facto, nelas encontramos as possíveis atitudes do sujeito poético caso ele fosse cada um dos elementos que desejaria ser, atitudes essas que seriam tomadas face à visão do mundo do sujeito poético e de que dispõe justamente por não ser rosa, nem vento nem água.
    O «eu» pode sentir “que a vida é tão dolorosa”, e não existem palavras que sejam necessárias para exprimir os seus sentimentos (“e não sei dizer mais nada”), bem como que não se pode permanecer por muito tempo nos pensamentos das outras pessoas (“como em teu próprio pensamento / vais desfazendo a minha vida!”). Note-se, porém, que, na segunda estrofe, entra em cena um interlocutor, o qual é afetado pela mágoa, por causa da ação do «eu» de “ser menos breve do que a água, / mais durável que o vento e a rosa…”.
    O título é constituído por uma forma verbal que se encontra no modo conjuntivo (“fosse”), a qual traduz o desejo do sujeito lírico de ser algo que não é, enquanto que o advérbio «apenas» sugere uma ideia de simplicidade, ao passo que as reticências marcam uma suspensão do raciocínio, que será retomado na primeira estrofe.
    A presença do indefinido «uma» em “uma rosa” significa que o desejo do sujeito poético se refere a qualquer rosa e não a uma específica. Assim sendo, pode concluir-se que o que o leva a desejar ser uma rosa terá a ver com algo inerente a todas essas flores e não a algo característico de uma flor desse tipo. E que «algo» é esse? Todas se desfolham. Note-se que o desfolhar-se constituiria um ato que lhe daria prazer, visto que a vida para ele é dolorosa. O uso do presente do indicativo do verbo «ser» (“é”) permite encarar a afirmação como uma verdade absoluta.
    O outro fator que leva o «eu» a considerar um prazer o ato de se desfolhar, isto é, em «morrer» (note-se que a queda das folhas se relaciona com a ideia de morte), é a incapacidade ou a impossibilidade de expressar por meio das outras uma ideia diferente da “que a vida é dolorosa”: “e não sei dizer mais nada!” (atente-se na força da exclamação com que encerra o verso 4).
    O primeiro verso da segunda estrofe volta a repetir, ainda que parcialmente, o título, mas desta vez com outros elementos da Natureza que não a rosa: a água e o vento. Neste caso, os elementos não são antecedidos de qualquer artigo, o que pode apontar para uma generalização desses elementos.
    O segundo versa dessa estrofe retoma a ideia do prazer em se extinguir, desta vez através do vocábulo «desfaria». A comparação presente no terceiro verso anuncia a presença de um interlocutor que vai esquecendo o sujeito poético pouco a pouco, até porque o pensamento é fugaz, rápido, além de nunca ser estático.
    A terceira estrofe abre com um pedido de perdão do «eu» ao interlocutor por o magoar por causa da sua “humana, amarga demora”. O terceiro verso inicia-se com um traço (–), como se introduzisse uma explicação da afirmação anterior.
    A “amarga demora” que gera mágoa no interlocutor do «eu» é “menos breve do que a água, / mais durável que o vento e a rosa”. Mas o que significa ser menos breve do que a água? Desde logo, este elemento é um dos mais duráveis do planeta, o que tornaria o verso e a comparação ilógicos. Para a sua interpretação, é necessário recorrer ao poeta grego Heraclito (séc. VI a.C.) e à sua máxima de que não nos podemos banhar duas vezes no mesmo rio, visto que, ao entrar nele pela segunda vez, não será a mesma água que estará lá nesse momento. Assim sendo, o sujeito poético refere-se à brevidade que caracteriza a passagem da água e não ao elemento em si. Ser menos breve do que essa mudança é permanecer por mais tempo do que a mudança dessa água que passa, que escoa rapidamente, dura apenas alguns instantes.
    O último verso recupera os elementos naturais vento e rosa, neste caso para enfatizar a demora do «eu» lírico em “se acabar”, dado que este é “mais durável” do que ambos. A partir das comparações estabelecidas – água, vento, rosa –, o sujeito poético procura comprovar que a sua condição humana dura algum tempo. Ou seja, os elementos naturais são convocados para contrastar a brevidade da sua existência com a maior duração da do «eu».
    Em suma, para o sujeito poético a sua condição de ser humano, mais longa do que a vida dos elementos da Natureza referidos, é pouco valiosa; pelo contrário, preferiria uma existência mais efémera, visto que a vida não lhe proporciona alegria e felicidade. Nem mesmo as pessoas mais próximas – atente-se no determinante possessivo «teu» (v. 7), que indicia proximidade entre o «eu» e o «tu» - o têm no pensamento mais do que um breve instante.
    O recurso ao verso «ser» é significativo, pois, ao desejar ser algo, o sujeito lírico aponta para o que é.

