Português: 27/04/24

sábado, 27 de abril de 2024

Análise de Assassinos da Lua das Flores

 I. Biografia da David Graan


II. Obras de David Graan


III. Resumo da ação


IV. Análise sumário da ação


V. Análise da obra

    1. Primeira crónica - A mulher marcada

        1.1. 1.ª parte: O desaparecimento

            . Resumo

            . Análise

        1.2. 2.ª parte: Um ato de Deus ou do homem?

            . Resumo

            . Análise

        1.3. 3.ª parte: Rei das colinas Osage

            . Resumo

            . Análise

        1.4. 4.ª parte: Reserva subterrânea

            . Resumo

            . Análise

        1.5. 5.ª parte: Os discípulos do Diabo

            . Resumo

            . Análise

        1.6. 6.ª parte: Olmo de um milhão de dólares

            . Resumo

            . Análise

        1.7. 7.ª parte: Esta coisa das trevas

            . Resumo

            . Análise

    2. Segunda crónica - O homem das evidências

        2.1. 8.ª parte: Departamento de virtude fácil

            . Resumo

            . Análise

        2.2. 9.ª parte: Os cowboys disfarçados

            . Resumo

            . Análise

        2.3. 10.ª parte: Eliminando o impossível

            . Resumo

            . Análise

        2.4. 11.ª parte: O terceiro homem

            . Resumo

            . Análise

        2.5. 12.ª parte: Um deserto de espelhos

            . Resumo

            . Análise

        2.6. 13.ª parte: O filho do carrasco

            . Resumo

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        2.7. 14.ª parte: Palavras moribundas

            . Resumo

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        2.8. 15.ª parte: A face oculta

            . Resumo

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        2.9. 16.ª parte: A melhoria da repartição

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        2.10. 17.ª parte: O artista Quick-Draw, o Yegg e o Soup Man

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        2.11. 18.ª parte: A situação do jogo

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        2.12. 19.ª parte: Um traidor do seu próprio sangue

            . Resumo

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        2.13. 20.ª parte: Assim Deus o ajude

            . Resumo

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        2.14. 21.ª parte: A casa quente

            . Resumo

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    3. Terceira crónica - O repórter

        3.1. 22.ª parte: Terras fantasmas

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        3.2. 23.ª parte: Um caso não encerrado

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        3.3. 24.ª parte: Dois mundos

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        3.4. 25.ª parte: O manuscrito perdido

            . Resumo

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        3.5. 26.ª parte: O sangue grita

            . Resumo

            . Análise


VI. Personagens - Caracterização

    1.ª) Mollie Burkhart

    2.ª) Tom White

    3.ª) William K. Hale

Análise das 24.ª, 25.ª e 26.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores

