[episódio]
Mostrar mensagens com a etiqueta Famílias desavindas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Famílias desavindas. Mostrar todas as mensagens
sexta-feira, 7 de abril de 2023
sexta-feira, 20 de março de 2020
Valor simbólico dos marcos históricos referidos no conto "Famílias desavindas"
Na
transição do século XIX para o XX, a sociedade sofreu transformações decorrentes
do progresso científico, facto visível, neste conto, na introdução de um
semáforo a pedais numa rua da cidade do Porto e na criação da profissão de
«semaforeiro».
De
facto, essa época constituiu um avanço notável em termos tecnológicos. A eletricidade,
a lâmpada, o telefone, o automóvel foram algumas das invenções do final do
século XIX, cujo aperfeiçoamento prosseguiu no século XX e que melhoraram
substancialmente a qualidade de vida de muitas pessoas. Este salto evolucional
fez-se sentir igualmente noutras áreas, como, por exemplo, o cinema, sem
esquecer que o avião estava também ao virar da esquina. Ora, a invenção do
semáforo referido no conto insere-se nessa onda e nesse período de progresso e
inovação tecnológica.
Por
outro lado, as duas Grandes Guerras simbolizam os conflitos (neste caso, de
grandes dimensões, com milhões de mortos e feridos, atrocidades até então
«desconhecidas» do ser humano), os ódios e as agressões entre os seres humanos.
São um símbolo dos grandes massacres do século XX, a que se poderiam
acrescentar outros não referenciados no conto (a guerra do Vietname, as lutas
pela independência por parte de países colonizados pelos europeus, a expansão
do terrorismo, etc.). Sucede que a história narrada no conto de Mário de Carvalho
constitui uma narrativa de desavenças e ódios, numa escada ínfima
comparativamente aos eventos mundiais referidos, mas ainda assim de conflito.
O
outro acontecimento mencionado no texto, este de índole nacional – o 25 de
Abril de 1974 –, simboliza a liberdade, o fim da ditadura, da opressão e da
perseguição, bem como mudança nas relações entre as pessoas, a abertura de
ideias, o entendimento, a comunhão. A reconciliação entre as famílias dos
«semaforeiros» e dos médicos sucede precisamente numa época posterior à
Revolução dos Cravos.
O
quadro seguinte reproduz os marcos históricos presentes no conto e o simbolismo
associado a essas datas históricas.
Labels:
12.º Ano
,
Conto
,
Famílias desavindas
,
Mário de Carvalho
Sequências narrativas de "Famílias desavindas"
● 1.ª
sequência – Narração da origem dos semáforos e localização do aparelho (1.º
e 2.º parágrafos).
● 2.ª
sequência – Descrição do equipamento dos semáforos e do seu funcionamento
(3.º parágrafo).
● 3.ª
sequência – Relato do processo de seleção do primeiro semaforeiro (4.º
parágrafo).
● 4.ª
sequência – Sumário relativo às pessoas que desempenharam o cargo de
semaforeiro até ao presente da enunciação (5.º parágrafo).
● 5.ª
sequência – Descrição da relação atual entre semaforeiro, motoristas e
transeuntes (6.º parágrafo).
● 6.ª
sequência – Apresentação do primeiro médico e da origem do conflito com os
semaforeiros.
● 7.ª
sequência – Exposição das relações conflituosas entre médicos e
semaforeiros (8.º ao 12.º parágrafos).
● 8.ª
sequência – Narração do acidente e da reconciliação entre semaforeiros e
médicos (13.º ao 16.º parágrafos).
Labels:
12.º Ano
,
Conto
,
Famílias desavindas
,
Mário de Carvalho
Personagens de "Famílias desavindas"
I. Caracterização
As personagens centrais do conto
distribuem-se, essencialmente, por duas famílias: a dos médicos e a dos
«semaforeiros».
A família dos semaforeiros é
constituída por quatro elementos, cujo traços de união são (1) a
inimizade pelos vizinhos médicos e (2) o amor e a dedicação ao instrumento de
trabalho.
Por seu turno, a família dos
médicos é constituída por três, representando cada um deles um traço diferente:
» João Pedro: o impositivo;
» João: o inseguro;
» Paulo: o teórico.
O que os une é a inimizade
pelos «semaforeiros».
No que diz respeito à
caracterização das personagens, os traços principais são os seguintes.
Família dos semaforeiros
1. Ramon:
» é o primeiro «semaforeiro»;
» é galego, isto é, originário da
Galiza;
» não sabe
pedalar, no entanto é o escolhido para o lugar através do compadrio (é familiar
do proprietário de um bom restaurante);
» é
esforçado, empenhado e cheio de boa vontade no exercício da sua profissão, que
exerce com prazer e orgulho, tal como os seus descendentes;
» pertence
à geração da I Guerra Mundial;
» sente-se
magoado, triste e ofendido com o Dr. Bekett, por isso dificulta-lhe a tarefa;
» inicia o
conflito com a família dos médicos.
