Romeu e Julieta é a
história de amor mais famosa da tradição literária inglesa. O amor é
naturalmente o tema dominante e mais importante da peça, que se concentra no
amor romântico, especificamente na intensa paixão que surge à primeira vista
entre Romeu e Julieta. Na obra, o amor é uma força violenta, extática e
dominadora que substitui todos os outros valores, lealdades e emoções. No
decorrer da peça, os jovens amantes são levados a desafiar todo o seu mundo
social: famílias; amigos (Romeu abandona Mercúcio e Benvólio após o banquete
para ir ao jardim de Julieta); e governantes (Romeu retorna a Verona por causa
de Julieta depois de ter sido exilado pelo príncipe sob pena de morte). O amor
é o tema predominante da peça, mas o leitor deve sempre lembrar-se de que
Shakespeare não se interessa por retratar uma versão e delicada da emoção, do
tipo que escrevem os maus poetas e cuja má poesia Romeu lê enquanto suspira por
Rosalina. O amor em Romeu e Julieta é uma emoção brutal e poderosa que captura
indivíduos e os catapulta contra o seu mundo e, às vezes, contra si mesmos.
A natureza poderosa do amor pode
ser vista da maneira como é descrita, ou, mais precisamente, da maneira como as
descrições dele consistentemente falham em capturar a sua totalidade. Às vezes,
o amor é descrito nos termos da religião, como nas catorze linhas em que Romeu
e Julieta se encontram pela primeira vez. Noutros, é descrito como uma espécie
de magia: "Igualmente enfeitiçado pelo charme da aparência". Julieta
talvez descreva com mais perfeição o seu amor por Romeu, recusando-se a
descrevê-lo: “Mas meu verdadeiro amor cresce tanto que não posso resumir parte
da metade da minha riqueza. O amor, por outras palavras, resiste a qualquer
metáfora porque é muito poderoso para ser contido ou compreendido com tanta facilidade.
A peça não faz nenhuma declaração
moral específica sobre as relações entre amor e sociedade, religião e família;
em vez disso, retrata o caos e a paixão de estar apaixonado, combinando imagens
de amor, violência, morte, religião e família numa corrida impressionista que
leva à conclusão trágica da peça.
Romeu começa a peça apaixonada por
Rosalina, mas a sua linguagem nas cenas iniciais mostra que o seu primeiro amor
é menos maduro do que o amor que ele desenvolverá por Julieta. O seu discurso
(Ato I, cena I) combina duas ideias que já eram clichés nos dias de
Shakespeare: "o amor é cego" e "o amor encontrará um
caminho". As expressões cliché e as rimas óbvias que Romeu usa para
expressar seu amor por Rosalina teriam sido ridículas para um público
contemporâneo, e Benvólio e Mercúcio troçam delas.
Na cena V do Ato I, Julieta refere
que o seu único amor nasceu do seu único ódio depois de saber que Romeu é um
Montecchio. A linguagem de Romeu e Julieta insiste que os opostos nunca
podem ser totalmente separados: os amantes nunca poderão esquecer que eles
também são inimigos. Significativamente, Julieta culpa-se por ter visto Romeu
"muito cedo". Tudo nesta peça acontece muito cedo: aprendemos o que
acontecerá no final nas linhas de abertura, Julieta casa-se muito cedo e Romeu mata-se
momentos antes de Julieta acordar. Na peça, o amor é uma força que pode – e faz
– mover-se muito rápido.
Na cena II do Ato II, Julieta quer
saber como Romeu entrou no jardim murado da casa dos Capuletos, ao que ele
responde que o verdadeiro amor é uma força libertadora. O sentimento amoroso dá-lhe
não apenas asas, mas "asas leves" e o poder de superar todos os
"limites pedregosos". Romeu responde à pergunta séria e prática de
Julieta com um voo de fantasia romântica. Ao longo da peça, Julieta mostra-se
mais conectada ao mundo real que Romeu. Para ela, a liberdade que o amor traz é
a liberdade de sair da casa dos pais e fazer sexo.
Ainda nessa cena, Julieta descreve
os seus sentimentos por Romeu. Como ele, ela experimenta o amor como uma
espécie de liberdade: o seu amor é "ilimitado" e
"infinito". A sua experiência de amor é mais abertamente erótica que
a de Romeu: as suas imagens têm tons sexuais. Julieta está sempre mais em contacto
com os aspetos práticos do amor – sexo e casamento – do que Romeu, que é menos
realista. Romeu baseia-se nas imagens convencionais da poesia de amor
elisabetana, enquanto a linguagem de Julieta é original e marcante, o que
reflete a sua inexperiência e a faz parecer muito sincera.