    Estes três capítulos, chamemos-lhes assim, estabelecem que a arte da dança – primeiro uma peça tradicional e depois ballet – é um elemento fundamental da cultura osage, algo que já partilharam com o mundo, visto que duas irmãs nativas, Maria e Marjorie Tallchief, foram bailarinas excecionais. De facto, Maria, nascida em 1925, tornou-se a primeira bailarina da Ópera de Paris, bem como a primeira bailarina norte-americana a alcançar o estatuto de estrela internacional, destacando-se pelo seu desempenho excecional em papéis principais de balés clássicos como O Lago dos Cisnes e o Quebra-Nozes. Além disso, foi uma das fundadoras e principal bailarina do New York City Ballet, onde trabalhou de perto com o coreógrafo George Balanchine, que foi seu esposo durante alguns anos.
    Uma das temáticas centrais do final da obra de Graan é a questão de como viver entre culturas, que molda a experiência vivida pelo povo Osage no século XXI, que continua a lutar contra os efeitos do trauma histórico e contra sentimentos de alienação. Ao longo das décadas, a tribo sofreram diversas perdas sobretudo por causa da migração forçada e da destruição de práticas tradicionais, através da eliminação das manadas de búfalos que viviam nas planícies centrais, os desafios contemporâneos pelos Osage são, simultaneamente, semelhantes e diferentes dos que os seus antepassados enfrentaram. Com efeito, atualmente continuam a ter de lutar para proteger e assegurar os seus direitos, como é exemplificado pela ação judicial que colocam à Enel, uma empresa italiana do ramo energético que é acusada de violar a sua soberania tribal, bem como pela ação contra o governo norte-americano, tendente ao ressarcimento dos danos sofridos pelo povo. Profundas mudanças culturais, englobando regulamentação atinente à extração de petróleo, bem como a migração, têm vindo a esvaziar cidades anteriormente prósperas. No entanto, como uma mulher idosa Osage proclama nas derradeiras páginas do livro de Graan, alguns osage continuam ligados à sua terra porque, saturada com o sangue dos seus antepassados, ela ainda grita por justiça.
    Obter justiça para todas as vítimas é impossível, pois o tempo, no seu imparável curso, eliminou evidências e ocultou conexões, desde logo em razão do falecimento de descendentes de testemunhas e criminosos. O autor, afirma nas páginas finais, que a história é implacável, mas também falível, pois depende do ser humano para a construção do seu conteúdo e para a sua continuação. Se anteriormente os assassinatos tinham sido amplamente conhecidos, em pleno século XXI estavam praticamente esquecidos ou perdidos graças à indiferença ou ao preconceito racial, ou simplesmente abafados pela erupção de outros acontecimentos, tidos como mais importantes. Assim sendo, é necessária vigilância para manter a história viva e permitir que ela faça o seu trabalho.
    Outro dos motivos que impede a obtenção de justiça plena pelos crimes cometidos há um século é o desconhecimento do número real de assassinatos. Embora o período do Reinado do Terror tenha sido circunscrito à década de 1920, Graan descobre que há outros crimes, ocorridos na anterior e na subsequente, que se enquadram no padrão dos anos 20. A contagem oficial de vítimas – vinte e quatro – está inequivocamente errada e, muito provavelmente, representa apenas uma pequena percentagem do número real de pessoas mortas, ou deixadas morrer, durante esse período de crime organizado e sistemático. Assim sendo, a figura de William Hale pode ser vista como a vilã central do livro, porém o leitor tem de tomar consciência de que ele é apenas um dos muitos assassinos. Dos outros, alguns eram maridos e esposas que envenenaram lentamente os seus cônjuges ou companheiros; outros eram tutores que negavam cuidados médicos aos doentes. A ambição desmedida que norteou as ações de Hale enquanto orquestrava uma vastíssima conspiração motivou igualmente outras pessoas, cujos crimes talvez não tenham sido tão bem delineados, mas não foram menos letais. A terra do Condado de Osage pode continuar a clamar por justiça e reparação, no entanto o livro conclui tristemente que é improvável que receba uma resposta adequada.