2. Ximenez:
» é filho de
Ramon;
» é o segundo
«semaforeiro»;
» pertence à
geração da II Guerra Mundial.
3. Asdrúbal:
» é filho
de Ximenez;
» é o
terceiro «semaforeiro»;
» pertence
à geração do 25 de Abril;
» insulta o
Dr. Paulo, com o qual quase chega a vias de facto.
4. Paco:
» é bisneto
de Ramon;
» pertence
à geração do início do século XXI;
» é
simpático e prestável com os condutores, com quem tem uma relação
personalizada;
» mantém o
conflito com o médico;
» sofre um
acidente e é socorrido pelo médico, que também o substitui no semáforo enquanto
recupera no hospital.
Não obstante nos serem dados a
conhecer os nomes de todos os quatro semaforeiros, estes constituem uma
personagem coletiva, que se caracteriza pelo amor quase obsessivo e irracional
pelos «seus» semáforos, o que justifica que, ao contrário dos médicos, apenas o
primeiro «semaforeiro» tenha direito a uma caracterização individualizada, e
apenas para justificar a sua escolha para o cargo.
Família dos médicos
5. João Pedro Bekett:
» é oriundo
de Coimbra;
» é um
médico singular: queria tratar toda a gente de doenças que eventualmente
teriam, mesmo que os próprios não quisessem ser tratados;
» percorre
as ruas à procura de pessoas que queria convencer a consultar por, na sua
opinião, terem aspeto de doentes;
» é um «pai
de filhos»;
» tem boa
fama enquanto médico;
» possui
elevado espírito de missão;
» não
gostou que o semaforeiro lhe impusesse limites à sua circulação, o que, segundo
ele, ia contra a sua liberdade (não poder atravessar a rua quando quisesse).
6. Dr. João:
» é filho
de Pedro Bekett;
» é um
médico muito inseguro e modesto: considera que os seus diagnósticos estão
provavelmente errados e aconselha os doentes a procurarem uma segunda opinião;
» é um mau
profissional: em vez de se aperfeiçoar, dada a sua insegurança, passava o tempo
livre à janela, a encadear Ximenez com um espelho colorido;
» herda do
pai o ódio pelos «semaforeiros»;
»
intensifica o conflito com eles;
» raramente
acerta no diagnóstico.
7. Dr. Paulo:
» é filho
do Dr. João;
» adormece
os seus pacientes com explicações muito pormenorizadas sobre as suas doenças,
mostrando-se pouco ou nada interessado em ouvir as suas queixas;
» insulta o
semaforeiro Asdrúbal;
» quase
chega a vias de facto com o semaforeiro;
» mantém
uma relação conflituosa com Paco;
» socorre-o
quando assiste a um acidente sofrido por Paco, deixando de lado os ódios
antigos;
» é
solidário: assume o posto de Paco como «semaforeiro» para se redimir e à sua
consciência pesada enquanto aquele se encontra hospitalizado.
Outras personagens
8. Gerard Letelessier:
» é um
engenheiro francês;
» fracassou
no seu país e em Lisboa;
» tem
sucesso no Porto com uma invenção inútil.
9. Autarca do Porto:
» é o
símbolo de todos os autarcas da província;
» fica mais
entusiasmado com as garrafas de vinho do que com o invento;
» fica
deslumbrado por um projeto porque é estrangeiro;
» é
entusiasta de situações experimentais que se tornam definitivas.
10. Transeuntes e motorista do
Porto:
» representam
o gosto da população portuguesa pelo facilitismo, pelos «brandos costumes»,
pelo tráfico de influências.
II. Representatividade
• Os semaforeiros
são um grupo de trabalhadores ciosos da sua profissão, que exercem com grande
zelo e entusiasmo, mesmo que não tenha qualquer importância ou relevância
social.
• Os médicos
pertencem a uma classe social superior. Desempenham uma atividade
imprescindível, mas revelam ou prepotência (Dr. João Pedro Bekett), ou
insegurança (Dr. João) ou conhecimentos apenas teóricos (Dr. Paulo).
Labels:
12.º Ano
,
Conto
,
Famílias desavindas
,
Mário de Carvalho
Dimensão irónica e paródica de "Famílias desavindas"
Neste conto, o
narrador recorre frequentemente à paródia, apostando na inversão irónica de
códigos e de convenções, com distanciamento crítico.
A paródia está
presente, desde logo, no facto de o início inusitado se transfigurar na
conclusão do conto: o acidente propicia a reconciliação das duas famílias,
depois de cerca de um século de conflito.
