Português: Camões
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sexta-feira, 2 de maio de 2025

"Amor, co'a esperança já perdida", análise do poema de Camões

Este soneto, com rima interpolada e emparelhada nas quadras e interpolada nos tercetos, segundo o esquema rimático ABBA / ABBA / CDE / CDE, e versos decassilábicos sáficos (vv. 8 e 10) e heroicos (os restantes), aborda o tópico navigium amoris, herdado dos poetas gregos e latinos, ou seja, o amor – personificado enquanto divindade – é como um mar tempestuoso, o mar das paixões amorosas, em que se debate o barco que simboliza o amante.

    O «eu» poético dirige uma apóstrofe ao Amor personificado, comunicando-lhe ter visitado o seu templo depois de ter perdido a esperança por ter ficado sem o seu amor. Segundo Faria e Sousa, Camões cantou as esperanças de duas formas: “la primera por las finezas de sus amores que dulcemente cantava; la segunda la de sus cantos celebrando la Patria y los Heroes della”. Neste soneto, o poeta recorre à renuntiatio amoris como motivo principal, construída sobre a metáfora do naufrágio amoroso. A primeira quadra versa precisamente sobre a representação do motivo do ex-voto,isto é, o sofrimento amoroso é comparado a uma tempestade da qual o marinheiro foi salvo e, por isso, leva as suas oferendas ao templo como agradecimento à divindade que o salvou. A fonte de inspiração de Camões foi a ode 5 do livro I de Horácio. Por outro lado, além deste soneto, ele aborda o mesmo tópico noutros poemas, como, por exemplo, “Como quando do mar tempestuoso”. Camões, neste soneto, apresenta a oferta do ex-voto não no formato de roupas, mas sim a própria vida. Por outro lado, se Horácio e Garcilaso, nos seus poemas, agradecem por ainda estarem vivos e livres desse amor, o poeta português doa a sua “alma, vida e esperança”, lamentando o facto de ainda estar vivo, e queixando-se da privação desse amor.

    Apesar do texto fixado por Costa Pimpão apresentar o termo «soberano» no segundo verso, as fontes manuscritas trazem «sagrado», divergência que é entendida por alguns estudiosos como uma correção imposta pela censura, desde logo porque não é o único caso em que aquela modificou o texto de um poema camoniano. De facto, a censura foi uma prática tradicional da Igreja, que, na luta contra a heresia, proibia a publicação de termos pouco ortodoxos, como, por exemplo, tratar como «sagrado» o templo do Amor. Sendo exclusivamente reservado ao uso religioso, esta palavra pertence à lista de vocábulos que foram objeto de censura.

    O «eu» poético – aquele que ama – deposita a alma, a vida e a esperança mo templo do Amor, em vez das oferendas comumente dadas aos deuses pelos náufragos como forma de agradecimento. Regra geral, os náufragos seguiam até ao templo dos deuses para agradecer o facto de ainda estarem vivos, porém Camões atua de forma inversa, isto é, coloca o sujeito poético a deslocar-se ao templo para protestar o facto de ainda estar vivo e questiona o desejo de vingança do próprio Amor, que é percebido como entidade hostil, chegando mesmo a afirmar que a maior vingança seria deixá-lo vivo a chorar do que tirar-lhe a vida: “nelas podes tomar de mim vingança; / e se inda não estás de mim vingado, / contenta-te com as lágrimas que choro.” (vv. 12-14).

    O sujeito lírico põe a sua vida em vez das oferendas habitualmente feitas, porque já se considerava morto para as pretensões do mundo, em particular as amorosas, ou porque desejava morrer. O nome «vestidos» (v. 4) alude ao facto de o náufrago, depois de escapar ao perigo, pendurar as vestes e outros despojos do naufrágio, como ex-voto, na parede do tempo do deus invocado durante a tempestade em alto mar. Os «vestidos» eram os principais testemunhos de um naufrágio, que eram colocados no templo. Esta passagem do soneto forma uma imagética associada ao tópico do naufrágio amoroso.

    A imagem do templo do Amor, presente na primeira quadra, pode assumir três formas diferentes. A mais simples é o templo como igreja, que encontramos, por exemplo, em Malatesta Malatesi. Noutra, templo é usado como metáfora do corpo, nomeadamente da pessoa amada, como sucede com Pietro Bembo ou Bernardo Capello, que assinala as semelhanças entre o templo do Amor e o rosto da mulher amada: as portas são os lábios; o teto é o cabelo louro, que cobre paredes de mármore brancas e vermelhas, isto é, a face; o grande tesouro são as próprias tranças de ouro. Por vezes, o templo refere-se ao coração do amante, dado que guarda o culto e a memória da imagem amada.

    Nos dois versos iniciais da segunda quadra, o «eu» poético questiona Amor, perguntando-lhe que mais poderá querer dele, depois de ter destruído toda a glória que alcançara, isto é, o privilégio de ter vivido um amor sublime. O facto de poder desfrutar, ou não, deste amor está no poder da divindade. No momento em que decide retirá-lo, é considerado pelo que ama como um tirano. Os dois versos seguintes, por meio da metáfora e do oximoro, apresentam a recusa do sujeito lírico em “tornar a entrar onde não há saída”, ou seja, num caminho sem saída.

    O verso 9 apresenta uma enumeração de três nomes: «alma», «vida» e «esperança», dois dos quais se encontram no primeiro («esperança») e no quarto («vida») da primeira quadra. Esses três nomes designam os «despojos», os restos ou fragmentos do passado. Na prática, os versos 9 e 10 patenteiam o jogo dialético, bem característico de Camões, entre o bem passado (“de meu bem passado”) e o mal presente. Esse bem durou “enquanto quis aquela que eu adoro.” (v. 11), ou seja, enquanto lhe correspondeu amorosamente?

    O segundo terceto constitui o clímax do soneto. O sujeito poético, depois de ter oferecido a sua alma, vida e esperança, acaba oferecendo as suas próprias lágrimas – o seu sofrimento, a sua mágoa, a sua dor –, que são para ele mais dolorosas do que a própria morte. Atente-se no recurso ao poliptoto (figura de estilo que faz a alteração flexional de uma parte do corpo da palavra) de “mim vingança” / “de mim vingado”. Note-se que o Amor é representado, nesta composição poética, como uma entidade mítica caracterizada como omnipresente e possuidora de uma natureza vingativa (“destruída / me tens a glória toda que alcancei.” – vv. 5-6; “podes tomar de mim vingança” – v. 12; “não estás de mim vingado” – v. 13). Por outro lado, o texto desenvolve-se num crescendo: nas duas quadras, os verbos encontram-se maioritariamente no passado (pretérito perfeito: «visitei», «passei», «pus»), enquanto os tercetos começam e terminam com os verbos no presente («Vês» e «choro»), o que significa que o futuro está excluído, pois o sujeito poético não consegue libertar-se dessa prisão do Amor, prefere a morte e, portanto, não é capaz de se projetar num futuro.