Caracterização de Mollie (Wah-kon-tah-he-um-pah) Burkhart

    Mollie Burkhart é um membro da nação Osage, nascida em 1886. Ela é uma de quatro irmãs e é mãe de três filhos (James ou Cowboy, Elisabeth e Anna) e dona de uma grande fortuna, obtida graças aos direitos sobre terras no Condado de Osage, situado no estado norte-americano do Oklahoma. Embora nativa, é casada com um homem branco – Ernest Burkhart – e fala inglês. Quieta, paciente, mas determinada a bter justiça para as suas irmãs assassinadas, Mollie é uma personagem central da história da sua tribo e do livro de David Graan. Depois do julgamento, divorcia-se de Ernest e casa novamente com James Cobb. Morre de causas naturais em 1937, aos 51 anos.
    De facto, Mollie Burkhart é a protagonista da narrativa sobre os assassinatos de que foi vítima a sua tribo, desde logo porque consegue sobreviver à onda de mortes e porque está diretamente conectada com as vítimas e os vilões da história. Não obstante, não são muitas as informações conhecidas sobre a mulher. Quando Tom White assume a direção do caso, fica surpreendido por os agentes que o antecederam na investigação não tenham interrogado mais profundamente Mollie, visto que muitos dos seus parentes tinham sido vítimas do Reinado do Terror. O silêncio a que ela se submete parece constituir um reflexo do estereótipo do índio norte-americano, porém, na realidade, ele decorre essencialmente dos preconceitos de género e de raça que vigoravam na época. Seja como for, a imagem que se desprende de Mollie é a de uma mulher comprometida com a sua família e as suas tradições culturais. A sua determinação em conseguir justiça para os seus familiares não é mais do que uma extensão desse comprometimento.
    Como foi referido anteriormente, Mollie nasceu em 1886, bem antes do enriquecimento dos Osage, e foi criada de modo tradicional e de acordo com os costumes da sua tribo, até atingir a idade adulta, apesar de ter frequentado durante algum tempo a escola, o que lhe permitiu aprender os costumes norte-americanos e falar inglês. Apesar desse contacto com uma cultura exterior, Molly espera casar-se de acordo com a tradição da sua tribo e tem mesmo um breve casamento juvenil com Henry Roan, porém apaixona-se por Ernest e acaba por desposá-lo, seguindo os seus sentimentos, resultando desse matrimónio três filhos, que ama profundamente. Evidência desse amor é o facto de mandar embora a filha mais nova para o proteger, quando membros da sua família começam a morrer repentinamente e de forma suspeita.
    A imagem com que ficamos de Mollie é a de uma mulher compassiva, carinhosa e atenciosa. Confirmando esta visão, no final do livro de Graan, a sua neta, Margie, compartilha uma lembrança que o seu pai conservava da sua mãe tratando dela quando estava com dores de ouvido. Mesmo tendo consciência de que não é a filha predileta da mãe, Mollie cuida de Lizzie. Outro facto curioso prende-se com o gosto de dar festas que possui, nunca despendendo, todavia, grandes somas de dinheiro para tal, incluindo a receção de parentes do seu marido claramente racistas.
    O amor pelo marido leva-a a não acreditar, de início, nas acusações que o levam a tribunal. De facto, ela continua comprometida com o esposo, mesmo após a sua prisão por conspirar contra a própria família. Num dos poucos momentos em que Mollie se faz ouvir, ela expressa a sua determinação de que os culpados sejam punidos, bem como a convicção profunda de que Ernest não é um deles. Assim, escreve breves cartas consoladoras ao esposo na prisão, porém a sua atitude muda radicalmente quando ele confessa a sua culpa nos crimes. Deste modo, no momento em que é levado após ouvir a sentença, a expressão da mulher é descrita como «fria».
    A vida de Mollie descrita ao longo do livro é marcada pelo sofrimento e pela dor, culminando no momento em que ganha consciência de que o marido é um criminoso que atentou contra membros da sua própria família, contudo, no final, ganha contornos de felicidade, já que se volta a apaixonar e se casa. Além disso, consegue que a sua guardianship seja removido. Quando encontra a morte, em 1937, está livre por completo da teia da conspiração.

Resumo da 26.ª parte - 3.ª crónica: O sangue grita

    David Graan regressa aos Arquivos Nacionais, onde pesquisa os tutores para descobrir quantos tutorados foram listados como falecidos, descobrindo números que o deixam chocado, sobretudo porque a maioria das mortes nunca foi investigada. Mesmo que algumas dessas pessoas tenham encontrado a morte de forma natural, o escritor vislumbra ali o padrão do assassinato generalizado. Caso após caso, um tutorado morre abruptamente, o que permite ao seu tutor branco reclamar a sua fortuna.
    Deste modo, o número oficial de vítimas do período do Reinado do Terror pode cifrar-se nas 24, todavia, de acordo com a pesquisa de Graan acerca dos tutorados que morreram durante essa época, o real supera largamente essa quantia. À mesma conclusão chegam outros investigadores, como William Stepson e Dennis McAuliffe Jr.
    A última pessoa a ser visitada por Graan é Mary Jo Webb, que mantém a esperança de descobri o que sucedeu ao seu avô, Paul Peace, o qual suspeitava estar a ser envenenado pela sua segunda esposa, uma mulher branca. Embora o homem consiga escapar às garras da mulher, acaba por ser atropelado por um carro e morrer. O escritor promete ajudá-la, e o livro termina com uma citação dela de um trecho do Génesis: a terra grita com o sangue derramado sobre si.