A dimensão
irónica e paródica do conto assume os seguintes contornos:
● O insólito com aparência de real (fantástico que se introduz no
quotidiano recriado)
▪ Conto em que se articulam dois universos logicamente incompatíveis:
→ o da realidade e da normalidade (verosimilhante): é reforçado e
legitimado pelo narrador através de marcadores históricos, de topónimos e de
nomes de pessoas;
→ o do insólito / fantástico (inverosimilhante): é marcado pelo caráter
incomum e pitoresco das ações narradas (semáforo a pedais; escolha do primeiro
semaforeiro; origem do conflito entre médicos e semaforeiros; acidente, que
culmina com o médico a assumir a função de semaforeiro).
● O cómico extraído do quotidiano: o narrador denuncia/critica,
recorrendo ao humor/cómico e à ironia, de aspetos negativos extraídos do
quotidiano:
1. Censura dos ódios entre famílias sem motivo (a pequenez do
conflito entre as famílias dos semaforeiros e dos médicos), em contraste com a
magnitude dos acontecimentos nacionais e mundiais referenciados no texto, a
deixar transparecer uma censura ao egoísmo e mesquinhez do ser humano.
Atente-se no facto de, após duas guerras mundiais devastadoras e uma revolução
que transformou profundamente Portugal, a inimizade entre as duas famílias se
manter incólume e inalterada.
2. Denúncia de vícios sociais como o provincianismo, o suborno/a
corrupção (nos serviços públicos – a atribuição duvidosa/por «cunha» de cargos
públicos), o facilitismo, a burocracia excessiva, a incompetência profissional
(cf. a descrição caricatural dos médicos e da própria função de semaforeiro), o
comportamento dos médicos, que contrasta com o seu estatuto social e
profissional.
3. Paródia em torno das invenções inúteis, do deslumbramento pelo
estrangeiro, das relações humanas, dos estereótipos sociais. Observe-se, por
exemplo, no insulto «Arrenego de ti galego», dirigido aos semaforeiros, uma
fórmula semelhante a muitas outras que traduzem o repúdio pelos imigrantes.
4. Exemplos concretos do recurso à ironia:
▪ a necessidade de um sistema de semáforos no fim do século XIX para
«ordenar o trânsito de carroças de vinho, carros de bois e landós da
sociedade»;
▪ o semáforo acionado por um ciclista que pedala continuadamente;
▪ o suborno de um autarca do Porto com vinho («garrafas de Bordéus») para
que fosse instalado um sistema de semáforos que já tinha sido recusado em Paris
e em Lisboa;
▪ o concurso para o cargo de semaforeiro: o escolhido, Ramon, que nunca
pedalara na vida, é um candidato que não preenchia os requisitos (andar de
bicicleta), porém era «familiar de um proprietário de um bom restaurante»
(sugestão de nepotismo);
▪ o médico João Pedro Bekett, que andava pelas ruas a perguntar aos
transeuntes se estavam doentes;
▪ o seu filho João, que era tão modesto que informava os doentes de que o
seu diagnóstico possivelmente estava errado e que deveriam consultar uma
segunda opinião;
▪ Paulo Bekett era tão explicativo que os seus doentes adormeciam
enquanto ele lhes explicava minuciosamente as doenças;
▪ a figura final do Dr. Paulo a dar ao pedal para se penitenciar pelo
conflito com o «semaforeiro».
▪ a narração da forma como as sucessivas gerações de médicos
desempenhavam as suas funções salienta a dimensão ridícula da sua pretensa
superioridade social;
▪ o conflito entre as famílias do «semaforeiros» e dos médicos é descrito
de modo profundamente irónico, tendo como finalidade mostrar o seu caráter
absurdo.
Labels:
12.º Ano
,
Conto
,
Famílias desavindas
,
Mário de Carvalho
A importância dos episódios e da peripécia final em "Famílias desavindas"
A maior parte dos episódios do
conto são de agressividade entre as duas famílias. Com efeito, eles retratam a
desavença entre «semaforeiros» e médicos ao longo de cerca de um século, desavença
esse que é gerada por um dispositivo insólito: os semáforos a pedal.
▪ O Dr. João
Pedro Bekett ofendeu Ramon por não querer que o semáforo o impedisse de
atravessar a rua quando quisesse. Em consequência, o «semaforeiro» passou a
dificultar-lhe a passagem – início do conflito.
▪ O Dr. João,
filho do Dr. João Pedro, «passava grande parte do tempo à janela, a encadear
Ximenez com um espelho colorido».
▪ O Dr.