    Ainda relativamente ao segundo terceto, nomeadamente o verso 12, focado no tema da vingança não é caso único na obra camoniana, onde aquele que ama, tendo perdido a esperança, afirma preferir morrer a viver no seu tormento de amor. É o que sucede, por exemplo, no soneto “Se algu’hora em vós a piedade”, no qual Camões declara o seguinte: “tomarão tristes lágrimas vingança / nos olhos de quem fostes mantimento. // E assim darei vida a meu tormento; / que, enfim, cá me achará minha lembrança / sepultado no vosso esquecimento.” Note-se que Camões, além de usar nomes como «vingança», culmina o soneto com o termo «sepultado», indiciando novamente que a morte é a única fonte de liberdade.

 
Bibliografia:
. VITALI, Marimilda, “As cadeias da esperança”

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Questionário sobre o episódio de Inês de Castro


1. O episódio que vais estudar conta a história dos amores entre Pedro e Inês.

 

1.1. Atenta na etimologia dos seus nomes.

 

. Inês, f, Do gr. Hagnes (do adj. Hagne, “pura, santa, casta”, pelo latim agnes.

Agnés, f. […] Do fr. Agnès, este do gr. Agné, “puro, casto, santo, sagrado.” […] Este nome parece que foi entendido como derivado de agnus, o cordeiro simbólico.

 

. Pedro, m. Do lat. Petru-,este do gr. Pétros […], tradução aproximada de vocábulo aramaico, Cep(h)as, que significa “rochedo”; em gr. Pétros significa igualmente “rochedo”, petra em lat.

 

José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa

Vol. III, Livros Horizonte, 2003

 

1.2. A partir do significado dos seus nomes, podemos atribuir características a estas personagens. Identifica-as.

 

2. A que acontecimento da História de Portugal corresponderá o ano de 1355?

a. Nascimento de Inês de Castro.

b. Morte de Inês de Castro.

c. Nascimento de D. Dinis.

d. Ano da Peste Negra.

 

3. Identifica o narrador e o narratário deste episódio.

 

4. Indica o plano narrativo de Os Lusíadas em que se integra este episódio.

 

5. Na estância 118, o Poeta indica que irá ser narrado “o caso triste e dino de memória” daquela que “despois de ser morta foi Rainha”.

 

5.1. Identifica o tempo histórico em que tal aconteceu.

 

6. O narrador atribui a culpa dos acontecimentos trágicos a um ser abstrato (est. 119).

 

6.1. Identifica-o e caracteriza-o.

 

6.1.1. Poderemos afirmar que o narrador procede à personificação dessa entidade? Justifica a tua resposta.

 

7. Relê as estâncias 120 a 121.

 

7.1. Caracteriza o estado de espírito de Inês, explicitando a sua relação com a natureza.

 

7.2. Transcreve um excerto que apresente um indício trágico relacionado com este amor.

 

7.3. Refere um aspeto que comprove que o amor de Inês por D. Pedro era correspondido.

 

8. D. Afonso IV percebe que D. Pedro rejeita “belas senhoras e Princesas” (est. 122).

 

8.1. Que motivos levam o rei a ficar tão incomodado com tal atitude?

 

9. Identifica o recurso expressivo presente em “Tirar Inês ao mundo determino” (est. 123, v. 1), explicando o seu valor expressivo.

 

10. Completa o texto, selecionando a opção correta.

Na estância 123, através da interrogação, o narrador revela a. ……………….. [compreensão / indignação] face à decisão de D. Afonso. Na estância 124, este, ao ver Inês, sente-se b. ……………… [arrependido da / confiante com a] decisão tomada após ouvir os conselheiros.

 

11. Explica, por palavras tuas, a interrogação do narrador na estância 123.

 

12. Relê as estâncias 126 a129 e ordena os argumentos de Inês de Castro, de acordo com a ordem pela qual surgem no texto.

A. Apela à humanidade do rei para que a perdoe, pois não é humano mandar matar uma donzela frágil por estar apaixonada por quem a conquistou.

B. Apela à piedade do rei, referindo o exemplo de animais ferozes que demonstram piedade em relação a crianças.

C. Se, apesar da sua inocência, o rei a quiser castigar, sugere o desterro como alternativa à morte, para poder cuidar dos filhos, que tanto precisam dela.

D. Apela à piedade do rei, para que, tal como soube dar a morte aos mouros, saiba também dar a vida, poupando-a.

E. Apela à piedade e ao respeito pelos seus filhos, que são também netos do monarca.

 

13. Face aos argumentos de Inês, D. Afonso IV emociona-se (est. 130).

 

13.1. Considerando os factos históricos, por que motivo o rei não pode perdoar Inês, apesar de o desejar?

 

13.2. O narrador revela-se, uma vez mais, indignado com o sucedido.

 

13.1.1. De que recursos expressivos se serve para mostrar a sua revolta?

 

14. Relê, com atenção, as estâncias que concluem este episódio (est. 131-135) e completa o seguinte texto, no teu caderno.

 

                A morte de Inês é um acontecimento trágico, que parece suscitar a piedade da própria Natureza.

                Uma vez mais, a    a.    parece ser cúmplice de Inês, refletindo, neste momento, a tragédia que se abateu sobre ela: os    b.   deram eco às suas últimas palavras, a fidalga é comparada a uma bela e inocente    c.    que foi    d.   antes do tempo e as    e.    do    f.    choram copiosamente a sua morte, dando as suas lágrimas origem à    g.   .

 

15. Reconta, por palavras tuas, através de uma paráfrase, a lenda a que se faz alusão na estância 135.

 

16. Recorda a resposta que deste à pergunta 1.2..

 

16.1. Analisado o episódio de Inês de Castro, consideras que inferiste uma caracterização de Pedro e Inês plausível? Justifica a tua resposta.

 

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Análise do poema "Cinco galinhas e meia", de Camões

