quarta-feira, 2 de julho de 2025
A origem dos dias da semana
sexta-feira, 27 de junho de 2025
A origem da palavra fixe
terça-feira, 24 de junho de 2025
«São» versus «Santo»
quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
Pai
No dia em que celebrarias 96 anos...
A palavra portuguesa "pai" deriva diretamente da forma latina «pater», que originou pelo caminho «padre», usado em textos portugueses antigos. Ora «pater» terá derivado do proto-indo-europeu *ph₂tḗr (note-se que as letras representam os supostos sons das palavras reconstruídas a partir da comparação das várias línguas europeias).
Foi, portanto, este *ph₂tḗr que esteve na origem do vocábulo latino «pater» e seus derivados, bem como dos vocábulos que designam "pai" nas línguas germânicas, por exemplo, o termo inglês father, cujo "f" inicial resulta da transformação do som inicial do indo-europeu. De facto, várias das palavras iniciadas por "p" nas línguas latinas começam por "f" nas línguas germânicas: "peixe" → "fish" (ambas derivam do proto-indo-europeu *peysk-.
Em suma, do indo-europeu *ph₂tḗr (uma reconstrução, como atrás foi referido), passamos para o latim pater, daí para o português antigo padre e para o atual pai.
A seguir, vamos descobrir de onde veio João e, depois, saudade...
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
Origem da palavra «golo»
Ora, o mesmo aconteceu com
«golo»: vem de «goal», a palavra inglesa que significa «objectivo». É,
literalmente, o objectivo do jogo. A origem um pouco mais remota de «goal» era
uma antiga palavra do inglês médio que significava «limite». Se continuarmos a
escavar, acabaremos numa palavra ainda mais antiga que significava algo como
«brecha». No entanto, pouco é certo nestas viagens tão profundas. A etimologia
é tão interessante quanto perigosa.
Na nossa língua, e tal como
«futebol», a palavra começou por ser adaptada foneticamente e, depois, com o
tempo, também ortograficamente. Acabámos com o «golo» em Portugal e com o «gol»
no Brasil. As diferenças entre as duas normas do português são especialmente
marcadas na área do futebol; afinal, esta foi uma área que se desenvolveu já
depois da separação política entre os dois países — as importações e adaptações
fonéticas e ortográficas foram feitas em separado.
Como em tantas coisas na língua,
a transformação de «football» em «futebol» e «goal» em «golo» foi um processo
gradual. Cada vez mais se escreveu a forma adaptada até chegar ao dia em que já
ninguém escrevia a forma original.
Por outro lado, o futebol mostra
que um estrangeirismo não é inevitável. Durante muito tempo, usámos — só como
exemplo — a palavra inglesa «corner» nos relatos de futebol. Ora, o «corner» à
portuguesa, em vez de se transformar em «córner» — morreu. Alguém se lembrou de
«pontapé de canto» e os falantes, pelo menos desta vez, aceitaram bem a
expressão portuguesa.
Outras tentativas de criação de
expressões com materiais portugueses falharam. Havia uma proposta antiga, ainda
do século XIX, para substituir «football» por «ludopédio». Não pegou. Só por
isso não ouvimos hoje relatos do Campeonato Português de Ludopédio.
Por que razão o «pontapé de
canto» caiu no goto dos falantes e «ludopédio» nem por isso? Não sei. A nós,
habitantes do século XXI, parece óbvio: mas só é óbvio porque temos décadas e
décadas de hábito a dizer «pontapé de canto» e a ignorar «ludopédio».
A língua é assim: os falantes às
vezes hesitam, baralham-se, voltam atrás, mas há momentos em que se decidem,
mesmo sem ninguém perceber bem porquê. «Ludopédio» morreu. O «corner» também.
Mas «futebol» e «golo» estão vivos e recomendam-se. Quando os falantes, no seu
conjunto, se decidem, as palavras passam a fazer parte da língua e nada há a
fazer se não aprendê-las.
E o outro golo?
Como disse no início, para
falarmos da origem de «golo» temos de pensar nas duas palavras que partilham a
forma. «Golo» é o que um jogador de futebol quer marcar, mas também é aquele
momento em que engolimos algo.
Neste segundo sentido, a origem
é também interessante, embora muito diferente: os falantes pegaram num verbo
antigo, de origem latina — «engolir» — e retiraram-lhe partes. Deixaram o
«gol-», com um «o» final a compor o nome. Chama-se a isto derivação regressiva
— ou seja, os falantes criam uma palavra nova desmontando uma outra palavra
maior. Há muitos, muitos exemplos em português. É uma das maneiras que os
falantes de português têm para criar palavras novas.
domingo, 8 de janeiro de 2023
Origem da palavra «carro»
Para percebermos a origem da confusão do pobre turista, e antes de olharmos para a nossa palavra «carro», tentemos descortinar a origem de «coche» — as voltas que deu têm o seu quê de inesperado.
