Português: 18/01/13

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Renascimento em Portugal - Generalidades

         Apesar da dinâmica que se fez sentir na sociedade portuguesa a partir do século XV, do impacto dos Descobrimentos na mudança das mentalidades e da contratação de humanistas estrangeiros por parte de monarcas portugueses a partir do reinado de D. Afonso V, o Renascimento chegou tardiamente ao nosso país. Observe-se, por exemplo, como a arquitetura nunca se chegou a impor verdadeiramente, em razão da influência do estilo gótico, que se prolongou até ao reinado de D. Manuel e esteve na origem do estilo manuelino, uma espécie de modernização renascentista do gótico. Somente no reinado de D. João III (1521 – 1557) se constituíram edifícios marcadamente renascentistas, como a Igreja de Nossa Senhora da Graça em Évora, a Misericórdia de Beja, as sés de Miranda do Douro, Leiria e Portalegre e um dos claustros do Convento de Cristo em Tomar.

         Politicamente, durante o período de vida de Camões (1524 ? ‑ 1580), reinaram em Portugal D. João III, D. Sebastião e D. Henrique. Camões assistiu ao fim do ciclo dos Descobrimentos, que foram anteriormente, simultaneamente, uma das causas e consequências do espírito renascentista. Contribuindo para a abertura de novos horizontes ao homem europeu, os Descobrimentos determinaram um conjunto de transformações:


         Aproximadamente doze anos após o nascimento de Camões, surge em Portugal o Tribunal da Inquisição. Em 1531, regista-se um grande terramoto no reino, ficando destruídas povoações inteiras. A desproporção entre a escassez de recursos humanos e a vastidão geográfica das terras descobertas, a sucessão de naufrágios (o de Sepúlveda foi em 1522), a derrota em Alcácer Quibir em 4 de agosto de 1578 contribuíram fortemente para a queda do nosso império. Em suma, é lícito concluir que o tempo biográfico de Camões corresponde à trajetória política portuguesa, que culmina com a perda da independência em 1580.

Renascimento - Contexto português

         Acentua-se, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o processo de concentração do poder político e económico sob a chefia do rei, iniciado com as campanhas do Norte de África e a exploração do ouro da Mina. A exploração económica do ultramar faz-se grandemente em regime de monopólio da Coroa. Apesar dos progressos da burguesia rural e comercial desde o século XIV, ela não conseguiu evitar que as novas expansões económicas fossem na maior parte absorvidas como renda feudal, sob formas variadas (rendas da colonização insular e brasileira, monopólios dos "resgates" e "tratos" ultramarinos, monopólios de produção interna sujeita a direitos "banais", e, finalmente, administração da Coroa a favor duma oligarquia), o que dificultou a acumulação do capital propriamente dito e seu posterior investimento na agricultura e, em geral, na produção interna.
         Esta espécie de monopólio comercial ultramarino a favor da nobreza palaciana encontra dificuldades: vícios internos do seu funcionamento, ataques vindos de Holandeses, Franceses, Ingleses, aliados por vezes no Oriente a populações locais, que dificultam cada vez mais o domínio militar das estradas e feitorias. O sistema entra em crise por meados do século XVI. D. João III é obrigado a evacuar algumas praças marroquinas. Realizam-se tentativas para descobrir novas minas de ouro ou prata na América e na África, mas volta-se depois ao projecto da guerra africana, tendo em mira a ocupação do reino de Fez. O desastre de Alcácer Quibir vem agravar a bancarrota económica com o colapso militar e político. A união com Castela apareceu finalmente à maior parte da camada dirigente como uma saída. E, assim, a Coroa portuguesa integra-se, desde 1580, no sistema de hegemonia espanhola, que se mantém até finais da Guerra dos Trinta Anos, cerca de meados do século XVII, como uma extensa coligação de coroas, distintas mas acumuladas sobre a mesma cabeça imperial ou ligadas entre si pela consanguinidade dos monarcas Habsburgos.
         No entanto, mesmo dentro de Portugal e Espanha, a burguesia mercantil não deixava de progredir, desafiando o monopólio do Estado e o poder da nobreza. Pouco a pouco domina a praça de Lisboa e o comércio entre o ultramar e a Europa. Grande parte destes homens de negócios descende dos judeus convertidos à força em 1496 e efetivamente assimilados. Daqui tiram pretexto os círculos dirigentes para instituir a Inquisição (1536), em teoria dirigida sobretudo contra a prática clandestina do judaísmo. Graças ao Santo Ofício, estabeleceu-se a discriminação contra os «Cristãos-Novos», verdadeiros ou supostos descendentes dos Judeus, que eram grande parte dos "homens de negócios", e tentou-se impedir o acesso deles a postos de direção no Estado, na Igreja e até na Universidade; ao mesmo tempo que, através do fisco inquisitorial, se expropriava uma parte dos seus bens. Esta perseguição foi contraproducente, pois teve, entre outros resultados, o de que muitos cristãos-novos emigraram e constituíram uma rede internacional com núcleos na Holanda, na França, na Inglaterra, no Brasil, no Peru, na África e na Índia, pelas malhas da qual passava uma grande parte do comércio mundial. Através destas relações, a burguesia mercantil portuguesa tende a ganhar um carácter cosmopolita.

 Fonte: História da Literatura Portuguesa, A.  J. Saraiva e O. Lopes

A escola pública é uma merda!!!


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