    Este poema breve de tom irónico, da autoria de Luís Vaz de Camões, escrito em redondilha maior, com características de repentismo, nas palavras da professora Rita Marnoto, é, de acordo com a epígrafe inicial, dirigido a D. António, Senhor de Cascais. Convém recordar que, por vezes, as epígrafes eram acrescentadas a um poema por um copista que sentia necessidade de o contextualizar. Trata-se, por outro lado, de uma quadra em redondilha maior, na esteira da Corrente Tradicional, precedida de uma epígrafe, e com um esquema rimático abab, ou seja, rima cruzada. As duas rimas, em -eia e -ais, contém uma aliteração em /i/, que nos versos 1 e 3 se estende ao interior do verso. Além disso, a rima em /a/ é reforçada pela repetição da primeira palavra rimante no interior do terceiro verso – «meia». Relativamente ao ritmo, este é rápido, tendo em conta o uso do verso curto, e ganha vivacidade com a divisão de cada um em dous segmentos paralelos, ligados através do encavalgamento. O primeiro apresenta a situação, enquanto o segundo a comenta e explicita.
    O D. António, senhor de Cascais, referido na epígrafe e no segundo verso, é D. António de Castro, um aristocrata muito poderoso, filho primogénito de D. Luís de Castro e D. Violante de Ataíde. Casou com D. Inês Pimentel, uma senhora que era aparentada com os Távora, e foi IV Conde de Monsanto por designação de Filipe II de Espanha em carta datada de 23 de outubro de 1582. O seu nome esteve envolvido na agitada vida que caracterizou a época que assistiu aos derradeiros anos de vida de Camões. Em 1572, ano da primeira edição de Os Lusíadas, D. Luís de Ataíde, vice-rei da Índia, regressou do Oriente envolto em triunfos e glória, ao mesmo tempo que a forte e dispendiosa armada formada para apoiar a liga entre o Papado, a Espanha e a França contra o inimigo turco não passava a barra do Tejo, em virtude de a aliança ter sido dificultada por diversas convulsões políticas. Em agosto desse ano, D. Sebastião ordenou a prisão de D. António de Castro nos subterrâneos do Castelo de Lisboa, enquanto a sua família e os seus criados foram encarcerados na prisão do Limoeiro. A razão para tal relacionava-se com a acusação de que tinha sido alvo por parte de um criado de apoiar os luteranos e de estar a organizar a entrega do Forte de São João da Barra aos franceses. No entanto, a denúncia era falsa, pelo que todos foram libertados. Posteriormente, D. António de Castro apoiou Filipe II de Espanha aquando da união dos tronos de Portugal e Castela, tendo ordenado o arvorar da bandeira castelhana no Castelo de São Jorge, no entanto acabou por ser vítima de nova acusação, desta vez de se preparar para entregar Cascais a D. António Prior do Crato, por isso foi desterrado para Espanha, juntamente com a família.
    Poderá parecer estranho, à primeira vista, que um poeta que cultiva um estilo elevado e que escreve uma obra monumental como Os Lusíadas aborde, nesta quadra humorística, uma questão menor como a alimentação, mas a verdade é que o tema da alimentação remonta às origens da literatura europeia, desde logo por se tratar de um bem essencial à sobrevivência dos seres vivos. Uma das estratégias indutoras doo cómico num texto é o contraste entre a superioridade de um sujeito em relação a uma vítima e a desilusão das suas expectativas. Neste caso, as duas figuras que preenchem a composição prestam-se ao referido contraste: de um lado, temos um destinatário de estatuto elevado, o poderoso D. António de Castro, enquanto no outro encontramos um poeta simples e modesto que se diminui fazendo uma cópia. A vida do primeiro caracteriza-se pelo bem-estar, ao passo que o segundo vive ansioso por confortar o seu estômago e satisfazer o seu palato. À promessa de seis galinhas feita pelo homem todo poderoso, segue-se a desilusão do poeta humilde pela receção de mera meia galinha, o que equivale a dizer que, novamente nas palavras da professora Rita Marnoto, “Às expectativas geradas pela plenitude de um delicioso recheio, corresponde uma ausência, como se a pulsão do corpo fosse remetida para o vazio material da concavidade da meia ave.”
    Retornando à análise da epígrafe, ficamos a saber que D. António, um homem poderoso, prometeu a Camões seis galinhas recheadas como pagamento por uma cópia que este lhe fizera, porém apenas lhe enviara meia. Note-se que, semanticamente, a meia dúzia é uma quantidade ligada à banalização, à indeterminação e até à escassez nos seus vários planos. Por sua vez, o verso inicial da quadra enuncia uma quantidade, a do débito, como se de um deficit se tratasse, que mensura uma substância alimentar: a galinha. As cinco galinhas e meia são antecipadas e postas em relevo pelo anacoluto, pois há uma inversão da ordem dos seus elementos, que seria “O senhor de Cascais deve cinco galinhas e meia”. O segundo verso identifica o débito (“deve” cinco galinhas e meia) e a figura histórica que corresponde ao devedor: D. António de Castro. Feita a substração, resta o que Camões efetivamente recebeu: meia galinha (“e a meia”), que vem cheia (adjetivo que se liga a outro – “recheadas” –, presente na epígrafe, por paronomásia a partir do mesmo étimo). Estamos perante uma espécie de eufemismo que aponta para o oposto daquilo a que se está a aludir: uma ausência. O registo das quantidades numéricas processa-se em decréscimo: de seis galinhas (epígrafe), passa-se a cinco galinhas e meia (v. 1), a seguir a meia (v. 3) e daí ao vazio (v. 4). Deste modo, é possível concluir que o adjetivo que aponta para a plenitude (“cheia”, do latim “plena”, que sugere exatamente a noção de plenitude) indicia, afinal, uma sucessão de faltas: do Senhor de Cascais, ao prometido; de comida, para o poeta; do recheio da meia galinha (sugerido pela ironia). Outra conclusão a que se pode chegar é que a “diminuição do quantitativo (em galinhas) é inversamente proporcional ao aumento dos apetites. (v. 4)”.
    O último verso assenta num jogo de palavras: o que preenche a galinha não corresponde à substância material do recheio, mas, por oposição, um apetite não satisfeito., o que, metaforicamente, pode ser interpretado como o vazio que se apodera do poeta. As suas expectativas foram traídas e a concavidade da meia galinha (personificada, ao ser dotada de apetites – não satisfeitos – a satisfazer) simboliza o seu desejo de comer. Deste modo, os apetites do poeta são transferidos para a meia galinha por hipálage. A metade do animal que Camões recebeu carrega consigo não um recheio material, mas o vazio onde se aloja o desejo em toda a sua plenitude, simbolicamente: é lá que se nutrem todos os anseios, todas as esperanças e todas as promessas que simbolizam “quanto de insaciável carrega a existência e com ela a escrita.” Note-se, por último, que, seguindo a tradição segundo a qual a redondilha deve apresentar uma estrutura circular, esta composição poética obedece a esse preceito, pois o último verso retoma o primeiro: “Cinco galinhas e meia” (v. 1); “de apetites para as mais” [cinco galinhas e meia].

terça-feira, 5 de março de 2024

Análise do episódio das Despedidas em Belém

 
① Síntese dos acontecimentos que medeiam o episódio de Inês de Castro e o da Praia das Lágrimas
 
    Vasco da Gama continua a relatar ao rei de Melinde episódios da História de Portugal. Assim, na sequência da narração da Crise de 1383-1385, que levou D. João I ao trono de Portugal, Gama narra a batalha de Aljubarrota, que contou com muitos portugueses do lado castelhano. De seguida, relata acontecimentos do reinado do Mestre de Avis, nomeadamente a conquista de Ceuta, seguindo-se os reinados de D. Duarte, D. Afonso V e D. João II. Chegado ao reinado de D. Manuel III, narra o sonho profético do rei, no qual dois rios (o Indo e o Ganges) lhe anunciam o nascimento de um novo império.



Contextualização

    A pedido do rei de Melinde, Vasco da Gama narra-lhe a História de Portugal. Neste passo da obra, vai contar a partida da armada de Lisboa em direção à Índia, por meio de uma analepse. Convém relembrar que, de acordo com as regras da epopeia clássica, a narração inicia-se «in media res», isto é, quando a viagem já vai a meio, ou seja, ao largo de Moçambique. Os acontecimentos que medeiam entre a partida de Lisboa e o ponto em que se encontram serão narrados posteriormente através de uma analepse, que se estende do Canto III ao V e que constitui a resposta ao pedido do monarca. Esta analepse O episódio só surge neste momento, dado que está inserido na sequência cronológica da História de Portugal que Vasco da Gama está a narrar ao rei de Melinde.
    Neste episódio, Camões destaca a dor, o sofrimento e o sacrifício das pessoas envolvidas direta (os marinheiros) ou indiretamente (familiares e amigos) na empresa dos Descobrimentos. O Poeta exprime esses sentimentos através da narração que Vasco da Gama faz ao rei de Melinde, narrando, como atrás referido, a partida para a viagem inaugural à Índia.
    Vasco da Gama relata o dia em que o povo da cidade de Lisboa se juntou na praia de Belém para assistir à partida das naus e para se despedir dos amigos e parentes que iam embarcar. Ele e os seus companheiros de viagem saíram em procissão da ermida, passando entre a “gente da cidade” – homens e mulheres, velhos e crianças, mães e esposas. Para diminuir o sofrimento dos que ficavam e dos que partiam, Vasco da Gama determinou que o embarque se fizesse sem as habituais despedidas.

