Apesar
da dinâmica que se fez sentir na sociedade portuguesa a partir do século XV, do
impacto dos Descobrimentos na mudança das mentalidades e da contratação de
humanistas estrangeiros por parte de monarcas portugueses a partir do reinado
de D. Afonso V, o Renascimento chegou tardiamente ao nosso país. Observe-se,
por exemplo, como a arquitetura nunca se chegou a impor verdadeiramente, em
razão da influência do estilo gótico, que se prolongou até ao reinado de D.
Manuel e esteve na origem do estilo manuelino, uma espécie de modernização
renascentista do gótico. Somente no reinado de D. João III (1521 – 1557) se
constituíram edifícios marcadamente renascentistas, como a Igreja de Nossa
Senhora da Graça em Évora, a Misericórdia de Beja, as sés de Miranda do Douro,
Leiria e Portalegre e um dos claustros do Convento de Cristo em Tomar.
Politicamente,
durante o período de vida de Camões (1524 ? ‑ 1580), reinaram em Portugal D. João
III, D. Sebastião e D. Henrique. Camões assistiu ao fim do ciclo dos
Descobrimentos, que foram anteriormente, simultaneamente, uma das causas e
consequências do espírito renascentista. Contribuindo para a abertura de novos
horizontes ao homem europeu, os Descobrimentos determinaram um conjunto de transformações:
Aproximadamente
doze anos após o nascimento de Camões, surge em Portugal o Tribunal da
Inquisição. Em 1531, regista-se um grande terramoto no reino, ficando
destruídas povoações inteiras. A desproporção entre a escassez de recursos
humanos e a vastidão geográfica das terras descobertas, a sucessão de
naufrágios (o de Sepúlveda foi em 1522), a derrota em Alcácer Quibir em 4
de agosto de 1578 contribuíram fortemente para a queda do nosso império. Em
suma, é lícito concluir que o tempo biográfico de Camões corresponde à trajetória
política portuguesa, que culmina com a perda da independência em 1580.