Tudo começou na localidade húngara de Kocs (lê-se algo como «cotche»), onde no século XV se começou a fabricar uma carruagem com uma suspensão mais agradável às costas dos passageiros. Este tipo de veículo foi chamado de «kocsi» (húngaro para «de Kocs») e o nome, com as habituais amolgadelas sempre que as palavras viajam, foi aproveitado por outras línguas, desde o italiano «cocchio» ao alemão «Kutsche», passando pelo inglês «coach».
A palavra inglesa acabou por ganhar também o sentido de treinador por um caminho arrevesado: «coach» era um termo usado entre estudantes ingleses de meados do século XIX para denominarem um professor que ajudava alguém, individualmente, a treinar para um exame. O professor era o veículo — «coach» — que levava o aluno até à meta. Esta metáfora acabou por ser usada em particular no desporto, onde a meta era a vitória, e deixou de ser vista como uma figura de estilo. Há muitas destas metáforas mortas nas nossas línguas e é também por isso que o mesmo vocábulo pode ganhar significados tão diferentes em diferentes lugares. As palavras andam a entornar-se pelos idiomas, mas vão sendo absorvidas à maneira de cada língua, como tinta que ganha novos tons conforme o tecido por onde alastra.
Antes das transformações desportivas, os ingleses tinham recebido a palavra do francês — que, como era costume, também a oferecera aos primos ibéricos, com a forma «coche». Assim ficámos todos com uma nova palavra para designar aquele tipo de carruagem, numa viagem que tinha começado na Hungria.
Quando, no século XIX, surgiram os automóveis, os nossos vizinhos aproveitaram o nome dos coches para designar esta novíssima carruagem que não sujava tanto as ruas das cidades (mal sabíamos nós…).
Já os falantes de português, perante um automóvel, não pensaram no coche engalanado. Virámo-nos para a velha palavra «carro», que remetia para um veículo puxado por animais num ambiente bem mais rural que o dos coches. Este sentido de «carro» ainda não se perdeu, mesmo entre quem vive na cidade: todos sabemos o que é pôr o carro à frente dos bois.
A palavra «carro» tinha vindo do latim que, por sua vez, a tinha ido buscar à velha língua celta dos gauleses — e estes tinham-na herdado do «*kers-» do proto-indo-europeu, que significava «correr». A mesmíssima palavra latina também foi exportada pelos franceses para o inglês e acabou por ser aproveitada da mesma maneira: o «car» inglês e o «carro» português têm a mesma origem. As histórias de palavras fazem-se de alguma lógica e muito acaso.
Portanto, ali por fins do século XIX, tanto portugueses como espanhóis tinham o mesmo problema: o que chamar ao novo veículo sem animais (tirando os que lá forem dentro)? Encontrámos soluções parecidas: pegámos numa palavra que já existia e reutilizámo-la com um novo sentido. A única diferença foi a palavra escolhida — e assim se explica que um espanhol amante de motores e afins se veja de repente num mundo de reis e cinderelas.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2022
Distinção entre oração coordenada explicativa e subordinada adverbial causal
Distinguir uma oração coordenada explicativa de uma subordinada adverbial causal não é fácil em muitas circunstâncias, o que dá origem a muitas apreciações erradas.
Com a devida vénia, transcrevemos a explicação da professora Maria Regina Rocha, retirada do Ciberdúvidas:
a) Não
almoço, porque não tenho fome. = Como não tenho fome, não almoço.
b) O Vítor
domina o vocabulário, porque lê muito. = Como o Vítor lê muito, domina o
vocabulário.
c) A Marta
não comprou o vestido, porque era muito caro. = Como o vestido era muito caro,
a Marta não o comprou.
d) O menino
caiu, porque ia distraído. = Como ia distraído, o menino caiu.
e)
Aplaudiram o orador, porque o discurso foi brilhante. = Como o discurso foi
brilhantes, aplaudiram o orador.
a) Sobe, que
te quero mostrar uns livros. = Sobe, pois quero mostrar-te uns livros.
b) Come a
sopa toda, que está muito boa. = Come a sopa toda, pois está muito boa.
c) Não
tenhais medo, que o mundo não acaba agora. = Não tenhais medo, pois o mundo não
acaba agora.
d) O Manuel
tem dinheiro, pois comprou um carro novo.
e) O pai já
está deitado, pois as luzes estão apagadas.
b) O facto de o Vítor ler muito é
a causa, o motivo, que o leva a dominar o vocabulário.
c) O facto de o vestido ser caro
foi o motivo, a causa, que levou a Marta a não o comprar.
d) O facto de o menino ir distraído
foi a causa da sua queda.
e) O facto de o discurso ser
brilhante foi a causa dos aplausos.
terça-feira, 22 de novembro de 2022
"Havia" ou "haviam"; "houve" ou "houveram"?