    O tema deste episódio é, portanto, a partida dos marinheiros da praia do Restelo e a despedida dos seus familiares e amigos.


 
Estrutura externa: Canto IV, estâncias 84 a 93.


 
④ Estrutura interna

- Narração: plano da Viagem.

- Narrador: Vasco da Gama, um narrador na primeira pessoa, autodiegético, pois é em simultâneo personagem interveniente na ação.

- Narratário: Rei de Melinde (a quem, a seu pedido, Vasco da Gama conta a História de Portugal).



Estrutura do episódio

1.ª parte – Os preparativos da viagem (est. 84 a 87)

1. Localização da ação:
. no espaço:
“ínclita Ulisseia” (perífrase e metonímia), isto é, Lisboa (v. 1) – a “ínclita Ulisseia” é uma alusão a Ulisses, o célebre criador do cavalo de Troia que, durante a viagem de regresso a sua casa, em Ítaca, teria aportado em Portugal e fundado a cidade de Lisboa, à qual deu o seu nome;
junto ao estuário do Tejo, porto de Lisboa, em Belém, praia do Restelo: os parênteses dos versos 3 e 4, onde estão presentes o hipérbato, a perífrase e a antítese entre «salgado» e «doce» e a metonímia (Neptuno = mar), precisam o local onde decorre a ação – junto ao estuário do Tejo (o estuário é uma zona de transição entre o rio e o mar, ou seja, onde existe uma mistura de água doce do Tejo com a água salgada do mar;

. no tempo:

- reinado de D. Manuel I;

- presente, 8 de julho de 1497, dia da partida da armada de Vasco da Gama rumo à Índia.


2. Ambiente de alvoroço: trata-se do alvoroço geral dos últimos preparativos para o embarque.

 
3. Estado de espírito / Caracterização dos marinheiros (“gente marítima” – perífrase) e dos soldados (“a de Marte” – perífrase):


Continuação da análise aqui: despedidas-em-belem.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Mito pelásgico da criação


    O mito pelásgico da criação é uma versão da origem do mundo e dos humanos de acordo com os pelasgos, um povo que habitava a Grécia antes do surgimento dos gregos.

    De acordo com esse mito, no início havia apenas o Caos, uma massa informe e escura. Dele brotou, nua, Eurínome, a deusa de todas as coisas, que se separou do Caos e criou o Oceano. De facto, não vendo substância em seu redor onde formar os pés, apartou o mar do céu, dançando solitária sobre as suas ondas. Ao dançar em direção a sul, gerou o Vento Norte (que se soltava por trás dela a cada passo que dava). Movendo-se, ondulante, em torno dele, estreitou-o nos braços, deixou-o deslizar-lhe por entre as mãos e, subitamente, viu diante de si Ofião, a grande serpente. Eurínome continuou a dançar, com crescente frenesim, para se aquecer, o que levou Ofião, lúbrico de natureza, a enrolar-se naqueles membros divinos e unir-se-lhe, cheio de desejo. Daí em diante, o Vento Norte, também chamado Bóreas, fecunda e, porque assim é, as éguas oferecem as suas garupas ao vento e geram potros sem a necessidade de um garanhão. O mesmo sucedeu para que Eurínome ficasse pejada.

    Abra-se aqui um parêntesis para observar o seguinte. Este mito enquadra-se ou reflete um sistema religioso arcaico, no qual não existem deuses nem sacerdotes, surgindo-nos apenas uma deusa universal e as respetivas sacerdotisas. Quem domina são as mulheres, cabendo ao homem apenas o papel de sua vítima amedrontada; os conceitos de pai e de paternidade são praticamente inexistentes, ou pelo menos não eram objeto de veneração, já que se atribuía a conceção ao vento, à ingestão de feijões, ou mesmo a um inseto, engolido por incauto. Na esteira destes princípios, as heranças e a sucessão eram transmitidas pelo lado materno. Por seu turno, as serpentes eram encaradas como incarnação dos mortos. Neste contexto, Eurínome, “a grande nómada”, seria o título atribuído à deusa enquanto lua visível, e que entre os Sumérios tinha o nome de Iahu, a “pomba exaltada”, honra que mais tarde passaria para Jeová, enquanto Criador. E é efetivamente sob a forma de pomba que Marduk a divide simbolicamente em duas, no Festival da Primavera babilónio, quando inaugurava a nova ordem do mundo.

    Findo o parêntesis, retornemos ao mito. Eurínome transformou-se numa pomba e pousou sofre Ofião, que se enrolou no seu corpo e a fecundou, indo ela incubar sobre a superfície das águas e, cumprido o tempo, pôs o Ovo Universal. Por ordem dela, Ofião enrolou-se sete vezes em torno desse ovo, que se rompeu e dividiu em dois. Dele nasceram, de forma desordenada, todas as coisas: o sul, a lua, as estrelas, os planetas, a terra, as plantas, os animais e os seres humanos.

    Posteriormente, Eurínome e Ofião foram morar para o Monte Olimpo e reinaram sobre a criação, porém ele tornou-se arrogante e quis igualar-se-lhe, ao dizer-se o autor do Universo. Ela castigou-o, calcando-lhe a cabeça com o pé e banindo-o do Olimpo para as profundezas do Oceano.

    Ofião, ou Bóreas, é o demiurgo-serpente das mitologias hebraica e egípcia, o que se reflete no facto de a imagem da deusa acompanhada por ele se encontrar na arte mediterrânica primitiva. Os pelasgos – os nascidos-da-terra –, que reivindicavam ter vindo dos dentes de Ofião, pode ser o povo, na sua origem, autor das pinturas do período neolítico, que atingiu a Grécia continental a partir da Palestina por volta do ano 3500 a.C., e que os primitivos Heládicos – imigrantes vindos da Ásia Menor através das Cíclades – foram encontrar ocupando o Peloponeso setecentos anos mais tarde. Por outro lado, o termo «pelasgos» acabou por se aplicar a todos os habitantes pré-helénicos da Grécia. É por isso que Eurípides afirma que os pelasgos adotaram o nome de «Dânaos» depois de Dânao ter chegado a Argos acompanhado pelas suas cinquenta filhas. Estrabão, por seu turno, afirma que os habitantes em redor de Atenas eram conhecidos pelo nome de Pelargi («cegonhas»), provavelmente devido ao facto de estas serem as suas aves totémicas.