Análise do poema "Palinódia", de Manuel Bandeira


    «Palinódia» é um vocábulo que designa uma retratação poética, uma correção presente, atual, sobre algo que foi dito no passado.
    No primeiro verso, o sujeito poético alude a uma prima, no entanto esta palavra possui um significado que vai para além do sentido que lhe é geralmente atribuído. De facto, o segundo verso informa que, se se mantivesse o significado coloquial, “arruinaria em mim o conceito / De teogonias velhíssimas”. A palavra «teogonia» quer dizer “a origem dos deuses”, o que implica que a visão da “prima” está associada a um momento especial: o do nascimento de Afrodite, a deusa grega do amor.
    A segunda estrofe confirma o conteúdo da primeira, visto que o sujeito poético recorda o momento em que viu a prima a tomar banho, num inverno específico (“Naquele inverno”). Note-se que, no Nordeste do Brasil, a palavra «inverno» designa os meses da chuva, que coincidem com o verão. Essa visão parece constituir a primeira lembrança da manifestação do desejo erótico, por isso o sujeito poético associa a imagem da prima à da deusa grega. Sucede, contudo, que as atitudes da prima não condizem com as da divindade, dado que aquela visita as igrejas o que constitui um comportamento caracteristicamente cristão.
    Na terceira estrofe, o «eu» poético justifica o título do poema, porque para ele aquela imagem da prima vista na infância é agora (“Hoje”), embora percebida de outra forma: “Que não és prima só / Senão prima de prima / Prima-dona de prima / – Primeva”, ou seja, ela é a representação mítica da primeira mulher (“primeva” = prima + Eva), permanecendo na memória do sujeito poético como símbolo da descoberta do desejo erótico. Deste modo, essa imagem da prima transcende o mero parentesco para se converter em símbolo da descoberta do amor sensual. A visão da prima pode ser entendida como um acontecimento epifânico que permite ao «eu» a descoberta de significados até então ocultos na sua vida.

Análise do poema "Pensão familiar", de Manuel Bandeira


    “Pensão familiar” é um poema constituído por uma oitava e uma quintilha.
    A primeira estrofe começa por descrever a pensão. Ela, de caráter burguês, é limitada / pequena (como se depreende pelo uso do diminutivo “pensãozinha”), com um jardim, onde se destacam o gato ao sol, a tiririca, que é um tipo de mato, as boninas (margaridas) murchas ao sol, a beleza dos girassóis e as dálias, flores vistosas e sem perfume. Esta caracterização da pensão sugere que se trata de um espaço descuidado e algo abandonado, pois a erva daninha domina o canteiro, ofuscando assim a beleza dos girassóis e das dálias. A figura do gato ao sol reforça a impressão de um lugar “parado”, tranquilo, sem agitação alguma.
    Na época, as pensões eram moradias coletivas destinadas a pessoas de baixa renda que procuravam manter alguma dignidade e conforto, condizentes com as suas posses financeiras. O título revela que a pensão retratada no poema é “familiar”, isto é, dá guarida a pessoas que ganham a vida honestamente, tendo em conta que havia outras pensões que eram destinadas à prostituição. Por outro lado, de acordo com o verso 1, é uma “pensãozinha burguesa”.
    A segunda estrofe centra-se no gato, quebrando a estagnação do ambiente da primeira, dado que descreve a atividade do felino. O dinamismo da sua ação é dado pelo uso das formas verbais “faz”, “encobre”, “sai” e “vibrando” (gerúndio). Por outro lado, o comportamento do animal é natural, espontâneo e elegante aos olhos do sujeito poético.
    Além disso, o último verso enfatiza a elegância do gato: “– É a única criatura fina na pensãozinha burguesa”. Dado que a ação do felino se opõe ao descuido e à estagnação do ambiente, pode deduzir-se que o comportamento das pessoas que residem naquele espaço é artificial. Aliás, a caracterização da pensão como “familiar” (título) e “burguesa” (verso 1) realça a passividade dos seus moradores e o conformismo rotineiro que nega a beleza da vida. O comportamento do gato, de início, não parece motivo poético, como o comprova o calão “mijadinha”, contudo o contraste entre a sua ação e a neutralidade dos moradores (que nem sequer são referidos diretamente) revela a negação de uma vida marcada por valores mesquinhos que aviltam a existência e condicionam as pessoas a uma vida medíocre e conformista.