Resumo da 25.ª parte - 3.ª crónica: O manuscrito perdido

    Em 2015, os Osage processaram uma empresa energética italiana por violar os termos do Ato de Alocação de 1906 com as suas turbinas eólicas, pondo a nu o facto de as mudanças ocorridas, sobretudo no início do século XXI, no campo da indústria energética terem afetado profundamente a tribo. Graan vira o foco deste capítulo da sua obra para um manuscrito intitulado O Assassinato de Mary DeNora-Bellieu-Lewis, compilado pela sua neta, Mary Lewis,e que reúne diversas informações sobre a vida e o desaparecimento da mulher em 1918. O seu corpo foi descoberto em 1919, tendo um dos seus companheiros masculinos confessado tê-la assassinado com um martelo, de modo a apossar-se dos pagamentos referentes aos direitos de terra da mulher. Depois de conhecer este novo crime, Graan conclui que, se as datas tradicionalmente associadas ao Reino do terror fossem alteradas de forma a incluir as mortes de Mary Lewis, ocorrida em 1918, e a do avô de Red Corn, em 1931, o número de Osage mortos atingiria cifras bem mais assustadoras do que as oficiais.

Resumo da 24.ª parte - 3.ª crónica: Dois mundos

    Em 2013, David Graan assistiu a uma representação de Wahzhazhe, uma dança típica dos Osage que compreende uma história na nação nativa, incluindo o Reino do Terror, e enfatiza a dificuldade de viver entre dois mundos e duas culturas. Após a encenação, Graan encontrou-se com Red Corn, que o convidou a visitar o museu da tribo, no qual tomou contacto com uma carta que William Hale escreveu a partir da prisão, explicando aos Osage como ele era seu amigo. Além disso, a mulher conta também ao escritor que o seu avô morreu abruptamente em 1931 e que, antes disso, o homem tinha confessa a diversas pessoas que estava a ser envenenado pela sua segunda esposa, uma mulher branca. Red Corn acrescenta que o número de vítimas mortais do Reinado do Terror foi muito superior ao reconhecido oficialmente.
    Convém também ter sempre presente que diversas mortes não foram solucionadas. O próprio escritor estava plenamente ciente disso e decidiu investigar a de Charles Whitehorn. Apesar de a equipa de White se ter debruçado sobre a mesma, nunca ninguém foi acusado do crime, por isso manteve-se sem solução. Quando Graan se debruça sobre o caso, constata, com estupefação, que havia dados suficientes para o resolver. Com efeito, a esposa de Whitehorn, Hattie, casou-se novamente com um homem de seu nome LeRoy Smitherman, algo que os detetives acreditavam ser uma manobra para ter acesso aos bens de Charles. Aparentemente, Hattie e Smitherman planearam o crime com o auxílio de uma outra mulher, Minnie Savage. Posteriormente, Smitherman abandonou Hattie, que caiu nas garras de J. J. Faulkner, que a chantageou, acabando a mulher por ficar bastante doente e só se salvou da morte certa graças à ajuda das irmãs, que a subtraíram aos cuidados de Faulkner.