    Depois se expulsar Ofião do Olimpo, Eurínome passou a governar sozinha o universo, auxiliada pelas suas ninfas, as Cárites. A seguir, criou as sete potências planetárias, pondo à cabeça de cada uma delas um Titã ou uma Titânide: Teia e Hiperião reinavam sobre o Sol; Febe e Atlas sobre a Lua; Dione e Crio sobre o planeta Marte; Métis e Ceos sobre Mercúrio; Témis e Eurimedonte sobre o planeta Júpiter; Tétis e Oceano sobre Vénus; Reia e Cronos sobre Saturno.

    É possível que os Titãs («senhores») e as Titânides, que tinham as suas réplicas na astrologia primitiva da Babilónia e da Palestina, onde vamos encontrar também divindades a governar os sete dias da semana sagrada planetária, tenham sido introduzidos pelos Cananeus ou pelos Hititas, que se haviam estabelecido no Istmo de Corinto nos inícios do segundo milénio a.C., ou mesmo pelos Heládicos primitivos. No entanto, quando o culto titânico é abolido na Grécia e que a semana de sete dias deixou de figurar no calendário oficial, alguns autores passam a referir-se a doze, talvez para corresponderem aos signos do Zodíaco. Quanto aos seus nomes, há versões contraditórias. Na mitologia babilónica os governantes dos planetas da semana, nomeadamente, Samas, Sin, Nergal, Bel, Beltis e Ninibe, eram todos varões, à exceção de Beltis, a deusa do amor. Por outro lado, na semana germânica, que os Celtas terão ido buscar ao Mediterrâneo Oriental, o domingo, a terça e a sexta eram governados por Titânides, contrapondo-se aos restantes dias, sob o domínio dos Titãs. Quando o sistema chegou à Grécia, foi decidido acasalar cada uma umas Titânides com um Titã, para salvaguardar os interesses de Níobe. Passado pouco tempo, dos catorze passou-se para sete potências planetárias: o Sol, para a iluminação; a Lua, para a magia; Marte, para o crescimento; Mercúrio, para a sabedoria; Júpiter, para a lei; Vénus, para o amor; e Saturno, para a paz. Na Grécia Clássica, os astrólogos seguiram o mesmo princípio dos babilónios, pelo que atribuíram os planetas a Hélio, Selene, Ares, Hermes (ou Apolo), Zeus, Afrodite, Cronos, cujos equivalentes latinos atrás referidos estão na base da nomenclatura dos dias da semana no francês, italiano e castelhano.

    Zeus devorou os Titãs e, com estes, ele próprio, na sua forma original.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Apolo