Análise do poema "O último poema", de Manuel Bandeira


    No primeiro verso, o sujeito poético manifesta o seu desejo: “Assim eu quereria o meu último poema”. De seguida, apresenta uma série de comparações que traduzem esse seu desejo. Através da primeira, o «eu» afirma que deseja a simplicidade que provém da espontaneidade, capaz de traduzir sem artifícios prévios o carinho e o afeto: “Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais”. A segunda mostra que o «eu» deseja produzir um poema que parte toda a intensidade característica da emoção sem, entretanto, resvalar para a pieguice sentimental, sobretudo a dos românticos: “que fosse ardente como um soluço sem lágrimas”. A terceira demonstra que o sujeito poético deseja produzir um poema com uma beleza discreta, incapaz de alarde, comedida a ponto de se revelar discretamente, impondo-se pela forma, sem necessidade de espraiar as suas intenções: “que tivesse a beleza das flores quase sem perfume”. A quarta indicia que o sujeito lírico almeja elaborar um poema que contenha toda a beleza e preciosidade dos sentimentos e emoções raros, mas que toda a preciosidade possa ser consumida, isto é, dissolvida por uma «chama», por um estilo simples capaz de conter, na sua simplicidade e pureza, a nobreza dos sentimentos: “A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos”. A última mostra que esse poema deveria ser capaz de conter os sentimentos mais intensos, sem, no entanto, ser sentimental, sem anunciar de forma dramática a intensidade das emoções, guardando em si o mistério que caracteriza a alma humana. 

Séries de animação do meu tempo: Jacky, o Urso de Tallac


    Jacky, o Urso de Tallac, também conhecida como Jacky e Nuca, conta a história de um ursinho e da sua irmã que, depois de perderem a mãe, são adotados pelo pequeno índio Senda e vivem uma série de aventuras.
    Como era característica da época, estamos na presença de uma obra de animação que mexia com as emoções e os sentimentos. O último episódio foi chocante!
    Pessoalmente, entre Jacky e Tom Sawyer é difícil eleger a melhor série da nossa infância. E para quê escolher também?

Análise do poema "Ode a uma estrela", de Pablo Neruda


 
Ao subir à noite
no terraço
de um arranha-céus altíssimo e
aflitivo
pude tocar a abóbada noturna
e um ato de amor extraordinário
apoderei-me de uma estrela celeste.

 
Era uma noite negra
e eu deslizava
pelas ruas
com a estrela roubada em meu bolso.

 
De trémulo cristal
parecia
e era
num átomo
como se levasse
um pacote de gelo
ou uma espada de arcanjo na
cintura.

 
Guardei-a,
temeroso,
debaixo da cama
para que ninguém a descobrisse,
sua luz poré
atravessou
primeiro
a lã do colchão,
depois
as telhas,
e o telhado da minha casa.

 
Incómodos
tornaram-se
para mim
os afazeres mais comuns.

 
Sempre com essa luz
de astral acetileno
que palpitava como se quisesse
retornar para noite,
eu não podia
dar conta de todos
os meus deveres
cheguei a esquecer de pagar
as minhas contas
e fiquei sem pão nem mantimentos.

 
Enquanto isso, na rua,
se amotinavam
transeuntes, boémios
vendedores
atraídos sem dúvida
pelo insólito clarão
que viam sair de minha janela.

 
Então
recolhi
outra vez minha estrela,
com cuidado
a envolvi num lenço
e mascarado entre a multidão
passei sem ser reconhecido.

 
Tomei a direção oeste,
rumo ao rio Verde,
que ali sob o arvoredo
flui sereno.

 
Peguei a estrela da noite fria
e suavemente
lancei-a sobre as águas.

 
E não me surpreendeu
notar que se afastava
como um peixe insolúvel
movendo
na noite do rio
seu corpo de diamante.

