● Tema: a pobreza da nobreza – crítica de costumes.
● Assunto
Numa época
de calor, depois de se ter almoçado bem noutro local, sabe bem fazer a sesta na
cozinha de um infanção: sem lume aceso e sem moscas (pois nela não há géneros
alimentícios), é o lugar ideal para tal.
● Personagem criticada: um infanção (um jovem nobre).
● Desenvolvimento do tema
O sujeito
poético aconselha aquele que desejar dormir uma boa sesta na casa do infanção depois
de almoçar antes, sugerindo que se passa fome naquela casa. De facto, se for à
cozinha, verificará que é a mais fria da região, visto que nela não se acende a
lareira.
Na segunda
cobla, o «eu» lírico relata a sua experiência pessoal. De facto, ele dormiu um
dia naquela cozinha e aí teve a melhor sesta da sua vida desde o dia em que
nasceu, visto que nela não havia moscas por ser muito fria, pois não havia lume
/ não estava acesa nem alimentos para cozinhar.
Na terceira,
o sujeito poético afirma que aquela cozinha, por ser tão fria, é um bom local
para se refrescar o vinho… se alguém o der ao infanção, pois também não existe
bebida em sua casa, visto que não possui dinheiro para o comprar (“e se vinho
gaar d’alguém”).
● Razão
da crítica/sátira: a
pobreza. A cozinha do infanção está fria porque não é usada, pois nela não
existe comida (daí não haver moscas) nem bebida (só bebe vinho se lho derem).
● Recursos expressivos
Os recursos
expressivos que predominam na cantiga são a comparação (“tam bõa sesta
non levei / des aquel dia’m que naci”; “u nunca Deus quis mosca dar”), a hipérbole
(“que tan fria casa non á”, “ena mais fria ren que vi”) e a ironia.
Através da
hipérbole, criticam-se as condições miseráveis (a falta de dinheiro, a fome,
etc.) em que o infanção vive. Com a comparação, enfatiza-se a excelente sesta
que o sujeito poético fez em casa do infanção e a ausência de moscas, que
provam a falta de lume e de alimentos para cozinhar). Por meio da ironia,
expõe-se a situação económica frágil do infanção.
● Classificação
O poema é
uma cantiga de escárnio:
▪ o nome da pessoa criticada é
omitido;
▪ os recursos
estilísticos usados eram a ironia e as palavras com duplo sentido.
● Estrutura formal
▪ Três coblas de sete versos –
sétimas.
▪ Rima:
- esquema rimático: ababccb;
- rima cruzada nos quatro
primeiros versos, emparelhada no quinto e no sexto e interpolada nos quarto e
sétimo.
▪ Métrica: versos octossilábicos – Quem
/ a / ses / ta / qui / ser / dor / mir/.
● Crítica social
Esta cantiga
denuncia a decadência da nobreza. A crítica é ilustrada com o caso de um
infanção (um jovem nobre) que tinham uma cozinha ótima para se fazer a sesta,
visto que nela nada se preparava (porque não havia géneros alimentícios), não
existindo, por isso, nem lume nem moscas. Esta situação justificava-se pelo
facto de os nobres não possuírem meios financeiros, serem pobres, dado
pertencerem a uma classe social decadente. Em simultâneo, começava a ganhar
preponderância outra: a burguesia.