    Do gr., em jogo de Platão, «o purificador das almas»; com o epíteto de Febo, «brilhante, luminoso», Apolo era um dos 12 deuses olímpicos, filho de Zeus e Letona e irmão gémeo de Diana, nascido de sete meses, com a ajuda de Ilítia, na ilha Ortígia ou Astéria, depois chamada Delos, «visível». Quando nasceu, Zeus ofereceu-lhe uma mitra de ouro, uma lira e um carro puxado por cisnes.
    A história de Apolo é confusa. Os Gregos apresentam-no como sendo filho de Leto, uma deusa conhecida no sul da Palestina com o nome de Lat, mas simultaneamente ele foi um deus dos Hiperbóreos («os homens que viviam para lá do Vento do Norte»), que Hecateu (in Diodoro Sículo, II, 47) identificou com os britânicos, embora Píndaro os considerasse líbios. Delos era o centro desse culto hiperbóreo, que irradiou para sudeste até à Nabateia e à Palestina, para noroeste até à Grã-Bretanha, passando por Atenas.
    Os deuses, porém, crescem depressa; Témis alimentava-o com néctar e ambrósia, por isso, ao quarto dia de vida, já estava a pedir que lhe dessem um arco e flechas, pedido a que Hefesto acedeu prontamente. Na posse dos objetos, saiu de Delos e dirigiu-se diretamente para o Monte Parnaso, onde a serpente Píton, inimiga da sua mãe, vivia escondida numa caverna e devastava a região, e aí feriu-a gravemente com as suas flechas. Píton fugiu para o Oráculo da Mãe-Terra em Delfos, cidade que tem este nome em honra do monstro Délfine, o companheiro de Píton, porém Apolo seguiu-a até ao santuário e matou-a.
    A Mãe-Terra foi queixar-se de tal afronta junto de Zeus, que, além de ordenar a Apolo que fosse ao vale de Tempe purificar-se, instituiu os Jogos Píticos, em honra de Píton, aos quais Apolo devia presidir em sinal de penitência. No entanto, este último ignorou a ordem de Zeus para visitar Tempe e preferiu, em vez disso, ir purificar-se a Egialeia, na companhia de Artemisa, contudo, como também este local não lhe agradou, dirigiu-se para Tarra, em Creta, onde o rei Cermanor se encarregou da cerimónia. A morte da serpente (há versões que falam num dragão) e a purificação de Apolo eram celebrados de oito em oito anos.
    De regresso à Grécia, Apolo foi procurar Pã, o velho e desacreditado deus da Arcádia, de pés de bode, adulou-o e persuadiu-o a revelar-lhe a arte da profecia, após o que se apossou do Oráculo de Delfos, forçando a sua sacerdotisa, a pitonisa, a ficar a seu serviço. Sabendo da história, Leto encaminhou-se para Delfos com Artemisa, onde se isolou por algum tempo num bosque sagrado, para cumprir um rito pessoal. Todavia, as suas preces foram interrompidas pelo gigante Títio, que a tentou violar, no entanto Apolo e Artemisa, ouvindo os gritos de Leto, acorreram rapidamente e mataram o gigante com uma saraivada de flechas, gesto que agradou a Zeus, que era pai de Títio. No Tártaro, este foi colocado no chão, completamente esticado para que o supliciassem, braços e pernas bem fixos ao solo, o corpo cobrindo a bonita área de nove acres, e dois abutres devorando-lhe o fígado.
    Passado algum tempo, Apolo matou o sátiro Mársias, um dos que seguiam a deusa Cibele: um dia, Atena fez uma flauta de dois tubos dos ossos de um veado e foi tocá-la num banquete onde estavam presentes vários deuses. Às tantas, reparou que Hera e Afrodite se riam com o rosto escondido atrás das mãos, enquanto as demais divindades lhe pareciam deliciadas com a música que ela tocava. Assim, decidiu retirar-se para um bosque na Frígia, pegou na flauta e contemplou-se nas águas de um regato, enquanto tocava. Apercebeu-se, nesse instante, do ar ridículo e cómico com que ficava ao tocar o instrumento, com as faces deformadas e o rosto arroxeado, por isso deitou fora impetuosamente a flauta e lançou uma maldição sobre quem a apanhasse.
    A vítima - inocente - dessa maldição foi Mársias, que tropeçou na flauta, colocou-a na boca e começou a tocá-la. Assim, atravessou a Frígia, atrás de Cibele, fazendo as delícias dos camponeses ignorantes com que se cruzava no caminho e que afirmavam que nem o próprio Apolo seria capaz de tocar melhor, na sua lira. Mársias cometeu o erro de não os contradizer, o que provocou a ira de Apolo, que o desafiou para um concurso: aquele que vencesse teria o direito de infligir ao vencido o castigo que mais lhe agradasse. Mársias aceitou, e Apolo escolheu as musas para júri. Iniciado o concurso, a competição tendia para o empate, dado que às musas tanto agradava o instrumento de um como do outro, quando Apolo sugeriu a Mársias que o oponente virasse o instrumento de pernas para o ar e tocasse e cantasse ao mesmo tempo. Sucedeu que o desafio constituía uma armadilha, pois era impossível executá-lo com a flauta, ao contrário da lira. Pelo contrário, Apolo inverteu a lira e entoou uns hinos maravilhosos em honra dos deuses do Olimpo e, dessa forma, venceu a competição. Posteriormente, Apolo fez cair sobre o adversário uma vingança cruel: esfolou-o vivo e cravou a pele num pinheiro (ou, segundo outras versões, num plátano), junto à nascente do rio que hoje possui o seu nome.
    Mais tarde, Apolo venceu um segundo concurso musical, ao qual presidiu o Rei Midas, tendo enfrentado e superado Pã, tendo-se tornado, a partir daí, o incontestado e conhecidíssimo deus da Música. Por outro lado, desde então o deus passou a animar todos os banquetes das divindades com o som melodioso da sua lira de sete cordas. Outras das suas funções foi guardar em tempos os rebanhos que os deuses possuíam na Piéria, tarefa que, mais tarde, foi delegada em Hermes.
     As vitórias de Apolo sobre Mársias e Pã assinalam as conquistas da Frígia e da Arcádia pelos Helenos, com a consequente substituições, naquela região, dos instrumentos de sopro por instrumentos de cordas, o que apenas não ocorreu no seio do campesinato. É possível que o castigo de Mársias esteja relacionado com o ritual de arrancar a pele ao rei sagrado - como Atena retirou a Palas a sua égide mágica - ou com a extração de toda a casca de um rebento de amieiro para fazer uma flauta de cana pastoril, personificando o amieiro um deus ou semideus. Tanto os Gregos dórios como os Milésios reivindicavam ser Apolo um seu antepassado, ao qual prestavam honras especiais. Os Coribantes, executores das danças das festividades do solstício de inverno, aparecem como filhos de Apolo e da Musa Tália pelo facto de ele ter sido o deus da Música.
    Por causa da sua beleza e estatura e não obstante ter-se sempre recusado a ligar-se pelo casamento a alguém, apaixonou-se e seduziu várias deusas e mortais, tendo gerado vários filhos. Com Ftia, teve Doro e os seus irmãos; da musa Tália, teve os Coribantes; de Corónis, Asclépio; de Ária, Mileto; de Cirene, Aristeu; de Urânia, Lino e Orfeu, etc. Amou igualmente alguns jovens, como, por exemplo, Jacinto e Ciparisso, que se transformaram, aquele em jacinto, este, em cipreste.
    Seduziu também a ninfa Dríope, que pastoreava os rebanhos do pai, no Monte Eta, na companhia das suas amigas, as Hamadríades. Apolo disfarçou-se de tartaruga, com a qual todas elas muito brincaram, e, quando Dríope o aconchegou junto ao seio, transformou-se numa serpente sibilante que assustou e fez fugir as Hamadríades, aproveitando-se ele disso para possuir a ninfa. Esta deu-lhe Anfisso, que fundou a cidade de Eta e construiu um templo para o pai, onde Dríope serviu como sacerdotisa durante algum tempo, até um dia as Hamadríades, pela calada, a afastaram e no seu lugar colocaram um choupo.
    Esta sedução assinala talvez a substituição de um culto do carvalho por um culto de Apolo, ao qual era consagrado o choupo, o mesmo se aplicando à sedução de Ária. O disfarce de tartaruga é uma referência à lira que tinha comprado a Hermes. O nome de Ftia sugere que esta era a expressão outonal da deusa, e quanto à sua pretensão, sem êxito, à posse de Marpessa («a que agarra»), ela reporta-se, aparentemente, ao facto de Apolo não ter conseguido apoderar-se de um santuário Messénio: o da deusa dos Cereais sob a forma de Porca. Por outro lado, a situação do deus ao serviço de Admeto de Feras pode eventualmente estar relacionada com um acontecimento histórico: o descrédito em que incorrem os sacerdotes de Apolo como forma de punição pelo massacre de uma corporação de ferreiros pré-helénicos que desfrutava da proteção de Zeus.
    No entanto, nem sempre Apolo foi sucedido no amor. Certa vez tentou roubar Marpessa a Idas, mas esta manteve-se fiel ao marido. Noutra ocasião, perseguiu Dafne, a ninfa da montanha, sacerdotisa da Mãe Terra e filha do rio Peneu, na Tessália; porém, no momento em que estava prestes a agarrá-la, ela chamou em seu auxílio a Mãe Terra que, num instante, como que por magia, a levou até Creta, onde passaram a chamar-lhe Pasífae. No seu lugar, a Mãe Terra ergueu um loureiro, e das suas folhas Apolo fez uma coroa para se consolar.
    A sua tentativa junto de Dafne não foi fruto de um mero e súbito impulso. De facto, Apolo tinha-se enamorado dela já há muito tempo, tendo mesmo provocado a morte do seu rival Leucipo, irmão de Enómano, que se havia disfarçado de mulher para se misturar nas orgias a que Dafne se entregava na montanha. Sabendo disto, porque tinha o poder da adivinhação, Apolo aconselhou as ninfas a banharem-se completamente nuas, para se certificar de que todas elas eram mulheres e, assim, descobriu a impostura de Leucipo, que as ninfas dilaceraram em pedaços. Corónis («corvo»), mãe de Asclépio, da sua união com Apolo, seria provavelmente um dos títulos de Atena, contodo os atenienses recusaram-se sempre a atribuir filhos a Atena, alterando o mito.
    Aparentemente, este episódio de Apolo perseguindo Dafne, a ninfa da montanha, filha do rei Peneu e sacerdotisa da Mãe Terra, refere-se à tomada de Tempe pelos Helenos, região onde a deusa Dafoene (a «sanguinária») era venerada por um colégio de Ménades orgiásticas que mascavam folhas de louro. Após o desmembramento deste colégio - a narrativa de Plutarco dá a entender que as sacerdotisas teria fugido para Creta, onde a deusa-Lua tinha o nome de Pasífae - Apolo apodera-se do loureiro, cujas folhas, a partir daí, apenas à Pitonisa é permitida a sua utilização. Em Tempe e na Figália, é provável que Dafoene tenha sido uma deusa com cabeça de égua; Leucipo («cavalo branco») era o rei sagrado do culto local do cavalo, todos os anos dilacerado em pedaços pelas mulheres enfurecidas que se banhavam, para se purificarem, após a consumação do crime e não antes.
     Como referido anteriormente, outra das paixões de Apolo foi Jacinto, um príncipe espartano, pelo qual se enamorara o poeta Támiris, o primeiro homem a cortejar alguém do mesmo sexo, bem como Apolo, o primeiro deus a quem tal sucedia. Neste caso, o deus não viu no rival alguém que fosse grande rival, no entanto não deixou de o afastar do seu caminho. De facto, tendo ouvido dizer que ele se gabava de cantar melhor do que as próprias Musas, Apolo contou-lhes, e elas imediatamente roubaram a Támiris a vista, a voz e a memória dos seus arpejos. Mas este não era o único rival do deus. Com efeito, o Vento do Ocidente também se apaixonara por Jacinto, tornando-o loucamente ciumento de Apolo, e um dia, quando este ensinava ao jovem como lançar o disco, o Vento do Ocidente, apanhando o disco no ar, arremessou-o contra a testa de Jacinto, ferindo-o de morte. Do seu sangue brotou a flor do mesmo nome, sobre a qual ainda estão gravadas as suas iniciais.
    Na época clássica, as artes (a música, a poesia), a filosofia e as ciências em geral estavam sob a alçada e a proteção de Apolo. Inimigo confesso da barbárie, simbolizava a moderação, associando-se inclusive as sete cordas do seu alaúde às sete vogais do alfabeto grego, consideradas de significado místico e usadas na música de fins terapêuticos, Finalmente, e porque era identificado com o jovem Hórus, um conceito solar, foi venerado como sendo o sol, cujo culto entre os coríntios tinha sido substituído pelo de Zeus solar. Por outro lado, a sua irmã, Artemisa, foi identificada com a Lua.
    O episódio de Jacinto parece, à primeira vista, não passar de uma singela história sentimental que teria como propósito explicar as características do jacinto grego, contudo ele respeita ao Herói-Flor cretense de nome Jacinto, aparentemente também chamado Narciso, cujo culto foi introduzido na Grécia micénica. Em Rodes, Creta, Esparta, Cós e Tera, foi dado o nome de Jacíntio ao último mês de verão. O Apolo dório usurpou o nome de Jacinto em Tarento, onde este tinha um túmulo de herói. Existia um outro «túmulo» de Jacinto em Amiclas, uma cidade micénica, que viria a servir de base ao trono de Apolo. Nessa época, Apolo era um ser imortal, ao contrário que Jacinto, que reinava apenas durante uma estação do ano: a sua morte, provocada por um disco, recorda a do seu sobrinho Acrísio.
    Desde a conspiração para destronar Zeus, este apenas uma vez se enfurecera com Apolo, nomeadamente quando o filho deste último, Asclépio, o físico ressuscitou um homem, roubando, portanto, a Hades um súbdito seu. Hades, naturalmente, queixou-se no Olimpo, o que levou Zeus a fulminar Asclépio com o seu raio. Em retaliação, Apolo matou os Ciclopes.
    Furioso com esse ato, Zeus preparava-se para banir Apolo para o Tártaro, porém foi demovido por Leto, que lhe implorou o seu perdão, assumindo mesmo o compromisso de fazer com que o filho se emendasse. Assim, a sentença foi reduzida a um ano de trabalhos forçados, período durante o qual Apolo deveria ficar ao serviço do rei Admeto da Trácia. Aconselhado pela progenitora, Apolo não só cumpriu humildemente a sentença, como ainda prestou grandes benefícios a Admeto.
    Servindo-lhe de lição, a partir daí passou a pregar moderação fosse no que fosse: as frases "Conhece-te a ti mesmo!" e "Nada de excessos!" andavam constantemente nos seus lábios. Além disso, trouxe as Musas da sua morada no Monte Hélicon para Delfos; atenuou-lhes um pouco o seu frenesim e levou-as a executarem rítmicas e decorosas danças.
    