 
    Ode a uma estrela” é um poema que integra a obra Terceiro livro das odes, publicado em 1957, e que foi traduzido para português do original “Oda a uma estrella”, que possui nove estrelas, enquanto na versão em língua portuguesa contém onze. Por outro lado, a composição vem acompanhada por belíssimas ilustrações, em folhas duplas, de modo que ela aparece numa das folhas e, na outra, predomina a ilustração. É por esta razão que existe um número diferente de estrofes nas duas versões.
    O que é uma ode? O vocábulo «ode» é de origem grega e significava «canto» (de exaltação de herói ou de um feito). No caso vertente do poema de Neruda, formalmente é composto por versos brancos e sem métrica regular, enquanto, no que diz respeito ao conteúdo, se centra na introspeção sobre o sofrimento de amor, o que está de acordo com a visão épica da existência que a ode atual busca, dado que a temática referida é universal porque aplicável a todos os homens.
    A primeira estrofe do poema coloca-nos perante um sujeito poético que se encontra aflito, à noite, num terraço de arranha-céu. Estes três versos iniciais permitem deduzir que se trata de alguém que mora numa grande cidade, habitada por muitas pessoas (a referência ao arranha-céu), mas que se sente aprisionado por essa selva de pedra. Num ímpeto de liberdade, toca a “abóbada noturna”, uma imagem poética da noite, arqueada como uma abóbada. Depois rouba, num extraordinário ato de amor, rouba uma estrela do céu.
    Na segunda estrofe, na noite negra, o sujeito poético desliza pelas ruas com a estrela roubada, que guarda no seu bolso. Chegado a casa, acondiciona-a, receoso, debaixo da cama, para que ninguém a descobrisse, no entanto o seu brilho é tão intenso que a sua luz / o seu brilho atravessa a lã do colchão, as telhas e o telhado da sua casa. A frustração surge quando o «eu» constata que o brilho da estrela torna incómodos os seus afazeres mais simples. A estrela roubada continua a brilhar intensamente, à semelhança das fagulhas que se soltam de uma soldagem, e quer retornar à noite de onde foi retirada. Este facto impede o «eu» de executar todos os seus deveres, chegando mesmo a esquecer-se de pagar as suas contas, ficando sem pão e mantimentos, isto é, a preocupação com a estrela afeta não só as questões menores da sua vida, mas também o essencial, como a alimentação. Fazendo uma leitura metafórica do poema, o sujeito poético não é feliz, dado que o que ama (a estrela como metáfora da mulher) tem vida própria e não o quer.
    Enquanto isso, na rua, aglomeram-se diferentes pessoas, todas atraídas pelo brilho incomum que sai da casa do sujeito lírico, o que torna a sua vida ainda mais complicada. Todo este tumulto à frente da sua residência leva-o a recolher a estrela, envolvê-la num lenço e sair, mascarado, com ela, para não ser reconhecido.
    O «eu» caminha em direção ao rio Verde e lança a estrela suavemente sobre as águas. E constata que não fica surpreendido com o comportamento do astro ao ser lançado ao rio: ela move o seu corpo de diamante, como um peixe insolúvel, adjetivo que tanto pode significar aquilo que não se dissolve como aquilo para o que não há solução.
    Assim sendo, podemos concluir que a estrela tem vida própria, tanto que não se adequa aos padrões atuais da vida de um homem comum; por outro lado, ela representa, para o ser que a rouba, um problema e uma fonte de inquietação e perturbação.
    Quer isto dizer que a composição poética nos fala de um homem comum (vive numa grande cidade, precisa de trabalhar ara comprar pão e mantimentos e pagar as suas contas, ou seja, é uma pessoa como outra qualquer) que, por gostar de estrelas, rouba uma e, ingenuamente, a esconde em sua casa. Porém, a estrela parece adquirir vida própria, não se adapta à vida deste homem.
    Lido metaforicamente, o poema coloca-nos na presença de um homem que, num desatino causado pela paixão, rouba do céu uma estrela, com a intenção de a ter só para si. Deste modo, Neruda suscita o tema da paixão e da possessão do amor, isto é, suscita em nós o questionamento sobre os limites do verdadeiro amor ou como são as relações entre o amante e o ser amado. No final, essa relação de posso do objeto desejado torna-se uma relação de privação com esse objeto de desejo, dado que entrega a estrela ao rio.
    Prosseguindo a leitura metafórica do poema, Neruda constrói nele uma metáfora do ser humano e das relações amorosas: o que é o ser amado em relação àquele que o ama; até que ponto se pode amar, sem que esse amor sufoque, anule, a pessoa amada; como identificar a linha ténue que separa a paixão da posse.
    Além da metáfora, o poema gira em torno da metonímia. Do alto de um arranha-céu, o sujeito poético, enlouquecido de amor, toca a abóbada noturna e apossa-se da estrela, que se faz notar sobretudo através da emissão de um brilho intenso. Por isso, o objeto roubado é comparado a diversas coisas, como a um “trémulo cristal”, a “um pacote de gelo” ou a “uma espada de arcanjo na cintura”, tal é a sua delicadeza e incandescência.
    Ao entrar em casa e guardar a estrela para que ninguém saiba que a possui, a luz que ela emite vai do micro para o macroespaço, atravessando o colchão, as telhas e saindo da casa pelo telhado. Assim sendo, os seus raios alcançam o espaço externo, apesar dos esforços do sujeito poético em esconder o objeto amado.
    Dentro desta conceção metonímica da estrela, na sexta estrofe, a estrela, ou mais precisamente a sua luz, adquire traços de personagem. Mais do que isso, personifica-se: “palpitava como se quisesse / retornar para a noite”. Ou seja, estamos na presença de uma estrela com desejos e vontades. Nesse momento, o sujeito poético apercebe-se de que ele e o objeto amado possuem interesses conflituantes: “eu não podia / dar conta de todos / os meus deveres / cheguei a esquecer de pagar / as minhas contas / e fiquei sem pão nem mantimentos”. De modo semelhante, do lado de fora da casa, amontoa-se um conjunto de pessoas, cuja atenção é despertada não pela estrela em si, mas pelo brilho que emite e que a casa não pode conter por ser tão intenso: sai pela janela da casa e chega ao espaço externo.

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