Português: 17/11/11

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Barroco na Literatura

1. O Barroco

          Dá-se o nome de Barroco ao estilo artístico que nasceu na Itália, nos finais do século XVI, e que, até meados do século XVIII, se desenvolveu na Europa, na América do Sul e nas colónias portuguesas do Oriente. Considerado o estilo mais conforme à Contrarreforma da Igreja de Roma e ao absolutismo, caracteriza-se pelo esplendor e pela exuberância.

          Na verdade, poderemos apresentar três causas para o aparecimento e desenvolvimento deste movimento artístico. Em primeiro lugar, a Contrarreforma na igreja católica, que pretendeu criar nos crentes uma exaltação religiosa, através do deslumbramento provocado pelas igrejas exuberantemente ricas e decoradas. Em segundo lugar, a adesão dos papas e dos soberanos europeus a um estilo artístico que, pela sua exuberância, exaltava o seu poder absoluto, através da grandiosidade excessiva dos palácios recheados de obras de arte e de decoração. Finalmente, a insatisfação dos artistas, por natureza seres insatisfeitos, que desejavam manifestar a sua rebeldia contra os limites da arte do Renascimento, cansados que estavam do equilíbrio, da harmonia e da simplicidade racional da Renascença.


2. Antecedentes


          A passagem do Renascimento para o Barroco processou-se através de um movimento designado por Maneirismo, que é um estilo italiano do século XVI, caracterizado por um certo culto da forma, por conceitos subtis, por um sentido negativo da vida, pelo desejo de obter efeitos emocionais, recorrendo a movimentos e jogos de contrastes.
          O vocábulo maneirismo teve origem no vocábulo italiano maniera, donde procede manierismo, termo muito usado pelos tratadistas e críticos de arte italianos da segunda metade do século XVI, com o significado de estilo de um artista -  a maniera de Rafael ou de Miguel Ângelo - ou de estilo de uma época ou de uma nação (maniera greca, maniera bizantina). Assim, os artistas que se preocupavam acima de tudo com a maneira ou que se esforçavam por imitar a maniera di Michelangelo foram naturalmente chamados maneiristas.
          Cronologicamente, os maneiristas nasceram entre 1525 e 1580, enquanto os barrocos nasceram cerca de oitenta anos depois.
          Este estilo veio da transformação dos valores formais do Renascimento. De facto, no século XVI, os escritores, saturados da imitação dos modelos clássicos, sem romperem definitivamente com eles, enveredaram por um caminho mais individual, com maior liberdade de imaginação. Foi a este modo de escrever que se chamou Maneirismo. Os temas prediletos deste estilo foram os que acentuavam as naturais limitações do Homem na Terra, a dor, o desengano da vida, a fugacidade do tempo. Por outro lado, sobressai o gosto pelas metáforas ousadas, pelas antíteses e pelas «agudezas verbais».
          A tendência para o exagero avoluma-se no século XVII, dando origem a uma literatura (e a uma arte) bem identificada e afastada do Classicismo primitivo. Para esta situação contribuíram vários fatores:

  • A partir de Copérnico, a Homem soube pela astronomia como estava longe de ter abrangido o espaço geográfico do cosmos. O tempo (milhões de anos-luz) surgiu-lhe concomitantemente com o infinito. Sentiu-se então demasiado pequeno para dominar a Natureza.
  • Depois da revolta de Lutero, as lutas religiosas e políticas semearam por toda a parte os horrores da dor e da morte. Em terra, múltiplos anos consecutivos de crise económica trouxeram a fome e multiplicaram os maltrapilhos. No mar, piratas cruéis assaltavam navios, roubavam fazendas e vidas.
  • Após a morte de Filipe II, a Espanha começou a mirrar até se converter no esqueleto de um gigante, numa sombra do que fora nos séculos XV e XVI. Portugal, unido a ela, não teve melhor sorte. Uma onda de pessimismo apossou-se então de todos os ânimos, aumentando a angústia provocada pelo desfazer de outros valores.
  • Acresce ainda o papel da Inquisição. Sendo-lhes vedada a análise crítica da sociedade, os escritores refugiaram-se nos malabarismos dos jogos verbais.
          Neste contexto de crise de valores, nasceu uma literatura de evasão, tendencialmente pessimista, exageradamente formalista ou conceptualista.


3. Origem do conceito


          A origem etimológica do termo barroco é discutível.
          De acordo com determinados autores, proviria do nome do pintor italiano Barocci; segundo outros, teria origem em barocco ou barocchio, duas palavras italianos que designam fraude. Outros há que entendem que deriva da palavra baroco, pertencente à lógica escolástica, designando um tipo de silogismo. Porém, a explicação mais comummente aceite é aquele que diz que provém de barroco, palavra portuguesa do século XVI que designava uma pérola de forma irregular. Aquele termo, por sua vez, provirá da palavra latina verruca, que significava uma pequena elevação de terreno; ou do nome da cidade de Barokia, na Índia, onde havia um mercado florescente de pérolas.
          Em suma, etimologicamente, a palavra «barroco» parece derivar do latim verruca, que significava, a princípio, pequena elevação de terreno e até qualquer excrescência ou mancha numa superfície lisa. Será, por isso, que nós temos, com esse sentido, o vocábulo verruga. Do sentido lato, passou-se a um sentido mais restrito: determinadas imperfeições das pedras preciosas. No século XVI, chamavam-se barruecas, baroques ou barrocas as pérolas não redondas ou manchadas. No século XVII, começou a utilizar-se a palavra baroque para significar qualquer coisa de forma irregular, desigual, bizarra; e, neste sentido, passou a qualificar determinada música e determinadas artes plásticas.
          Foi Carducci quem, em 1860, empregou o adjetivo barroco para qualificar a literatura do século XVII. Desde então barroco passou a designar o estilo dos artistas e escritores de Seiscentos.


4. Cronologia do Barroco


          O Barroco não atingiu, ao mesmo tempo, todos os países europeus. Assim:

  • na Itália, desenvolveu-se no século XVI;
  • na Espanha, a partir de 1570;
  • em França, na primeira metade do século XVII;
  • em Portugal, situa-se entre 1580 e 1756 (este delimitação está longe de ser rígida).

Regência verbal

          Certos verbos selecionam complementos que se iniciam por preposição. Esta relação que se estabelece entre certos verbos e os seus complementos designa-se regência verbal.

          Atente-se num velho exemplo: o verbo gostar seleciona um complemento oblíquo que se inicia pela preposição «de»:
                            . Eu gosto do Benfica.


          Veja-se outro exemplo: o verbo viajar seleciona, igualmente, um complemento oblíquo, neste caso introduzido pela preposição para:
                                                    . José Sócrates, graças a Deus, viajou para Paris.


          Quando um verbo que seleciona um complemento introduzido por uma preposição faz parte de uma oração subordinada relativa, a preposição antecede o pronome relativo que inicia essa oração:
                             . O clube de que eu gosto é o Benfica.
                             . A cidade para onde Sócrates viajou é Paris.

          As preposições selecionadas por estes verbos são obrigatórias na frase, visto que, se as omitirmos, ela torna-se agramatical:
                               . * O clube que eu gosto é o Benfica.
                               . * A cidade onde Sócrates viajou é Paris.
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