    Como deus dos Hiperbóreos, Apolo sacrificava hecatombes de burros, o que o identificava com o «jovem Hórus», cuja vitória sobre o seu inimigo Set os egípcios celebravam todos os anos conduzindo burros selvagens sobre um precipício. Hórus vingava-se do assassinato de seu pai Osíris - o rei sagrado e bem-amado da Tripla deusa-Lua Ísis, ou contra Lat. que o respetivo sucessor sacrificava a meio do verão e em meados do inverno, e do qual Hórus era a própria reincarnação. O mito de Leto perseguida pela serpente Píton corresponde ao mito de Ísis perseguida pro Set (durante os setenta e dois dias mais quentes do ano). Por outro lado, Píton é identificada com Tífon, o Set grego, no Hino Homérico a Apolo, e no escólio a Apolónio de Rodes. O Apolo hiperbóreo é, de facto, um Hórus grego.
    Ao mito foi dada, porém, uma interpretação política: diz-se que a serpente Píton teria sido enviada em perseguição de Leto por Hera, a qual a gerava por partenogénese para contrariar Zeus. Apolo, depois de matar Píton (e provavelmente o seu companheiro Délfine), apoderou-se do templo oracular da Mãe Terra em Delfos - já que Hera seria Mãe Terra, ou Délfine, na sua expressão profética. Aparentemente, alguns dos Helenos do Norte, aliados aos Trácios-Líbios, invadiram a Grécia Central e o Peloponeso, onde se viram confrontados pela oposição dos pré-helenos veneradores da deusa-Terra, mas que, apesar disso, conseguiram tomar os principais templos oraculares da deusa. Em Delfos, aniquilaram a serpente sagrada oracular - no Erectéion de Atenas conservava-se uma serpente semelhante - e passaram a ocupar-se do oráculo em nome do seu deus Apolo Smíntio. Smíntio («rato»), tal como Esmun, o deus da cura Cananeu, tinha como símbolo um rato curativo. Os invasores concordaram em identificá-lo com Apolo, o Hórus hiperbóreo, que os aliados adoravam. Para aplacar os ânimos em Delfos, instituíram-se e celebravam-se regularmente jogos fúnebres em honra do herói morto, Píton, com a presença permanente da sua sacerdortisa.
   

Alcíone

    Do gr. «que protege da tempestade», Alcíone era filha de Éolo, o rei dos ventos, e de Egialeia. Desposou Céix (ou Ceíce), da Traquínia, filho da Estrela da Manhã, Eósforo ou Lucífer, e os dois eram muito felizes, porém, atingidos pelo orgulho, tiveram a ousadia de se compararem e de se fazerem chamar, a ela Hera, e ao marido, Zeus.
    Esta atitude despertou a ira dos verdadeiros Zeus e Hera e, em determinado momento que Ceíce decidiu ir consultar um oráculo, fizeram cair uma tempestade sobre o navio a bordo do qual se encontrava. Em consequência, a embarcação afundou e ele morreu, afogado.
    A partir daqui, as versões variam. Uma afirma que a sombra de Ceíce apareceu a Alcíone, que ficara, contrariada, na Tarquínia, onde, enlouquecida pela dor, se lançou ao mar. Algum deus mais piedoso transformou-os a ambos em pica-peixes. Outra estabelece que o corpo dele foi trazido pelas ondas para a costa, onde a esposa o encontrou. Desesperada, ela transformou-se num pássaro de pio lamentoso, e os deuses operaram nela uma metamorfose análoga à do marido.
    Zeus, compadecido, ordenou que os ventos não soprassem durante os sete dias antes e os setes dias depois do solstício de inverno, os chamados «dias de Alcíone", período em que choca os ovos perto das vagas do mar. De facto, em cada inverno, a fêmea do pica-peixe vem enterrar o seu macho por entre grandes lamentos e, de seguida, construindo um ninho muito cerrado com os espinhos do peixe-agulha, lança-o ao mar, põe os seus ovos e choca a sua ninhada.
    De acordo com vários autores clássicos (Apolodoro: 1. 7. 3; Escólio a Aristófanes: As Aves; Homero: Ilíada, Canto IX; Plínio: História Natural, X; Higino: Fábulas, 65; Ovídio: Metamorfoses, XI: Luciano: Alcíone, I; Plutarco: Quais os Animais mais Astuciosos?), porém, Céix foi transformado em gaivota.
    Alcíone e Ceíce simbolizam a fecundidade física e espiritual, ameaçada pelos deuses e pelos elementos da natureza.