- O Eusébio disse que havia muitos computadores
estragados.
- O Eusébio disse que existiam muitos computadores
estragados.
- No estádio, havia muitos
espectadores com a careca ao sol.
- No estádio, havia muita gente
com a careca ao sol.
- O professor afirmou que há muitos
alunos que não estudam.
- Se houvesse mais competência no
governo, não estaríamos a atravessar uma crise tão aguda.
- Na minha escola, tem havido muitas
atividades.
- Algum dia deixará de haver fome e guerra
entre os homens.
- Quando o filme começou, os
alunos já haviam acalmado. [Note-se que os verbos auxiliares dos tempos
compostos são «haver» e «ter», pelo que a frase podia também ser Quando o
filme começou, os alunos já tinham acalmado.].
- Quando a campainha tocou, o professor
já tinha terminado a aula.
- Os vícios humanos hão de levar à
sua extinção.
- As minhas ex-namoradas ainda hão
de descobrir que namorei com todas ao mesmo tempo.
quinta-feira, 17 de novembro de 2022
Função sintática do pronome que
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
Cona: etimologia
O termo provém do latim cunnus, que significava «vulva», mas também foi usado como representação metonímica de mulher pelo poeta Horácio.
Cunnus deu origem ao português «cona», bem como ao castelhano «coño» (que pertence ao género feminino), ao italiano «conno», ao francês «con» e ao catalão «cony».
Relativamente à origem indo-europeia, existem diferentes hipóteses, não se tendo chegado até agora a nenhuma conclusão definitiva.
domingo, 8 de maio de 2022
Origem da palavra «gravata»
O professor Marco Neves, neste post, explica-nos a sua origem, numa viagem que começa na Croácia e termina em Portuga, passando pela França.
domingo, 16 de janeiro de 2022
Como identificar o sujeito indeterminado?
Quando temos dúvidas acerca da identificação de um sujeito indeterminado, basta aplicarmos o teste da interrogação: O que / Quem + verbo?
Se a resposta que obtivermos for «Não sei.», tal significa que o sujeito dessa frase é indeterminado.
Vejamos a frase seguinte: "Bateram à porta.»
Apliquemos-lhe o teste de identificação: Quem bateu [à porta]? «Não sei» é a resposta. Temos noção de que alguém bateu, mas, como não vimos quem ou o que foi, não sabemos quem foi exatamente.
O mesmo se passa com outros enunciados:
. «Assaltaram o banco.» Quem assaltou? Alguém, mas não sei quem foi.
. «Diz-se que vai nevar.» Quem diz que vai nevar? Alguém, mas não sei quem.
terça-feira, 4 de janeiro de 2022
Origem e significado da palavra "caralho"
O dicionário Houaiss diz que caralho é de origem duvidosa, enquanto o homónimo da Porto Editora afirma que deriva do latim *caraculu-, que significava "pequena estaca". A evolução fonética seria óbvia: à síncope do primeiro /u/ (caraculu- > caraclu-) seguiu-se a palatalização do grupo /cl/ em /lh/ (caraclu- > caralho). Outros autores sustentam que provém do latim *characulus, o diminutivo de *charax, acis, do grego chárax, akos, que queria dizer «esteio», «estaca para a vinha», «vara». Há ainda quem associe o termo ao radical celta car-, que significava "tudo o que é direito e empinado", desde logo as pedras erguidas para o céu, ou menires, como nas Rochas de Carnac (um alinhamento de mais de 3 000 megalitos, erguidos na comuna de Carnac, na Bretanha, em França, por volta do ano 2 000 a.C.).
A viagem de «caralho» ao longo dos tempos tem sido rica. Sendo ou não verdade que designou o pequeno cesto do mastro principal de um barco à vela onde ficava o vigia, em 982 d.C., num texto que outorgava privilégios a um mosteiro catalão, foi escrito que das suas terras fazia parte o Mons Carallo, ainda hoje designado Puig Carallot, sendo Puig uma elevação ou colina. Note-se que o termo carall é bastante comum em catalão, como se pode comprovar por outros exemplos: Carall Bernat (uma ilha a leste do arquipélago das ilhas Medas que tem o aspeto de um monólito) ou a ilhota El Carallot nas ilhas Columbretes, um arquipélago espanhol, também ela com uma forma que lembra um pénis em ereção. Já o castelhano ostenta o vocábulo carajo (note-se que, ainda hoje, o grupo /ll/ se lê /j/ naquela língua), que parece ter dado origem ao português popular «carago».
