I. Caracterização
As personagens centrais do conto
distribuem-se, essencialmente, por duas famílias: a dos médicos e a dos
«semaforeiros».
A família dos semaforeiros é
constituída por quatro elementos, cujo traços de união são (1) a
inimizade pelos vizinhos médicos e (2) o amor e a dedicação ao instrumento de
trabalho.
Por seu turno, a família dos
médicos é constituída por três, representando cada um deles um traço diferente:
» João Pedro: o impositivo;
» João: o inseguro;
» Paulo: o teórico.
O que os une é a inimizade
pelos «semaforeiros».
No que diz respeito à
caracterização das personagens, os traços principais são os seguintes.
Família dos semaforeiros
1. Ramon:
» é o primeiro «semaforeiro»;
» é galego, isto é, originário da
Galiza;
» não sabe
pedalar, no entanto é o escolhido para o lugar através do compadrio (é familiar
do proprietário de um bom restaurante);
» é
esforçado, empenhado e cheio de boa vontade no exercício da sua profissão, que
exerce com prazer e orgulho, tal como os seus descendentes;
» pertence
à geração da I Guerra Mundial;
» sente-se
magoado, triste e ofendido com o Dr. Bekett, por isso dificulta-lhe a tarefa;
» inicia o
conflito com a família dos médicos.
2. Ximenez:
» é filho de
Ramon;
» é o segundo
«semaforeiro»;
» pertence à
geração da II Guerra Mundial.
3. Asdrúbal:
» é filho
de Ximenez;
» é o
terceiro «semaforeiro»;
» pertence
à geração do 25 de Abril;
» insulta o
Dr. Paulo, com o qual quase chega a vias de facto.
4. Paco:
» é bisneto
de Ramon;
» pertence
à geração do início do século XXI;
» é
simpático e prestável com os condutores, com quem tem uma relação
personalizada;
» mantém o
conflito com o médico;
» sofre um
acidente e é socorrido pelo médico, que também o substitui no semáforo enquanto
recupera no hospital.
Não obstante nos serem dados a
conhecer os nomes de todos os quatro semaforeiros, estes constituem uma
personagem coletiva, que se caracteriza pelo amor quase obsessivo e irracional
pelos «seus» semáforos, o que justifica que, ao contrário dos médicos, apenas o
primeiro «semaforeiro» tenha direito a uma caracterização individualizada, e
apenas para justificar a sua escolha para o cargo.
Família dos médicos
5. João Pedro Bekett:
» é oriundo
de Coimbra;
» é um
médico singular: queria tratar toda a gente de doenças que eventualmente
teriam, mesmo que os próprios não quisessem ser tratados;
» percorre
as ruas à procura de pessoas que queria convencer a consultar por, na sua
opinião, terem aspeto de doentes;
» é um «pai
de filhos»;
» tem boa
fama enquanto médico;
» possui
elevado espírito de missão;
» não
gostou que o semaforeiro lhe impusesse limites à sua circulação, o que, segundo
ele, ia contra a sua liberdade (não poder atravessar a rua quando quisesse).
6. Dr. João:
» é filho
de Pedro Bekett;
» é um
médico muito inseguro e modesto: considera que os seus diagnósticos estão
provavelmente errados e aconselha os doentes a procurarem uma segunda opinião;
» é um mau
profissional: em vez de se aperfeiçoar, dada a sua insegurança, passava o tempo
livre à janela, a encadear Ximenez com um espelho colorido;
» herda do
pai o ódio pelos «semaforeiros»;
»
intensifica o conflito com eles;
» raramente
acerta no diagnóstico.
7. Dr. Paulo:
» é filho
do Dr. João;
» adormece
os seus pacientes com explicações muito pormenorizadas sobre as suas doenças,
mostrando-se pouco ou nada interessado em ouvir as suas queixas;
» insulta o
semaforeiro Asdrúbal;
» quase
chega a vias de facto com o semaforeiro;
» mantém
uma relação conflituosa com Paco;
» socorre-o
quando assiste a um acidente sofrido por Paco, deixando de lado os ódios
antigos;
» é
solidário: assume o posto de Paco como «semaforeiro» para se redimir e à sua
consciência pesada enquanto aquele se encontra hospitalizado.
Outras personagens
8. Gerard Letelessier:
» é um
engenheiro francês;
» fracassou
no seu país e em Lisboa;
» tem
sucesso no Porto com uma invenção inútil.
9. Autarca do Porto:
» é o
símbolo de todos os autarcas da província;
» fica mais
entusiasmado com as garrafas de vinho do que com o invento;
» fica
deslumbrado por um projeto porque é estrangeiro;
» é
entusiasta de situações experimentais que se tornam definitivas.
10. Transeuntes e motorista do
Porto:
» representam
o gosto da população portuguesa pelo facilitismo, pelos «brandos costumes»,
pelo tráfico de influências.
II. Representatividade
• Os semaforeiros
são um grupo de trabalhadores ciosos da sua profissão, que exercem com grande
zelo e entusiasmo, mesmo que não tenha qualquer importância ou relevância
social.
• Os médicos
pertencem a uma classe social superior. Desempenham uma atividade
imprescindível, mas revelam ou prepotência (Dr. João Pedro Bekett), ou
insegurança (Dr. João) ou conhecimentos apenas teóricos (Dr. Paulo).