Paulo, neto do primeiro médico, passava por Asdrúbal, neto de Ramon, e
insultava-o e pedia aos clientes que o insultassem também. Asdrúbal ripostava,
insultando o médico de volta e, certa ocasião, chegou mesmo a levantar a mão
para ele.
● Peripécia
final
▪ O final do
conto constitui uma inversão inesperada dos acontecimentos: Paco, bisneto de
Ramon, sucedeu a Asdrúbal e sofreu um acidente: um jovem que passava de moto,
ao tentar concretizar um roubo por esticão, bateu no «semaforeiro» e deixou-o
estendido no chão. O Dr. Paulo, seguindo a sua condição de médico, em vez de o
insultar, como pensara fazer, esqueceu o ódio e foi socorrer Paco. Além disso,
para mitigar o remorso e o sentimento de culta decorrentes do conflito que
mantivera com Paco, substituiu-o no ofício de «semaforeiro» enquanto Paco se
restabelecia do acidente no hospital.
▪ A peripécia
final contrasta com os episódios de conflito entre as duas famílias, pois
configura uma situação de resolução desse conflito. De facto, o acidente de
Paco proporcionou a paz e a concórdia, acabando com a desavença, ao trazer à
tona a faceta real do Dr. Paulo, o terceiro médico da família, que esqueceu o
ódio secular entre as duas famílias para socorrer o «semaforeiro».
▪ A peripécia
não deixa de configurar um momento de ironia em relação a um longo passado de
ódio, mas, por outro lado, encerra uma moralidade, mostrando que o rancor e o
ódio não têm de ser eternos, que as pessoas podem ser más e boas e que a
solidariedade pode ser mais forte do que o ódio.
▪ A peripécia
final representa o fim do conflito, do ódio, entre as duas famílias e vem demonstrar
que as classes sociais superiores e as inferiores podem criar uma relação
harmoniosa, graças á solidariedade entre os seus elementos.
segunda-feira, 16 de março de 2020
Resumo do conto "Famílias desavindas"
Ramon
era um galego, proprietário de um bom restaurante, que se candidatou ao cargo
de «semaforeiro», função para que foi selecionado de forma caricata, e que
pertencia a uma família honesta e trabalhadora, que se dedicava à profissão
pelo amor à mesma e não ao salário, que era modesto («equivalente ao de um
jardineiro»).
Ramon,
o seu filho Ximenez e o seu neto Asdrúbal trabalhavam até altas horas da
madrugada, pedalando na bicicleta que gerava a energia que mudava as luzes do
semáforo ou afinando-a quando era necessário.
O
Dr. João Pedro Bekett tinha-se instalado no Porto, oriundo de Coimbra, com a
sua família, num primeiro andar de um prédio situado próximo do semáforo, onde
tinha o seu consultório. Tratava-se de um médico afamado, mas que exagerava
nitidamente no seu espírito de missão. Obcecado por encontrar doentes que pudesse
curar, considerava que o semáforo dificultava a sua ação. Por isso, ofendeu, de
forma arrogante, Ramon, que não gostou e passou a dificultar-lhe ainda mais a
vida. Aqui teve início a inimizade, o conflito e o ódio entre as duas famílias.
O
filho (João) e o neto (Paulo), igualmente médicos, herdaram o ódio à família
dos semaforeiros e deram seguimento ao conflito com os descendentes de Ramon. A
troca de insultos entre os dois lados da barricada prosseguiu, roçando por
vezes o extremismo ou raiando o conflito físico: por exemplo, o Dr. Paulo pedia
aos seus clientes que insultassem o «semaforeiro»; certa vez, Asdrúbal levantou
a mão para o médico.
Quando
Paco, bisneto de Ramon, sucedeu ao seu pai, Asdrúbal, deu-se um acidente: um
jovem que passava de moto, ao tentar um roubo por esticão, bateu no «semaforeiro»
e deixou-o estendido, no chão. Então, o Dr. Paulo, na sua qualidade de médico,
esqueceu o ódio secular e socorreu Paco, cujas mazelas, no entanto, eram
graves, pelo que teve de ser transportado de ambulância para o hospital.
Após
o acidente, o Dr. Paulo, com a sua bata branca, por remorso, passou a pedalar
todos os dias, do nascer ao pôr-do-sol, para manter o semáforo a funcionar, enquanto
Paco se restabelecia.
Labels:
12.º Ano
,
Conto
,
Famílias desavindas
,
Mário de Carvalho
quinta-feira, 12 de março de 2020
A crítica social nas obras e autores do programa do ensino secundário
Manual Encontros 12, Porto Editora
Labels:
10.º Ano
,
11.º Ano
,
12.º Ano
,
Conto
,
Famílias desavindas
,
Mário de Carvalho
quarta-feira, 11 de março de 2020
Subscrever:
Mensagens
(
Atom
)