    Alcíone é, também, uma designação atribuída a aves da família Alcedinídeos. O guarda-rios (Alceo atthis), igualmente conhecido por guarda-rios comum e por pica-peixe, é uma ave pequena e ativa que habita ao longo dos rios e ribeiros lentos, com bancos e socalcos arenosos. Possui uma cabeça grande, uma cauda curta e um bico comprido, bem como asas largas e pernas curtas. A zona superior do corpo é de cor azul e verde brilhantes. Alimenta-se do peixe e crustáceos pequenos que apanha mergulhando na água. Um adulto mede cerca de 16 centímetros.

NOTAS:

1.ª) A lenda do ninho do alcião, ou pica-peixe (que não se baseia na sua história natural, pois o alcião ou alcíone não constrói nada que de longe ou de perto se assemelhe a um ninho, mas deposita pura e simplesmente os ovos em buracos à beira-mar) deve estar relacionada com o nascimento do novo rei sagrado no solstício do inverno - depois da rainha que representa a sua mãe, a Deusa-Lua, ter acompanhado o cadáver do velho rei a uma ilha sepulcral. Porém, como o solstício do inverno nem sempre coincide com a mesma fase da Lua, deve entender-se por «cada ano» «cada Grande Ano», de cem lunações, no fim do qual os períodos lunar e solar se encontram mais ou menos sincronizados, e termina o reinado do rei sagrado.

2.ª) Homero relaciona o alcião com Alcíone, um título de Cleópatra, a mulher de Meleagro (Ilíada, IX, 562), e com uma filha de Éolo, guardião dos ventos. A forma grega de alcião (alcyon) não pode, portanto, significar al-cyon, «cão de caça do mar», como geralmente se supõe, mas sim alcy-one, «a rainha que evita o mal». Esta mitologia é atestada pelo mito de Alcíone e Ceíce e pela forma como Zeus e Hera os puniram. 

3.ª) Existe uma outra Alcíone, filha de Plêione («rainha viajando sobre o mar») e de Atlas e que liderava as sete Plêiades. O levantar helíaco das Plêiades, durante o mês de maio, marcava o início do ano da navegação; o seu ocaso assinalava o fim deste período, no momento em que (como Plínio nota numa passagem sobre o alcião) um vento do norte muito frio começa a soprar. As circunstâncias da morte de Ceíce indicam que os Éólios, navegadores de grande reputação, adoravam a deusa a expressão de «Alcíone», visto que esta os defendia dos rochedos e do mau tempo: Zeus provocou o naufrágio de Ceíce atingindo-o com um raio, por animosidade contra o poder da deusa. No entanto, continuou-se a atribuir ao alcião o poder mágico de acalmar as tempestades, e utilizava-se o seu corpo, depois de seco, como talismã para preservar do raio de Zeus - provavelmente, com base no facto de o raio nunca cair duas vezes seguidas do mesmo sítio. O Mediterrâneo é, regra geral, calmo na altura do solstício de inverno.


Bibliografia:
  • BENEDITO, Silvério, Dicionário Breve de Mitologia Grega e Romana. Editorial Presença, Lisboa, 2000.
  • GRAVES, Roberto, Os Mitos Gregos, Publicações D. Quixote, Col. Nova Enciclopédia, Lisboa, 1990.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Actéon

    Aristeu, filho de Apolo e da ninfa Cirene, tivera de Autónoe um filho chamado Actéon, que foi criado pelo centauro Quíron, o qual lhe ensinou a arte da caça, tornando-se, pois, um grande caçador.
    Certo dia, após uma caçada, Actéon e os seus companheiros descansavam num vale, quando ele decidiu explorá-lo. Em determinado momento, encontrou uma caverna, na qual Ártemis, a deusa grega da caça, costumava banhar-se na companhia das suas ninfas.
    Nesse dia, ao penetrar na caverna, Actéon surpreendeu a deusa banhando-se, nua, numa nascente. As ninfas que a acompanhavam tentaram cobrir o corpo de Ártemis, no entanto, como esta era mais alta do que aquelas, nada adiantou tal ação.
    Irritada e encolerizada por ter sido surpreendida daquela forma, a deusa transformou-o em veado e, não satisfeita, enfureceu os cinquenta cães que compunham a sua matilha, açulou-os contra ele. Os animais, obviamente, não o reconheceram, por isso atacaram-no e devoraram-no, tendo depois procurado o dono (que acabavam de matar), ganindo por toda a floresta.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Género literário de Os Lusíadas

     Neste post, encontra-se a classificação de Os Lusíadas como uma epopeia / um poema épico, a definição de epopeia, os elementos característicos da epopeia e os elementos da mesma que podemos encontrar na obra de Camões.

    O post pode ser encontrado no seguinte link: género-de-os-lusíadas.


    Abaixo, um quadro-síntese dos conteúdos desenvolvidos:

 

ELEMENTOS da EPOPEIA

CONCRETIZAÇÃO
n’ OS LUSÍADAS

CARACTERÍSTICAS

 

. A ação: acontecimentos representados ao longo da obra.

 

 

. Viagem de Vasco da Gama, acontecimento culminante da História de Portugal.
 
. Unidade: ligação entre as diversas partes.

. Variedade: inserção de episódios para quebrar a monotonia e embelezar a ação.

. Verdade: assunto real ou, pelo menos, verosímil.

. Integridade: criação de uma intriga com princípio, e fim.

 
. A personagem: os agentes ou heróis da ação.

 

 
. Vasco da Gama.


. O Povo Português (“o peito ilustre lusitano”).
 
. Camões?
 

. E os deuses, mais homens que deuses?

 

 
. Individual e principal, com uma dimensão simbólica um povo de marinheiros.
 
. Herói coletivo, fundamental numa epopeia.
 
. Herói individual (ou coletivo, porque representativo do homem do Renascimento, completo, soldado e escritor, guerreiro e Velho do Restelo?).
 
. Não são meros símbolos, têm paixões humanas, identificam o êxito e o fracasso, a vitória e a derrota (Vénus Baco).
 
 
. O maravilhoso: intervenção de seres sobrenaturais na ação.

 

 
. Júpiter, Vénus, Marte, etc.
 
. Deus (a Divina Providência cristã).
 
. Pagão: deuses pagãos.
 
. Cristão: Deus do cristianismo.
 
. Misto: mistura dos dois anteriores.
 
. Céltico: magia, feitiçaria.
 
 
. A forma.

 

 

 
. Dez cantos.
. Narrativa em versos decassílabos, geralmente heroicos, agrupados em oitavas.
. Rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos.
. Esquema rimático: abababcc.
 

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