A
terceira secção, ou crónica, da obra situa-se no século XXI, coincidente com o
momento da investigação do seu autor. Assim sendo, a narrativa história termina
e destaca-se a investigação jjornalística de Graan que levou à escrita do
livro. Por outro lado, a pessoa narrativa também muda, pois agora o texto é
narrado na primeira, de modo a que o escritor compartilhe com o leitor as suas
conversas com membros contemporâneos da tribo Osage, bem como a sua
investigação nos Arquivos Nacionais em buscas de pistas e evidências que
permitam solucionar os assassinatos. Neste ponto, há uma diferença entre a
postura adotada por Graan e por White, dado que este, quando tentou, sem
sucesso, escrever uma obra sobre o assunto, nunca quis colocar a sua pessoa
debaixo dos holofotes, pois considerava não ser o foco da história, ao
contrário do primeiro, que assume o papel central na terceira parte do seu
texto, nomeadamente ao dar conta do seu trabalho exaustivo em busca de
elementos e dados históricos que fornecessem respostas para o que se passou
cerca de um século antes.
Outro
aspeto relevante da terceira crónica prende-se com o facto de David Graan dar
grande enfoque à cultura da tribo. De facto, ele visita o seu museu, onde
contacta com a história ancestral, e participa numa dança tradicional, que
atrai membros que vivem longe. O tempo introduziu mudanças nos costumes e
cultura dos Osage, como, por exemplo, no I’n-Lon-Schka ou nas danças cerimoniais
(que, agora, incluem figuras femininas), porém há elementos que se mantêm, como
passos estabelecidos, trajes e tambores, permitindo assim uma simbiose cultural
entre o passado e o presente. Ao compartilharem essas experiências enquanto
comunidade tribal, os Osage tecem laços duradouros entre si, mesmo que as suas
vidas os obriguem a viver em locais díspares e afastados da terra mãe. Muitos
dos locais onde os seus ascendentes viveram na década de vinte do século
anterior e onde tiveram lugar os crimes estão agora abandonados, o que enfatiza
a necessidade de serem desenvolvidos esforços no sentido de o património da
tribo ser protegido e conservado, para que não desapareça também. Trata-se de
manter uma memória e uma herança cultural.
Tal
como sucede em muitas obras de cariz policial, há em Assassinos da Lua das
Flores um protagonista e o seu antagonista, concretamente Tom White e
William Hale, porém David Graan parece ter encontrado também o seu: H. G. Burt,
o presidente do banco, que tinha estado fora do radar durante a investigação
conduzida pelo Bureau na década de 1920, apesar de haver evidências do
seu possível ou até provável envolvimento na trama. Deste modo, Graan conclui
que Burt terá trabalhado ativamente contra os Osage durante todo o decénio, o
que é enfatizado pelo facto de terem sido registados crimes não solucionados
que ocorreram após a prisão de Hale, portanto houve outros criminosos que
prosseguiram a sua atividade e permaneceram impunes. Tal como William Hale, o
presidente do banco era um homem que se via como intocável, porém, ao contrário
daquele, essa ilusão parece nunca ter sido beliscada. Na qualidade de diretor
da instituição bancárias, usou instituições financeiros contra os nativos,
frequentemente como um mero agiota. Por outro lado, a mudança de foco para Burt
chama a atenção do leitor para outras vítimas que não as focadas nas duas
primeiras partes, como, por exemplo, George Bigheart ou W. W. Vaughan, o que
permite entender a vastidão de vítimas atingidas na época.
Outro dado
interessante consiste na consciência de que, quando consideramos as vítimas,
não podemos limitá-las à época do Reinado do Terror, pois os netos e bisnetos
dos que o viveram na carne também sofrem são afetados pelo que aconteceu então.
De facto, há nos descendentes um sentimento de desconfiança ou de insegurança
que advém do que aconteceu com os seus familiares décadas antes. Por outro
lado, os diálogos encetados por Graan permitem-lhe acessar a memórias profundas,
como as de Mollie e Ernest Burkhart. De facto, a neta de ambos, Margie,
compartilha com o escritor as memórias carinhosas dos seus progenitores,
nomeadamente o modo como a mãe acalmava ternamente quando a filha sofria dor de
ouvidos. As lembranças do pai eram, todavia, menos calorosas. Depois de ter
sido libertado da prisão, Ernest lutou para regressar ao Condado de Osage, o
que causou nova grande dor à sua família. Tal como sucedeu com Hale, o
indivíduo parecia não compreender os danos que tinha causado e procurou
imiscuir-se na sociedade como se tivesse um direito inquestionável a tal. Deste
modo, Ernest exemplifica o modo como os brancos sentiam ter uma espécie de
direitos adquiridos, os quais faziam parte da motivação que esteve na génese
dos crimes e permaneciam vivos mesmo após os anos passados atrás das grades. Parecendo
compreender todos estes factos, o filho de Ernest, Cowboy, desrespeita o
último pedido do pai, no sentido de espalhar as suas cinzas no Condado de
Osage, optando por as atirar, ainda dentro da urna, de uma ponte, para serem
levadas e esquecidas.