Análise das 22.ª e 23.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores

    A terceira secção, ou crónica, da obra situa-se no século XXI, coincidente com o momento da investigação do seu autor. Assim sendo, a narrativa história termina e destaca-se a investigação jjornalística de Graan que levou à escrita do livro. Por outro lado, a pessoa narrativa também muda, pois agora o texto é narrado na primeira, de modo a que o escritor compartilhe com o leitor as suas conversas com membros contemporâneos da tribo Osage, bem como a sua investigação nos Arquivos Nacionais em buscas de pistas e evidências que permitam solucionar os assassinatos. Neste ponto, há uma diferença entre a postura adotada por Graan e por White, dado que este, quando tentou, sem sucesso, escrever uma obra sobre o assunto, nunca quis colocar a sua pessoa debaixo dos holofotes, pois considerava não ser o foco da história, ao contrário do primeiro, que assume o papel central na terceira parte do seu texto, nomeadamente ao dar conta do seu trabalho exaustivo em busca de elementos e dados históricos que fornecessem respostas para o que se passou cerca de um século antes.
    Outro aspeto relevante da terceira crónica prende-se com o facto de David Graan dar grande enfoque à cultura da tribo. De facto, ele visita o seu museu, onde contacta com a história ancestral, e participa numa dança tradicional, que atrai membros que vivem longe. O tempo introduziu mudanças nos costumes e cultura dos Osage, como, por exemplo, no I’n-Lon-Schka ou nas danças cerimoniais (que, agora, incluem figuras femininas), porém há elementos que se mantêm, como passos estabelecidos, trajes e tambores, permitindo assim uma simbiose cultural entre o passado e o presente. Ao compartilharem essas experiências enquanto comunidade tribal, os Osage tecem laços duradouros entre si, mesmo que as suas vidas os obriguem a viver em locais díspares e afastados da terra mãe. Muitos dos locais onde os seus ascendentes viveram na década de vinte do século anterior e onde tiveram lugar os crimes estão agora abandonados, o que enfatiza a necessidade de serem desenvolvidos esforços no sentido de o património da tribo ser protegido e conservado, para que não desapareça também. Trata-se de manter uma memória e uma herança cultural.
    Tal como sucede em muitas obras de cariz policial, há em Assassinos da Lua das Flores um protagonista e o seu antagonista, concretamente Tom White e William Hale, porém David Graan parece ter encontrado também o seu: H. G. Burt, o presidente do banco, que tinha estado fora do radar durante a investigação conduzida pelo Bureau na década de 1920, apesar de haver evidências do seu possível ou até provável envolvimento na trama. Deste modo, Graan conclui que Burt terá trabalhado ativamente contra os Osage durante todo o decénio, o que é enfatizado pelo facto de terem sido registados crimes não solucionados que ocorreram após a prisão de Hale, portanto houve outros criminosos que prosseguiram a sua atividade e permaneceram impunes. Tal como William Hale, o presidente do banco era um homem que se via como intocável, porém, ao contrário daquele, essa ilusão parece nunca ter sido beliscada. Na qualidade de diretor da instituição bancárias, usou instituições financeiros contra os nativos, frequentemente como um mero agiota. Por outro lado, a mudança de foco para Burt chama a atenção do leitor para outras vítimas que não as focadas nas duas primeiras partes, como, por exemplo, George Bigheart ou W. W. Vaughan, o que permite entender a vastidão de vítimas atingidas na época.
    Outro dado interessante consiste na consciência de que, quando consideramos as vítimas, não podemos limitá-las à época do Reinado do Terror, pois os netos e bisnetos dos que o viveram na carne também sofrem são afetados pelo que aconteceu então. De facto, há nos descendentes um sentimento de desconfiança ou de insegurança que advém do que aconteceu com os seus familiares décadas antes. Por outro lado, os diálogos encetados por Graan permitem-lhe acessar a memórias profundas, como as de Mollie e Ernest Burkhart. De facto, a neta de ambos, Margie, compartilha com o escritor as memórias carinhosas dos seus progenitores, nomeadamente o modo como a mãe acalmava ternamente quando a filha sofria dor de ouvidos. As lembranças do pai eram, todavia, menos calorosas. Depois de ter sido libertado da prisão, Ernest lutou para regressar ao Condado de Osage, o que causou nova grande dor à sua família. Tal como sucedeu com Hale, o indivíduo parecia não compreender os danos que tinha causado e procurou imiscuir-se na sociedade como se tivesse um direito inquestionável a tal. Deste modo, Ernest exemplifica o modo como os brancos sentiam ter uma espécie de direitos adquiridos, os quais faziam parte da motivação que esteve na génese dos crimes e permaneciam vivos mesmo após os anos passados atrás das grades. Parecendo compreender todos estes factos, o filho de Ernest, Cowboy, desrespeita o último pedido do pai, no sentido de espalhar as suas cinzas no Condado de Osage, optando por as atirar, ainda dentro da urna, de uma ponte, para serem levadas e esquecidas.

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