Quando chegamos ao Renascimento, em pleno século XVI, o vocábulo já é de uso corrente. Por exemplo, no Glosário de el Escorial, o termo «androgenus» é definido como "ombre que tiene conno et carajo". E prossegue, nos séculos seguintes, a ser usado tanto no registo oral como literário. De facto, de Bocage a E. M. de Melo e Castro, muitos escritores usam o caralho nos seus textos.
Quanto ao seu significado, a palavra é comummente usado, enquanto calão, como sinónimo de pénis, como atrás referidos. Contudo, o seu sentido não se esgota aqui. Por exemplo, pode ser usada também como expressão de espanto ("Caralho! Que golaço!"), de alegria ("Ganhámos, caralho!") ou indignação, entre muitos outros.
domingo, 2 de janeiro de 2022
Poesia
A palavra poesia deriva do latim pŏēsis (que significava "poesia, obra poética, obra em verso"), que, por sua vez, provém do grego poiēsis - ποίησις (que queria dizer "criação; fabricação, confeção; obra poética, poema, poesia"), que deriva do verbo poiein ("produzir, fazer, criar" e, num sentido mais amplo, "compor"), o qual advém da raiz indo-europeia *kwei-, ou do sânscrito pu-, cujo significado era "gerar", "procriar", "construir".
Em síntese, a base grega poiēsis teve origem no verbo poiein ("fazer" ou "criar"), a que se acrescentaram os sufixos -sis (que indica «ação», como em "paralisia") e -ia (que refere «qualidade», como em "caligrafia" ou "gastronomia"). Entre os gregos antigos, a poiesis concretizava-se em «poiema»(poemas), que podiam ser de dois tipos: «epos» (épicos) ou «melos» (líricos).
No século IV a.C., Aristóteles (384-322 a.C.) dividiu a atividade humana em três áreas: a teoria, que se referia ao conhecimento, à busca do verdadeiro conhecimento; a práxis, entendida como a ação destinada a resolver problemas de forma prática; a poesia, como o impulso do espírito humano para criar algo a partir da imaginação e dos sentimentos e com a força estética das palavras.
Por outro lado, antigamente os poemas eram cantados ao som de música produzida por um instrumento muito popular na Grécia Antiga: a lira. Por isso, considera-se que a poesia pertence ao modo/género lírico. Há estudiosos que defendem que os textos poéticos se podem dividir em quatro subgéneros: o lírico, o épico, o didático e o dramático.
Máscara
Luva
sábado, 1 de janeiro de 2022
Feriado
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
Selfie
1. Origem
A palavra "selfie" é de origem inglesa, mais concretamente um diminutivo de "self", por sua vez uma redução do termo "self-portrait", ou seja, autorretrato.
2. Género
Não conheço ninguém (o que não quer dizer que não exista) que não utilize "selfie" como pertencente ao género feminino.
Por seu turno, os gramáticos dividem-se. Assim, há os que defendem que os empréstimos (as palavras importadas de uma língua estrangeira) devem manter o género que têm na língua de origem, enquanto outros sustentam que esses vocábulos devem assumir em português o género do seu equivalente vernáculo. Deste modo, segundo o primeiro princípio, devemos dizer, por exemplo "a Deutsche Bank", visto que "Bank" é feminino em alemão; porém, de acordo com o segundo, a forma correta é: "o Deutsche Bank", dado que nos estamos a referir a um banco, que, na língua de Camões, é do género masculino.
No caso de "selfie", em inglês o seu género é neutro (ou natural, como alguns gramáticos o designam), visto que a palavra "portrait" o é. Em virtude de, em português, não existir o género neutro, devemos atribuir a "selfie" o género masculino, pois as palavras neutras latinas assumiram o masculino na língua portuguesa, com raras exceções.
Se adotarmos o segundo critério, a palavra "selfie" é masculina, visto que adota o género de "retrato". Assim, qualquer que seja o princípio adotado, de acordo com a gramática, o vocábulo "selfie" é masculino em português.
Sucede, no entanto, que o comum dos falantes associa "selfie" a fotografia (e não a "retrato"), por isso a usa como pertencendo ao género feminino: "a selfie", "uma selfie".
Plural dos nomes terminados em -s, -r, -z ou -n
Os nomes agudos terminados em -s, -r, -z ou -n formam o plural acrescentando a terminação -es ao singular.
É o que sucede com o nome «pionés», cujo plural é «pioneses».
Ao formal o plural, estes nomes passam de agudos a graves.